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A influência da mídia em alterações da lei penal e processual penal brasileira

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

VANESSA ADRIANA CONRAD

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM ALTERAÇÕES DA LEI PENAL E PROCESSUAL PENAL BRASILEIRA

IJUÍ (RS) 2012

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VANESSA ADRIANA CONRAD

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM ALTERAÇÕES DA LEI PENAL E PROCESSUAL PENAL BRASILEIRA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Patrícia Borges Moura

IJUÍ (RS) 2012

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Dedico este trabalho monográfico à minha família e meus amigos, que além de darem o suporte necessário, souberam respeitar meus momentos de ausência, enquanto me dedicava aos estudos.

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AGRADECIMENTO

À minha orientadora, professora Patrícia Borges Moura, meu sincero agradecimento pelo valoroso auxílio prestado no decorrer da elaboração desta monografia.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica se propôs a fazer uma análise da influência da mídia com o legislador nas alterações da lei penal e processual penal brasileira. Para tanto, de início, resgatou brevemente o surgimento dos meios de comunicação de massa, sua importância e influência na opinião pública para, a seguir, analisar algumas alterações legislativas relevantes. Com enfoque a crimes com grande repercussão midiática, que resultaram na edição de nova legislação reguladora, a pesquisa referenciou, criticamente, a aplicabilidade e eficácia das leis editadas em razão da influência da mídia. Nesse contexto, a presente monografia foi desenvolvida utilizando-se do método dedutivo, com exame de temáticas gerais e por meio de revisão bibliográfica.

Palavras-Chave: Mídia. Influência. Legislador. Direito Penal. Direito Processual Penal.

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ABSTRACT

The present research monograph set out to do an analysis of media influence with the legislature on changes in criminal law and criminal procedure in Brazil. To do so, at first, soon rescued the emergence of means of mass communication, its importance and to influence public opinion, then, examine some relevant legislative changes. With focus on crimes with great media impact, which resulted in the issue of new regulatory legislation, research referenced, critically, the applicability and effectiveness of laws enacted due to the influence of the media. In this context, this paper has been developed using the deductive method, to take general thematic and literature review.

Keywords: Media. Influence. Legislator. Criminal Law. Criminal Procedural Law.

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6 simp SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 7

1 A MÍDIA E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA ... 9

1.1 O surgimento da mídia brasileira ... 10

1.2 A evolução tecnológica da mídia ... 17

1.3 A influência da mídia na opinião pública ... 21

2 ALGUMAS ALTERAÇÕES RELEVANTES NA LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL ... 26

2.1 Os crimes hediondos, o crime de tortura, os crimes de trânsito e a violência doméstica: algumas alterações da legislação penal ... 27

2.2 A reforma do Código de Processo Penal de 2088 ... 36

2.3 O interrogatório por videoconferência e as medidas cautelares ... 44

3 A MÍDIA E SUA INFLUÊNCIA COM O LEGISLADOR NA PRODUÇÃO DE LEIS PENAIS E PROCESSUAIS PENAIS ... 48

3.1 Crimes de grande repercussão na mídia ... 50

3.2 A influência da mídia nas alterações da lei penal e processual penal ... 54

3.3 Consequências das alterações feitas pelo legislador sob a influência da mídia: uma abordagem crítica ... 57

CONCLUSÃO ... 65

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objetivo estudar a influência da mídia nas alterações da lei penal e processual penal brasileira. Tema relevante por chamar a atenção para a mídia, como meio de difusão de informações e grande formadora de opinião, em uma sociedade que, culturalmente, aceita a versão dos fatos exposta pela mídia como sendo a única e verdadeira.

A escolha do tema se justifica pelo fato de que é notória a influência exercida pela mídia sobre o legislador. A mídia não é apenas formadora da opinião pública, é também incentivadora do legislador, e quando se trata da alteração de leis, que são responsáveis por mudarem a trajetória de uma vida, necessário se faz analisar se esta influência, justificada na maioria das vezes por ser fruto do aclame público, não pressiona o legislador a fazer alterações desnecessárias, apenas para calar àqueles que impiedosamente os criticam.

O seu objetivo é analisar a influência da mídia com o legislador quando da elaboração de leis, bem como suas consequências para a sociedade, a partir de uma análise crítica, com base no estudo de casos com repercussão midiática e a relação com a edição de leis reguladoras.

Para tanto, no capítulo primeiro, far-se-á o resgate histórico do surgimento da mídia no Brasil, detalhando a forma como cada meio de comunicação, jornais, revistas, rádio, televisão e internet, iniciaram sua trajetória e como se deu sua evolução até tornarem-se um meio de comunicação de massa, formando o que se conhece por mídia, sua importância histórica e sua influência na opinião pública.

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No capítulo segundo, será elencado um rol de leis elaboradas para atualizar a legislação penal e processual penal em vigor, dividindo o estudo em três momentos, sendo que no primeiro detalhar-se-á leis referentes à legislação penal, destacando a Lei nº 8.072/90; Lei nº 9.455/97; Lei nº 9.503/97; Lei nº 11.340/06, no segundo momento, a Reforma do Código de Processo Penal de 2008, com as Leis nº 11.690/08; 11.689/08 1 11.719/08 e no terceiro momento, as Leis nº 11.900/09 e 11.403/11.

No capítulo terceiro, primeiramente, serão relatados alguns dos crimes com grande repercussão midiática, como os sequestros dos empresários Abílio Diniz e Roberto Medina, o assassinato da atriz Daniela Peres, a Chacina da Candelária, a tortura na Favela Naval em Diadema, o assassinato da menina Isabela Nardoni e a invasão do computador da atriz Carolina Dieckmann.

Posteriormente, será feita uma relação desses crimes com as leis, que foram editadas logo em seguida à divulgação desses crimes pela mídia, versando sobre o tema discutido pela sociedade a partir da midiatização desses crimes. E, para finalizar, de uma forma crítica, analisar se a elaboração de leis a partir da influência da mídia traz benefícios ou prejuízos para a sociedade e se o resultado esperado com a elaboração dessas leis é atingido.

Para embasar o trabalho, será abordado o posicionamento de doutrinadores acerca da matéria, com o objetivo de analisar de forma crítica, o grau de influência da mídia sobre o legislador, especificamente quando ocorre um crime amplamente explorado pelos meios de comunicação.

O presente trabalho se encerra com as considerações finais, apresentando pontos conclusivos acerca do tema abordado, e uma reflexão crítica sobre a influência da mídia com o legislador na elaboração de leis reguladoras de fatos com grande repercussão midiática.

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1 A MÍDIA E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA

O ser humano é curioso por natureza, razão de procurar manter-se informado sobre os acontecimentos a sua volta. Com a organização em sociedade, aumentou o interesse do homem na busca pelo conhecimento, levando-o a criar meios para a circulação das informações.

Em decorrência desta natural curiosidade humana e da necessidade de trocar informações é que os primeiros meios de comunicação surgiram. Não demorou muito para que evoluíssem e se tornassem meios de comunicação de massa, dando origem à “mídia” como é conhecida atualmente.

