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O bibliotecário do século XXI: desafios e perspectivas

4 BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL: MARCOS HISTÓRICOS

4.1 O bibliotecário do século XXI: desafios e perspectivas

destaca a dignidade da pessoa humana, implica no protagonismo profissional para tornar a informação acessível a todos que precisem, denotando a responsabilidade social da área.

4.1 O bibliotecário do século XXI: desafios e perspectivas

Em virtude das atuais necessidades mercadológicas, a sociedade exige novas habilidades e competências profissionais. Nessa proposição, adequar o perfil profissional às demandas vigentes é essencial para que o bibliotecário atenda essas exigências e torne-se uma profissão (re)conhecida por toda a sociedade. Superar os desafios e aproveitar as oportunidades oriundas desse processo global coopera para que a profissão saia de seu “ostracismo acadêmico, letrado” e torne-se um agente de transformação, facilitador do fluxo informacional, desde a guarda à disseminação da informação. A formação acadêmica é o ponto de partida para compreender o escopo de atuação profissional. Em sua organização curricular, o curso evidencia, satisfatoriamente, a parte técnica, pilar fundamental da profissão. Sua matriz curricular está dividida em seis unidades: Fundamentos teóricos da Biblioteconomia e Ciência da Informação; Processamento da informação; Recursos e serviços de informação; Gestão de unidades de informação; Pesquisa; e Estágio, acrescido das atividades complementares, que constituem conjunto de estratégias didático-pedagógicas, que visa a oferecer ao aluno condição para articular saberes teórico-prático, para complementar sua formação profissional e cidadã. (UFCA. Resolução nº 07/CEPE).

Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) a composição do projeto político pedagógico deve incluir a realidade global e local enquanto elemento chave. Uma das recomendações dessa Lei é a necessidade de autoconhecimento da profissão para a sociedade. Nas diretrizes educacionais, a formação acadêmica precisa estar fundamentada em dois pilares: a competência técnica e o compromisso social. Nessa acepção, formar profissionais implica mais que uma especialização técnica, denota cooperar com o desenvolvimento crítico, emancipação, prover meios para possibilitar uma formação cidadã, ética, valorativa. A contribuição social da área da Biblioteconomia não se restringe somente à preservação da memória documental do país, o acesso e a mediação da informação são fundamentais no escopo da profissão. Nesse direcionamento, Cysne (1993, p.15) pontua: "é mister o repensar da função social da Biblioteca e dos serviços de informação, bem como o papel que deve ser assumido pelo bibliotecário, numa relação direta com o contexto social a

que a profissão está afeta”. Libertar-se dos arquétipos, “improdutivo, ultrapassado, guardiões do saber”, construídos ao longo da história é uma das condições básicas para que a sociedade possa enxergar esse profissional como mediador da informação, agente de transformação social.

Desconstruir essa visão requer além de discursos, precisa de ações efetivas, constantes, que promovam interação com a sociedade. Almeida Júnior (2003) destaca que não há possibilidade de modificar essa imagem criada pela sociedade sem, antes, a profissão refletir a sua veracidade, os motivos para a existência dela e traçar estratégias para transformá-la. Essas características resultam em mutismo que faz com que, em nenhum momento da história, esse profissional esteja presente, fato esse que deve ser investigado e buscar ferramentas para mudar essa realidade, é um desafio das instituições de ensino a fim de que os futuros profissionais não desfaleçam nessa imagem, e esqueçam o compromisso com as questões sociais, sendo uma dessas a disseminação da informação.

No ensino superior, a aquisição e o desenvolvimento de novas habilidades e competências são promissores para compreender as atuais necessidades do mercado, visto que a educação enquanto processo formativo preocupa-se com a pessoa em seu sentido amplo. A formação profissional envolve aspectos desde a apreensão de conhecimentos específicos a fatores mais subjetivos como ética profissional, empregabilidade e desenvolvimento da profissão (WALTER, 2008). Frente a isso, no Encontro Nacional de Ensino de Biblioteconomia e Ciência da Informação (1998) foram firmados compromissos em relação à formação profissional dos bibliotecários, dentre os quais penetração social da profissão e a abertura de novos mercados de trabalho (VALENTIM, 2000). A formação bibliotecária perpassa a capacitação em responder não somente problemas técnicos como sociais, estes últimos relacionados aos usuários e suas necessidades informacionais.

