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Cruzamento dos dados qualitativos e quantitativos

6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

6.3 Cruzamento dos dados qualitativos e quantitativos

Essa sessão apresenta a síntese das categorias de análise, sendo, portanto, relacionada aos três segmentos investigados discentes, docentes e bibliotecários: Prática extensionista e responsabilidade social universitária; Projetos de Extensão e Identidade Bibliotecária; e Práxis Bibliotecária e Compromissos sociais.

Os dados coletados revelaram a insuficiência de programas e projetos desenvolvidos nas comunidades, e esse quantitativo diminui no tocante à temática inclusão social. Em contraposição, a responsabilidade social foi pontuada nas ações desenvolvidas pelos docentes. A figura 22 reflete a posição das funções ensino, pesquisa e extensão no âmbito acadêmico, resultante das análises percebidas nos currículos docentes, nos questionários e entrevistas aplicados à população pesquisada. Face ao exposto, o tripé universitário gerou a imagem:

Figura 20 – Funções universitárias

Fonte: Elaborada pela autora.

Em consonância com a figura, é imprescindível ressaltar que

a responsabilidade social corporativa deve ser utilizada estrategicamente de forma a alcançar as pessoas dentro e fora da empresa.[...]. Assim, a responsabilidade social deve ser encarada como um processo que visa ao aprimoramento das relações entre os diversos atores que compõem o cenário social. Nesse sentido, ter uma integração mais efetiva com as comunidades é parte de sua responsabilidade social (SOUSA, 2006, p.5).

Nessa acepção, o engajamento de todos os stakeholder é essencial para o fortalecimento da responsabilidade social universitária. É necessário estimular práticas que favoreçam o desenvolvimento de estratégias capazes de assegurar a indissociabilidade destas

funções na Academia, com ênfase nesta pesquisa, para os cursos de Biblioteconomia da região Nordeste do Brasil. Não é pretensão desta proposta investigativa apresentar a Extensão enquanto a “redentora” ou “transformadora” da universidade. Nosso intento foi analisar a configuração desta ação no tripé universitário, buscando elencar os motivos que interferem em sua prática na Academia.

Quanto ao público-alvo assistidos pelas ações investigadas: idosos em situações de abandono, crianças com câncer e em situação de vulnerabilidade social, população carentes de bairros periféricos das capitais, ou seja, constitui-se pelas minorias sociais. O comprometimento do curso é cooperar com o acesso e disseminação da informação, vetor de desenvolvimento social e empoderamento por meio da transferência de tecnologia social, configurando-se como aspectos da responsabilidade social universitária. Nessa concepção, destacam-se os aspectos positivos: promoção do protagonismo, desenvolvimento de competências técnicas e humanas e formação cidadã.

Como resultado de uma dessas ações, acerca do protagonismo desses grupos, destaca-se a criação dos “Cadernos de Poemas” (FIGURA 23) pelos idosos assistidos no Projeto Biblioterapia para jovens/idoso: envelhecer é viver e nada mais (UFPB), a ser publicado; além desse, está em elaboração o Caderno de Receitas produzido pelo grupo assistido, refletindo assim em seu empoderamento

Figura 21 – Caderno de poemas

Um dos benefícios gerados nessa proposta integrativa foi a construção de atividades altruístas, que resultam em satisfação de todos os envolvidos no processo educativo, essenciais para o fortalecimento da cidadania desses grupos. O protagonismo social do Curso de Biblioteconomia foi evidenciado nessas ações, de intercalação entre universidade e comunidades, por meio do processo de mediação da informação, cooperando também na visibilidade social da Biblioteconomia. Para Dudziak (2007) a existência de cidadãos emancipados e socialmente incluídos depende da capacidade de todos (coletividade), e de cada um, de desenvolver continuamente a competência em informação, o aprender a aprender e o aprendizado ao longo da vida. Assim, os cursos de Biblioteconomia precisam exercitar com efetividade a Extensão, a fim de possibilitar resultados positivos para a comunidade.

O paradigma da Biblioteconomia Social (SHERA, 1977) foca o usuário e suas necessidades informacionais, denotando o compromisso do bibliotecário na disseminação da informação. O processo de ensino e aprendizagem precisa refletir o ambiente profissional, para isso, ações interdisciplinares como a inserção do alunado em práticas cotidianas têm papel fundamental. A curricularização da extensão torna-se primordial para preparar o futuro profissional para o Mercado de trabalho. Assim, a participação docente é decisiva nesse processo, que necessita ser modificado (GRÁFICO 23).

Gráfico 23 – Panorama geral - docentes com/sem projetos de extensão

Fonte: Elaborado pela autora

Nesse objetivo, convoca-se essa categoria a repensar sua posição para favorecer a indissociabilidade do tripé básico universitário. Destaca-se o protagonismo docente nas ações de ensino, pesquisa e na própria gestão acadêmica; mas, no tocante às atividades extensionistas, principalmente as direcionadas às comunidades, sua participação fica aquém do desejado, precisando discussões aprofundadas sobre a temática. A responsabilidade social

universitária configura-se na participação de todos os stakeholder, a fim de que a missão e objetivos da instituição sejam alcançados com primazia.

