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Pesquisas sobre violência nas escolas: revisão de teses, dissertações,

2. Violência: a busca por um conceito

2.3 Pesquisas sobre violência nas escolas: revisão de teses, dissertações,

(ONGs).

A produção sobre o tema será analisada, tomando como base alguns critérios de agrupamento. Em primeiro lugar, as pesquisas que se realizaram adotando-se como referência a Teoria das representações sociais.

Campos e Guimarães (2003) fizeram quatro conjuntos de entrevistas em diferentes contextos escolares. O foco foi a gestão simbólica da violência e a construção de papéis na emissão, contenção e prevenção dos atos violentos diante dos sistemas representacionais. Os autores buscaram analisar três aspectos da violência: o impacto violento da globalização e da pós-modernidade sobre a

subjetividade, a violência como um excesso nas relações interpessoais e de poder, e a relação existente entre miséria e violência diante o conceito de violência estrutural.

No total, os quatro conjuntos de entrevistas tiveram como sujeitos 15 professores do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas de Goiânia, 31 adolescentes e 17 pais ou responsáveis de adolescentes que estavam sendo acompanhados pelo Conselho Tutelar da cidade. Os dados obtidos são decorrência de uma Classificação Hierárquica Descendente.

Os resultados demonstram uma perspectiva dos processos representacionais de violência que reforçaram a hipótese de banalização da violência, tanto aquela produzida por motivos banais, sem importância, quanto aquela em que os sujeitos consideram como grave – apenas as que se originam de agressão física intensa.

Os adultos representam a adolescência atual mais próxima à violência, com perda de valores, enquanto os adolescentes consideram-na como normal.

Silva e Menin (2003) pesquisaram as RS sobre violência escolar de professores, envolvidos em dois projetos em São Paulo, considerados bem sucedidos, no trabalho de redução da violência. A pesquisa, de caráter etnográfico, utilizou, para a coleta de dados, questionários, depoimentos e conversas informais com os sujeitos. Dentre outros resultados, a pesquisa revelou que os professores apontam poucas propostas que os incluam na redução da violência. Embora se considerem, também, responsáveis pela sua redução na escola, pouco comentaram sobre seu papel nesta tarefa.

Kodato et al (2003) estudaram as representações sociais de violência, como processos simbólicos que determinam práticas de instigação ou de controle da agressividade, em uma escola pública de Ribeirão Preto. Utilizaram-se dos procedimentos de observação participante e aplicaram questionário em uma amostra de 20% dos professores e 5% dos alunos. Entre os resultados, afirmam que se encontra em curso no imaginário escolar um processo de criminalização de episódios de indisciplina, ocorrendo freqüentes associações entre esses fatos e delinqüência. A importância no desempenho do papel de ensinar e educar amplia a percepção do espaço público escolar como campo de embates diretos e simbólicos. Quando o professor representa a violência como um fenômeno externo à dinâmica escolar, ele se sente desobrigado de seu papel preventivo e mediador.

Um amplo projeto de pesquisa coordenado pela Prof.ª Dr.ª Vera Maria N. S. Placco e ligado ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia

da Educação da PUC/SP objetivou estudar as representações sociais de alunos do Ensino Fundamental (1996) sobre AIDS, Drogas e Violência e professores do Ensino Médio sobre AIDS, Drogas, Violência e prevenção (2005), de maneira que pudesse fundamentar trabalho relacionado a intervenções preventivas na escola com um todo. (PLACCO et al, 2005). Na primeira pesquisa, na capital paulista, foram aplicados questionários para adolescentes na faixa etária entre 11 e 15 anos, alunos de escolas públicas e particulares. Os dados obtidos por meio do questionário foram processados no software SPSS. Os resultados indicaram que as representações sociais de violência dos jovens pesquisados são constituídas na comunicação familiar, escolar e da mídia. Estas representações sociais direcionam o comportamento e a comunicação com outros jovens, a forma de se expressarem e as atitudes em relação à violência. Na segunda pesquisa, foram realizados grupos focais com professores de Ensino Médio de uma escola pública. Os dados das entrevistas foram processados pelo software ALCESTE. Os professores manifestam a dificuldade de lidar com suas próprias representações sociais no que diz respeito à prevenção, e que estão, segundo Placco et al (2005), "[...] na origem de suas percepções, atitudes e pensamentos subjacentes."

Gonini et al (2005) analisaram as representações sociais de 33 alunos entre dez e 13 anos de duas escolas públicas do interior paulista. Como procedimento, os adolescentes expressaram em uma folha em branco, por meio da escrita ou de desenhos, o que lhes vinha à mente sobre violência na escola. Entre os resultados destaca-se que os alunos constroem suas representações sociais de violência em diversas esferas: grupos de amigos, escola, família, mídia e polícia. Na escola, que já desenvolvia projetos envolvendo a temática violência, as representações sociais expressam um conteúdo mais voltado para valores éticos.

