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1. INTRODUÇÃO

1.5. A crise fiscal do Estado brasileiro nos anos 80 e seu impacto na

Foi visto, até aqui, que o modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo País no pós-guerra exigia a contribuição efetiva do setor agrícola, e a percepção da interdependência existente entre agricultura e crescimento industrial, no final dos anos 50 e início da década de 60, tornou evidente a necessidade da intervenção do governo naquele setor, como forma de desenvolver o seu potencial de crescimento e tornar efetiva a sua contribuição. Nesse sentido, a transferência predatória de recursos da agricultura para a indústria, ocorrida durante os anos 50, cede lugar a uma política mais racional de inter-relacionamento dos dois setores produtivos. É exatamente a preocupação com a manutenção da sustentabilidade do processo de desenvolvimento econômico do País que leva os planejadores da economia brasileira a compreenderem a necessidade de não se exaurir o setor agrícola brasileiro e de entender, portanto, que seria de fundamental importância que a agricultura mantivesse preservado o seu potencial de crescimento.

Esse reconhecimento se traduz, portanto, na adoção de políticas de desenvolvimento, que ficaram consubstanciadas no processo de modernização do

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setor agrícola brasileiro. Nesse sentido, as medidas de política agrícola, adotadas neste período, estabeleceram mecanismos capazes de tornar efetivas as metas consignadas pelo modelo de desenvolvimento econômico concebido.

São instituídos, nesse sentido, a política de crédito rural subsidiado, a política de rendas e os programas especiais de incentivos. Há evidências de que essas iniciativas deram sustentação razoavelmente adequada ao crescimento da agricultura brasileira e de que estejam, portanto, correlacionadas, positivamente, com a intensificação do processo de modernização e de aumento da produção ocorrido nesse período.

Não obstante, elas trouxeram o agravamento de importantes distorções, relacionadas, principalmente, com o aumento da concentração funcional e regional de renda na agricultura e com o processo de alocação de recursos, dado o caráter de seletividade com que foram instituídas.

No entanto, pelo menos até meados da década de 70, esses instrumentos de política agrícola foram mantidos e constituíram importantes medidas de incentivo à agricultura brasileira. Entretanto, o agravamento da crise fiscal do Estado no decorrer da década de 80, a agudização do processo inflacionário e a interrupção do fluxo de poupanças externas tornaram evidente a impossibilidade de manutenção do modelo de desenvolvimento que vinha sendo adotado para a economia brasileira, em geral, e para o setor agrícola, em particular. A necessidade de implementação de medidas de saneamento das finanças públicas, a premência de formulação e adoção de um plano consistente de combate à inflação e o necessário controle das contas externas foram problemas que, no plano conjuntural, exigiam esforços concentrados da administração pública brasileira.

Com relação ao setor agrícola, fazia-se necessário estabelecer formas alternativas de financiamento e de administração do risco associado à atividade. O descontrole orçamentário da conta de custeio agrícola e a despendiosa e desnecessária intervenção governamental no mercado agrícola, por intermédio da política de garantia de preços mínimos, sinalizaram a necessidade da adoção de

um modelo de desenvolvimento agrícola diferente do que até então vinha sendo praticado.

Um conjunto de medidas foi então implementado, principalmente em meados da década de 80. Uma das mais importantes foi a extinção da chamada “conta-movimento”, que objetivava cobrir eventuais desequilíbrios entre captação monetária, uma das principais fontes de financiamento da agricultura nesta época, e desembolsos efetuados pelo Banco do Brasil e pelo Banco Central. A desativação da "conta-movimento" acabou por diminuir a oferta de crédito em decorrência da contração monetária, reduzindo, drasticamente, o volume de financiamento oficial à atividade agrícola. Fontes alternativas de financiamento agrícola foram buscadas por meio da instituição da Caderneta de Poupança Rural em 1986, que chegou a representar, em 1993, 43,7% do total de recursos aplicados na agricultura. Além disto, foram instituídos também, em 1988, os chamados Fundos Constitucionais de Financiamento, cujos recursos eram provenientes dos Impostos de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados, para financiamento de pequenos produtores rurais das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Não obstante o esforço desenvolvido na obtenção de fontes alternativas de financiamento, observou-se, em 1995, uma redução no volume de financiamento oficial à atividade agrícola na ordem de 61,53%, em relação a 1987.

No tocante à administração de risco de preços, objetivo maior da Política de Garantia de Preços Mínimos, a diminuição do volume de recursos destinados a esta forçou a busca de fontes alternativas de transferência de riscos de preços. Os mercados futuros e de opções vêm sendo considerados instrumentos alternativos promissores de administração de riscos de preços da atividade agrícola e a sua utilização vem crescendo, acentuadamente, nos últimos anos.

A instituição da Cédula do Produtor Rural (CPR), que permite ao agricultor, por meio da emissão de um título de crédito, vender, antecipadamente, a produção agropecuária e receber o valor do produto no ato de sua formalização, mediante promessa de entrega do produto em local e data estipulada no título, foi

uma das principais inovações para estabelecer um instrumento alternativo de financiamento da atividade agrícola.

Espera-se, portanto, que as mudanças ocorridas nos modelos de desenvolvimento agrícola adotados pelo Brasil, a partir, principalmente, da segunda metade da década de 80, tenham resultado em importantes alterações no padrão de eficiência com que os recursos foram utilizados na atividade agrícola desse período e que tenha havido também impactos significativos no nível de produtividade total dos recursos utilizados na agricultura.