No entanto, em consequência da significativa evolução tecnológica dos últimos anos, está surgindo uma nova mídia, capaz de difundir as informações com precisão, rapidez e com riqueza de detalhes.

Dizard Jr. (2000, p. 23) retrata essa evolução:

Os puristas podem argumentar que a nova mídia é substancialmente diferente da velha: confundi-la com a mídia convencional seria misturar laranjas com maças, canais tradicionais com a nova mídia eletrônica. A verdade, no entanto, é que a linha divisória entre as duas está sendo diluída todos os dias.

A mídia desempenha um papel importante na difusão das notícias, pois possibilita o repasse das informações quase em tempo real para a sociedade. Com ela, pode-se levar ao conhecimento das pessoas, inclusive daquelas que vivem fora dos grandes centros, informações que sem os meios de comunicação, possivelmente não lhes seriam acessíveis.

Atualmente é inimaginável a vida humana em sociedade sem a mídia, em que, certamente, as pessoas viveriam isoladas em pequenos grupos, sem condições de saber o que acontece com os demais e com o mundo a sua volta.

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Neste capítulo será estudada uma série de considerações sobre a mídia no Brasil, seu surgimento e evolução enquanto meio de comunicação de massa, o crescente desenvolvimento tecnológico e a sua significativa influência na opinião popular.

1.1 O surgimento da mídia brasileira

A informação faz parte da vida do homem que passa grande parte do seu tempo trocando informações, seja transmitindo ou recebendo. Circula entre as pessoas de modo natural, pois o indivíduo tem a necessidade de se comunicar. Por viver em sociedade, não consegue ficar alheio aos acontecimentos a sua volta.

O pensamento de Stephens (apud BERTOL; FROSI 2004, p. 2) reflete essa necessidade:

Não faz diferença se estamos acostumados a acompanhar as notícias de uma ilha ou do mundo inteiro; quando o fluxo de notícias sofre uma obstrução – privando-nos de nossa visão costumeira – se estabelece a escuridão [...] “Sem as notícias”, escreveu o historiador Pierre Sardella, “o homem se sentiria infinitamente diminuído.” [...] uma sede de conhecimento. É essa a fonte de nossa obsessão.

Algumas pessoas procuram a informação simplesmente pelo prazer de obtê-la, outras pela necessidade do conhecimento. Não importa o motivo, esta busca é uma necessidade humana e ocorre desde que iniciou o convívio em sociedade. Faz parte do “ser social”, que não consegue ficar alheio ao que acontece à sua volta, seu instinto lhe impulsiona a investigar e consequentemente, repassar as informações colhidas.

A história da mídia no Brasil teve início no ano de 1808, com a chegada da família real. Até esse momento, temendo perder o controle sobre a Colônia, era proibida toda e qualquer atividade midiática. Para garantir a alienação, os monarcas usavam sua autoridade e tirania para impedir qualquer manifestação da imprensa, pois acreditavam que um povo com acesso às informações, deixaria de acatar as ordens, perdendo a família real a submissão até então garantida.

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Somente com a chegada de D. João VI é que iniciaram os trabalhos da imprensa no Brasil, pois foi ele quem trouxe na sua bagagem, o material tipográfico que deu início à trajetória dos meios de comunicação na sociedade brasileira. (BAHIA, 1990).

Segundo registros históricos, a chegada da imprensa no Brasil é assim relatada:

Na bagagem do príncipe-regente, então com quarenta anos de idade, incluem-se 2 prelos e 26 volumes do material tipográfico do Arco do Cego comprado na Inglaterra para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Consignada a Lisboa, a tipologia veio a bordo da Meduza, uma das naus da família, e às ordens de D. Antônio de Araújo de Azevedo (mais tarde, conde da Barca). (BAHIA, 1990, p. 9, grifo do autor).

Assim, com o atraso de três séculos inaugura-se a imprensa no Brasil. O surgimento tardio da imprensa brasileira é uma de suas principais características, e se justifica pela ausência da burguesia e do capitalismo. São praticamente duzentos anos de atraso em relação aos demais países americanos como Estados Unidos e México. (BAHIA, 1990).

Além da ausência da burguesia e do capitalismo, havia outras razões para que o Brasil, então Colônia de Portugal, não tivesse acesso aos meios de comunicação. Os portugueses acreditavam que o acesso à informação era um meio de libertação dos povos e por isso não deveria fazer parte das colônias, garantindo assim a submissão das populações.

Com o intuito de assegurar o colonialismo e manter o controle dos interesses políticos e econômicos dos portugueses, é que se abafavam as iniciativas da imprensa. Com o uso inclusive da força, detinham as aspirações de liberdade e justiça, garantindo a permanência da colônia no regime escravocrata e monocultor.

O temor da libertação da Colônia pela informação pode ser verificado no texto transcrito a seguir:

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O precedente verificado nos territórios coloniais do oriente (...) põe por terra toda a argumentação de que Lisboa visualizava na imprensa um instrumento revolucionário, capaz de propiciar a libertação dos povos colonizadores, e que, por isso mesmo, deveria ser aniquilada. Ao contrário, a imprensa foi no oriente um recurso eficaz para assegurar a submissão das populações, tarefa a que os missionários se entregaram com entusiasmo. (MELO apud BERTOL; FROSI, 2004, p. 2).

Até a chegada do Príncipe Regente D. João VI, o domínio português, que iniciou em 1500, mobilizava-se para asfixiar a livre manifestação do pensamento e considerava crime a palavra imprensa, somente de forma clandestina é que existia a arte gráfica no Brasil.

Bahia (1990, p.10) aponta em seu trabalho a clandestinidade da imprensa:

A arte gráfica no Brasil é clandestina. Em 1706, a tentativa de fazer funcionar um prelo em Pernambuco sofre bloqueio da autoridade colonial. No Rio, a tipografia de Antônio Isidoro da Fonseca, aberta em 1746, é fechada em 1747 pela Carta Régia, de 10 de maio, que proíbe a impressão de livros ou de papéis avulsos.

A primeira manifestação da mídia no Brasil, oficialmente autorizada pelos portugueses se dá pela criação da Imprensa Régia e ocorre através do Jornal Gazeta do Rio de Janeiro. Sua primeira edição saiu em 10 de setembro de 1808. (BAHIA, 1990).

No início, a edição do jornal era semanal e publicada aos sábados, depois, passou a ser bissemanal, publicando edições nas quartas e sábados. Posteriormente aumentou ainda mais o número de edições publicadas, passando a três edições semanais, mais as edições extraordinárias.

As notícias publicadas pela Gazeta do Rio de Janeiro referiam-se favoravelmente ao governo e informavam seus assinantes sobre as novidades que aconteciam pela Europa, principalmente Portugal e Espanha, sem, no entanto, informar os leitores sobre o que acontecia no Brasil.

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A censura, fortemente empregada na época, é retratada no texto de Bahia (1990, p. 14-15), a seguir transcrito:

A Junta Diretora da Impressão Régia é, de fato, um conselho de censura prévia, porque entre as suas atribuições está a de “examinar os papéis e livros que se mandassem publicar e fiscalizar que nada se imprimisse contra a religião, o governo e os bons costumes”. Mariano da Fonseca, aliás, fora vítima de devassa e preso, em1794.

