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Criação de conhecimento no blog pedagógico

4.2 ANÁLISE DOS BLOGS CORPORATIVOS

4.2.3 ANÁLISE DO BLOG PEDAGÓGICO

4.2.3.2 Criação de conhecimento no blog pedagógico

Em relação à contribuição para a etapa de criação de conhecimento, todas as entrevistadas acreditam ser possível criar ou capturar conhecimento por meio do blog, pois foram chamadas e instigadas pela moderadora a compartilhar suas práticas de trabalho. Contudo, segundo a moderadora há ainda um caminho e um tempo a ser percorrido para instalar-se a cultura da colaboração voluntária e espontânea (M01).

A temática focada na prática das usuárias permitiu que se criasse uma identidade do

blog pedagógico com o grupo de profissionais, que percebem a importância da ferramenta

para o seu trabalho e de sua ajuda para o grupo. Sabem que mesmo quando postam atividades corriqueiras nas suas unidades, podem estar auxiliando outras colegas que não tiveram aquela experiência (U05; U08).

As entrevistadas manifestaram o apoio do blog ao processo de criação colaborativa de conhecimento pelas seguintes características:

a) A linguagem é própria do grupo que compartilha atividades e problemas semelhantes;

b) Permite postagem de conteúdos e comentários;

c) Práticas comuns para uma unidade pode ser uma inovação para outra;

d) Diferentes percepções sobre um mesmo conteúdo podem modificar ou criar novo

conhecimento;

e) A adaptação ou aprimoramento de uma prática adotada em outra unidade é um novo

conhecimento.

Há a compreensão por parte das entrevistadas que a criação de conhecimento é dependente da colaboração e interação entre elas. O blog é apenas um instrumento à disposição que necessita de uso para fazer os efeitos desejados pelo grupo (M01; U02). Elas percebem que o blog permite aprimorar o conhecimento pela discussão em função das diferentes percepções das profissionais que podem interagir a partir de uma ideia inicial e aperfeiçoá-la (U05; U07; U08).

Os benefícios do sistema de comentários proporcionados pelo blog não são reconhecidos por todas as entrevistadas como meios para criar conhecimentos. Eles são pouco

frequentes e em alguns casos ajudam a esclarecer e aumentar o conhecimento sobre determinado assunto, mas em outros são para cumprir formalidades, sem os argumentos consistentes para confirmar ou contestar alguma proposta (M01; U02; U04; U05). Por um lado, os comentários de endosso não são úteis ao processo de criação de conhecimentos por não tirarem as pessoas da zona de conforto e por outro, há o receio da exposição e do confronto por um meio pouco conhecido e com pessoas unidas com vínculos fracos (U01; U04; U07). Em alguns casos os comentários ou solicitações relacionados às postagens no blog são realizados por outros meios, como telefone, e-mail ou até visitas entre as profissionais

para conferir o assunto “in loco” (U08).

A preferência por meios de comunicação direta, pessoa a pessoa, tem sua origem na pouca confiança do relacionamento, pois permitem a percepção instantânea da reação do outro e com isto a possibilidade de adequar a comunicação em função dessas reações que ocorrem ao longo do processo de comunicação (TAKEUCHI; NONAKA, 2008). Contudo, para o processo de gestão do conhecimento não importa o meio utilizado, o importante é que ocorra de fato a comunicação e a troca de experiências entre as pessoas (DAVENPORT; PRUSAK, 2003).

Para centralizar as informações que afetam a ação de todos e disseminar de forma adequada, o blog possui uma seção de perguntas frequentes e suas respectivas respostas que levam os assuntos consolidados para o ambiente e reduzem a necessidade de esclarecimentos de dúvidas e, por conseguinte, os comentários para estes fins (M01).

O blog é percebido como boa ferramenta para criação e ressignificação de conhecimentos pelas seguintes condições e possibilidades:

a) Oferece a possibilidade de interação;

b) Forma comunidade de pessoas de uma área específica de conhecimento;

c) Mantém foco nos assuntos de interesse da comunidade;

d) Permite olhares diferentes sobre o mesmo objeto;

e) Contribui para o senso de pertencimento e dá identidade ao grupo.

Ainda que a ferramenta ofereça as condições para a criação e ressignificação de conhecimentos, é a ação das pessoas sobre ela que fará este trabalho, por meio da postagem das atividades realizadas nas unidades educacionais, da leitura, da interpretação e da reconstrução do conteúdo (M01). Para que isto ocorra de forma plena, voluntária e espontânea há dificuldades que necessitam da atenção dos gestores:

a) A rotina densa das profissionais (mais citada pelas entrevistadas);

b) Resistência às novas tecnologias;

c) Receio de exposição da imagem no ambiente de trabalho;

d) Preferência por canais de comunicação pessoais e diretos, como telefone e e-mail.

Todas as entrevistadas manifestaram a dificuldade em encontrar tempo para postar suas práticas no blog em função de suas rotinas exigentes e consumidoras de tempo. A moderadora manifestou sua convicção de que o conteúdo existente no blog é muito menor do que as novidades executadas nas unidades no período (M01). Esta questão do tempo pode em alguns casos ser atribuída à falta de prioridades, relacionado a uma necessidade de convergência da cultura para a adoção do blog (TERRA, 2009), mas há depoimentos que não deixam muito espaço para novas prioridades:

[...]. Eu me considero, realmente uma mulher atordoada nas três jornadas de trabalho. Talvez em função disso eu não consiga administrar da forma que deveria essa questão da pós-graduação, do trabalho exigente como é o meu e de família constituída, com filhos pequenos. Eu realmente tenho um pouquinho de dificuldade de incorporar essas práticas e novas tecnologias, até em função da minha rotina já muito alucinante por si só. [...] (U08).

Em relação às dificuldades tecnológicas, várias usuárias ainda não se apropriaram da lógica de funcionamento do blog, por exemplo, quando perguntado a uma entrevistada se sabia fazer assinatura RSS/FEED, ela informou não saber do que se tratava. Essa informação está na documentação do blog, indicando que há um desconhecimento das possibilidades da ferramenta, sem o esforço correspondente para buscar alternativas e solucionar o problema (HALMANN, 2006; MENDES, 2009).

O receio da exposição pode ser explicado como falta de confiança na comunicação escrita sem conhecer o destinatário da informação e, em função disso, não saber qual será a reação do leitor (TAKEUCHI; NONAKA, 2008).

Essa análise sinaliza que o blog pedagógico mostrou-se uma boa ferramenta para apoiar a criação de conhecimento organizacional, mesmo com a divisão das opiniões dos entrevistados sobre a eficiência dos comentários para o processo. Mostrou também, que há questões culturais, dos gestores e dos profissionais, a serem resolvidas para obter uma participação proativa, ultrapassando a forma reativa de cumprir tarefas.

O item a seguir está destinado à análise da contribuição do blog pedagógico para a etapa de armazenamento de conhecimento.