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O institucionalismo e as relações internacionais

2. O institucionalismo e a perspectiva das relações internacionais

2.3. O institucionalismo e as relações internacionais

O mundo internacional está cada vez mais institucionalizado através de organizações formais estruturadas sobre normas e regras. Da mesma forma que para o neo- realismo, para o neo-institucionalismo, na vertente que coloca suas atenções na análise de fenômenos internacionais, o Estado é o ator mais relevante do sistema. No entanto, a descentralização e a institucionalização são mecanismos fundamentais para o entendimento da política mundial. Desta maneira, o institucionalismo lança uma crítica aos neo-realistas, que colocam ênfase demasiada na condição anárquica do ambiente internacional.

Para o institucionalismo as variações na institucionalização do mundo político internacional incidem no comportamento dos governantes. As ações dos Estados têm vínculos com os arranjos institucionais preestabelecidos. Destacam, desta maneira, que as instituições não podem ser desviadas do contexto histórico, nacional e internacional do qual fazem parte.

Num contexto de interdependência, o institucionalismo torna-se um meio de negociação e cooperação entre os diversos agentes internacionais, sendo eles Estados, organizações supranacionais ou mesmo organizações não-governamentais que aparecem cada vez mais como agentes internacionais. Entretanto, é preciso lembrar que a cooperação

é possível, mas depende de arranjos institucionais. Estes arranjos acontecem de acordo com a distribuição de poder vigente.

Para Keohane (1992), as instituições são um conjunto persistente e conectado de regras formais e informais que prescrevem o papel comportamental das nações, forçando as atividades e as expectativas entre as partes, o que é muito próximo do que acontece no plano da ação individual. As instituições dentro da análise das relações internacionais podem assumir três formas: organizações intergovernamentais, regimes e convenções internacionais.

A institucionalização configura-se como um resultado do aumento da interdependência entre os países e o conjunto destes. Para o institucionalismo existem, entre os Estados, interesses mútuos que tornam possível a cooperação. Neste ponto existe uma separação drástica entre este modelo de análise e o neo-realismo que não acredita na possibilidade da cooperação entre as nações. Mas, isto não quer dizer que o institucionalismo considera que haja harmonia entre as nações, mas a não existência desta não descarta a possibilidade de cooperação entre os Estados nacionais.

Se compararmos estas três versões do neo-institucionalismo podemos verificar aproximações e diferenças dentre as abordagens dependendo do tema que é colocado em questão. Com relação ao problema da definição das relações entre instituições e comportamento o institucionalismo histórico tem uma concepção mais ampla desta relação se comparada a da concepção oferecida pelo institucionalismo da escolha racional que se caracteriza por ser mais precisa mais precisa. No entanto, se estabelecermos como questão o problema da permanência e da origem das instituições, o institucionalismo da escolha racional tende a remontar das conseqüências às origens, bem como explicar a permanência pela eficiência da instituição. A criação das instituições é caracterizada como um processo quase contratual realizado por um acordo voluntário entre atores iguais e independentes.

O institucionalismo histórico e o institucionalismo sociológico se aproximam em algumas questões, a saber: ambas as abordagens recusam a atitude funcionalista na definição e entendimento da gênese de uma instituição. Além disso, não aceitam a exclusividade da racionalidade instrumental para explicação dos comportamentos, descartando a idéia de uma intencionalidade pura. Desta maneira, não consideram que as instituições são exógenas quanto ao comportamento dos indivíduos ou à conduta dos atores sociais. Já o institucionalismo histórico e o institucionalismo racional aproximam-se na maneira de entender a gênese das instituições como problema de coordenação4. Desta mesma forma, as vertentes históricas e da escolha racional tem concepções parecidas no que diz respeito à atenção dada ao cálculo estratégico dos atores e na maneira como as instituições possuem uma dimensão de libertação da ação individual e não apenas de constrangimento.

"Essas reflexões sugerem que o institucionalismo da escolha racional possa contribuir para explicar porque as instituições continuam a existir, a explicação que ele propõe da sua gênese não se aplica com êxito senão a um número limitado de contextos" (Hall e Taylor, 2003, p.217).

O institucionalismo histórico e sociológico tratam de maneira inteiramente diferente da explicação da origem e da mudança das instituições. Para o institucionalismo sociológico: "pode deixar inteiramente de lado o fato de que o processo de criação ou reforma institucional envolvem um conflito de poder entre atores cujos interesses entram em competição" (Hall e Taylor, 2003, p.218). O institucionalismo histórico também parte da constatação de um mundo saturado de instituições.

Assim, o pivô das convergências foi o institucionalismo histórico. Muitos de seus argumentos podem ser traduzidos para a perspectiva da escolha racional, ao mesmo tempo em que os autores mostram-se abertos para os argumentos do institucionalismo sociológico.

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Para o institucionalismo histórico a questão da gênese das instituições está na regulação de conflitos de interesses.

Uma concepção sintética leva em conta o conjunto dos elementos privilegiados por cada uma das correntes.

Mais do que isso se pode destacar que o institucionalismo é um modelo de análise, que mesmo com suas diferentes vertentes tem tido cada vez mais espaço na ciência política contemporânea. Isto acontece também quando tratamos de temas relativos às relações internacionais, como foi visto acima. O modelo tradicional e predominante nos estudos internacionais, ou seja, o realismo, não tem dado conta de todos os fenômenos, principalmente daqueles nos quais se destaca a interdependência entre as nações.