Paralelamente ao jornal oficial brasileiro, Gazeta do Rio de Janeiro, circulava clandestinamente as edições do jornal Correio Brasiliense. Esse foi efetivamente o primeiro jornal brasileiro, ainda que editado fora do Brasil.

Pouco tempo antes de ser lançada a Gazeta do Rio de Janeiro, o então exilado Hipólito José da Costa, lançou em Londres o Correio Brasiliense. Sua primeira edição foi em junho de 1808, mas só chegou ao Brasil em outubro do mesmo ano.

Esse jornal, embora clandestino, tinha grande repercussão no Brasil, principalmente nas camadas mais esclarecidas, por trazer aos leitores informações do país e não somente sobre os príncipes europeus.

Em razão da forte censura da Imprensa Régia, o Correio Brasiliense foi proibido e apreendido pelo governo. O primeiro jornal brasileiro foi censurado e teve que sair de circulação justamente porque publicava a realidade sobre o governo, que temia represálias.

A censura prévia é extinta em 1821 e o Brasil passa a beneficiar-se com o livre intercâmbio. Com quase três séculos de atraso, a imprensa se incorpora definitivamente à construção da nacionalidade brasileira.

Sobre o tema, Bahia (1990, p. 19) argumenta:

O liberalismo português derrota o absolutismo português em Portugal e no Brasil. É um passo no caminho da emancipação. O Brasil, que realizara no século XVIII a mistura de raças, fará no século XIX duas revoluções – a Abolição e a República.

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A liberdade de imprensa já era garantida pela Constituição de 1924, a partir desse momento, a imprensa começa a se expandir e outros meios de comunicação de massa, já existentes em outros países, começam a chegar ao Brasil.

A revista, cuja primeira edição foi publicada em 1812, intitulada de “As variedades”, também conquistou seu espaço no Brasil. Sucesso em outros países e com formato semelhante ao do livro, mas de conteúdo diferente, muda o jeito de repassar informações (CORREA, 2005, p. 2).

O livro tratava somente de um assunto, já a revista inovou, trazendo em suas páginas assuntos diversos. Sua variedade possibilitava ao leitor escolher o que queria ler. Sua popularidade rapidamente a transformou, em um meio de comunicação, tão importante como o jornal já tinha se tornado.

O ano de 1922 marca o início da rádio no Brasil. Foi no Rio de Janeiro que ocorreu a primeira transmissão, durante a festa em comemoração à independência do país. Sobre a primeira transmissão da rádio no Brasil, Sampaio (1984, p.94) aponta:

Em setembro de 1922 o Rio de Janeiro, então capital da República, era sede de grandes festejos comemorativos do Primeiro Centenário da Independência. Desfiles, festas, fogos de artifício, inaugurações. Dentre estas, a de primeira grandeza foi a abertura da Grande Exposição do Centenário da Independência, constituídas de ricos e belos pavilhões mandados construir pelo nosso Governo e por vários grandes países da Europa e da América. Esses pavilhões ficaram sediados no local do Morro do Castelo, que para tanto foi derrubado e suas terras usadas no aterro e plainamento da área destinada às construções da exposição.

Em 07 de setembro, o então Presidente da República Epitácio da Silva Pessoa falou para um grupo privilegiado de pessoas em comemoração ao Centenário da Independência no Brasil, através de alto falantes que foram posicionados em diversos pontos.

A primeira rádio brasileira, que foi fundada por Roquette Pinto e Henry Morize em 1923, chamou-se Rádio Sociedade do Rio de Janeiro:

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Era a primeira a inaugurar-se no país. O seu objetivo trabalhar pela

cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil,

continua de pé até hoje, de acordo com a vontade de Roquette Pinto, mas com título diferente: Rádio Ministério da Educação. (SAMPAIO, 1984, p. 96, grifo do autor).

Esse novo meio de comunicação se expandiu de forma rápida, mas atingia uma pequena parcela da população, pois para ter acesso à transmissão era necessário pagar, logo sua programação era feita para a burguesia, e em sua programação não eram incluídos assuntos de interesse popular.

Não demorou muito para a rádio chegar às demais classes da sociedade brasileira. Transmitindo informações aos ouvintes e proporcionando-lhes entretenimento com suas músicas e radionovelas, deu início a uma era de comunicação de massa, de ídolos da música e mitos populares.

Logo em seguida a rádio, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, em 1950 trouxe para o Brasil a Televisão.

Mas quem se arriscaria a um tal empreendimento? Isso não foi problema para um empreendedor arrojado e progressista como Francisco Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. Em fins da década de 1940 Assis Chateaubriand reuniu seus amigos mais íntimos e comunicou: “Vamos instalar uma emissora de televisão em São Paulo, e já providenciei a encomenda do aparelhamento”. (SAMPAIO, 1984, p. 199).

A primeira emissora de televisão brasileira foi a TV TUPI, inaugurada no Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1950, é uma referencia para a história da TV no Brasil, que foi o primeiro país da América Latina a ter a televisão. (Sampaio, 1984).

Adquirida no Brasil, quando nos Estados Unidos da América apenas anunciava-se sua exploração, a televisão encantou e agradou os telespectadores brasileiros com suas imagens.

No início, o alto custo dos aparelhos transmissores das imagens, fez a televisão ficar restrita àqueles que possuíam condições financeiras para adquiri-la, e

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mais uma vez, a burguesia brasileira foi privilegiada em relação ao restante da sociedade.

Não demorou muito para empresas brasileiras começarem a produzir os televisores. Com o aumento da oferta, baixaram os preços e a televisão se popularizou no Brasil, tornando-se um objeto indispensável nos lares da maioria dos brasileiros.

A imagem dos personagens das telenovelas, antes criados pela imaginação dos ouvintes da rádio, agora estavam diante dos olhos dos atentos telespectadores. Maravilhados com a possibilidade de ver e ouvir o que antes somente ouviam e imaginavam, abandonam as radionovelas, fazendo com que os proprietários das emissoras de rádio acreditassem ser, o início do fim da rádio.

A televisão foi sem dúvida, uma grande evolução para a mídia brasileira, pois agora, além das pessoas ouvirem as notícias e informações, podiam também ver o que e quem era transmitido.

Nesse mesmo passo de evolução tecnológica, porém muitos anos depois da rádio e da televisão, chega ao Brasil a Internet, o maior meio de comunicação de massa de todos os tempos.

Sucesso em países como os Estados Unidos da América, a Internet chega ao Brasil no ano de 1991, dando início a uma grande revolução na forma de difusão das informações.

Inicialmente utilizada pelos cientistas e restrita ao ambiente educacional das universidades, a internet se torna uma ferramenta auxiliar nas pesquisas, possibilitando a troca de informações através do correio eletrônico.

“Caçula” dos meios de comunicação, a internet deixou o ambiente científico e educacional, chegando ao setor privado no ano de 1995, tornando possível sua exploração comercial pela população brasileira.

