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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO NO IFNMG – CAMPUS MONTES CLAROS

4.2.3 Identificação dos Critérios Sustentáveis por Dimensão

4.2.3.2 Critérios Sustentáveis Conforme a Dimensão Ambiental

Ao fazer a análise nos processos em relação à dimensão ambiental, tomando por base as 35 licitações apreciadas durante o período de 2013 a 2015, nota-se que 91,43% dos processos estão relacionados à exigência de “certificação INMETRO e normas da ABNT”, 82,86% relacionados ao critério de “gestão de resíduos agregados e reciclados” e 80,00% relativo ao

combate ao “desperdício de água, energia e recursos naturais”, dentre outros critérios, conforme apresentado no gráfico 11 abaixo:

Gráfico 11 – Critérios de Sustentabilidade Ambiental recorrentes nas licitações do

Campus

Fonte: Elaboração própria (2017).

Corroboram com tais ensinamentos, os autores Csipai (2013), Silva (2014), Galli (2014) e TCU (2015) ao afirmarem que deverá estar prevista nos instrumentos convocatórios a análise da questão ambiental, em atendimento ao disposto no artigo 2º da Instrução Normativa nº 01/2010 (MPOG, 2010a). Também está previsto no artigo 12, inciso VII da Lei nº 8666/1993, que o impacto ambiental é um dos requisitos a serem considerados nos projetos básicos e executivos de obras e serviços (BRASIL, 1933). Nota-se que através do estabelecimento de tais critérios de sustentabilidade, o IFNMG – Campus Montes Claros tem cumprido sua parcela de cumprimento destas exigências, fazendo valer as determinações legais previstas.

Os critérios ambientais relativos à exigência de “certificação INMETRO e normas da ABNT”, bem como o critério relativo à “gestão de resíduos”, por se tratar de questões cotidianas do conhecimento geral da população, tiveram predominância nos processos de licitação analisados. Esta predominância se justifica porque, na maioria dos processos licitatórios, é praxe o setor solicitante apresentar, quando da especificação técnica do objeto

no, Termo de Referência, a exigência de normas ABNT, INMETRO e demais normas aplicáveis em vigor, o que não ocorre para os demais critérios.

Vale destacar que o critério ambiental relativo ao “respeito às normas da ANVISA”, apesar de constar em apenas 03 processos (8,57% da amostra) trata-se de um critério específico para objeto relativo à contratação de Limpeza e Conservação, em função do uso de materiais de limpeza e outros produtos químicos, bem como para contratação que envolva alimentação, em função da necessidade de adoção de boas práticas de manuseio de alimentos, o que pode justificar a pouca adesão ao referido critério.

Importante frisar que o referido critério não foi abordado por nenhum dos autores referenciados nesta pesquisa. Todavia, trata-se de critério previsto no artigo 6º da Instrução Normativa nº 01/2010 (MPOG, 2010a), que determina obediência às classificações e especificações determinadas pela vigilância sanitária para produtos de limpeza e conservação, bem como obediência à Resolução CONAMA nº 20/1994 para equipamentos de limpeza que geram ruídos no seu funcionamento, quando da contratação de tais serviços (BRASIL, 1994). Dessa forma, o critério foi adotado nos dois processos relativos à contratação de Limpeza e Conservação, bem como no processo relativo à contratação de serviços para condução de veículos, os quais necessitam fazer uso de materiais de limpeza e produtos químicos na prestação de serviços.

Do mesmo modo, o critério relativo à exigência de realização de “treinamento periódico dos empregados”, para racionalização do consumo de energia elétrica, do consumo de água e redução de produção de resíduos sólidos, é um critério que, no entendimento desta pesquisadora, está associado ao critério relativo ao “combate ao desperdício de água, energia elétrica e recursos naturais” e deve ser adotado, quando da prestação de serviços de terceirização de mão-de-obra, de Construção Civil, bem como de concessão de espaço físico. No caso da unidade investigada, tal critério foi exigido em apenas 5,71% do total de processos analisados. Contudo, tal exigência sustentável esteve presente em 100% dos processos relativos à contratação de Limpeza e conservação. A administração pública deve prever a exigência de treinamento de empregados terceirizados, com vistas a garantir medidas de racionalização do uso de recursos naturais, água e energia elétrica, bem como fiscalizar a adoção de práticas sustentáveis.

