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A análise qualitativa das evidências é um processo permanente que envolve reflexões contínuas sobre as informações coletadas, formulando questões analíticas e fazendo anotações durante todo o estudo. Ou seja, a análise é feita concomitantemente com a coleta dos dados, a realização das interpretações acerca das evidências e a redação dos relatórios da pesquisa (CRESWELL), 2010). Para essa pesquisa, o instrumento escolhido para realizar a análise das evidências foi a Análise de Conteúdo de Bardin (1997).

A análise de conteúdo é um método de análise de dados tradicionalmente utilizado na pesquisa quantitativa, no entanto cada vez mais vem sendo utilizado como procedimento qualitativo em diversas áreas da pesquisa social, inclusive no campo da Administração. A análise de conteúdo pode ser considerada uma técnica de análise de dados rica, importante e com grande potencial para o desenvolvimento teórico nos estudos com abordagem qualitativa (MOZZATO; GRZYBOVSKI 2011). Para além da influência positivista que o método sofreu, ela possui grande potencial, desde que os pesquisadores utilizem o método de maneira coerente, ética, reflexiva, flexível e crítica, bem como considerem seriamente o contexto o qual a pesquisa está inserida (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011).

Sendo assim, a análise de conteúdo qualitativa pode ser entendida como um método que busca a ultrapassagem da incerteza e o enriquecimento da leitura pela descoberta de conteúdos

e estruturas que procuram demonstrar o objetivo das mensagens (BARDIN, 1977). Ainda segundo a autora, a análise de conteúdo possui duas funções: uma heurística, que enriquece a tentativa de explorar e aumenta as chances de descoberta; e uma função de administração de provas, que é uma análise sistemática que busca a confirmação ou infirmação do que se estuda a partir dos dados e informações analisados.

A análise de conteúdo consiste num conjunto de técnica de análise das comunicações, onde qualquer transporte de significações entre emissores e receptores poderia ser escrito e decifrado (BARDIN, 1977). Sendo assim, Bardin (1977, p.42), considera a análise de conteúdo como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Deste modo, a autora elenca três etapas pelas quais se desenvolve a análise de conteúdo, sendo elas: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação, que estão descritas no quadro 7:

Quadro 7 – Análise de Conteúdo de Bardin

Fases da Análise de Conteúdo

Pré-Análise É o período de organização propriamente dita. Corresponde a um período da análise no qual são feitas intuições, porém, tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar ideias iniciais, de forma a conduzir a um esquema do desenvolvimento das operações sucessivas dispostas num plano de análise. Nessa fase é que se escolhe os documentos, se formula os objetivos e se elabora os indicadores que vão fundamentar a interpretação final.

Exploração do Material

A fase de exploração do material nada mais é do que a administração sistemática das decisões que foram tomadas, e consiste basicamente em operações de codificação, desconto ou enumeração em função de regras que foram previamente elaboradas.

Tratamento dos resultados, inferência e interpretação

Nessa fase os resultados brutos são tratados de forma a serem significativos e válidos. Em posse de resultados significativos e fiéis, o pesquisador pode propor inferências e adiantar interpretações acerca dos dados.

O quadro 8 apresenta as fases da análise de conteúdo relacionadas com as etapas que foram cumpridas pela pesquisadora, com o objetivo de alcançar os resultados esperados com a elucidação do problema de pesquisa:

Quadro 8 – Fases da Análise de Conteúdo para o Estudo

Fases da Análise de Conteúdo para o Estudo

Pré-Análise Nessa fase foi feita uma leitura atenta e detalhada da transcrição de todas as entrevistas, bem como das anotações do diário de campo com o objetivo de se identificar, mesmo que de forma inicial e intuitiva, os conteúdos que se relacionaram com a elucidação da pergunta de pesquisa: Como ocorre e qual a influência da criatividade aberta, a partir de uma ação em rede, para a geração de novas ideias dos usuários em ambientes de coworking?

Nessa fase se começou a identificar algumas palavras-chave e unidades de contexto relevantes para a definição das categorias analíticas.

Exploração do Material

Com base nos objetivos específicos da pesquisa e pelas teorias que norteiam o estudo, após a pré-análise do corpus, a pesquisadora identificou as palavras-chave e unidades de contexto de cada entrevista e as agrupou em categorias analíticas apriorísticas (CAMPOS, 2004). Nessa fase que se percebeu a necessidade de reformular algumas categorias analíticas e criar novas, não-apriorísticas (CAMPOS, 2004). Todas as categorias foram agrupadas em eixos temáticos. Nessa fase foram feitos os recortes de trechos das entrevistas, que também foram agrupados em categorias de análise, a fim de se identificar as significações pertinentes a existência de redes, e ao processo criativo dos indivíduos, e a influência do ambiente percebida por eles.

Tratamento dos resultados,

inferência e

interpretação

Nessa fase foram definidas as categorias analíticas e os eixos temáticos com base no campo teórico sobre criatividade (como etapa anterior a uma inovação) e redes, bem como dos conteúdos levantados pelos sujeitos de pesquisa durante a coleta de dados e informações. Os conteúdos que apareceram de forma mais contumaz foram utilizados para realizar inferências e interpretações que delinearam a resolução dos objetivos específicos e a resposta à pergunta de pesquisa. A pesquisadora procurou também não desprezar nenhum dos conteúdos apresentados pelos informantes, pois esses conteúdos tratam de experiências particulares, porém não isoladas, uma vez que elas ocorrem em um sistema social complexo, que é o ambiente de coworking.

Fonte: elaborado pela autora (2018)

Na fase de exploração do material que foram definidos os eixos temáticos e categorias analíticas que permitiram a organização sistemática e análise propriamente dita dos dados e informações, guiados pelo referencial teórico e objetivos específicos do estudo. É importante ressaltar que antes de ir ao campo já se tinha uma ideia de quais seriam esses eixos e essas categorias apriorísticas (CAMPOS, 2004), conforme é possível observar no quadro 6. No entanto, percebeu-se que esses dados e informações deveriam ser reorganizados para que os

objetivos da pesquisa pudessem ser atingidos. Sendo assim, criaram-se novas categorias não- apriorísticas (CAMPOS, 2004), as quais foram agrupadas em um novo eixo temático.

Dessa forma, os dados foram analisados a partir de três eixos temáticos: Indivíduo Criativo, Grupo e Ambiente Circundante. No eixo “Indivíduo Criativo” estão as categorias: criatividade e processo criativo; no eixo “Grupo” estão as categorias: redes, laços fracos e o

coworker; e, no eixo “Ambiente Circundante” estão as categorias: o espaço de coworking e o host do coworking.