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A empresa responsável pela comercialização da internet no Brasil foi a EMBRATEL, que após analisar seu uso nos Estados Unidos, em 1994 resolveu estudar uma forma de viabilizar sua exploração comercial também no Brasil. Foi no ano de 1995, após uma experiência com um pequeno grupo de pessoas convidadas, que o acesso foi expandido e liberado a um número maior de usuários. (CARVALHO, 2006).

O alto custo restringiu o acesso à internet à sempre favorecida elite brasileira. Cara, lenta e de forma discada, era acessível somente por quem dispunha de dinheiro para comprar os equipamentos de informática.

O privilégio ao acesso à internet aos poucos foi se popularizando. A fabricação dos produtos de informática pelas empresas brasileiras permitiu a redução dos custos, conectando a nação brasileira à maior rede de comunicação do mundo.

1.2 A evolução tecnológica da mídia

Como se pôde verificar, a mídia surgiu no Brasil muitos anos depois de ser inventada em outros países. Enquanto meio de comunicação de massa, a mídia revolucionou a forma de comunicar-se das pessoas, pois possibilitou que notícias de interesse comum, fossem transmitidas àqueles que se encontravam muito distantes de onde o fato acontecia.

A evolução tecnológica dos meios de comunicação permitiu o aumento do alcance da mídia. No começo, o jornal, a rádio e a televisão conseguiam atingir um pequeno grupo de pessoas, à medida que novas tecnologias surgiram, esses meios de comunicação foram se aperfeiçoando e evoluindo para acompanhar o desenvolvimento da sociedade.

A imprensa brasileira levou setenta e dois anos para evoluir da primitiva tipografia, trazida por D. João VI, para a era empresarial. A tipografia artesanal, perdeu espaço para a produção em grande escala, exigindo com isso, tecnologias, aparelhos e mão de obra qualificada.

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Sobre a evolução tecnológica da imprensa brasileira, Bahia (1990, p. 105-106) destaca que:

Itens de escala técnica incorporam-se a uma tipografia que antes dependia exclusivamente de habilidade manual. Inovações mecânicas, a divisão do trabalho, a especialização, a racionalização de custos, a conquista de mercados pouco a pouco transformam a velha tipografia, aposentam superados prelos, ampliam a indústria gráfica.

Na realidade, o jornalismo ainda luta contra o atraso tecnológico que decorre da sua própria existência no país. Editorialmente, em termos de conteúdo e produção, o jornal e a tipografia confrontam-se no Brasil com perdas técnicas que remontam a três séculos e que só não são irreparáveis porque se trata de um campo em constante evolução.

Esse avanço tecnológico transformou a imprensa em uma empresa altamente lucrativa, que para continuar atendendo as exigências dos leitores, teve que permanecer evoluindo tecnologicamente, até chegar à condição dos dias atuais.

A comunicação escrita passou a disputar espaço com a falada, à ouvida e a virtual, e para continuar forte, precisou tornar-se atrativa, proporcionando ao leitor, além de uma informação de qualidade, cultura e entretenimento, tudo isso com criatividade e aparência chamativa.

As antigas páginas dos jornais em preto e branco ganham cor, ainda que não em sua totalidade, resultado da preocupação em manter o leitor bem informado e satisfeito com o produto que chegava às suas mãos. As revistas também se modernizam à medida em que o leitor fica mais exigente, diversificando cada vez mais o que é publicado.

Os periódicos, antes mensais, passaram a semanais ou ainda, a edições diárias, com tiragem numerosa e, disponíveis em bancas, ao acesso da população em geral ou com entrega domiciliar, a critério do interessado.

A rádio, não fugindo a evolução tecnológica vivenciada pela imprensa, deixou de ser privilégio de poucos para cair na graça da sociedade. A aquisição dos

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aparelhos ficou mais barata, permitindo o aumento significativo do número de ouvintes, virando mania nacional.

O texto abaixo demonstra como foi essa expansão da rádio:

Traziam “circuitos infalíveis” para pegar estações de todo mundo. Entre os rapazes era comum a conversa sobre rádios de galena, sem pilhas, receptores com válvulas em circuitos regenerativos. Compravam kits completos de peças e os novos fãs, munindo-se de chaves de fenda, soldadores, alicates etc., iam fazendo a montagem do tão desejado aparelho. Os rádios desse tempo não funcionavam com a corrente alternada da Light, mas sim com acumuladores e pilhas secas, para a corrente contínua.

Cada aparelhinho daqueles era mantido pelo seu dono com muito carinho, com a estima que se tem por algo precioso e raro. A sua música tinha um sabor especial das coisas misteriosas. (SAMPAIO, 1984, p. 95, grifo do autor).

A crescente implantação de tecnologias para a melhoria da radiodifusão permitiu o aumento do alcance das ondas de rádio, possibilitando que as estações conquistassem seu território, tornando-se um meio de comunicação muito lucrativo.

As radionovelas conquistam os ouvintes, a programação que incluía entretenimento e informação angariou muitos adeptos, consagrando a rádio na sociedade brasileira.

Com a popularização da rádio, interessados em obter lucro com essa nova ferramenta, investiram em novas emissoras, que rapidamente se espalharam por todo o país. As novas tecnologias empregadas permitiram que as ondas da rádio fossem levadas para os “quatro cantos” do país.

Ao passo da evolução, a televisão que outrora já fora uma ameaça para a existência da rádio, também usa da tecnologia para se aperfeiçoar. Sobre o tema, Sampaio (1984, p. 203) assim aponta:

“Um golpe definitivo no rádio – o mais sério – aconteceria em 1950, com o advento da televisão. Conjugando som e imagem, o rádio está condenado à extinção pelo novo veículo. Por sorte sua, os receptores ainda são caros, mas as verbas mais ponderáveis vão para a televisão, esvaziam o rádio. O rádio se desfaz de seus

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elencos. O rádio se transforma num toca-discos e luta, sem ressonância. Até mesmo as classes menos favorecidas se transformam em televizinhos. Mesmo porquê a tevê começa onde o rádio termina, importando do rádio seus produtores, cantores, comediantes, artistas. As emissoras que ainda insistem fazem-no heroicamente. Em cada grande capital, de dez a vinte emissoras lutam por uma diminuta faixa de público, maior de trinta anos, nostálgico ou despreparado e sem lastro econômico. O rádio baixa de nível. A televisão se firma e se confirma.”

A implantação da indústria de televisores no Brasil barateia os custos, permitindo o acesso à novidade pela população brasileira. Através da imagem, a informação chega ao telespectador, e a televisão se firma definitivamente nos lares brasileiros.

As tecnologias vão surgindo e a televisão ganha à forma e cor dos dias atuais, mas contrariando a previsão, não acaba com a rádio, apenas divide o espaço antes dominado pela voz dos locutores e seus programas.

A internet modificou a forma de transmitir as informações. Enquanto que, os demais meios de comunicação têm a necessidade de selecionar e editar o que será publicado, o espaço na rede é ilimitado. Na internet é possível disponibilizar as notícias à medida que elas vão acontecendo, sem cortes ou adequações.

