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A teoria das redes inicialmente versa sobre o papel das relações sociais em variados níveis, como os interorganizacionais ou intraorganizacionais (GULATI; DIALDIN; WANG, 2002). No entanto, dentro dessa perspectiva as redes podem ser analisadas a partir de diferentes prismas, entre diferentes profissionais atuando como funcionários de uma organização ou como profissionais autônomos, uma vez que a rede emerge como um resultado da interação, com novas parcerias que modificam uma rede anterior e que desenham e formam novos laços interativos (GULATI; DIALDIN; WANG, 2002). Portanto, as redes são os meios pelos quais se obtêm capital de todos os tipos – financeiros, físicos e humanos, e que elas são os meios pelos quais nós aprendemos (PODOLNY, 2007).

As redes existentes dentro dos ambientes organizacionais podem ter papel fundamental para o ciclo criatividade-inovação, pois segundo Chedli (2014), a interação dos membros de uma rede é capaz de causar a movimentação de recursos (informação, motivação e mesmo recursos materiais) através da qual a criatividade e inovação podem emergir, uma vez que pessoas conectadas a grupos diferentes dos seus podem encontrar ideias valiosas nessas interações (BURT, 2004).

Dentro da perspectiva individual, Granovetter (1983) argumenta, em seu artigo The

Strengh of Weak Ties Revisited, que os laços fracos são fundamentais para a manutenção dos

sistemas sociais dos indivíduos, pois eles são vitais para a integração do indivíduo na sociedade moderna. O autor defende que indivíduos com poucos laços fracos vão ser privados de partes distantes de seus sistemas sociais e estarão limitados às visões e notícias de seus amigos mais próximos, os quais, por sua vez, terão visões provavelmente parecidas com as suas próprias. Essa privação pode colocar o indivíduo em uma situação de desvantagem no mercado de

trabalho, onde o progresso pode depender de ter informações sobre o trabalho na hora certa (GRANOVETTER, 1983).

Em acordo com o exposto, Burt (2004) argumenta que opiniões e comportamentos são mais homogêneos dentro dos grupos do que entre os grupos, então indivíduos que estão conectados por grupos são mais propensos a formas diferentes (das do seu grupo original) de pensar e de se comportar. O autor ainda propõe que as novas ideias emergem da seleção e síntese de informações através de lacunas estruturais entre os grupos que estão, de alguma maneira, conectados. Além disso, uma estrutura em rede que seja rica em lacunas estruturais pode ser considerada tudo que é necessário para induzir informações e recursos a fluírem através dessa rede, da mesma forma que uma corrente elétrica flui em um circuito (UZZI, 1997). As pessoas que estão inseridas em redes que transpõem lacunas estruturais têm uma vantagem em detectar e desenvolver oportunidades que surgem dessa transposição, pela qual a arbitrariedade da informação é considerada uma vantagem, e por isso elas correm um risco maior de terem boas ideias (BURT, 2004). Essa mesma lógica pode ser aplicada às lacunas estruturais existentes entre redes organizacionais, pois, organizações com redes de gerenciamento e colaboração que conectam lacunas estruturais em seus mercados parecem aprender de maneira mais rápida e ser mais produtivas no que diz respeito a processos criativos (BURT, 2004).

Por essa razão, a organização canônica formal, permeada por rigidez burocrática, é um veículo pobre para o fomento de aprendizado, pois as fontes de inovação não residem de maneira exclusiva dentro das empresas, mas são encontradas largamente nos interstícios entre as firmas como universidades, laboratórios de pesquisa, fornecedores e clientes (POWELL, 1990).

Um novo arranjo organizacional que diverge dessa ideia de organização canônica formal exposta por Powell (1990) é a ideia de organizações em forma de rede (PODOLNY; PAGE,

1998). Isso porque a participação em redes é capaz de beneficiar os membros ao proporcionar oportunidades de compartilhar vários tipos de recursos (GULATI; DIALDIN; WANG, 2002), dentre eles o conhecimento e a informação, que são condições necessárias para a geração de ideias criativas, úteis e originais que são, por sua vez, condição sine qua non para a inovação.

É possível encontrar na literatura, alguns autores que argumentam que as organizações em rede desempenham algumas funções específicas. Para Podolny e Page (1998) as redes permitem que as empresas participantes aprendam novas habilidades e adquiram novos conhecimentos, além de ganhar legitimidade e melhorar seu desempenho econômico. Os autores dividem as funções das redes nas organizações em três categorias principais:

1. Aprendizado: as formas de organização em rede fomentam o aprendizado porque o encorajam ao promover uma rápida transferência de informações entre seus participantes. Além disso, a existência de trocas dentro da rede pode gerar novos conhecimentos, tornando a rede o lócus de inovação em vez dos nós que compõem a rede.

2. Legitimidade e Status: quando o parceiro de um ator em uma organização em forma de rede já possui legitimidade ou status, os demais podem obter status ou legitimidades através de afiliação, o que por sua vez pode gerar alguns benefícios econômicos, desde a sobrevivência ao crescimento organizacional, bem como a lucratividade.