Quanto à exigência de “embalagem individual adequada”, os órgãos públicos devem levar em consideração o disposto no artigo nº 32 da Lei nº 12.305/2010, que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual preconiza que as embalagens devem ser

fabricadas com materiais reutilizáveis ou recicláveis, caso a reutilização não seja possível, restritas em volume e peso às dimensões do conteúdo do produto. Esse critério foi exigido em 62,85% da amostra, o que demonstra o interesse da instituição em garantir a proteção do produto adquirido e facilitar o seu transporte e armazenamento (BRASIL, 2010b).

O critério sustentável referente aos “bens constituídos, no todo ou em parte, por material reciclado, atóxico ou biodegradável”, foi previsto em 22,86% dos processos licitatórios analisados. Considerando a quantidade de produtos constituídos por material plástico ou papel adquirida pelos órgãos públicos, tais como canetas esferográficas, porta canetas, copos descartáveis, cartolina, papel sulfite, régua, dentre outros materiais, entende-se ser de suma importância a exigência de tal critério nas aquisições de materiais de consumo diversos realizadas pela unidade investigada.

O critério referente ao descarte ou “destinação ambientalmente adequada” deve ser encarado de forma responsável tanto pelos órgãos públicos quanto pelos fornecedores, haja vista a possibilidade de reduzir os impactos ambientais e evitar danos à saúde pública e à segurança da população. Tal critério pode estar associado também à proibição do uso de substâncias que destroem a camada de ozônio, especialmente no que se refere ao descarte de pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, equipamentos de Tecnologia da Informação e Comunicação, dentre outros produtos inservíveis. No âmbito da unidade investigada, tal critério foi exigido em apenas 17,14% da amostra e demonstra que a instituição não priorizou a questão relativa ao descarte de resíduos e sua destinação apropriada, a fim de mitigar possíveis danos ambientais. Ressalta-se a necessidade prévia de identificar associações ou cooperativas de catadores de material reciclado para que seja exigida a coleta e destinação ambientalmente correta dos resíduos.

O critério relativo à “origem da madeira” foi exigido em todos os editais de Concorrência, relativos à licitação de obras e construção civil, ou seja, em 11,43% dos processos analisados. Sob este aspecto, o ICLEI (2015) afirma que a exploração insustentável da madeira afeta não apenas o meio ambiente, mas toda a comunidade local que dependa daquela atividade para sobrevivência. Através da exigência de tal critério ambiental, o IFNMG - Campus Montes Claros pode demonstrar seu compromisso com a preservação das reservas florestais e com o manejo adequado sustentável, exigindo que a madeira utilizada na fabricação seja legalizada, por meio da exigência de comprovação da origem da madeira ou apresentação de certificação florestal.

O critério ambiental relativo ao “uso de novas tecnologias” foi adotado em apenas 04 processos, o que corresponde a 11,43% dos processos licitatórios instaurados. Tal critério foi exigido notadamente, nos processos de obras e construção civil. Entretanto, ele não foi adotado no processo relativo à execução do Projeto de Adequação elétrica e instalação de condicionadores de ar, contratado pelo IFNMG – Campus Montes Claros (Pregão nº 18/2014) que se trata de instalação de equipamentos de climatização. Dessa forma, considera-se imprescindível a utilização, pela administração pública, de equipamentos de climatização mecânica com novas tecnologias de resfriamento do ar, bem como de projetos que garantam eficiência energética.

Ressalta-se que o critério ambiental relativo à “proibição de uso de substâncias perigosas” para atividades potencialmente poluidoras, referente àquelas substâncias que destroem a camada de ozônio (SDO’s), foi o critério menos adotado nos editais de licitação do Campus, já que apenas no processo licitatório referente à sinalização visual e material gráfico foi exigido expressamente o cumprimento de tal critério ambiental, o que corresponde a apenas 2,85% dos processos analisados.

