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Cuiabá: universo da pesquisa

3. METODOLOGIA: o caminho percorrido

3.1 Cuiabá: universo da pesquisa

Bandeirantes paulistas, ao perseguirem índios para tomá-los como escravos, depararam-se com pepitas de ouro às margens do rio Coxipó-Mirim. A partir desse descobrimento, foi fundado, em oito de abril de 1719, o Arraial da Forquilha, que daria origem, mais tarde, à Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. (SIQUEIRA, 2002). Elevada à condição de cidade em 1818, quase um século depois de sua fundação, torna-se a capital da Província de Mato Grosso, em 1824.

Desde então, Cuiabá atravessou períodos alternados de crescimento econômico e populacional e períodos de esvaziamento da população e marasmo econômico.

Atualmente, a economia está centralizada no comércio atacadista e varejista, mas o turismo, dada a sua proximidade ao Pantanal e à Chapada dos Guimarães, começa a despontar. Na agricultura, cultivam-se hortifrutigranjeiros e lavouras de subsistência.

Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e0 Estatística (IBGE), em 2007, o município de Cuiabá contava com 526.830 habitantes. (IBGE, 2008). Sua área física espraia-se em 3.538,17 km².

Cuiabá, rotineiramente, registra algumas das temperaturas mais quentes

dentre as capitais brasileiras. Seu clima é tropical quente e sub-úmido. A precipitação média anual atinge 1750 mm, com intensidade máxima no período de dezembro a fevereiro. A temperatura máxima, nos meses mais quentes, fica em torno de 43°C. Durante a seca, que vai de maio a agosto, a umidade cai a níveis críticos, às vezes abaixo de 15% e a temperatura varia entre 17º graus à noite e 38º

durante o dia.

A capital, hoje, é uma metrópole que, acompanhando o estado de Mato Grosso, tem um crescimento em torno de 10% ao ano. Porém, o aumento desordenado da população provocou uma ampliação sem planejamento urbano, principalmente das áreas periféricas da cidade que, em sua maioria, carecem de serviços públicos básicos. A cidade enfrenta, no presente, problemas decorrentes de trânsito conturbado, violência crescente e desigualdade social.

Apesar de se ter discorrido a respeito da violência na sociedade brasileira contemporânea no capítulo anterior, optou-se em desenvolver aqui, na metodologia, o item sobre a violência especificamente em Cuiabá, para melhor contextualizar o universo da pesquisa.

Naldson Ramos da Costa, professor do Departamento de Sociologia e Política da UFMT, membro-fundador do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania na UFMT, em um artigo (COSTA, 2004), considera que a questão da violência em Mato Grosso, nos últimos 20 anos, devido às dimensões alcançadas, preocupa as autoridades e deixa a sociedade muito insegura.

Nas redes de sociabilidade mato-grossense é comum o emprego da violência como forma de resolver os conflitos entre as relações interpessoais e nas que contrapõem os interesses das elites e das não-elites. A violência e a criminalidade foram aceleradas em Mato Grosso, em particular na capital Cuiabá, devido ao processo de ocupação e expansão das suas fronteiras agrícolas mediante uma política de colonização oficial e particular, que deu origem a uma urbanização acelerada e desordenada, ao lado do crescimento dos problemas sociais e da criminalidade, tanto no campo como nas cidades. Mas é partir da década de 90 que emergem os conflitos que resultarão no aumento da exclusão social, da violência e da criminalidade. (COSTA, 2004, p. 4).

O pesquisador afirma que, em decorrência dos conflitos das redes de sociabilidade ou poder, e do aumento da criminalidade, tornou-se comum, atualmente, em Mato Grosso, a prática de controle social ou de solução de conflitos "[...] com base no uso ilegítimo da força policial ou de crimes de pistolagem e violência privada" (COSTA, 2004,p. 4).

Segundo o Secretário de Estado de Justiça em exercício, em 2008,

A ascensão da violência e da criminalidade no estado resulta de

diversos fatores, entre os quais: o crescimento demográfico urbano e

a ineficiência histórica das políticas públicas de uma forma geral, no

combate à fome e à miséria, bem como a ausência de programas

voltados à formação moral e educacional dos jovens. (ESTUDO DA SEJUSP, 2008).

Em sua tese de doutorado, Oliveira (2006) constatou que Cuiabá apresenta coeficientes de mortalidade por agressões, acidentes de trânsito, afogamento e suicídio superiores aos encontrados no restante do Brasil e de Mato Grosso, nos últimos 20 anos, tendo um crescimento de cerca de 50%, no período de 1980 a 2002. Mais de 60% dos óbitos ocorrem no grupo de 20 a 49 anos, mas as causas

externas já se constituem no primeiro motivo de morte em adolescentes, computando 77% dos óbitos, nesse grupo.