A possibilidade de a Internet divulgar tudo o que acontece no dia-a-dia, beneficiou a sociedade, que passou a tomar conhecimento dos fatos na sua totalidade, sem cortes ou edições. Os demais meios de comunicação, em sua maioria, controlados pela elite, transmitem somente o que a ela favorece e interessa.

Na internet, qualquer um que queira pode publicar informações, é claro que por essa razão, é necessário o leitor sempre verificar a fonte da informação, para averiguar sua veracidade.

Computadores modernos substituem os antigos, grandes, pesados e limitados. O emprego da tecnologia à produção dos equipamentos de informática aperfeiçoou essa ferramenta de comunicação.

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Os aparelhos foram se compactando e diminuindo de tamanho, a ponto de caberem na palma da mão. Os antigos cabos foram sendo dispensáveis com a praticidade e agilidade do acesso à internet pela rede sem fio.

A internet evoluiu de tal forma, que conquistou espaço na casa das pessoas e mais recentemente nas escolas, servindo de ferramenta auxiliar no aprendizado e facilitando as pesquisas escolares.

A disponibilização das informações, instantes depois do seu acontecimento, torna a internet atrativa, ainda mais por ser possível o acesso à rede no horário que quiser, sem ter que ficar restrito a uma programação pré-definida.

Os demais meios de comunicação, utilizando-se das informações veiculadas na internet, conseguem mais rapidamente ter acesso às notícias. O correio eletrônico, popularmente conhecido por e-mail e as redes sociais, revolucionaram a forma das pessoas se comunicarem umas com as outras, independentemente da distância. Atualmente, são inúmeras as pessoas que acessam diariamente a internet no Brasil, pelos mais variados motivos.

O papel da mídia na sociedade é muito importante, pois é ela quem repassa as informações, difundindo o conhecimento. Sua credibilidade junto à população é indiscutível, sendo que, para muitos, o conteúdo repassado pelos meios de comunicação é tido como verdade absoluta e inquestionável, e por esta razão, a mídia assume outro papel, que vai além da missão de repassar informações, o de formar opiniões.

1.3 A influência da mídia na opinião pública

O surgimento dos meios de comunicação de massa, e sua expansão territorial, interferiram diretamente na maneira de pensar das pessoas, modificando o jeito de como a opinião pública é formada.

Antes, a opinião pública se formava nos pequenos grupos, com base em informações colhidas em suas comunidades. Agora, face ao amplo e rápido acesso

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às notícias através da mídia, a opinião pública se confunde com a opinião que é publicada.

Nesta época, os interesses da classe burguesa (quando o “público” ainda era composto pelos proprietários burgueses) representavam o interesse geral, qual seja, a própria ideia da incipiente opinião pública. Implica em dizer que, os interesses defendidos e sustentados pela burguesia (considerada como o “público” da época) eram identificados com a própria noção de opinião pública. (ANDRADE, 2001, p. 37).

A credibilidade nas informações veiculadas pelos meios de comunicação de massa e o fácil acesso às notícias, faz com que a mídia tenha uma forte influência sobre a formação do pensamento das pessoas em relação a determinado assunto.

A mídia tem um grande poder de persuasão e por isso é considerada uma fonte formadora da opinião pública. Alguns meios de comunicação são tão respeitados pela sociedade, que as informações transmitidas por eles são admitidas como verdades absolutas.

O poder da mídia sobre a sociedade e a confiança conquistada por ela é um tema abordado por Andrade (2007, p. 15):

Se, por um lado, novos equilíbrios devem ser encontrados, por outro, a mídia já sedimentou a sua atuação com legitimidade frente à sociedade brasileira. Exemplo claro disso é o elevado grau de confiança que os brasileiros depositam nas informações divulgadas através de notícias veiculadas pelos variados órgãos da mídia.

A interferência da mídia na opinião pública é uma questão moderna, consequência da nova mídia que está surgindo. A facilidade que a sociedade tem para acessar os meios de comunicação de massa, aliada às tecnologias empregadas para a difusão das informações por esses meios, é que tornam possível a influência na forma de pensar das pessoas.

O processo de formação da opinião pela mídia se dá de diversas formas. Um meio estudado é o “efeito cascata”. Segundo ele, a opinião pública é formada com base no pensamento de poucos, que estão no topo da pirâmide da sociedade.

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Esta forma de pensar é repassada para a camada seguinte, que transmite para a próxima, até que por fim, chegue ao pé da pirâmide, ou seja, a camada menos favorecida da população, que recebe a informação e simplesmente a absorve como “verdade”.

Conforme o entendimento de Lima (2005, p. 02):

A opinião pública se formaria a partir de pequenos grupos, situados no topo da pirâmide social e depois viria "descendo", por degraus, até a base da pirâmide. No primeiro degrau dessa "cascata" estaria o pequeno grupo das elites econômicas e sociais; no segundo, estaria o das elites políticas e, no terceiro, a mídia, seguida pelos chamados formadores de opinião – intelectuais, religiosos, artistas, educadores, líderes empresariais e sindicais, jornalistas –; e, finalmente, no último degrau, a grande maioria que constitui a base da população.

Esse método de formação da opinião pública do tipo “cascata” representa uma realidade vivenciada na sociedade brasileira. A opinião pública está sendo confundida com a opinião que é publicada, pois a verdade é veiculada com a máscara que melhor represente os interesses da elite dominante.

Os meios de comunicação são manipulados por um pequeno grupo de pessoas, que decide o que vai ser veiculado, atendendo sempre os seus interesses, pouco se preocupando com as necessidades da população, que acaba alienada, frente à realidade camuflada apresentada pela mídia.

Nesse sentido, segundo Andrade (2007, p. 13):

Verifica-se que, “os meios de comunicação só cumprem o papel de informar, e mal, distorcendo os fatos ou omitindo dados importantes, sempre na premissa de que é isso que o destinatário quer”. Em realidade, “massacra-se o leitor/telespectador com notícias selecionadas a partir do crivo de seu redator/proprietário, repetindo-as tantrepetindo-as vezes até a sua absorção generalizada ou como estratégia de ocupar o espaço de outras informações”.

A decisão sobre o que será noticiado é tomada no topo da pirâmide e vai sendo transmitida até sua base, onde as pessoas, pela falta de cultura, não questionam a informação, simplesmente a aceitam na forma que ela se apresenta.

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Essa aceitação das “verdades” veiculadas pela mídia permite que um pequeno grupo dominante, repasse para a sociedade as notícias da forma que melhor atender aos seus interesses. Se a população acredita no que é publicado, é possível direcionar a atenção para aquilo que se deseja.

A afirmação sobre a manipulação da mídia com a sociedade é abordada no texto a seguir transcrito:

Há muito tempo já se sabe que, “as famílias (poucas) proprietárias dos meios de comunicação são os verdadeiros donos do poder, chamado de Globo & Cia., [...] uma das razões porque a verdadeira compleição desse ‘poder’ não pode ser conhecida do grande público e não faz parte da capacitação elementar dos trabalhadores liberais”. (ANDRADE, 2007, p. 12).

