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COWORKING

A Inovação Aberta é uma modalidade de inovação que se pratica quando há uma porosidade entre os limites da empresa e seu ambiente, e também onde diversos agentes se articulam em redes. Dessa maneira, tendo o conceito de Inovação Aberta como inspiração, torna-se interessante analisar como a criatividade pode ser entendida nessa mesma perspectiva, de abertura e de troca.

A Inovação Aberta advoga que bens/serviços e processos chegam ao mercado a partir de uma colaboração entre organizações, na qual uma ideia pode ter surgido de uma fonte e ter sido implementada por outro membro da rede. Isso sugere que, ao se valer de princípios semelhantes aos da Inovação Aberta, também exista um grau de abertura na etapa anterior ao processo de inovação: a criatividade.

Nenhuma organização é capaz de inovar em isolamento (DAHLANDER; GANN, 2010), e assim também o são os indivíduos em relação ao surgimento de ideias novas e úteis, pois, eles também sofrem influências externas do ambiente e das redes com as quais estão

conectados, uma vez que a criatividade individual emerge da criatividade coletiva (HÉRAUD, 2016). Dessa forma, Muzzio (2019, p. 5) considera que:

[...] tal como a inovação aberta é considerada um tipo de inovação, o fenômeno da criatividade aberta pode ser classificado como um tipo de criatividade, assim, é preciso compreender quais condições são mais favoráveis para que ele se intensifique, quais contextos podem permitir sua maior eficiência e quais mecanismos podem contribuir para sua ampliação.

Sendo assim, é possível encontrar na literatura alguns pontos principais acerca do conceito de Inovação Aberta e fazer conexões teóricas com a ideia de Criatividade Aberta. Para o processo de inovação aberta acontecer, espera-se que a criatividade esteja emergindo a partir dos indivíduos inseridos em um contexto de práticas coletivas.

Em seu artigo Business Model for open Innovation: matching heterogeneous open

innovation strategies with models dimensions, Saebi e Foss (2015, p. 205) apresentam alguns

estudos sobre A Inovação Aberta, os quais foram expostos no quadro 2. Através dessa síntese feita pelos autores, foi possível inferir que a Criatividade Aberta se comporta de maneira semelhante.

Os autores apontam que a Inovação Aberta contempla aspectos como: uso intencional de fluxos internos e externos de conhecimento; algumas ideias de projetos de inovação são iniciadas por outras partes antes de entrar no funil da inovação, bem como outras ideias saem do funil de inovação e são desenvolvidas por outras partes; e, os processos de inovação dependem do mundo exterior para criar oportunidades e selecionar a melhor ideia, dentre todas as alternativas, para se obter um maior desenvolvimento (CHESBROUGH, 2006; DITTRICK; DUYSTERS, 2207; TERWIESCH; XU, 2008 apud SAEBI; FOSSI, 2015).

Em consonância com o exposto, Muzzio (2019, p. 4) afirma que “o conhecimento sobre a criatividade aberta pode se valer de princípios da inovação aberta para se desenvolver e configurar-se como um campo de conhecimento complementar, o que pode potencializar a

própria inovação”. Sendo assim, princípios podem ser transladados para o nível individual, tendo em vista que a criatividade é exercitada no nível social (organizacional) e é entendida como uma prática ampliada pela interação social.

Existem quatro níveis de práticas de criatividade aberta em ambientes de coworking, são eles: a influência de terceiros, o apoio de terceiros, a parceria com terceiros e a associação com terceiros. Esses níveis se diferenciam devido ao grau de transferência de conhecimento entre os atores da rede (MUZZIO, 2019)

Sobre as práticas de Inovação Aberta existe um consenso afirmando que os atores envolvidos numa rede devem integrar suas ideias, conhecimentos e habilidades para entregar inovação ao mercado. Então, tendo em vista que a criatividade é o passo anterior à inovação (AMABILE et al, 2012), ela também pode ser compreendida como possuidora de características semelhantes à ideia de abertura na inovação.

Nas práticas de Inovação Aberta, a troca de conhecimento figura como um dos elementos principais na colaboração e interação entre os destinatários e fonte do conhecimento (SCOZZI; BELLANTUONO; PONTRANDOLFO, 2017). Ou seja, a criatividade dentro desse sistema também pode se comportar da mesma forma, onde as ideias novas e úteis (criativas) são fomentadas nessa relação de colaboração.

Sendo assim, para a Criatividade Aberta, como ocorre na Inovação Aberta, a diversidade (DAVIS; EISENHARDT, 2011; OLLILA; YSTRÖM, 2016) de membros das redes e ativação das capacidades relevantes (DAVIS; EISENHARDT, 2011) atuam como elementos fundamentais para sua consolidação, assim como um propósito maior que une os participantes da comunidade de prática e a criação da colaboração por parte dos participantes da rede que atuam como criadores dessa colaboração (OLLILA; YSTRÖM, 2016).