A delegada Mara Rúbia de Carvalho, em entrevista para falar de sua experiência à frente da Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente de Cuiabá (Deddica), no dia 17 maio de 2009, revelou que os tipos de crimes mais investigados pela delegacia são aqueles relacionados aos maus tratos, negligência, constrangimento e lesão corporal. Dentre os crimes sexuais, impera o atentado violento ao pudor e o estupro. (OLIVEIRA, 2009).

Se algo não for feito com mais efetividade na área de segurança, em dez anos, nada menos que 2000 cuiabanos terão sido assassinados na Capital, metade deles jovens com idade entre 18 e 24 anos. Quem traça esse cenário sombrio para a segurança da Capital é o cientista político Louremberg Alves. Ele lembrou que a violência na Grande Cuiabá ocorre, em parte, por causa da migração da zona rural para a Capital. Essas pessoas não estão preparadas para encontrar trabalho e isso, quando tem, relata. Há previsão dos órgãos de segurança de investir nove bilhões de reais na segurança pública. No entanto, segundo Louremberg, tem que haver uma integração com as demais áreas do governo, como saúde, educação e esporte. Se não tiver tudo isso de uma forma integrada, infelizmente, a violência tem tudo para crescer nos próximo 10 anos. (ROSA, 2009).

Na busca de se fazer uma contextualização da violência escolar por meio das notícias dos jornais, fez-se sucinta incursão pelos destaques jornalísticos dos principais diários de Cuiabá entre os anos de 2007 e 2008. Aparecem notícias sobre estudantes baleados, seja por jovens que adentram na escola para o chamado acerto de contas, seja em brigas geradas no interior das instituições. Abundam notícias em que discussões terminam ora em facadas, ora em socos e pontapés entre grupos à porta da escola. Também ameaças de morte a professores e alunos por traficantes de drogas e várias manchetes a respeito de escolas assaltadas repetidas vezes, as quais tiveram seu patrimônio, como computadores, televisores, e até fios elétricos, roubados.

Ainda na procura de se entender melhor a situação da violência nas escolas, em Cuiabá, entrevistou-se, em novembro de 2008, o então diretor do Programa Segurança, Disciplina e Qualidade Social nas escolas da Secretaria Estadual de Educação.

O mesmo relatou que o Programa foi criado em parceria com a Secretaria de Justiça e Segurança Pública, Ministério Público, Polícia Militar e Polícia Judiciária Civil. Os altos índices de registro de ocorrências nas escolas de Cuiabá e Várzea Grande (município fronteiriço a Cuiabá) justificaram a implantação de tal Programa. O objetivo, segundo informações fornecidas pelo coordenador, é a redução dos níveis de violência dentro e no entorno das escolas, promovendo a integração e parceria entre a escola, a polícia e a sociedade, melhorando o ambiente e o relacionamento entre as pessoas, em regime de mútua colaboração entre os participantes.

O Programa foi implantado em outubro de 2007 e, segundo afirmações do diretor, ainda não funciona exatamente como um programa e, sim, como um conjunto de ações para apagar o fogo. As ações feitas até agora se constituem no policiamento no entorno das escolas selecionadas e em treinamento, no SENAC, de adolescentes aprendizes identificados como problemáticos.

Indagado sobre quais os critérios de seleção das escolas para participar do Programa, o diretor informou que se basearam em pesquisa da UNESCO, realizada em Cuiabá, em 2000, no número de ocorrências de violência registradas nessas escolas e na nota baixa alcançada no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

3.1.2 Dados das escolas estaduais

Cuiabá dispõe, segundo dados disponibilizados pela Secretaria de Educação (SEDUC), de 82 escolas estaduais urbanas, sendo que uma unidade escolar pode ministrar mais de um nível ou modalidade de ensino, isto é, oferecer tanto o Ensino Fundamental quanto o Médio. (CUIABÁ, 2008).

O quadro a seguir ilustra o número de docentes nas escolas públicas estaduais na capital.

Docentes N Ensino Fundamental 1.679 Ensino Médio 973

TOTAL 2652

Quadro 1 Docentes nas escolas públicas estaduais em Cuiabá, por nível

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (2008)

O quadro número 02 informa o número de matrículas iniciais em Cuiabá, na rede estadual de ensino, de acordo com o do Censo Escolar 2007 – EDUCACENSO.

Nível N

Creche 342

Pré-escola 513

1ª a 4ª série e anos iniciais 12.260 5ª a 8ª série e anos finais 22.130

TOTAL 55.286

Quadro 2 Alunos matriculados em unidades escolares estaduais em Cuiabá

Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (INEP, 2007)

Os dados postados aqui são do ano de 2007, não atualizados para 2009. Preferiu-se assim, uma vez que o ano da coleta de dados foi 2007.