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5. ALCA, Mercosul e Segurança nos governos de Fernando Henrique Cardoso

5.2.1. Crise no Mercosul

De maneira geral, as crises comerciais entre os países membros do Mercosul são superadas por entendimentos políticos que servem não só para resolver tais problemas, mas também para reafirmar o objetivo comum da integração sub-regional. Mesmo em relação às negociações da ALCA, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai demonstraram que permanecem como uma unidade visto, as vitórias obtidas em relação ao processo negociador da ALCA.

No entanto, a partir de 1998, O Mercosul é afetado pela crise de liquidez nos mercados internacionais. Os países pertencentes ao bloco vêem a necessidade de deixar as negociações para o avanço do bloco sub-regional em segundo plano, para que pudessem levar a cabo seus projetos de estabilização. Neste período, o Mercosul recebeu fortes críticas de vários setores da sociedade brasileira, estes tinham a impressão de que todos os esforços para a criação do mercado comum tinham sido em vão e que as concessões feitas a nossos vizinhos estavam prejudicando a economia brasileira. Entretanto isto não era a opinião geral dos empresários e da imprensa nacional, que em muitos momentos de crise continuaram a apoiar o projeto de integração sub-regional.

Esse quadro que vinha se agravando desde 1998 tornou-se ainda mais complicado nos primeiros meses de 1999. Neste período há uma mudança no regime cambial brasileiro que passa a ser flutuante. Assim, com a forte desvalorização do real frente ao dólar os parceiros brasileiros no Mercosul se vêem ameaçados de uma invasão de produtos brasileiros em suas economias e passam a pedir salvaguardas. Junto a isto outros fatores fazem com que o Mercosul passe por uma fase bastante complicada nos primeiros meses de 1999.

É natural que a agenda de negociações se torne mais complicada na medida em que avança. É evidente que isto aconteceu com o Mercosul. Ao mesmo tempo em que não se obtêm mais ganhos fáceis como nas etapas iniciais devem ser feitas negociações que levem

em conta a harmonização de políticas e legislações o que é obviamente mais difícil do que a fase de negociações tarifárias. Junto a isto temos também que as economias dos dois maiores países pertencentes ao Mercosul, Brasil e Argentina, passam por um período de retração. Isso faz com que haja uma previsão de que os fluxos comerciais intra-zona sofram uma queda de até 25%. Neste momento, pode-se observar que as negociações praticamente se paralisaram em função das pressões protecionistas dos demais países integrantes do mercado comum.

No entanto, o ano de 1999 não foi tão ruim como as previsões diziam. Os presidentes do Mercosul e da União Européia concordam com o inicio das negociações para uma associação entre as duas regiões, este fato é de grande importância para a afirmação da imagem do Mercosul no exterior. Por outro lado,

“Não se materializou, no primeiro semestre de 1999, a temida "invasão" de produtos brasileiros nos mercados dos países vizinhos. Ao contrário: a Argentina continuou a ter um superávit comercial com o Brasil, de cerca de US$ 300 milhões, e nossas vendas para aquele país tiveram uma queda de aproximadamente 30%. Manteve-se, mesmo assim, a pressão das circunstâncias desfavoráveis. Os setores da economia argentina que se haviam beneficiado da proteção proporcionada pelo regime de adequação entre 1995-98 continuaram a fazer pressão em favor da adoção de medidas protecionistas. Diferentes produtos brasileiros foram atingidos por decisões restritivas a sua entrada no mercado argentino” (CORRÊA, 1998 p. 19).

Por sua vez, o Brasil tentou manter durante todo este período a idéia de que uma de suas prioridades políticas seria o Mercosul e para que este tivesse sucesso era capaz de fazer certas concessões aos outros países integrantes do bloco. O governo brasileiro jamais questionou a posição importante que o mercado comum ocupava dentro da política externa brasileira. Para este, as dificuldades enfrentadas principalmente no ano de 1999 eram advindas da própria dinâmica das negociações que tendem a se tornarem cada vez mais complexas na medida em que avançam. Mas é preciso destacar que:

“Em dois momentos, contudo, julgou-se que seria necessária uma resposta mais firme, até mesmo para preservar o patrimônio de realizações do MERCOSUL. O primeiro desses momentos ocorreu em julho, quando a Argentina adotou a chamada Resolução 911, que introduziria uma cláusula geral de salvaguardas para o comércio intra-zona -- o que seria evidentemente incompatível com o espírito e as normas de uma União Aduaneira. O segundo momento deu-se em setembro, quando a Argentina adotou normas técnicas com o propósito de barrar a entrada de calçados brasileiros em seu território” (CORRÊA, 1998 p. 19).

O governo brasileiro acreditava que a crise do Mercado Comum se devia a certas divergências com a vizinha Argentina. A conversibilidade do peso ao dólar e a preferência dada pelo governo argentino às relações com os Estados Unidos eram tido como fatores limitantes pelo governo brasileiro. No entanto, é importante perceber que o progresso de um projeto como o Mercosul passa por programas nacionais de crescimento e desenvolvimento dos países membros além do avanço na institucionalidade e harmonização macroeconômica.

Podemos considerar que a crise pela qual passou o Mercosul foi uma conseqüência de alguns pecados originais: como a vulnerabilidade externa dos países membros, o mal- estar social das nações, a assimetria nas estratégias nacionais de desenvolvimento e a crise ideológica frente à globalização já que os esta era encarada de forma distinta pelos países membros. Assim, o futuro da relação bilateral entre o Brasil e a Argentina, principais membros do Mercosul, depende da superação dos obstáculos políticos e ideológicos que paralisam a convergência.

Em dezembro do ano 2000, o Chile abre as negociações com Washington para firmar o tratado de livre comércio com os Estados Unidos.

“A atitude chilena, classificada de ‘punhalada nas costas’ do Mercosul, era, no entanto, a conseqüência inevitável da falta de definições e, sobretudo, de iniciativas

do Brasil no plano continental, mais especificamente na América do Sul” (Garcia, 2000 p. 6).

Com a eleição de Ricardo Lagos, no Chile, amigo de Fernando Henrique Cardoso, a tendência era que o Chile se aproximasse do Mercosul. Mas o apressamento da ALCA passou a ser a grande alternativa para boa parte dos países latino-americanos em relação ao Mercosul. Da mesma forma, o Uruguai também apresentava simpatia pela ALCA.