Quanto à exigência de selos de ruído para equipamentos de limpeza que gerem ruído no seu funcionamento, em nenhum dos processos instaurados pelo Campus foi prevista a exigência do critério relativo à “geração de ruído para equipamentos de limpeza”. Conforme previsto na Resolução CONAMA nº 20/1994, a determinação é obrigatória para aspiradores de pó, liquidificadores e equipamentos de limpeza, e conforme constatado por esta pesquisadora durante sua atuação na unidade investigada e na análise dos documentos, não foi prevista a necessidade de utilização de tais equipamentos para a prestação do serviço de Limpeza e Conservação no âmbito do IFNMG – Campus Montes Claros. Cabe destacar que essa obrigatoriedade do uso do “selo de ruído” passou a ser intensificada após a publicação da Portaria Inmetro nº 430 de 16/08/2012, em que o IBAMA delega ao INMETRO a atividade de fiscalização do selo de ruído, conforme Acordo de Cooperação Técnica para o desenvolvimento do “Programa Silêncio”.

Vale ressaltar que o critério referente à “geração de ruídos para equipamentos de limpeza”, bem como o critério relativo à “proibição do uso de substâncias perigosas – SDO’s”, considerados imprescindíveis para as questões de sustentabilidade nos processos de contratação relativos à terceirização de serviços de Limpeza e Conservação, não foi exigido nos processos licitatórios desta natureza instaurados pelo Campus, apesar de, durante o

período pesquisado, terem sido instaurados 2 processos de contratação de serviços de Limpeza e Conservação.

Assim como os critérios relativos à exigência de “geração de ruído para equipamentos de limpeza” e ao “respeito às normas da ANVISA” a exigência do critério relativo à “proibição de uso de substâncias perigosas - SDO’s” não foi abordada por nenhum dos autores referenciados nesta pesquisa. Todavia, trata-se de uma exigência prevista na Instrução Normativa nº 01/2010 (MPOG, 2010a) que prevê em seu artigo 5º, proibição do uso de produtos com concentração acima da recomendada pela diretiva RoHS.

Ainda com relação a esse importante critério de “proibição do uso de substâncias perigosas - SDO’s”, no entendimento desta pesquisadora, trata-se de um critério mais complexo, um assunto científico pouco esclarecido à população. Deve-se levar em consideração que uma minoria social tem acesso a esse conhecimento mais cientificado sobre as questões ambientais que se relacionam aos impactos causados à camada de ozônio, assunto que praticamente fica restrito aos meios acadêmicos e científicos. Com isso, a população não se aprofunda nesses quesitos e pouco se explora tais impactos sociais e ambientais e suas consequências, o que pode justificar a baixa exigência do critério nos editais de licitação.

Não se pode esquecer que essa diretiva vem de uma cultura europeia, que é pouco difundida no Brasil e mesmo prevista na legislação não existe um maior detalhamento de modo a difundir esses ideais de sustentabilidade no setor público brasileiro e principalmente no IFNMG – Campus Montes Claros. É claro que nem a própria lei, que previu tal proibição, especificou quais produtos estariam incluídos nessa situação, permanecendo nas entrelinhas dos meios legislativos, que caminha a parcos passos em relação às determinações dos grandes blocos econômicos e também da comunidade europeia.

Na visão desta pesquisadora, o critério relativo à “proibição de uso de substâncias perigosas - SDO’s” deveria estar presente nos processos licitatórios relativos à contratação de aquisição de veículos, no que se refere ao ar condicionado automotivo; de infraestrutura, quando da contratação de equipamentos e sistemas de combate a incêndio, bem como na aquisição de equipamentos, refrigeradores, resfriadores de água (bebedouro), ar condicionado, dentre outros, em conformidade com a Resolução CONAMA nº 267/2000, tendo em vista o enquadramento em atividades potencialmente poluidoras. Todavia, tal critério não foi observado nos processos licitatórios realizados pela unidade investigada.

Além dos itens acima referidos, no caso do serviço público, a pesquisadora julgou conveniente a necessidade de exigência do referido critério nos casos da aquisição de combustíveis e lubrificantes; derivados de petróleo, produtos químicos de alta periculosidade, inclusive para uso em laboratórios, equipamentos de TI, acessórios e equipamentos eletrônicos que podem conter tais substâncias perigosas em sua composição.

Os editais de licitação do Campus preveem ainda, que o fornecedor se autodeclare, sob as penas da lei, em especial do artigo 299 do Código Penal Brasileiro, que os bens e serviços atendem ao disposto na legislação ambiental, através da assinatura da “Declaração de Responsabilidade Ambiental” que estabelece e reforça os critérios de sustentabilidade previstos no edital.