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CRISTO FACE ÀS RELIGIÕES SOBRENATURAIS

No documento Para além dos rostos de Cristo (páginas 41-43)

2. AS FACES DE JESUS CRISTO

2.4. CRISTO FACE A ALGUNS DOS DIVERSOS GRUPOS RELIGIOSOS DA

2.4.3. CRISTO FACE ÀS RELIGIÕES SOBRENATURAIS

A principal razão pela qual Cristo não tem sido aceite pelo judaísmo e pelo islamismo como Filho de Deus, deve-se ao facto destes dois credos religiosos professarem um monoteísmo rígido.

Dentro do mundo islâmico Cristo é conhecido pelo nome de Issa, "nome que deriva da palavra síria Yeshu, alterada para combinada com Musa, que significa Moisés. A forma extensa e completa com que o Corão trata sobre o profeta Issa visava, muito provavelmente, corrigir a 'imagem distorcida que ele transparece nos escritos dos seus discípulos'. Jesus é considerado o último profeta de Israel e precursor de Maomé e dizem que pressagiou a vinda 'do maior de todos profetas (...). No entanto, (...) o Islão rejeita a ideia de que Jesus seja a encarnação da divindade" (227).

Jesus é apenas uma criatura como as outras, não é Deus nem Filho de Alá. Como criatura só têm uma coisa de especial: tal como Adão nasceu sem Pai. Este nascimento revela-nos a potência de Deus (228), a qual se prolonga nos próprios milagres. No entanto, e contrariamente aos relatos descritos nos Evangelhos, a significação dos milagres é diversa. Jesus não realiza os milagres em seu nome e pelas suas próprias virtudes, com o intuito de demonstrar que é o Cristo, antes opera segundo a permissão de Alá, do qual é mero servidor (229).

A não filiação de Jesus não é apenas atestada pela natureza dos seus milagres. "Alá é um só, glorioso de mais para ter um filho"(230). A ideia da transcendência essencial de Deus colide com "a ressonância material das duas expressões que indicam "Filho": ualad e ibn, que têm sentido estritamente carnal, e por isso repugna ao espírito muçulmano projectar essa expressão na divindade; (...) Jesus, na altura do juízo Universal, recusar-se-á a apresentar-se como intercessor junto de Alá, pela vergonha que os seus discípulos lhe inspirarão pelo facto de o terem divinizado a ele e a sua Mãe". (231).

Para o Alcorão Cristo é unicamente um profeta, nascido de forma miraculosa. Jesus não é Deus nem tão pouco Filho de Deus ( 5,72.116; 9,30; 19,34-35), mas apenas servo (43,49), que come e bebe (5,75). Não pode ser tomado como o "terceiro de uma tríade (de deuses)" (4, 171; 5,73) nem visto como o crucificado (4,156). "Un de los pilares de la fe musulmana es crer que Dios es único en su persona lo mismo que en sus atributos. Del mismo modo que ningúna

(224) Ibidem,140.

(225) Ibidem. (226) Ibidem, 143. (227) Ibidem,224.

(228) Cf. KHALIL SAMIR, Cristo nel Corano, Civiltá Cattolica, Vol. II, 1983, 563. (229) Cf. Ibidem, 461.

(230) FREDERICO JOSÉ PEIRONE, Cristo no Islão, Tipografia Minerva, Lisboa 1962, 82. (231) Ibidem, 83.

persona es semejante a El, asimismo ningún atributo de las criaturas se asemeja a sus atributos"(232).

Segundo Maomé, fortemente influenciado pelo docetismo, "Jesus não morreu na cruz. Outro morreu no Seu lugar. Jesus foi assumpto ao Céu por Alá, tendo lá ficado umas horas, ou dias. Depois morreu de morte natural" (233). Depois foi incumbido de regressar novamente à terra com a missão de dar aos seus discípulos os mandamentos. "Assim, logo depois de ter recebido a ordem de Alá para descer à Terra, Jesus veio e pousou os seus pés sobre uma alta montanha, que logo se incendiou. Vieram os apóstolos, veio Maria de Mágdala. Pediu-lhes que fossem chamar os homens, e que os conduzissem a Alá. E, finalmente, Alá elevou-o outra vez. Vestiu-o de penas, deslumbrou-o de luz, Tirou-Lhe o apetite da comida e da bebida. Jesus voou com os anjos até ao trono de Alá. Desta forma, ele é humano e angélico, terreno e celestial. Os apóstolos dispersaram-se, para chamar os homens, conforme Ele ordenara" (234), ou seja, a partir desse momento começou a evangelização dos povos.

