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5.2 Profissionais de saúde

5.2.2 Critérios de acesso e prioridade

A ampliação do acesso da população aos serviços de saúde com equidade é um dos grandes desafios do SUS, pois tem sido observado que apesar dos avanços desse sistema, ainda existe grave déficit no acesso aos atendimentos de saúde e na forma como os usuários são acolhidos nesses locais. A PNH prevê como um dos parâmetros para implementação dessas ações na atenção especializada, que os critérios de acesso sejam identificados de forma pública com efetivação de protocolos de referência e contra-referência.

Em relação a esse assunto, foi questionado durante a pesquisa quais seriam esses critérios de acesso que as profissionais estavam usando. Os discursos das profissionais revelaram que os critérios de prioridade adotados têm a ver principalmente com a patologia do paciente, com o fato de ter feito cirurgia recente, ou ter tido uma doença neurológica recente. Uma profissional citou que usa como critério de prioridade a história do paciente, além dos aspectos biológicos. Tais aspectos podem ser percebidos no discurso abaixo:

Os que eu dou mais prioridade são os pós–operatórios e paralisia facial (Margarida). O critério de prioridade a gente usa dentro da história que o paciente traz pra gente. (Íris): O critério seria o tempo de patologia, no caso de pós cirúrgico seria prioridade (Gardênia).

Apenas a terapeuta ocupacional, da área de reabilitação física, relatou que não tem grande demanda, atendendo todos os casos encaminhados a ela, conforme pode ser observado na seguinte fala:

Quase nunca os médicos encaminham os pacientes já para a terapia ocupacional. A reabilitação para muita gente é só a fisioterapia. Desde que estou trabalhando aqui nunca recebi nenhum encaminhamento médico. Dependo exclusivamente da fisioterapia (Violeta).

Essa situação pode ocorrer pelo desconhecimento dos médicos e da população em relação ao trabalho desenvolvido por essa profissional da reabilitação. Na área da saúde mental, outra profissional é responsável por esses atendimentos, e o cenário é bem distinto do descrito acima, pois a terapeuta ocupacional tem grande demanda, principalmente encaminhados de profissionais da própria Policlínica, em especial da geriatra e psicóloga. A profissional relatou que o serviço chegou a ter lista de espera quando tinha neurologista atendendo no serviço, mas atualmente consegue dar conta da demanda. Nesses casos o critério de acesso é ser morador do Distrito Sanitário daquela região, ser adulto e que tenha algum transtorno mental ou doença neurológica de base.

A PNH chama atenção que ao avaliar riscos e vulnerabilidades é preciso estar atento ao grau de sofrimento tanto físico quanto psíquico. A classificação de risco preconizada por essa política prevê uma mudança na lógica de atendimento voltada para a priorização dos casos de acordo com o agravo à saúde e o grau de sofrimento e não apenas de acordo com a ordem de chegada. Para que dessa forma possa ser dada uma resposta ágil e tratamento adequado a cada caso (BRASIL, 2008).

Corroborando com esse pensamento, Silva, Fernandes e Xavier (2008), afirmam que para garantir verdadeiramente o acesso, é necessário que, por meio do acolhimento, se avalie o risco e as necessidades de saúde caso a caso, resolvendo-os conforme a complexidade e capacidade técnica do profissional, e encaminhando os casos conforme gravidade e disponibilidade do serviço.

Segundo Campos (1997), o trabalho em saúde para ser eficaz e resolutivo necessita de um certo grau de autonomia dos profissionais, no entanto, ele traz uma reflexão importante ao questionar em que medida as instituições podem funcionar baseadas apenas no agir autônomo dos profissionais e sem nenhum tipo de controle gerencial, ou até mesmo social. Percebe-se no serviço estudado que prevalece a total autonomia dos profissionais em relação aos seus modos de agir.

Recentemente foi divulgado pela regulação da saúde da Prefeitura de Recife o protocolo de acesso à rede de serviços ambulatoriais com classificação de risco por prioridade. Esse protocolo abrange também os serviços de reabilitação, nele estão contidos os sinais de alerta de casos ambulatoriais que abrangem: grupos de pessoas acima de 60 anos ou menor de um ano de idade, os casos que tem risco de perda funcional do órgão, dor, presença de comorbidades e descompensação de doença crônica.

A existência desse protocolo foi citada pela gerente da unidade de saúde, a qual relatou que no momento da entrevista estava oferecendo um treinamento para os médicos e

agentes administrativos, para que por meio da regulação, possam conseguir dar prioridade no atendimento usando a classificação de risco do paciente, agilizando assim a marcação de exames. Segundo Magalhães (2002), citado por Santos e Mehry (2006), a regulação possibilita que o usuário ao adentrar em uma rede de serviços seja direcionado pelo sistema, dessa forma, a regulação se constitui como um dos componentes da gestão.

O MS instituiu formalmente a Política Nacional de Regulação pública do SUS, em 2008, desenvolvendo a formação de complexos reguladores da assistência em nível nacional, norteando a sua execução em todas as unidades federadas. A regulação do acesso vem no intuito de cumprir os pressupostos básicos do sistema, tais como a universalidade, a equidade do sistema, a integralidade e regionalização (SILVA, 2010).

Levando-se em consideração que a efetivação desses princípios é difícil de operar e concretizar na prática dos serviços, a regulação vem para intermediar a oferta com a demanda e procurar minimizar as iniquidades (SILVA, 2010).

Essa é uma das recomendações da PNH e uma discussão importante, pois está começando a ser implantada em Recife. Talvez por estarem numa fase inicial, essas informações não chegaram ainda aos funcionários que trabalham na ponta do serviço.

Para Santos e Mehry (2006), o ato de regular em saúde está inserido no campo da prestação de serviços, com o intuito de alterar ou orientar essa prestação, sendo exercidos por diversos atores ou instituições que provem ou contratem serviços de saúde. Dessa forma, o processo de regulação seria uma intervenção de um terceiro entre a demanda do usuário e a prestação efetiva do serviço de saúde.

Segundo esses mesmos autores, a regulação dos serviços de saúde pelo Estado brasileiro já estava presente desde a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) e dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), no sentido de que foram estabelecidas regras para a utilização dos serviços e medicamentos, bem como para a oferta dos serviços de saúde.

Esse processo regulatório pode se dar tanto em nível micropolítico, caracterizado pelo acesso cotidiano das pessoas, quanto em nível macropolítico, por meio da instituição das regras mais gerais estabelecidas por mecanismos estratégicos de gestão (SANTOS; MEHRY, 2006).

Levando-se em consideração que os trabalhadores da saúde lidam com situações complexas, isso exige uma ação interdisciplinar para qualificar o trabalho em saúde, valorizando-se o trabalho em equipe em diferentes áreas e saberes, uma vez que nenhum

especialista, de forma isolada, pode assegurar uma abordagem integral (CAMPOS; DOMITTI, 2007).

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