Face ao exposto, salienta-se que

a responsabilidade do que uma organização deve produzir para a sociedade é realizada por meio dos comportamentos dos integrantes da organização. Entretanto, nem sempre há uma percepção suficientemente clara ou precisa acerca dessa função por parte dessas pessoas. Isso ocorre até pela razão que a formulação de objetivos (função, papel ou responsabilidade social) é um processo ainda pouco conhecido e quase nada ensinado nas próprias instâncias de preparação de agentes que constituem as organizações, particularmente as universidades. (DE LUCA, BOTOMÉ; BOTOMÉ, 2013, p.466)

Assim, a classe docente precisa apresentar atuação que permita integrar as funções fundamentais da universidade, atendendo aos objetivos para uma educação integral. É essencial, nessa perspectiva, a participação intensa dos docentes nas ações de extensão, a fim de consolidar a mesma na práxis institucional. A análise detectou ainda que a extensão praticada nas universidades tem focado diversas atividades, direcionadas ao próprio público acadêmica, seja no formato de eventos, cursos, seminários, palestras etc. Quando direcionadas às comunidades internas, tem como temáticas a organização e gestão de acervos, seja de centros documentais, literatos; implantação de laboratório digitais; organização e tratamento da informação etc., porém, no tocante às temáticas sociais, o quantitativo dessas ações é pequeno (GRÁFICO 24).

Gráfico 24 – Panorama geral – temáticas-programas/projetos extensionistas

A inserção da Extensão no processo formativo do aluno implica mais que uma ação interventiva, perpassa todo o processo ensino aprendizagem, em uma perspectiva multidisciplinar, agregando saberes e vivências práticas aos discentes. A sua ausência resulta numa formação alijada, desprovida de ferramentas pedagógicas essenciais à qualificação profissional e cidadã. Oportunizar o acesso à informação é a essência da profissão bibliotecária, portanto, ações direcionadas às temáticas sociais são relevantes para concretude desse propósito maior da profissão bibliotecária: a mediação da informação. Assim, o processo de ensino e aprendizagem deve viabilizar meios para a sua concretude. Freire (1996) destaca que ensinar não é transferir conhecimentos, mas uma postura ética e comprometida com o social. Nesse sentido, é necessário o engajamento de todos os que fazem a Academia para romper com essas estruturas engessadas, cristalizadas do fazer acadêmico que limitam as atividades acadêmicas na própria ambiência universitária.

Na Categoria Projetos de Extensão e Identidade Bibliotecária, os dados evidenciaram que as práticas específicas da área de Biblioteconomia estão presentes nas ações desenvolvidas e cooperam na visibilidade social da profissão. Em virtude do quantitativo dessas ações ser irrisório, a problemática persiste. O marketing profissional faz-se na Academia, pelos profissionais, associações, conselhos de classe, enfim, por todos que constituem a profissão. Conclui-se que o envolvimento na sociedade promoverá mudança desse quadro que atinge a classe profissional. Para Souza (2006) a visibilidade bibliotecária está centrada nas questões: Quem somos? Que fazemos? Onde pretendemos chegar? Essas indagações apontam para o acesso, a mediação da informação. Enquanto a classe profissional continuar fechada em suas tradicionais técnicas bibliotecárias ou nos currículos que não contemplam as exigências mercadológicas vigentes, essa temática persistirá. Entende-se que há uma parcela de profissionais que procuram modificar essa realidade, mas esse esforço é pequeno em detrimento a coletividade.

Na Categoria Práxis Bibliotecária e Compromissos sociais os dados demonstraram que há uma parcela de profissionais que prioriza a relação com a sociedade, desenvolvendo ações extensionistas comunitárias. Em virtude das tipologias das unidades de informação, há a dificuldade de desenvolver atividades sociais com públicos não usuários, mas isso não pode tornar-se obstáculo para desenvolver a integração com as comunidades ao entorno. A disponibilidade para o agir além das funções inerentes da profissão reproduz um modelo de educação proporcionada na formação acadêmica. O bibliotecário é protagonista de um cenário social em que a informação é vetor de progresso. Assim, não pode concebê-lo como um tecnicista, um catalogador. Essa profissão deve ser consciente que sua atuação é

fundamental para cooperar no acesso e mediação da informação. Portanto, precisa desenvolver habilidades inerentes à missão da sua profissão, que se configura na promoção do acesso à informação.

Nessa pretensão de incitar discussões e superações acerca do lócus que se encontra a Extensão na Academia, buscou-se evidenciar as lacunas e os benefícios dessa função nos cursos de Biblioteconomia da região Nordeste do país. Parafraseando Souza (2007), tomamos seus apontamentos para fazer analogia à situação da extensão nos cursos pesquisados,

essa análise, aparentemente, pessimista, não é na essência. A pretensão ao expor as idéias sobre essa articulação por esse olhar é justamente incitar a um movimento de superação. As experiências boas existem, mas, infelizmente, são muito pontuais e, por isso, são boas sob o olhar dos resultados imediatos para quem as demandou; mas, se esta demanda requer serviço, falta ainda uma demanda que requeira pensar a articulação do ensino, pesquisa e extensão em Biblioteconomia. [...]. Essa articulação precisa ser alargada, pois, em última instância, pela predominância da discussão no ambiente acadêmico, está ampliando, talvez sem plena consciência desse mal, uma redução do potencial do campo bibliotecário no Brasil. (SOUZA, 2007, p.14, grifo nosso).

A contribuição das atividades de extensão universitária, para uma formação discente ética e cidadã, com vista ao fortalecimento da identidade bibliotecária na sociedade, é pouco aproveitada nos programas de graduação, realidade que se aplica também a pós- graduação, conforme evidenciou os dados coletados. Um olhar profícuo para essa função poderá contribuir para ampliar o escopo de atuação da Extensão no ambiente universitário, vindo a ser campo fértil para promoção da visibilidade social da profissão. A Extensão não pode ser percebida como uma atividade distinta das demais, realizada esporadicamente. Faz- se necessário mudar a cultura organizacional predominante, romper estigmas a fim de solucionar esse fato.