A influência que a mídia exerce sobre a sociedade, reflete de forma incisiva na opinião pública. Podemos citar como exemplo, a televisão, ela está presente em praticamente todos os lares brasileiros e exibe diariamente uma programação atrativa, mostrando uma “realidade” que influencia as pessoas a seguirem.

É claro que esses casos da falsa realidade se restringem às telenovelas, que criam um modelo de vida para transmitir às pessoas que, convencidas de suas potencialidades, seguem-no, sem questionar se é realmente o mais adequado para o seu modo de vida.

A mídia consegue interferir na opinião pública, à medida em que, as pessoas absorvem o que é transmitido pelos meios de comunicação de massa, tomando essas informações como verdade, sem fazer uma análise de sua coerência.

A fácil aceitação das “verdades” veiculadas pela mídia, possibilita o repasse das informações pelos grandes meios de comunicação, de uma maneira distorcida, com o intuído de assegurar os interesses da burguesia.

Em muitos casos, a informação é difundida da maneira que melhor prender a atenção das pessoas, sem que haja, por parte dos responsáveis pelos meios de

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comunicação, a preocupação com a responsabilidade social, que deveria ser o principal fundamento da difusão das informações.

Essa influência da mídia, fortemente observada na opinião popular, não se restringe à mera sociedade, compreendida pelas pessoas comuns, trabalhadores das camadas populares, ela vai além, alcança um grupo da sociedade que não poderia, sob hipótese alguma, sofrer influências tendenciosas como as que a mídia transmite, esse grupo, formado por representantes do povo é os legisladores.

O legislador, enquanto responsável pela elaboração das leis, desempenha um importante papel perante a sociedade, pois é através dele que o ordenamento jurídico se compõe. Assim, a atualização legislativa e a elaboração de novas leis que regulam a sociedade, são de atribuição do legislador, que representa os interesses da população.

É necessário haver motivação para legislar e, como mencionado, a mídia é uma motivadora do legislador. Ocorre que, muitas vezes, uma lei precisa ser modificada ou ainda criada para atender às necessidades da população, que diante da constante transformação social, não responde mais com eficiência aos problemas contemporâneos.

Por esta razão, no próximo capítulo, serão apresentadas algumas leis que criaram ou alteraram normas. Elas foram selecionadas para demonstrar a necessidade de atualização, em tese, em consonância com os anseios da coletividade, bem como para atender ao interesse público. As leis a serem analisadas foram selecionadas para que, posteriormente, possa se identificar um liame entre a natural necessidade de atualização, com a influência que a mídia exerce na elaboração de algumas leis e a motivação que leva a essa influência.

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2 ALGUMAS ALTERAÇÕES RELEVANTES NA LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL

As mudanças que ocorrem ao longo dos tempos transformam a sociedade, modificando a forma de pensar e agir das pessoas. Com o crime (enquanto fato jurídico e social), não é diferente, ele também se transforma com a evolução social.

O legislador, buscando acompanhar as mudanças decorrentes do desenvolvimento social e tecnológico, promove alterações e elabora novas leis para aprimorar e adequar a legislação aos novos tempos.

Ambos os Códigos, Penal e de Processo Penal em vigor na atualidade, são da década de quarenta do século passado. Logicamente que, quando da sua elaboração, seus textos atendiam às necessidades da sociedade da época, mas hoje, não fossem as inúmeras alterações que sofreram ao longo dos anos, estariam desatualizados frente à atual ordem constitucional, e não supririam as necessidades modernas.

Várias foram as leis que alteraram partes dos Códigos Penal e de Processo Penal. Estender-se-ia demasiadamente o estudo detalhado de cada lei que promoveu a atualização da legislação em tela, vigente desde sua promulgação, razão pela qual, faz-se necessário o destaque de algumas mais recentes ou mais significativas para o tema.

Além das leis que alteraram diretamente dispositivos dos Códigos, Penal e Processo Penal, houve outras que, instituíram ou modificaram questões materiais e processuais, com o objetivo de atualizar e adaptar a legislação.

Diante da impossibilidade de detalhar todas as leis que alteraram e atualizaram a legislação penal e processual penal, foram eleitas algumas que, por sua importância ou repercussão social, foram mais difundidas entre a população brasileira. A escolha baseou-se ainda, em leis que servirão para, no último capítulo, enfrentar a temática central da presente pesquisa, qual seja, a influência da mídia em sua elaboração.

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Assim, será objeto de estudo neste capítulo a Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos); a Lei nº 9.455/97; a Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro); a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha); a Lei nº 11.690/08; a Lei nº 11.689/08; a Lei nº 11.719/08; a Lei nº 11.900/09 e a Lei nº 12.403/11.

2.1 Os crimes hediondos, o crime de tortura, os crimes de trânsito e a violência doméstica: algumas alterações da legislação penal

A legislação penal brasileira, por ser da década de quarenta do século passado, recebeu várias alterações para manter-se eficaz na tipificação das condutas reprováveis pela sociedade.

Dentre as alterações, podem ser destacadas as promovidas pela Lei nº 8.072/90, Lei dos Crimes Hediondos; Lei nº 9.455/97, que define o crime de tortura, Lei nº 9.503/97, Código de Trânsito Brasileiro; e a Lei nº 11.340/06, Lei Maria da Penha.

A Constituição Federal de 1988 marcou o início da democracia no Brasil e trouxe diversas inovações que as constituições anteriores não previam. Buscando resgatar a sensação de segurança da população brasileira, após um longo período sob o regime militar, incluiu o inciso XLIII ao artigo 5º do texto constitucional com a seguinte redação:

Art. 5º...

XLIII - A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas a fins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evita-los, se omitirem. (BRASIL, 2012).

Não houve, pela Constituição Federal, a definição dos crimes que deveriam integrar o rol dos crimes hediondos, cabendo ao legislador infraconstitucional, discricionariamente, fazer tal classificação. Sobre O ASSUNTO, refere-se o julgado do TJRS – Rel. Moacir Danilo Rodrigues – RJTJRS 175/45 (Apud Franco, 2002, p. 1174):

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O legislador brasileiro pecou por indefinição a respeito da locução crime hediondo contida na regra constitucional. Ao invés de fornecer uma noção, tanto quanto explicita, do que entendia ser a hediondez do crime, preferiu adotar um sistema bem mais simples, ou seja, o de etiquetar, com a expressão hediondo, tipos já descritos no Código Penal ou em leis penais especiais.

A Lei nº 8.072, publicada em 25 de julho de 1990, ficou nacionalmente conhecida como a “Lei dos Crimes Hediondos”, em seu texto, definiu quais os crimes passariam a ser considerados hediondos. Originalmente, foi elencado no artigo primeiro da lei o rol dos crimes classificados.

Art. 1º São considerados hediondos os crimes de latrocínio (art. 157, § 3º, in fine), extorsão qualificada pela morte, (art. 158, § 2º), extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º), estupro (art. 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único), atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único), epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º), envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal, qualificado pela morte (art. 270, combinado com o art. 285), todos do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940), e de genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956), tentados ou consumados. (BRASIL, 2012).

