• Nenhum resultado encontrado

O interrogatório por videoconferência e as medidas cautelares

2 ALGUMAS ALTERAÇÕES RELEVANTES NA LEGISLAÇÃO PENAL E

2.3 O interrogatório por videoconferência e as medidas cautelares

As inovações tecnológicas, quando bem empregadas contribuem para a melhoria dos procedimentos. Podemos verificar isso com a inovação trazida pela Lei nº 11.900 publicada em 8 de janeiro de 2009, quando possibilitou o uso de videoconferência na oitiva do acusado e das testemunhas desde que justificada sua necessidade.

O artigo 185 do Código de processo Penal teve sua redação alterada para incluir a possibilidade de ser realizado o interrogatório do réu preso por videoconferência, em sala própria, no estabelecimento prisional em que estiver recolhido. Lopes Junior (2011, p. 625-626) tece importante comentário sobre a inovação trazida pela Lei nº 11.900/09:

Eis um ponto importante: quando se determina o interrogatório por videoconferência do réu preso, ele não é conduzido à audiência e, portanto, é impedido de assistir a toda a instrução. Mais do que lhe retirar a possibilidade de ser interrogado pessoalmente, a medida impede sua participação em toda a instrução.

Assim como no artigo 185, a possibilidade de utilizar a videoconferência também foi regulamentada no parágrafo terceiro do artigo 222 do Código de Processo Penal, para a inquirição de testemunha que morar fora da jurisdição do juiz, que não mais ocorre através de carta precatória, mas por videoconferência.

Duras críticas são lançadas sobre o interrogatório por videoconferência, conforme se observa no texto de Lopes Junior (2011, p.629):

O direito de defesa, seja a defesa técnica ou a autodefesa, é ferido de morte no interrogatório on-line. A começar pela pergunta: onde fica o advogado? E os autos? Se o advogado está ao lado do réu (de onde nunca deve sair), o processo está com o juiz. Nesse caso, o defensor está impedido de consultar os autos para perguntar, bem como está o réu impedido de analisar fotos ou laudos para poder responder ou esclarecer.

45

A verdade é que, nem toda inovação tecnológica contribui efetivamente. No caso da videoconferência, ela se adequa à realidade vivenciada pela sociedade, acostumada ao imediatismo, porém, fere garantias Constitucionais, tornando-a inapropriada para a realização do interrogatório do réu preso.

A Lei nº 12.403 publicada em 4 de maio de 2011 modificou questões relativas à prisão processual, a fiança e a liberdade provisória, criando inclusive, outras medidas cautelares de natureza pessoal, diversas da prisão preventiva, dando nova redação a diversos artigos do Código de Processo Penal. Uma alteração significativa, que na prática, pode ajudar a reduzir as mazelas do sistema prisional, o caráter drasticamente nefasto da prisão preventiva, por vezes mais severa do que a própria prisão com caráter punitivo, reduzindo suas hipóteses de incidência.

O artigo 282 trata das medidas cautelares, e o artigo 300 do Código de processo Penal, estipula regras sobre a prisão provisória, determinando que, os presos provisórios devam ficar separados daqueles que já foram condenados definitivamente.

A prisão em flagrante, medida necessária em certos casos para garantir a segurança, tem suas regras elencadas no artigo 310 do Código de Processo Penal e também recebeu nova redação pela Lei nº 12.403/11 conforme se observa a seguir:

Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:

I - relaxar a prisão ilegal; ou

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.(BRASIL, 2012).

A redação do artigo 313 do Código de Processo Penal traz o elenco de crimes aos quais é admitida a prisão preventiva, como se observa na redação do texto legal abaixo:

46

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;

Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (BRASIL, 2012).

A Lei nº 12.403/11, ao alterar a redação do artigo 315 do Código de Processo Penal, estabeleceu que toda decretação de prisão preventiva deva ser sempre motivada, mantendo a redação original nesse sentido, e no artigo 318, definiu que em casos excepcionais, elencados no artigo, o juiz pode substituir a prisão comum pela prisão domiciliar.

Além da medida cautelar de prisão, a Lei nº 12.403/11 previu ainda outras medidas cautelares diversas desta, as quais estão elencadas na nova redação do artigo 319 do Código de Processo Penal, como pode-se observar a seguir:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;

IX - monitoração eletrônica. § 1o (Revogado).

47

§ 2o (Revogado). § 3o (Revogado).

§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. (BRASIL, 2012).

A revitalização do instituto da fiança, completamente esquecido e sem aplicabilidade até então, é, segundo Lopes Junior (2011, p. 55) um ponto muito relevante da Lei nº 12.403/11.

Todas essas leis, assim como muitas outras que não foram objeto deste estudo, foram elaboradas, para adaptar e atualizar o sistema penal e processual penal aos dias atuais, sem as quais, certamente o judiciário não teria condições de atender às demandas da sociedade que está em constante evolução.

Após a apresentação destas leis, elaboradas com o intuito de atualização da legislação penal e processual penal brasileira, será objeto de análise, no próximo capítulo, a temática central do presente trabalho, a verificar, a possível ligação entre algumas dessas leis e a mídia, no sentido de analisar, como e porque ela influenciou o legislador a criar o texto, que resultou na edição de tais legislações.

48

3 A MÍDIA E SUA INFLUÊNCIA COM O LEGISLADOR NA PRODUÇÃO DE LEIS