A criatividade aberta, enquanto fenômeno que ocorre dentro de ambientes de coworking, atua como um complemento entre o físico e o virtual, onde o espaço cumpre o papel de

potencializar esses dois tipos de conexão, viabilizando assim as práticas de criatividade aberta (MUZZIO, 2019). Além disso, ainda segundo o autor, o coworking também possui a função de reunir indivíduos que estão vinculados a uma nova perspectiva econômica, porque ao partilhar o ambiente físico, eles desenvolvem uma nova forma de se relacionar que preza pelo compartilhamento, pela troca, muitas vezes sem envolvimento de remuneração financeira, e isso possui forte conteúdo simbólico.

Os ambientes de coworking podem ser entendidos como locais onde há grande potencial para as práticas de inovação aberta, pois é possível encontrar diversidade de profissionais co m expertises diferentes, trabalhando em projetos diferentes, e que, mesmo assim, não estão atuando de forma não isolada. Sendo assim, o próximo subitem busca explorar essas potencialidades.

2.5.1 Coworking como lócus da criatividade

Os espaços de coworking surgem na tentativa de dar oportunidade aos trabalhadores de atuarem num ambiente capaz de ecoar um éthos criativo (SANTOS et al, 2015) e funcionam como interfaces entre o meio criativo da cidade e além dele (MERKEL, 2015). Isso pode estar relacionado ao fato de que dentro de um espaço de coworking, os coworkers decidem de maneira autônoma aproveitar a oportunidade de interagir com outros, seja com mais intensidade, ou não (BOUNCKEN; REUSCHL, 2016). Eles decidem estar abertos a assuntos relacionados ao trabalho ou assuntos privados, recebem e fornecem feedback, e intensificam relações privadas e profissionais. Assim, essa autonomia adicionalmente serve à experimentação e à criatividade (BOUNCKEN; REUSCHL, 2016).

Nesse contexto, destaca-se que as ideias surgem de quatro fontes diferentes: a criatividade individual, o trabalho coletivo ou com usuários, o mercado e a ciência

(GRANADOS; BERNARDO; PAREJA, 2017). No caso dos ambientes de coworking, o surgimento de novas ideias criativas parece estar relacionado com o trabalho coletivo que, segundo os autores, podem ser comunidades de usuários ou times de trabalho. Embora o trabalho coletivo mencionado pelos autores diga respeito ao trabalho entre equipes de uma mesma organização, no ambiente de coworking a equipe não seria de uma empresa específica, mas sim formada por profissionais usuários do espaço (MUZZIO, 2019).

Além disso, o coworking possui uma abordagem coletiva que é baseada na comunidade para a organização do trabalho criativo, o autor atribui ao host do coworking o papel de contribuir para criar uma atmosfera colaborativa e o desenvolvimento de relações sociais (MERKEL, 2015). As características físicas do ambiente, ao priorizarem a coletividade, podem contribuir para criar essa atmosfera, bem como a promoção dos valores presentes nesses ambientes: comunidade, colaboração, abertura, sustentabilidade e acessibilidade.

As relações sociais existentes nos ambientes de coworking são capazes de estimular a capacidade criativa dos indivíduos através do aprendizado mútuo e da transferência de conhecimento, conforme apontaram Bouncken e Reuschl (2016). Outros fatores importantes que convergem para esse caráter de coletividade dos espaços de coworking são senso de comunidade, colaboração e partilha de conhecimento, que resultam na existência de uma área criativa nesses espaços (SANTOS et al, 2015). Isso porque, ao acessarem um ambiente amigável dedicado à criatividade, os usuários podem desenvolver mais ideias criativas dentro dos espaços de coworking.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo serão descritos os procedimentos metodológicos para a execução do estudo, desde sua caracterização aos seus critérios de validade e confiabilidade. O presente estudo elegeu a pesquisa qualitativa, a qual pode ser entendida como um conjunto de atividades interpretativas amplamente utilizados na compreensão de dados científicos relacionados às ciências sociais e humanas (DENZIN; LINCOLN, 2006).

O estudo segue uma epistemologia construtivista e tem como paradigma de pesquisa a abordagem interpretativista, a qual guiou os procedimentos para coleta e análise dos dados, bem como as induções e conclusões que foram alcançadas. Dessa maneira, se faz importante elucidar as escolhas metodológicas da pesquisadora, que foram delimitadas pelo problema de pesquisa.