Não houve qualquer justificação por parte do legislador, sobre as razões que levaram a selecionar certos tipos penais e não outros, para rotular como hediondo. A escolha dos crimes que integraram o rol da Lei nº 8.072/1990 foi alvo de críticas conforme aponta Franco (2002, p. 1174):

O legislador infraconstitucional, ao formular a Lei 8.072/90, levou em consideração, para efeito de aplicar a etiqueta de hediondo, alguns tipos mencionados no Código Penal e alguns referidos em lei penal especial (Lei n. 2.889, de 1.º.10.56). O que, em verdade lhe serviu de base para optar por essa rotulação jurídica? Com primazia, a tutela patrimonial; depois, a liberdade sexual; por fim, algumas situações fáticas de perigo comum. Na oportunidade, o texto legislativo foi, sob dois enfoques, alvo de áspera crítica.

O artigo segundo da lei definia algumas restrições às quais seria submetido quem praticasse tais crimes.

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:

I - anistia, graça e indulto; II - fiança e liberdade provisória.

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§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.

§ 2º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.

§ 3º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. (BRASIL, 2012).

A lei pretendeu dar um tratamento penal e processual penal mais severo aos crimes hediondos. O crime de roubo com o resultado morte, previsto no artigo 157, § 3º, do Código Penal, é um exemplo disso, pois que, antes da edição da lei a pena cominada era de 15 a 30 anos e passou a ser de 20 a 30 anos.

Mais tarde, no ano de 1994, a Lei nº 8.930 de 6 de setembro, alterou o artigo primeiro da Lei nº 8.072/90, incluindo no rol dos crimes hediondos o homicídio, previsto no artigo 121, do Código Penal, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio e o homicídio qualificado em todas as suas formas, tipificado no artigo 121, §2º, I, II, III, IV, V, também do Código Penal.

A nova redação do artigo primeiro da Lei n.º 8.072/90, após a publicação da Lei n.º 8.930/1994, passou a ser a seguinte:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V);

II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);

III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);

IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);

V - estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);

VI - atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).

Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. (BRASIL, 2012).

No ano de 1998, mais uma vez o artigo primeiro da Lei nº 8.072/90 sofreu alterações, desta vez pela Lei nº 9.695 de 20 de agosto de 1998. Esta lei incluiu os incisos VII-A, que foi vetado e o VII-B cuja redação tornou hediondo o crime de

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falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais.

O rigor inicialmente atribuído aos crimes hediondos foi relaxado com a edição da Lei nº 11.464 de 28 de março de 2007, que alterou o artigo 2º da Lei nº 8.072/90.

As modificações trazidas pela Lei nº 11.464/07 para a Lei dos Crimes Hediondos são comentadas no texto seguinte:

Permite-se, de imediato, a aplicação de causas excludentes de punibilidade anteriormente excluídas, reconhecem-se direitos processuais penais de extraordinária repercussão em relação à liberdade do acusado até então proibidos; possibilita-se o regime progressivo de cumprimento de pena, ao invés do regime prisional único e, finalmente, diminui-se o tempo da prisão temporária, e de sua eventual prorrogação. Desaparecem, assim, as limitações matérias, de caráter penal e processual penal, sofridas pelos autores de crimes hediondos. (FRANCO, 2002, p. 1175).

O regime de cumprimento, que antes era integral fechado, passou a ser inicialmente fechado, o § 2º instituiu a progressão de regime, que inexistia na redação anterior e o § 3º previu expressamente a liberdade provisória para esses crimes.

A atualização da legislação, nem sempre é o que motiva o legislador a elaborar uma lei, às vezes ele o faz em razão de uma exigência, como é o caso da edição da Lei nº 9.455 de 7 de abril de 1997, que ocorreu diante da necessidade de atender à previsão Constitucional de tipificar o crime de tortura. A redação do artigo primeiro da lei define as condutas consideradas para a prática do crime:

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Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

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§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público;

II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;

III - se o crime é cometido mediante sequestro.

§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. (BRASIL, 2012).

Franco (2012, p. 3105) comenta sobre o requisito subjetivo para configurar o crime de tortura:

Todas as modalidades típicas de tortura (constrangimento, submissão e omissão) estão informadas de um dado de subjetividade comum: o dolo. Em qualquer desses procedimentos, o agente empreende a ação típica com a consciência e vontade endereçadas à realização da tortura.

Essa lei atendeu a uma previsão da Constituição Federal de 1988, e aos anseios da sociedade, pois a tipificação da prática de tortura possibilitou a punição de seus agentes. Comparada aos crimes hediondos pela Constituição Federal, a prática de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

O Código de Trânsito Brasileiro foi uma lei introduzida, para adequar a legislação com a realidade atual da sociedade. O avanço da tecnologia possibilitou a aquisição de produtos, anteriormente acessíveis somente à elite da sociedade, um exemplo disso é o automóvel. Com o aumento da produção e a redução dos preços, o carro, antes artigo de luxo, passou a ser uma ferramenta indispensável no dia-a-dia dos trabalhadores.

O aumento da circulação de veículos nas ruas exigiu uma organização, que até então não se fazia necessária, a organização do trânsito. Para tal, foi editada, em 23 de setembro de 1997 a Lei nº 9.503, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro.

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A referida lei, além de regrar a circulação de veículos, também elencou no capitulo XIX, quais os crimes passíveis de serem cometidos na direção de veículo automotor. Entre eles o de lesão corporal culposa, homicídio culposo e, no artigo 306, definiu como crime, dirigir veículo automotor sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que cause dependência.

O Código de Trânsito Brasileiro, após sua edição, sofreu algumas alterações, dentre as quais, as promovidas pelas Leis n.º 11.275/06 e 11.705/08, referentes à condução de veículo automotor sob a influência de álcool. A Lei nº 11.275 de 7 de fevereiro de 2006 alterou a redação dos artigos 165, 277 e o inciso V do parágrafo único do artigo 302, do Código de Trânsito Brasileiro.

A nova redação do artigo 165 deixou de considerar, para fins de dirigir sob a influência de álcool, a quantidade mínima de seis decigramas por litro de sangue. Já o artigo 277, com as alterações da referida lei, determinou que qualquer condutor, suspeito de dirigir sob a influência de álcool, será submetido a testes de alcoolemia, e no caso de recusa aos testes, segundo a redação do parágrafo segundo, poderá o agente de trânsito constatar a embriaguez com base nos sinais externos, como excitação ou torpor.

A alteração do artigo 302 se resumiu ao inciso V do parágrafo único, determinando o aumento da pena, para quem praticasse homicídio culposo na direção de veículo automotor sob a influência de álcool, de um terço à metade.