A tradição muçulmana retoma e amplia, recorrendo a diversas fontes, os dados do Alcorão. Quando se referem à crucifixão de Jesus afirmam que foi um sósia que substituiu Cristo e faleceu em seu lugar. No entanto, não há uma opinião única quanto à identidade desse sósia. Pode ter sido Judas, pode ter sido Pedro, o qual se ofereceu como voluntário para morrer em seu lugar, ou ainda o chefe da patrulha que prendeu Cristo. "Questa negazione è fata per non bestenmiare: lungi de Dio l'avere un figlio! Il Corano intende salvare l' onore di Dio e la reputazione stessa di Gesú.

Per lo stesso motivo, il Corano nega la crocifissione di Cristo, che è stato innalzato presso Dio, ma non è morto. Lo scandalo della croce è impensabile, inaccepttabile. Noi cristiani, dopo aver detto che Cristo ha preso la forma di schiavo, aggiungiamo con Paolo: perciò Dio lha sovranamente esaltato, e gli ha dato un Nome che è al di sopra di ogni altro nome (Fil 2,9). I musulmani, invece, affermano che Dio l' hà esaltato prima della crocifissione, la quale non ha avulto luogo" (235).

Jesus não só foi elevado ao Céu e aí permanece junto de Deus, como só voltará à Terra no fim do mundo. Regressará a Medina e, como simples muçulmano, permanecerá na última fila, recusando-se a dirigir a oração. Aí fará a proclamação da unicidade de Deus . Além disso vai censurar os cristãos por estes terem feito de si Deus. Quebrará as cruzes e matará os porcos. No final morrerá e será enterrado na grande mesquita de Medina, entre Maomé e Abû Bakr. Tal concepção encontra-se longe da verdadeira essência da parusia cristã (236).

Contrariamente ao islamismo, o judaísmo nega todo o carácter transcendental de Jesus. A prova de Jesus não ter sido aceite pela comunidade judaica pode ser detectada pela falta de referências a Cristo por parte das fontes judaicas mais antigas.

Uma vez negado todo o carácter transcendental à pessoa de Cristo, o judaísmo acaba por negar: a divindade do Filho de Deus; o carácter divino da mensagem cristã; o nascimento virginal de Jesus; os milagres e a ressurreição.

Não é só a noção da infinita transcendência de Deus a colocar em xeque as pretensões de Cristo, mas também o facto da humilhação da Cruz não condizer com a infinita dignidade e poder de Yhavé. Além do mais Jesus não pode ser Deus porque nenhum homem, mercê da condição corporal, pode ter tal pretensão. A Trindade, por seu turno, colide frontalmente com o monoteísmo rígido da religião hebraica.

O judaísmo recusa também a ideia, defendida por cristãos e muçulmanos, de Jesus estar incumbido de uma missão divina e a sua mensagem possuir um carácter profético. Por outro lado, não atribuem, por razões teológicas, nenhum carácter sobrenatural ao seu nascimento.

(232) GAAFAR SHEIK IDRID, O Deus do Islão, in "Biblia e Fé", Vol. XV, Madrid 1989, 62. (233) FREDERICO JOSÉ PEIRONE, op. cit., 102.

(234) Ibidem, 138.

(235) KHALIL SAMIR, op. cit, 563.

(236) Nota: Este resumo apoia-se no trabalho efectuado pelo aluno José Silvestre, com o título: Jesus Cristo e o Islamismo, no âmbito da disciplina Seminário II, orientado pelo Padre Doutor José Lima

Negam e sua descendência davídica, o nascimento virginal e toda a sua autoridade religiosa no seio do judaísmo.

Os milagres efectuados durante o seu ministério e o acontecimento da ressurreição não possuem nenhum carácter sobrenatural. Antes pelo contrário, a sua morte ignominiosa demonstra que jamais poderia ser considerado Filho de Yhavé. Tal morte prova o carácter humano da sua pessoa contra a pretensa divindade de que é revestido. Cristo morreu ingloriamente como homem. Também, e contrariamente à visão cristã e muçulmana, não se deu qualquer ressurreição. Esta foi uma fórmula encontrada pelos seus discípulos para justificarem o fracasso da Cruz.

Segundo esta religião, a figura de Cristo não se enquadra dentro do messianismo judaico. O Messias de Israel está associado á Aliança. Ele não será mais do que a garantia da salvação de Israel, a qual depende de grau de pecado face à Aliança.(237).

Uma coisa, porém, parece certa: Cristo não era um judeu ortodoxo tradicional. "Jesus é considerado o responsável pela desmistificação de tudo aquilo que era considerado sagrado na cultura judaica" (238). Muitas das suas posições acabaram por ferir os sentimentos dos judeus. Contra os ritos e os costumes propôs uma actuação baseada no amor. "Jesus dava pouca importância aos ditames inúteis, vazios e inexpressivos da legislação judaica. O desprezo pelas leis do sábado acabou por conduzi-lo à cruz" (239).

2.5. INTERPRETAÇÕES MAIS SIGNIFICATIVAS DO PERFIL DE CRISTO

No documento Para além dos rostos de Cristo (páginas 41-43)