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Pesquisas sobre violência nas escolas em Cuiabá

2. Violência: a busca por um conceito

2.4 Pesquisas sobre violência nas escolas em Cuiabá

Apesar de algumas pesquisas relatadas a seguir também serem embasadas na TRS e fazerem parte de grupos de pesquisa, decidiu-se por separá-las do item anterior para melhor enfatizar o contexto cuiabano.

Kátia Simone Bianchi (PAREDES, SAUL, BIANCHI, 2006), do grupo de Pesquisa Educação e Psicologia da UFMT, pesquisou, junto aos professores das séries finais do Ensino Fundamental da rede pública estadual e municipal de Cuiabá, com o objetivo de conhecer as representações das representações sociais de seus alunos com relação à violência. Para os docentes, um dos principais indutores dos jovens à violência são as amizades e os efeitos do meio a que pertencem. Ancoram tais representações no que eles chamam de más companhias e mau caminho, sendo objetivadas nas gangues. Outro grande responsável, segundo os professores, pela violência revelada por seus alunos é o contexto familiar e as circunstâncias vivenciadas ali. Os atos de violência, como espancamento, por exemplo, de que

seriam testemunhas ou vítimas, serviriam de modelo a esses jovens. Além do mais, a orientação dada pelas famílias é considerada precária e inadequada.

Os professores relataram que dificuldades limitadoras, como: o pouco tempo, a formação insuficiente, o medo e o distanciamento da realidade dos alunos seriam os fatores que levariam os docentes a não abordar as questões da violência na escola. Segundo eles, determinadas disciplinas, psicólogos e até mesmo a Igreja seriam mais indicados para assumir essa responsabilidade. Acreditam mesmo que os alunos dão muito mais credibilidade às informações da mídia, reconhecendo-as e aceitando-as, do que o fazem em relação àquelas oferecidas pela escola.

Os docentes acreditam que, para os alunos, a violência está naturalizada e somente relacionada às situações extremas sinalizadas pelo sangue. As brigas verbais seriam, portanto, ocorrências corriqueiras, embora precursoras da violência física. Assim, os professores não se percebem como agressores, a não ser na figura dos colegas. Reconhecem-se como vítimas, sentem medo e preocupam-se com as ameaças e agressões que podem concretizar-se.

A diferença entre os objetivos da pesquisa de Bianchi (2006) e os da presente pesquisa é que a primeira buscou as representações que os professores possuíam acerca do que seriam as representações dos seus alunos sobre violência na escola, enquanto na segunda, busca-se as representações dos professores acerca do mesmo tema.

Saul (PAREDES; SAUL; BIANCHI, 2006) também do grupo de Educação e Psicologia da UFMT, pesquisou alunos da rede pública, na faixa etária compreendida entre 11 e 15 anos, buscando suas representações sociais a respeito da violência na escola. Foram utilizados questionários e entrevistas como instrumento de coleta de dados. Entre os principais resultados, pode-se destacar que, para os jovens, as agressões físicas e verbais parecem ser os elementos que constituem suas representações sociais de violência; para a maior parte deles, objetivadas em uma imagem nociva. Também se fizeram presentes representações sociais de violência como algo corriqueiro e natural. Porém, interpondo-se a todas essas representações, os jovens relativizam o que sabem da violência, levando em conta quem a pratica, contra quem e por que é realizada, ancorados em conjunto de valores e normas que os orientam.

O projeto Violência nas escolas: escutando todos os atores envolvidos foi desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa da UFMT, Educação, Subjetividade e

Psicanálise, e compreendeu o período de novembro de 2005 a junho de 2006, em Cuiabá. Tal projeto deu origem à dissertação de mestrado de Klein (2007). A pesquisadora colheu relatos, por meio de grupos focais, de 20 alunos na faixa etária entre 9 e 17 anos, de uma escola estadual de Cuiabá. Para eles, a violência entre pares, na escola, se manifesta através da força física, quando se empurra, derruba, chuta e dá socos um ao outro. Quando faz uso do que ela chama de violência psíquica, o colega intimida com olhares, gestos e palavras. Segundo os jovens, na maioria das vezes, a violência psíquica passa despercebida aos adultos, ou é, até, ignorada. Quanto aos tipos de violência por parte dos professores, os alunos apontaram: a falta de compreensão, ausência de diálogo e a postura autoritária com que conduzem certos assuntos, principalmente nos casos em que eles mesmos dão maus exemplos. Foram citados: gritar com os alunos, jogar giz, apagador ou cadeira, xingar o aluno ou alguém da sua família e até mesmo a violência física, como puxar orelha ou o cabelo e dar tapa.

Em 2002, a UNESCO, em parceria com várias instituições, publicou uma ampla pesquisa realizada em 14 capitais brasileiras, incluindo-se Cuiabá.

A referida pesquisa recorreu a duas abordagens complementares, utilizando diferentes instrumentos de coleta de dados. Foram aplicados questionários fechados a alunos, pais e professores, entrevistas em grupos focais com alunos, pais e professores, além de entrevistas individuais abertas com diretores, membros do corpo técnico-pedagógico, dentre outros. Em Cuiabá, foram aplicados 1.950 questionários a alunos de 17 escolas públicas e quatro particulares, na faixa etária de 11 a 24 anos. Participaram dos grupos focais 60 alunos e 30 professores.

Para ilustrar, foram selecionados alguns resultados encontrados em Cuiabá. Quando ocorre uma briga na escola, segundo os alunos, a reação mais freqüente é o incentivo dos colegas. Este é um ponto de discrepância em relação ao que relatam os membros do corpo técnico-pedagógico. Para estes, a atitude mais usual dos alunos é chamar os diretores ou professores.

Indagados sobre o que faz um aluno da escola quando sofre uma agressão, parte dos jovens pesquisados em Cuiabá, quase 40%, respondeu que recorre à Direção da escola. Porém, outro grupo, em proporção semelhante, indicou que se vinga, com ajuda de amigos.

Parte dos alunos (30%) relatou saber que já ocorreram casos de roubos e furtos na escola onde estudam.

Pouco mais da metade dos jovens respondeu que não consegue se concentrar nos estudos, consequência da violência na escola.

De maneira geral, essa pesquisa revelou que, tanto para alunos, quanto para o corpo técnico-pedagógico, a violência física, precedida das ameaças e dos xingamentos, parece ser a face mais visível de violência na escola.

No próximo capítulo, será detalhada a metodologia utilizada para investigar as representações sociais de um grupo de educadores acerca da violência na escola.