A invisibilidade profissional é um dos reflexos que precisa ser superado. Trilhar um caminho em busca de fortalecimento da identidade social é um compromisso a ser trilhado. O bibliotecário do século XXI não pode ser mais visto apenas como guardador da biblioteca, como ressaltado no filme "O nome da Rosa" nem tampouco a biblioteca pode ser entendida como um espaço somente para os letrados. O local de atuação profissional deve perpassar as tradicionais bibliotecas, conquistando setores que haja necessidade da organização e mediação da informação.

Walter (2008, p.39) destaca: "como os bibliotecários são pouco presentes na vida comunitária do país, pelo menos em grande parte dos municípios brasileiros, isso contribui para essa aparente ausência de uma identidade profissional nacional". Estar a serviço dos

acadêmicos ou letrados é a premissa maior que precisa ser rompida pelos cursos para modificar essa realidade impetrada desde a origem das bibliotecas no país. Ampliar o leque de atuação torna-se, portanto, essencial para que ocorram mudanças, assim a formação acadêmica precisa traçar estratégias para modificar essa realidade. Neste entendimento, a extensão universitária é uma oportunidade para minimizar os impactos do desconhecimento social profissional. A preparação para atuar em novos ambientes de trabalho é campo favorável para dilatar a imagem profissional em todos os segmentos sociais. A Biblioteconomia Social, que enfatiza o usuário e suas necessidades informacionais, precisa superar a Biblioteconomia patrimonialista, cujo enfoque é o acervo.

Perceber a mediação como práxis profissional fundamental em detrimento da guarda é uma premissa que precisa ser ensejada por todos aqueles que fazem a profissão. Para Almeida Jr. (2004) a responsabilidade social da área está intrinsecamente atrelada ao processo de mediação, tornando-se uma exigência nas agendas profissionais. Nesse entendimento, o bibliotecário é responsável em cooperar para o acesso à informação a todos que dela necessitam e isso se constitui parte fundamental de sua responsabilidade social.

Destarte,

é fato que a responsabilidade social é parte intrínseca da prática profissional bibliotecária. Mas responsabilidade não pode ser entendida apenas e somente para os excluídos socialmente, mas, igualmente, para os setores que tem que com suas pesquisas, atuação, produção e possibilidade de oferta de produtos, serviços e empregos podem significar a diferença para os excluídos. E isso torna a formação e a responsabilidade social para atendimento desse segmento tão importante e tão estratégico quanto para os menos favorecidos. (WALTER, 2008, p.83)

Diante dessa assertiva, destaca-se que a Biblioteconomia precisa intervir em todos os segmentos sociais, letrados ou não, ricos ou pobres. A crítica que se faz à profissão é que ela, muitas vezes, está direcionada somente aos que têm acesso às informações, ficando o setor menos favorecido socioeconomicamente, desprovidos da atuação profissional. A relevância das instituições disseminadoras de informação é fundamental na sociedade. Face ao exposto, a Biblioteconomia, enquanto ciência social deve compreender que não é suficiente tratar somente dos aspectos técnicos dos documentos é necessário promover a mediação, o acesso à informação. Proporcionar aos discentes a participação em programas/projetos fora do ambiente da sala de aula é uma oportunidade para cooperar com uma formação que extrapola os moldes tradicionais de ensino, proporcionando uma educação integradora, crítica, denotando assim, parte da responsabilidade social universitária.

Silva e Cunha corroboram ao destacar,

a universidade deverá reforçar seus papéis no aumento dos valores éticos e morais da sociedade e no desenvolvimento do espírito cívico ativo e participativo de seus futuros graduados. A universidade precisa dar “maior ênfase para o desenvolvimento pessoal dos estudantes, juntamente com a preparação de sua vida profissional. (SILVA; CUNHA, 2002, p. 80)

Face à necessidade de uma educação transformadora, a Biblioteconomia precisa redefinir o perfil profissional tecnicista para uma práxis social. Uma Biblioteconomia humanística implica na fluidez da informação, parte fundamental do ciclo informacional. A biblioteca urge extrapolar o espaço físico e atingir outras dimensões, seja por meio do espaço digital, seja com atividades nas comunidades etc. Romper o ideal do acervo e projetar-se para mediação é um dos desafios da área. Nesse direcionamento, o paradigma social da Ciência da Informação (CAPURRO, 2003) e a Biblioteconomia social (SHERA, 1977) destacam que o exercício biblioteconômico precisa alargar as suas fronteiras de formação e atuação. Nesse pensamento, a seção posterior trata das contribuições da Ciência da Informação para a práxis social, por meio de suas teorias, com ênfase para o paradigma social da área.

4.2 A interdisciplinaridade das ciências como fator de responsabilidade social: