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Mapeamento dos programas/projetos com temáticas sociais

6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

6.1 Mapeamento dos cursos de Biblioteconomia no Nordeste do Brasil

6.1.2 Mapeamento dos programas/projetos com temáticas sociais

Nesta seção são demonstrados os dados do mapeamento das ações extensionistas, nas categorias programas/projetos que trabalham a temática inclusão social, desenvolvidos nas comunidades externas. As informações advindas dessas ações foram tratadas estatisticamente (GRÁFICO 02) evidenciando o quantitativo dessas ações e a particularidade de cada locus investigado. Para melhor compreensão, as informações foram dispostas em ordem referentes às instituições pesquisadas

Gráfico 02 – Comparativo das temáticas dos programas/projetos de extensão

Os dados evidenciaram que o percentual das ações extensionistas, com ênfase para inclusão social, é pequeno em comparação a outras temáticas, de caráter acadêmico profissional. O FORPROEX (2000) pontua que as universidades brasileiras, neste final de século, enfrentam inúmeros desafios, sendo um destes a interação com a sociedade. O Plano Nacional de Extensão 1999/2000 expressa, entre seus objetivos, que as Universidades devem criar condições para a participação das IFES na elaboração das políticas públicas voltadas para a população. Essa premissa ressalta o papel da Universidade enquanto colaboradora do desenvolvimento da nação. Para alcance desse objetivo, integrar a universidade com a sociedade é essencial.

Os resultados apontam ações pontuais, de uma parte do coletivo docente, na busca para efetivar essa ação. Os dados evidenciaram que na UFBA a interação com as comunidades externas, na perspectiva de inclusão social, é ínfima. A UFS revela um dado peculiar: apesar de o curso desenvolver ações extensionistas, 40% dos docentes apresentaram em seus currículos ações extensionistas (GRÁFICO 01), em contrapartida não há programas/projetos direcionados à inclusão. Observou-se nos dados coletados, que a maior parte das ações extensionistas está direcionada à comunidade acadêmica, isto é, à comunidade interna, denotando que a Universidade continua "fechada", dialogando pouco com a sociedade.

Freire (1983) critica esse ostracismo das atividades acadêmicas, visto que a interlocução com o mundo exterior é essencial, pois permite a apropriação e elaboração de novos conhecimentos, propiciando o desenvolvimento da capacidade crítica, fundamental para um processo formativo de qualidade. O aprender a aprender, um dos pilares da educação moderna, demonstra que o aspecto hermético do processo educacional, muitas vezes descontextualizado da realidade e fundamentado nas teorias, interfere na forma de aprendizado, requer práticas significativas de ensino. Educar pela participação propicia senso crítico e ressignificação do processo formativo em espaços diversificados.

Nesse entendimento, a construção do conhecimento exige a presença investigativa do sujeito em face do mundo, a construção de novos saberes resultantes dos processos de experiência, inter e extra sala de aula. Essa ação pedagógica demanda reflexão crítica dos atores sobre o ato de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se, percebe o outro e os condicionamentos a que está submetido seu ato (FREIRE, 2000). Destarte, o ato de aprender a aprender engloba diversos artefatos pedagógicos, ressaltando a insuficiência do ambiente sala de aula para o aprendizado pleno. Essa assertiva instiga as

instituições de ensino a implementar mecanismos de apropriação e transformação do conhecimento fora de seu ambiente interno.

Nessa acepção, o ensino integrado é essencial para a formação de um sujeito crítico e participativo. A Extensão universitária, por suas características, permite a Universidade ampliar esse contexto de ensino e aprendizagem, além de alargar as fronteiras para experiências fundamentais para a formação acadêmica. A totalidade de programas/projetos extensionistas desenvolvidos pelas Universidades, com a temática Inclusão, configura-se como contraposição à acepção de Freire (1983) sobre o processo educativo ser construído na interação sujeito-meio, visto que os dados revelaram que a maior parte das ações são realizada para a própria Academia (GRÁFICO 02).

Essa realidade, comprovada nos currículos docentes pesquisados, revela que a preocupação das Academias está direcionada para um público seleto, profissional (organização de arquivos pessoais, centros de documentação, monitorias, seminários), configurando-se em atividades com enfoque científico. Para Nogueira (2005, p.20): "a extensão institucionalizada reduz-se ainda mais a cursos ministrados por docentes e dirigidos, de modo geral, a uma clientela já ligada às universidades, seja frequentando seus cursos regulares ou portadores de diplomas universitários". Essa crítica precisa ser discutida pelos cursos a fim de fomentar ações para modificar essa realidade vigente.

A interação propiciada pela extensão é “via de mão dupla”, ou seja: “da Universidade para a sociedade e da sociedade para a Universidade” (FORPROEX, 2012, p.17), e por isso precisa alargar suas fronteiras e sair do ambiente interno. Isso não implica que as ações extensionistas sejam também dirigidas a essa parcela da população “letrada, acadêmica”, o que se pontua é um equilíbrio do raio de extensão, tanto na comunidade interna como externa. Os Programas extensionistas não podem perder o objetivo dessas ações. Para Fujita e Barravieira (2014) a extensão universitária permite que a universidade cumpra sua responsabilidade social na medida em que serve como um laboratório social para a transmissão do conhecimento para o conjunto da sociedade, principalmente o local. Nessa vertente, é necessária a efetivação dessa prática nas IES, visto que,

uma instituição não pode voltar-se somente para o ensino ou para a pesquisa. Se compartilhar com a sociedade, o conjunto ensino e pesquisa, por meio da extensão, aí sim, estar-se-á construindo uma universidade voltada para a formação de cidadãos e para a transformação da realidade. (LOURENÇO, 2011, p.18).

Nessa percepção, a função real da universidade deve perpassar o modelo tradicional de ensino e alargar as suas fronteiras, das práticas docentes e integrar-se ao social,

a fim de possibilitar a formação humanística. Porém, os dados coletados apontam que a integração com as comunidades é pouco vislumbrada por parte dos atores que constituem o fazer acadêmico. Trabalhar a percepção desses agentes (reitores, pró-reitores, docentes, discentes, técnicos) é fundamental para fortalecer o entendimento desse processo no âmbito do ensino superior do país. Com o propósito de verificar como as Universidades divulgam suas ações realizadas, fez-se o mapeamento dos periódicos destinados à promoção dessas ações, conforme seção posterior.