Gomes, (2009, p. 135) faz importantes apontamentos sobre as alterações trazidas pela Lei nº 11.275/06 aos artigos 165 e 277 do Código de Trânsito Brasileiro:

Porém, como a Lei 11.275/06 alterou a redação deste artigo, a do art. 277 e do art. 302 e não alterou em nada a redação do art. 276, o qual estipulava que a concentração de seis decigramas de álcool por litro de sangue comprovava que o condutor se achava impedido de dirigir veículo automotor, queira dizer que, se o condutor se encontrasse com nível inferior a seis decigramas de álcool por litro de sangue, não se encontraria impedido de dirigir veículo automotor e, portanto, não teria cometido esta infração.

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No ano de 2008, o Código de Trânsito Brasileiro sofreu mais uma importante alteração que, entre outros artigos, modificou a redação do artigo 276, corrigindo, dessa forma, o equívoco da Lei nº 11.275/06, que manteve sua redação original, deixando uma falha grave no que tange à condução de veículo automotor sob a influência de álcool.

Os artigos alterados pela Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008, referentes à condução de veículo automotor sob a influência de álcool, foram os artigos 165, 276, 277, 291 e 306. O artigo 165 manteve a infração como sendo de natureza gravíssima e adicionou quanto à aplicação da suspensão do direito de dirigir ao condutor infrator, o período de 12 (doze) meses. Já o artigo 276 definiu que qualquer concentração de álcool por litro de sangue, sujeita o condutor às sanções previstas no artigo 165.

Sobre as alterações do artigo 276, Gomes (2009, p. 197) comenta:

Após a alteração de teor original deste artigo, decorrente da Lei 11.275/06, a redação ora implantada certamente traduz um anseio daqueles que almejam um trânsito mais humano e seguro e efetivamente valida o disposto no art. 165, que tipifica a infração de trânsito de dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.

A partir da vigência da Lei, ou seja, o dia 20.06.2008, data em que foi publicada, não é admitido mais a ingestão e influência de qualquer volume de bebida alcoólica quando se está na direção de veículo automotor em via pública.

O artigo 277 manteve, no parágrafo segundo, a possibilidade de o agente de trânsito constatar a embriaguez através dos sinais externos como excitação ou torpor, e acrescentou o parágrafo terceiro, definindo que a recusa ao teste de alcoolemia, submete o condutor às sanções administrativas previstas no artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro.

A nova redação do artigo 291, trazida pela Lei nº 11.705/08, definiu a competência da Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais) para julgar os crimes de lesão corporal na direção de veículo automotor, mas no inciso I, excluiu dessa competência, o crime de lesão corporal culposa, se o condutor agente estiver sob a influência de álcool ou qualquer outra substância que cause dependência, bem

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como se estiver participando de uma competição não autorizada ou trafegando em uma velocidade superior ao permitido para a via pública em 50 km/h.

O legislador, no artigo 306, manteve a tipificação do crime por dirigir sob a influência de álcool e incluiu a quantificação de álcool por litro de sangue passível de receber sanção, qual seja a concentração igual ou superior a seis decigramas por litro de sangue, antes prevista no artigo 165 (crime de perigo abstrato) do Código de Trânsito Brasileiro.

Essas alterações, na visão do legislador, se fizeram necessárias, tendo em vista o grande número de acidentes, muitos deles com vítimas fatais nas rodovias, causados por motoristas embriagados, e a legislação, até então não havia previsto uma punição adequada para quem, sob a influência de álcool, praticasse algum dos crimes previsto no Código anteriormente editado.

Outra lei que foi editada em consequência das mudanças que ocorreram foi a Lei nº 11.340 de 7 de agosto de 2006, a popularmente conhecida “Lei Maria da Penha”. A história de uma mulher que durante muito tempo sofreu com as repetidas agressões do seu marido, incluindo duas tentativas de homicídio, onde na primeira, em razão de um tiro, perdeu os movimentos das pernas, ficando paraplégica, levou o legislador a criar uma lei específica para coibir esse tipo de agressão, historicamente vivenciada por inúmeras mulheres no país inteiro.

O artigo primeiro traz em sua redação, os objetivos da lei:

Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. (BRASIL, 2012).

A Lei Maria da Penha alterou o parágrafo nono do artigo 129 do Código Penal. O artigo 44 da Lei nº 11.340/06, tipificou a violência no âmbito familiar contra

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a mulher e atribuiu a pena de detenção de três meses a três anos para quem praticasse a conduta descrita no tipo penal.

Cabe destacar que antes da edição da Lei Maria da Penha, houve uma lei que tipificou a violência doméstica, a Lei nº 10.886 de 17 de junho de 2004. Ela incluiu os parágrafos 9º e 10 ao artigo 129 do Código Penal, porém sem descrever o que era considerado violência doméstica como fez a Lei Maria da Penha.

O artigo 7º da Lei Maria da Penha caracteriza a violência doméstica ou familiar contra a mulher:

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (BRASIL, 2012).

Moreira (2012, p. 3) comenta a Lei Maria da Penha:

É importante ressaltar que a lei não contém nenhum novo tipo penal, apenas dá um tratamento penal e processual distinto para as infrações penais já elencadas em nossa (vasta e exagerada) legislação. De toda maneira, entendemos extremamente perigosa a utilização, em um texto legal de natureza penal e processual penal (e gravoso para o indivíduo), de termos tais como “diminuição da auto-estima”, “esporadicamente agregadas”, “indivíduos que são ou se consideram aparentados”, “em qualquer relação íntima de afeto”, etc., etc.

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Embora haja relatos históricos sobre casos de agressão contra mulheres no âmbito domiciliar e familiar, somente agora, a sociedade brasileira está tendo condições e coragem para tentar reverter essa situação, e a Lei Maria da Penha é uma esperança para milhares de mulheres que se encontram nessa condição de submissão à violência.

2.2 A reforma do Código de Processo Penal de 2008

O ano de 2008 foi marcado pela reforma do Código de Processo Penal, pela publicação e entrada em vigor de três leis que promoveram mudanças significativas. As Leis nº 11.690, 11.689 e 11.719, que já estavam em votação, foram publicadas no mês de junho.

Em 9 de junho de 2008 foi publicada a Lei nº 11.690, que alterou dispositivos do Código de Processo Penal referentes às provas. Os artigos que sofreram alterações foram 155, 156, 157, 159, 201, 210, 212, 217 e o artigo 386.

O artigo 155 estabeleceu que, somente às provas submetidas ao contraditório judicial podem servir para o convencimento do juiz, pois que, provas colhidas exclusivamente na fase policial, só podem ser utilizadas para esse fim, quando não renováveis ou repetíveis, bem como quando objeto de medidas de natureza cautelar.

O acréscimo de dois incisos ao artigo 156 facultou ao juiz a possibilidade de solicitar, além das diligências já anteriormente permitidas, a produção de prova antecipada, mesmo antes de iniciada a ação penal, desde que sejam consideradas urgentes e relevantes. Com essa previsão legal, mantiveram-se as características inquisitoriais adotadas pelo legislador originário.

Antes da edição da lei nº 11.690/08 a redação do artigo 157 era: “O Juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova.”, após a reforma, o artigo passou a tratar da prova ilícita e sua nova redação recebeu quatro parágrafos, sendo que um foi vetado. A redação inserida pela Lei nº 11.690/08 ao artigo 157 foi a seguinte:

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