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3 A MÍDIA E SUA INFLUÊNCIA COM O LEGISLADOR NA PRODUÇÃO DE

3.1 Crimes de grande repercussão na mídia

O crime “dá audiência”, isso é inegável, e a mídia sabe explorar esse fato. Diariamente, é possível acompanhar nas páginas dos jornais, revistas, sites da internet e programas de televisão inúmeras notícias retratando a criminalidade. Quanto mais violento o crime, maior é sua repercussão nos meios de comunicação de massa.

O crime, enquanto notícia, pelo poder “venal” que tem, transformou-se em uma ferramenta de manipulação, a partir do momento em que a mídia passou a divulgá-lo, explorando os fatos, de forma a passar uma sensação de insegurança para a população brasileira.

Exemplos de crimes divulgados pela mídia são muitos, mas alguns, pela forma como foram praticados, ou pelo momento em que foram cometidos, marcaram a história e não foram esquecidos pela população.

A Constituição Federal de 1988 marcou não apenas o período de transição entre a Ditadura Militar e o Estado Democrático de Direito, mas, também, o início de um período de criminalidade que crescia rapidamente. O final da década de oitenta e o início da década de noventa, foram marcados por crimes que aterrorizaram a população, e tinham como objetivo, por quem os praticava, a obtenção de dinheiro.

A moda nesse período eram os crimes de extorsão mediante sequestro, em que os agentes delituosos mantinham em cativeiro suas vítimas, até receberem das famílias altas quantias em dinheiro. Dois desses crimes são lembrados ainda hoje, o sequestro do empresário Abílio Diniz e do publicitário Roberto Medina.

O empresário Abílio Diniz foi sequestrado no dia 11 de dezembro de 1989, quando se dirigia ao seu escritório, pertencente ao grupo Pão de Açúcar em São

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Paulo/SP, por militantes estrangeiros integrantes do MIR – Movimento de Esquerda Revolucionária, uma organização chilena.

Os sequestradores usaram uma Caravan disfarçada de ambulância para interditar o carro do empresário e pediram à família o valor de trinta milhões de dólares pelo seu resgate. O pagamento não chegou a ser realizado, pois os policiais encontraram o cativeiro onde os sequestradores mantinham Abílio Diniz em cárcere privado e o libertaram, seis dias após o sequestro. (Notícias BOL, 2012).

O publicitário Roberto Medina ficou 17 dias em poder dos sequestradores, após ser sequestrado no dia 6 de junho de 1990, quando saía da sua agência de publicidade, a Artplan, localizada na zona sul do Rio de Janeiro. Os autores do crime receberam o equivalente a dois milhões e quinhentos mil dólares para libertar o empresário, que embora debilitado pelos dias que passou no cativeiro, estava bem de saúde. (Almanaque Folha de São Paulo, 2012).

Ambos os casos foram veiculados pela mídia na época e repercutiram na sociedade brasileira, amedrontando a população que se sentia desprotegida, frente à onda de crimes que aumentava desenfreadamente a cada dia, como era difundido pelos meios de comunicação.

Alguns anos depois, a mídia novamente veiculou, em todos os meios de comunicação da época, um crime que revoltou a sociedade, o assassinato da atriz Daniela Perez por seu colega de trabalho, o também ator Guilherme de Pádua e sua mulher, Paula Thomaz, com dezoito golpes de tesoura.

A atriz Daniela, filha da escritora Glória Perez, era a principal atriz da novela do horário nobre da época De Corpo e Alma e era par romântico de seu assassino na trama. Seu corpo foi encontrado em um matagal da Barra da Tijuca. Os assassinos confessaram o crime e depois de julgados, foram condenados a mais de dezoito anos de prisão cada um. (Terra, 2012).

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A morte de oito meninos que dormiam na rua, em frente à Igreja Candelária no Rio de Janeiro, na noite do dia 23 de julho de 1993, foi outro crime que chocou a população brasileira.

As vítimas foram surpreendidas enquanto dormiam por homens que dispararam armas de fogo, não dando chance de reação. Mais de quarenta crianças e adolescentes dormiam no local no momento dos disparos. Os meninos foram exterminados por Policiais Militares e as razões do crime não foram esclarecidas, embora houvesse a suspeita de represália, por protestos realizados por meninos de rua no dia anterior. O crime ficou nacionalmente e internacionalmente conhecido como a “Chacina da Candelária”. (VEJA, 2012).

Policiais militares, desta vez paulistas, foram o foco das atenções da mídia mais uma vez no ano de 1997, quando a emissora de televisão da Rede GLOBO divulgou cenas de um crime que deixou os brasileiros estarrecidos.

Imagens feitas por um cinegrafista amador nos dias três, quatro e cinco de março entregues a um repórter da emissora, denunciavam a crueldade de dez policiais militares na Favela Naval em Diadema, São Paulo, extorquindo dinheiro, humilhando, espancando e executando pessoas em uma blitz.

As imagens, chocantes e cruéis, foram manchete dos meios de comunicação por vários dias. A emissora responsável pela denúncia recebeu inúmeras mensagens, demonstrando a indignação da população em relação a esse crime, cometido por quem deveria garantir a segurança da população. (Memórias GLOBO, 2012).

Outro crime que chocou a sociedade brasileira foi o assassinato de Isabela Nardoni, uma menina de apenas seis anos, assassinada por seu pai, Alexandre Alves Nardoni e por sua madrasta, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, na noite do dia 29 de março de 2008.

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Ela caiu da janela do apartamento, no sexto andar do prédio, onde morava seu pai. A menina foi encontrada, caída no jardim, ainda com vida e foi socorrida ao pronto socorro infantil, mas não resistiu.

Além dos ferimentos causados pela queda, Isabela tinha marcas de dedos no pescoço, sangue coagulado nos pulmões e coração, as extremidades das unhas e da língua roxas, indicando que possivelmente, ela tivesse sido asfixiada antes da queda. (Época, 2008).

Esse crime virou notícia no país inteiro e comoveu a sociedade brasileira, que não conseguia aceitar, que o próprio pai, com a ajuda da atual mulher, tivesse assassinado a menina, cortado a tela de proteção da janela do quarto e a projetado para fora, possivelmente logo após terem-na asfixiado com as mãos.

Os casos acima relatados são exemplos de o quanto a mídia, aproveitando-se da curiosidade das pessoas pela ocorrência dos crimes, usa os casos para atingir a audiência esperada. Recentemente, houve mais um caso explorado pela mídia que ganhou repercussão nacional, a invasão, por hackers, ao computador da Atriz Carolina Dieckmann.

Fotos íntimas foram furtadas e usadas para chantagear a atriz, a pagar a quantia de dez mil reais, para evitar que as fotos fossem publicadas. Carolina não cedeu à pressão e suas fotos foram parar na internet e virou caso de polícia. (Notícias R7, 2012).

É possível observar, com essa trajetória de crimes veiculados pela mídia ao longo dos anos, que o interesse da sociedade pelos noticiários que abordam a criminalidade, não é uma questão moderna, mas sim histórica, e a mídia aprendeu a explorar esses fatos para, através deles, atingir seus objetivos e auferir lucros.

Os crimes acima mencionados, juntamente com outros não relatados, mas também com considerável repercussão, foram o “estopim” para a elaboração de leis em caráter de urgência, leis conhecidas por muitos juristas como a “legislação do

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pânico”. Necessário faz-se, agora, relacionar as leis com os respectivos crimes, que foram frutos da exploração midiática, a ser objeto de item específico.