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O aumento da complexidade dos problemas que as organizações enfrentam exige soluções coletivas para a produção de resultados que sejam criativos (SANTOS et al, 2015). Além disso, o surgimento do capitalismo digital gerou a demanda social de um novo tipo de trabalho (MORISET, 2013). Novos modelos de negócio, pautados no compartilhamento de recursos e colaboração entre membros, surgem nesse contexto, como uma maneira de propor soluções que sejam ao mesmo tempo criativas e eficientes. Um modelo de negócio pode ser

compreendido como um realinhamento de atividades, relações, rotinas e contratos que resultam em uma configuração nova de como as empresas criam e capturam valor no mercado de produtos e serviços onde elas estão competindo (FOSS; SAEBI, 2015).

Nesse novo contexto da economia globalizada e do aumento da concorrência nos mercados, os profissionais criativos e as indústrias inovadoras são considerados os principais impulsionadores do crescimento econômico (MORISET, 2013). Para que a criatividade desses profissionais seja estimulada, faz-se necessária uma comunidade de indivíduos que partilhem modos de pensar e aprendam uns com os outros (CSIKSZENTMIHALYI, 2006). E, acredita- se que é por isso que novos modelos de negócio colaborativo são um fenômeno em crescimento ao redor do mundo.

Dentro dessa perspectiva, os espaços de coworking surgem como um modelo de negócio emergente, com características próprias que se diferenciam dos simples escritórios compartilhados de trabalho, e que buscam capturar valor numa nova configuração econômico- social, onde a criatividade precisa ser estimulada para que se alcancem inovações no mercado. Embora a sua representatividade econômica ainda seja pequena, os espaços de coworking cresceram e se tornaram um fenômeno mundial, fortemente ancorados no ambiente de trabalho das indústrias criativas nas principais cidades de negócio ao redor do mundo (MORISET, 2013).

O termo coworking começou a ser utilizado como uma buzzword (palavra da moda) e possui um significado ainda longe de ser claramente definido, inclusive nem todos os escritórios que se definem como usuários desse termo podem ser considerados espaços de coworking (CAPDEVILA, 2013). O site Coworking Wiki (2018) contribui com a definição do termo ao salientar que a ideia principal do coworking é: profissionais independentes, que possuem flexibilidade de local de trabalho, trabalham melhor juntos do que sozinhos; esses participantes concordam em manter os valores do movimento, e também em interagir e compartilhar uns com

os outros. Os valores elencados pelo site são: colaboração, comunidade, sustentabilidade, abertura e acessibilidade.

Sob outro ponto de vista, o coworking pode ser compreendido “como um espaço físico compartilhado, inspirado em preceitos de software de código aberto, em que valores como interação, colaboração e partilha de conhecimentos são tomados entre seus membros por princípios primordiais” (SANTOS et al, 2015, p.2).

Além dos espaços de coworking estarem rapidamente se tornando um fenômeno global, predominantemente urbano, ele ocorre particularmente entre trabalhadores criativos,

freelancers e pequenas empresas (BROWN, 2017). Conforme o entendimento de Mesquita e

Pozzebon (2016), os espaços de coworking estão relacionados a um movimento de empreendedorismo e inovação atraído por uma nova classe de profissionais criativos inseridos nessa nova economia colaborativa, e de um novo arranjo econômico e social, que é construído tendo como base a inteligência coletiva e os laços afetivos.

Nesse novo contexto econômico colaborativo, novas formas na composição das relações de trabalho surgem e viabilizam a existência de diferentes arranjos organizacionais. Dessa forma, os espaços de coworking podem representar uma solução emergente para os profissionais que possuem flexibilidade de local de trabalho, pois mais indivíduos trabalham atualmente de qualquer local, telecomunicando-se, colaborando eletronicamente, gerenciando seus próprios negócios com telefones e laptops (SPINUZZI, 2012). No entanto, essa liberdade para trabalhar em qualquer lugar pode representar isolamento, dificuldade de construir confiança e relacionamentos com os outros, além de restringir oportunidades para colaboração e networking (SPINUZZI, 2012).

Dessa maneira, os espaços de coworking podem significar uma forma para esses indivíduos atuarem em um mesmo espaço, trocando informações e experiências, e saindo desse isolamento. A esse respeito Ross e Ressia (2015) contribuem ao afirmarem que o coworking é

caracterizado por ambientes abertos de trabalho que se encontram entre trabalhar em casa e trabalhar em um ambiente de escritório tradicional. O ambiente de coworking pode ser ao mesmo tempo um espaço dedicado ao trabalho, e também um ambiente aberto e flexível, como apontam Mesquita e Pozzebon (p.3, 2016, tradução nossa):

[...] pode-se inferir que o coworking se trata de um movimento fundamentado na necessidade de flexibilidade e da troca baseada na interação, que se sustenta nos valores construídos e partilhados entre os membros que dele participam, e que encontram, no compartilhamento de ideias, conhecimento, vivência, práticas, e outros, uma forma de se propagar.

Através da conceituação e familiarização com o conceito de coworking é possível destacar dois aspectos importantes: sua utilização dentro de um contexto de fomento a soluções criativas inerentes à perspectiva da Economia Criativa, e o seu valor central de compartilhamento de recursos.

Nessas práticas de compartilhamento de recursos dentro de ambientes de coworking, não são apenas os recursos físicos que são compartilhados, dado que esses espaços são ambientes compartilhados de trabalho; existe também outro tipo de compartilhamento advindo das redes de relacionamento existentes nesses sistemas sociais.

Assim, os espaços de coworking dizem respeito à ideia de compartilhar economia em duas dimensões: fornecendo o acesso a ativos físicos compartilhados (escritório, infraestrutura, cafeteria etc.) e o compartilhamento de ativos intangíveis (informação, conhecimento etc.) (BOUNCKEN; REUSCHL, 2016). Esse último, certamente o mais importante para ampliar o potencial de inovação. Além disso, o compartilhamento de conhecimento não ocorre apenas durante a presença física dos usuários no espaço de coworking, mas também depois (BOUNCKEN; REUSCHL, 2016)

Em acordo com o exposto, Capdevila (2013) ressalta que umas das características mais importantes do coworking, que diferencia esses espaços de simples escritórios compartilhados,

é o foco na comunidade e a dinâmica de compartilhamento de conhecimento. Essa ideia é corroborada por Leforestier (2009), ao afirmar que o objetivo do espaço de coworking é criar um senso de comunidade entre os usuários, pois é esperado que coworkers participem da vida da comunidade contribuindo com o seu próprio talento. Esse conceito de comunidade se refere às possíveis implicações relacionais da localização de trabalhadores dentro do mesmo espaço e enfatiza o papel do coworking como um contexto de trabalho capaz de proporcionar sociabilidade para colegas de trabalho (PARRINO, 2013).