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As crianças participantes da pesquisa

Os sujeitos desta investigação foram localizados a partir da rede de amigos da pesquisadora no Instagram. Tais amigos indicaram crianças que publicavam no aplicativo e eram por eles seguidas. A rede de relações constituída nesse processo

pode ser observada na Figura 3, que apresenta as conexões estabelecidas para se chegar ao grupo de crianças participantes da pesquisa.

Figura 3 - Rede das crianças participantes da pesquisa

Fonte: elaboração própria.

Na imagem, há a pesquisadora, amigos10, bem como o menino e as meninas que compõem a rede dos sujeitos da pesquisa.

No que se refere ao processo de escolha, em uma investigação participativa, o primeiro aspecto a ser considerado para a definição dos sujeitos deve decorrer da implicação destes no estudo. Segundo Soares, Sarmento e Tomás (2005), informar às crianças acerca dos objetivos e dos processos da pesquisa é essencial para que haja o seu comprometimento no trabalho de investigação. Considera-se que as informações disponibilizadas acerca da investigação e o assentimento dos sujeitos em participar da pesquisa constituem um dos momentos mais importantes para a definição do grupo de crianças.

Após a identificação dessas crianças apresentadas acima, na rede construída, foram utilizadas algumas estratégias para a obtenção do seu assentimento, o que abonaria a dimensão participativa das crianças na

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investigação. Foi enviada para as crianças uma Carta-apresentação (Apêndice A) contendo material informativo sobre o estudo, a fim de que elas tivessem condição de decidir a respeito de sua participação no estudo. Essa carta também incluía os dados da investigadora e seu endereço de perfil no Instagram.

Nesse sentido, consolidou-se a intenção de chegar até às crianças para obter seu assentimento livre e esclarecido, ou seja, construímos uma aproximação que lhes possibilitou compreender a proposta da pesquisa e, a partir de então, aderir ou não a ela, antes mesmo de formalizá-la mediante o consentimento de seus responsáveis. Esse processo não seguiu tal orientação apenas com uma das crianças, tendo sido iniciado pelo consentimento de sua mãe e só depois começamos a conversar.

Assim, a definição dos sujeitos esteve vinculada à sua decisão de querer ou não participar da pesquisa, de modo autônomo e informado, por meio de uma carta- convite. Posteriormente, um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) também foi apresentado e assinado pelas crianças (Apêndice B). Como afirma Muller (2007, p. 48), “não é mais aceito como suficiente, nas pesquisas com crianças, obter somente o consentimento daqueles responsáveis por elas”; assim, os meninos e meninas também aderiram à proposta da investigação, perspectiva que está relacionada com a concepção de infância e a metodologia participativa assumida nesta investigação.

Cabe ressaltar que o consentimento dos pais foi fundamental para o prosseguimento da investigação. Dessa forma, também foi encaminhada uma carta de apresentação para os responsáveis, solicitando-lhes sua anuência e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para a realização do estudo (Apêndice C).

A proposta, desde o início, de adesão das crianças à pesquisa tornou possível a construção de relações de parceria, as quais permitiram processos comunicacionais mais interativos e abertos no processo de investigação.

A definição do grupo de crianças participantes ocorreu durante os meses de abril e maio de 2017. Partiu da indicação de crianças presentes na rede de amigos, seguida da apresentação da proposta de estudo, da respectiva adesão dos meninos e meninas e, por fim, da formalização mediante a assinatura dos termos de assentimento e consentimento, por elas e seus responsáveis.

É importante salientar que participaram da investigação crianças que vivem em municípios baianos geograficamente distintos: três delas moram em Salvador – uma (Júlia) no bairro Stella Mares, situado ao norte da cidade, próximo à praia e considerado um bairro nobre, e as outras duas meninas (Maiara e Ailana) são moradoras de um bairro periférico, de classe economicamente baixa, o Bairro da Paz; Carolina mora em Juazeiro, uma cidade do sertão baiano que fica a quase 500 quilômetros da capital e que tem cerca de 200 mil habitantes; já Diego reside em um município da Região Metropolitana de Salvador, São Sebastião do Passé, com, aproximadamente, 42 mil moradores. Com essa configuração delineada, é possível perceber que as crianças vivem distintas realidades econômicas, sociais e culturais, além das geográficas.

Figura 4 - Cidades das crianças participantes da pesquisa

Região Metropolitana de Salvador

Fonte: Mapas do Brasil (s.d.).

Participaram deste estudo cinco crianças entre 9 e 11 anos de idade11. Do total, quatro são meninas e, um, menino. É importante ressaltar que três têm perfis públicos, ou seja, não têm bloqueio às publicações, e duas são de acesso restrito (privados). Para estas, foi necessário pedir-lhes autorização para seguir seus perfis.

Todas as crianças participantes desta pesquisa possuem smartphones próprios, por intermédio dos quais acessam canais do YouTube e redes sociais, a

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Corroboramos o disposto no Art. 2º do Estatuto da Criança e da Adolescência – ECA (BRASIL, 1990b): “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos [...]”.

exemplo do Facebook e de aplicativos como o Instagram. É importante salientar que, no início da investigação, apenas Carolina acessava o aplicativo pelo tablet, mas, ao longo da pesquisa, ela informou que ganharia um celular: “Eu uso apenas o tablet, mas, dependendo das minhas notas, irei ganhar um celular em outubro, no Dia das Crianças”. A nova aquisição de Carolina estava vinculada às suas notas escolares, tendo acontecido como previsto: no Dia das Crianças, a menina ganhou o tão desejado aparelho.

No Instagram não foi encontrado um número expressivo de crianças mais novas interagindo e publicando, portanto, a faixa etária do recorte do estudo está relacionada às idades predominantes no App e se refere à categoria geracional da infância. É o que aponta também a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2014, ou seja, que a presença nas redes sociais é maior entre as crianças mais velhas e os adolescentes (COMITÊ..., 2015). Segundo a pesquisa, o acesso a dispositivos e a aplicativos cresce conforme avança a idade das crianças e está relacionado, entre outros aspectos, ao acesso às tecnologias digitais, à autonomia e à capacidade que elas têm para interações e escolha de conteúdos a serem acessados e compartilhados.

Quadro 2 - Participantes da pesquisa

Foto IG Idade Perfil

@anacarolinaquirinoda 9 anos Privado

@dhss13579 10 anos Público

@maiara_salvatori 10 anos Público

@ ailanaa_oliv 10 anos Público

@jujuba_gr 11 anos Privado

Fonte: elaboração própria.

Vale destacar que são usados os nomes reais das crianças, seus endereços de perfil e as fotografias publicadas no aplicativo. Tal postura foi adotada haja vista ter sido uma preocupação ao longo deste estudo creditar às crianças a presença e a participação na pesquisa, bem como o reconhecimento e a autoria das narrativas.

Uma investigação, que elege como sujeitos as próprias crianças, considerando-as interlocutoras indispensáveis e competentes na pesquisa, requer uma alternativa que seja capaz de acolher tanto as perspectivas e os conhecimentos que esses meninos e meninas possam trazer, assim como suas identidades. Ou seja, buscamos assegurar a identidade das crianças participantes, assim como evidenciar, de forma ética e responsável, suas produções narrativas. Alguns cuidados de natureza ética foram devidamente tomados: as imagens fotográficas utilizadas no estudo foram selecionadas pelas crianças; o uso das imagens estava previsto e foi autorizado nos termos assinados por elas e também por seus responsáveis.