3. Benefícios Econômicos: ao promover uma comunicação mais fluida do que a comunicação do mercado, as redes facilitam uma maior coordenação diante de mudanças cuja importância não pode ser completamente transmitida ou compreendida através dos sinais dados pelo mercado.

Além destes aspectos, há outras funções importantes desempenhadas pelas redes, conforme Gulati, Dialdin e Wang (2002), alinhados com a ideia de Podolny e Page (1998),

dentre os quais o compartilhamento de vários tipos de recursos, como os recursos financeiros, institucionais e os recursos de conhecimento e informações.

Os recursos financeiros dizem respeito à ideia de que, em alguns casos, as redes permitem que as empresas tenham acesso ao capital necessário para investir em suas empresas. Além disso, como nas articulações em redes os membros têm mais informações uns sobre os outros, o custo de transação pode ser menor. Os recursos institucionais, por sua vez, dizem respeito à questão da legitimidade e status da rede organizacional como um todo. Por fim, os recursos de conhecimento e informação dizem respeito ao conhecimento coletivo de propriedade de todos os membros da rede, pois suas conexões compõem um canal para disseminar o conhecimento existente ou recém-adquirido para que todos os membros possam acessar rapidamente (GULATI; DIALDIN; WANG, 2002).

2.3.1 Laços fracos e laços fortes

Em 1983, Granovetter revisou sua teoria através do estudo apresentado no artigo The

Strenght of Weak Ties: a network theory revisited. A ideia fundamental de Granovetter é que

os laços fracos e fortes desempenham papéis diferentes, porém importantes, nas redes de relações entre indivíduos e entre sistemas sociais complexos.

Os indivíduos que compartilham “laços fortes” participam de um mesmo ciclo social, enquanto os que compartilham relações de “laços fracos” são fundamentais porque conectam vários grupos diferentes, rompendo as configurações de “ilhas isoladas” dos clusters, e assumindo a forma de rede social (GRANOVETTER, 1983). Nesse sentido, quanto menos relações de “laços fracos” existirem em sistemas sociais estruturados com base em “laços fortes” vão existir menos inovações (KAUFMAN, 2012).

Há que se considerar, ainda, que na evolução dos sistemas sociais, a fonte mais importante de laços fracos é a divisão do trabalho, juntamente com a crescente especialização e interdependência dos profissionais, pois eles resultam em uma variedade grande de papéis especializados, onde se conhece apenas uma pequena parte da personalidade do outro (GRANOVETTER, 1983). Nas relações de laços fracos, os conhecidos, em comparação com os amigos próximos, são mais propensos a se moverem em círculos diferentes dos seus. Em contrapartida, quanto mais próximos os indivíduos são, maiores as chances de existir sobreposição de contatos, de maneira que a informação à qual se tem acesso é a mesma que o outro também tem (GRANOVETTER, 1983).

Os laços fracos se inclinam muito mais a desempenharem o papel de pontes do que os laços fortes, ou seja, os grupos sociais que fazem o uso mais amplo dos laços fracos são aqueles cujos laços fracos os conectam a círculos sociais diferentes dos seus. Os laços fracos também fornecem às pessoas informações e recursos além daqueles existentes nos seus círculos sociais de laços fortes. No entanto, são nas relações de laços fortes que se encontra maior motivação para ajudar e os membros são mais disponíveis (GRANOVETTER, 1983).

A figura 2 serve para ilustrar como os laços fracos se configuram entre os sistemas sociais, fazendo o papel de conexão entre eles:

Figura 2 – Laços Fracos e Laços Fortes (Granovetter)

Dessa forma, os laços fracos são vitais para a integração dos indivíduos à sociedade. Além disso, os sistemas sociais que possuem poucos laços fracos têm maior probabilidade de serem fragmentados e incoerentes, já que as novas ideias vão se espalhar lentamente e os esforços científicos estarão em desvantagem (GRANOVETTER, 1983). As opiniões e os comportamentos tendem a ser mais homogêneos dentro dos grupos do que entre os grupos, então os indivíduos conectados entre grupos são mais familiarizados com maneiras alternativas de pensar e de se comportar (BURT, 2004).

No entanto, é preciso notar que os laços fortes nesses sistemas possuem também sua parcela de importância, pois para que os indivíduos adotem as inovações é necessário que haja um sentimento de identificação e confiança entre os membros da comunidade, que é o papel dos laços fortes (KAUFMAN, 2012). Quando deslocamos esse raciocínio para o ambiente organizacional, pode-se afirmar que uma empresa com muitos laços fortes e poucos laços fracos negocia com um conjunto limitado de parceiros e pode acabar se isolando nos mercados. E dessa forma, receberá um número menor de informações sobre novas oportunidades no mercado, além de desenvolver dependência de recursos com os parceiros com os quais a empresa possui esses laços fortes (GULATI; DIALDIN; WANG, 2002).