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A CRIAÇÃO DO NIPAC (DA PUC-GO)

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CAPITULO 2 ARQUEOLOGIA DO SABER

3 A DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO E A RELATIVIDADE DO PROGRESSO

3.7 A CRIAÇÃO DO NIPAC (DA PUC-GO)

Quando do lançamento do NIPAC - NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE

PESQUISAS SOBRE O ACIDENTE COM O CÉSIO 137 -, da PUC – GO, no dia 18 de setembro de 2009, o japonês “seu” Morita (Sr. Morita, policial militar sobre- vivente da bomba atômica em Hiroshima), presente ao lançamento, juntamente

com a Associação dos sobreviventes dessa catástrofe histórica, destacou sua con-

vicção contrária ao uso do nuclear (a tecnologia, os armamentos, como fonte geradora de energia etc.). Mais recentemente (em abril de 2011, logo após os de-

sastres de Fukushima e Sendai, no Japão etc.), “seu” Morita deu uma entrevista his- tórica à Globonews, num especial sobre as tragédias de Chernobyl, na Ucrânia; do Césio, em Goiânia; e de Fukushima, no Japão, em que mais uma vez reafirmou o seu posicionamento absolutamente contrário ao uso de qualquer tecnologia nuclear.

Autor do projeto do NIPAC, o psicólogo e professor da PUC-GO, Júlio de Oliveira Nascimento, tinha como uma de suas ideias norteadoras trabalhar pela

reunião e unificação dos dados e informações disponíveis sobre o Césio-137 em um mesmo banco informatizado de dados, que seria implantado no Núcleo, a despeito de a antiga SULEIDE (atual “C.A.R.A”) já possuir o seu próprio banco de dados.

Na página 03 da JUSTIFICATIVA ao “PROJETO DE CRIAÇÃO E IMPLE-

MENTAÇÃO DO NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISAS SOBRE O ACI- DENTE COM O CÉSIO-137”, lançado em agosto de 2007 (data em que passou uma

instigante edição especial do extinto programa “Linha Direta”, da Rede Globo), o Prof. Júlio observa que

(...) Os relatos das vítimas precisam ser assumidos com respeito pelo poder público como possíveis fontes de dados para pesquisa, as pressões políti- cas exercidas sobre os homens e mulheres de ciência precisam cessar a fim de que se possa fazer fluir a verdade em sua inteireza.

Esses direitos e necessidades, todavia, não serão reconhecidos e assumi- dos espontaneamente pelo governo. Ao contrário, tem sido na inércia, na desinformação e na desqualificação dos relatos das vítimas e testemunhas oculares da tragédia que ele tem procurado apagar a memória do acidente. Essa desqualificação, reiterada sistematicamente pela CNEN, baseada em seus dogmas e “certezas”, evoca uma questão epistemológica que, certa- mente, seus cientistas, desprovidos da humildade socrática, menosprezam, mas que o filósofo Gaston Bachelard enuncia solenemente: “O conheci- mento científico é sempre a reforma de uma ilusão”.

Com efeito, a Teoria Quântica, através do Princípio da Incerteza, deixa cla- ros os limites do conhecimento humano sobre a realidade, dado que nunca temos o controle de todos os elementos de um sistema que pretendemos conhecer. Assim, diante da complexidade e da imprecisão inerentes à pró- pria realidade, a atitude mais sensata seria considerar seriamente todos os saberes que possam contribuir para o entendimento das conseqüências do acidente com o Césio-137, inclusive o das vítimas, ainda que estas não consigam traduzir seus relatos na forma de uma teoria.

Neste termos, a construção de um saber coerente com os novos paradig- mas da ciência contemporânea supõe que sejam deixados de lado os dog- matismos ultrapassados, e que, baseando-se as pesquisas na maior diver- sidade e conexão de dados possível, os resultados sejam corajosamente assumidos, ainda que contrariem a versão oficial.

A academia, por vocação natural, é o lugar onde este desafio intelectual e político deve ser enfrentado. A UCG, uma das instituições de ensino su-

perior mais antigas de Goiás, devido ao seu caráter comunitário e confes-

sional, e à estrutura científica que possui, é o espaço acadêmico mais apro- priado para sediar este projeto que já foi, inclusive, objeto de convênio en-

tre ela e a Associação das Vítimas do Césio-137 em 1994.

Nestes 20 anos, muitos estudos, em diversas áreas, foram e estão sendo realizados. Todavia, embora de grande mérito, esses saberes encontram-se dispersos, fazendo-se necessário reuni-los em um grande e sistemático banco de dados, bem como promover estudos interdisciplinares que possibi- litem uma visão mais completa e de conjunto acerca dos inúmeros proble- mas gerados pelo acidente em questão, capaz não só de fazer avançar as diversas ciências implicadas, como também de fornecer dados úteis para a resolução dos problemas enfrentados pelas vítimas, e à proposição de polí- ticas públicas de prevenção e redução de futuros danos que o acidente possa acarretar à sociedade goiana.

Assumido pela UCG, este projeto abrangerá atividades inerentes à pesquisa e à extensão, envolvendo, além do JUR, diversos departa- mentos da UCG, com efeitos benéficos sobre a melhoria da qualidade do ensino de graduação nas áreas envolvidas. Além disso, diversos cursos de pós-graduação serão diretamente beneficiados pelos estu- dos avançados a que terão acesso, e que também ajudarão a realizar. Daí a importância da criação, na UCG, de uma estrutura institucional que viabilize esta grande e urgente tarefa de reunir dados das diversas pesquisas existentes, facilitando e estimulando a formação de uma comunidade científica de estudos sobre o acidente de Goiânia. Unindo

suas pesquisas às de outras instituições locais, nacionais e internacionais, a UCG, através do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre o Acidente

com o Césio-137, pode implementar uma política de pesquisa e buscar, de

forma compartilhada, recursos externos para viabilizá-la.

Vale lembrar, a esse respeito, que o acidente de Goiânia sempre cons- tituiu foco de interesse científico internacional e, no passado, motivou a vinda de recursos do exterior para assistência e pesquisa. Assim, bons projetos e intercâmbios poderão voltar a atrair a atenção de agências financiadoras.

No que concerne ao fato de a UCG sediar o Núcleo, não se trata de mono- pólio, mas de uma iniciativa no sentido de fazer surgir um esforço coletivo sistemático e permanente, até agora não levado a efeito, compatível com a magnitude, as conseqüências e o significado do acidente com o Césio-137 (...).

Sem dúvida alguma, seria muito interessante, porque ainda há muito precon- ceito e desinformação permeando a questão.

o Brasil”, o ex-coordenador de projetos da SULEIDE, Hildeth Pereira de Olivei- ra Souza (um estudioso do assunto, além de conhecido de muitos anos do Prof. Júlio), declarou, nas páginas 37 e 38 da edição de dezembro de 2007, que “há alguns aspectos que ilustram bem essa situação”.

Palestrante para grupos diversificados, como técnicos ou estudantes, ele rela- ta uma passagem, ocorrida em setembro de 2007, quando o acidente completou exatos vinte anos. “Eu falei com duas turmas de alunos que iriam prestar vestibular, 60 (sessenta) alunos que estudavam a duas quadras da SULEIDE”, no Setor Aero- porto, conta o técnico e também professor das Faculdades OBJETIVO.

Perguntei se sabiam onde fica a instituição criada para cuidar de radi- oacidentados, em Goiânia; apenas um levantou a mão, no meio de 60. Isso, depois de dois meses de mídia falando no assunto, todos os dias, no Jornal Nacional, no Jornal da Band, no SBT etc.

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