Kodato, Santos e Andrade (2007) efetuaram pesquisa cujo objetivo era estabelecer uma rede de pesquisa e prevenção em violência institucional, com base em investigações comparativas para subsidiar políticas públicas e de gestão. Também investigaram representações de violência, conhecimento e ensino de professores da rede pública. Como procedimentos, realizaram sessões de grupos focais com 30 docentes. Dentre os resultados, os sujeitos consideram a desestruturação da família e a falta de perspectivas futuras como possíveis fatores de origem da violência escolar. Também acreditam que o abandono da comunidade

pelo poder público e a estrutura da escola contribuem tanto para a violência quanto para mantê-la.

Santos et al (2007) desenvolveram trabalho cujo objetivo era investigar, entre grupos de adolescentes de diferentes camadas sociais, quais as representações sociais de violência e quem é o outro considerado por eles como violento. Foram efetuadas 109 entrevistas com jovens entre 15 e 19 anos estudantes de escolas públicas e privadas de Recife. Os dados foram processados no software ALCESTE. Para todos os sujeitos, a violência é um fenômeno que vem do outro: o pobre, o drogado, o alcoolista, as pessoas sem educação, sempre o outro, o diferente do grupo a que ele pertence. Para os adolescentes das escolas privadas, a violência é personificada no grupo que eles identificam como pobres. Por sua vez, para os estudantes das escolas públicas, é o outro o diferente, mau e drogado, que representam como ameaçador.

Em relação às pesquisas sobre RS e bullying, Bernardini e Gonçalves (2009) alegam que os professores, sujeitos de suas investigações, acreditam que o fenômeno é como se fosse uma moléstia e, como tal, necessita de remédio para ser tratada. No entanto, acreditam que nada podem fazer, uma vez que o Conselho Tutelar e o Estatuto do Menor e do Adolescente (ECA) impedem-nos de tomarem uma atitude. A inoperância docente possibilita a banalização da violência e corre-se o risco, assim, de manter os episódios que contribuem para a violência na escola.

No entanto, Coutinho, Silva e Araújo (2009) entrevistaram adolescentes que relataram os comportamentos de bater, jogar, cortar, tomar objetos em sala de aula como manifestações de bullying e tais manifestações seriam ancoradas nos tipos de violência física e patrimonial. Para esses jovens, uma das maneiras de vencer este problema é comunicar aos pais e à direção da escola, uma vez que as consequências podem ser tristeza, depressão, solidão e exclusão social.

Costa e Lima (2009) buscando representações sociais de professores acerca de violência na escola, afirmam que os sujeitos isolam a instituição e o trabalho docente do fenômeno quando culpabilizam o aluno, a família e o bairro. Ao expressarem medo em seu cotidiano e se distanciarem do problema, os professores demonstram o desamparo frente a uma realidade que, além de envolver questões sociais e econômicas, também reflete a inadequação da formação acadêmica para enfrentar a violência na escola.

Ristun (2001) apresentou, em sua tese de doutorado, pesquisa junto a 47 professores do Ensino Fundamental de quatro escolas públicas e privadas, a respeito da concepção que tinham sobre o conceito de violência. Para abranger níveis de descrição os mais variados, estabeleceu as categorias: classe, modalidade e formas da violência. Buscou também, na visão dos professores, identificar alguns mecanismos sociais no cotidiano escolar que contribuíssem para caracterizar a escola como agente de reprodução ou de mudança da violência. Da mesma maneira, objetivou verificar como os conceitos de violência estariam relacionados com a prática dos professores. Dentre os muitos resultados, destaca-se que o conceito de violência foi contextualizado em função de suas causas e consequências. As causas contextuais foram bem mais apontadas que as pessoais, revelando uma concepção de origem sócio-estrutural da violência. Foi indicada como a mais grave, a violência física e, como a mais aceitável, aquela originada de más condições financeiras.

Os professores alegam que, no cotidiano, aspectos da violência se evidenciaram, principalmente, nas mudanças comportamentais e afetivas, produzidas por várias formas de delinqüência, que são as que mais perturbam o seu dia a dia.

Para identificar os aspectos do conceito de violência em suas práticas, os professores relataram episódios em que houve, por parte deles, ora a repressão, ora a neutralidade, apontando para os efeitos da banalização da violência.

A tese de Silva (2006) caracteriza-se como uma pesquisa intervenção que teve como foco a violência nas escolas. Utilizando-se de questionários, entrevistas e processos grupais provenientes da intervenção realizada em uma escola pública de Bauru, interior de São Paulo, foram investigados alguns aspectos como: a realidade da violência nas escolas e suas conseqüências no cotidiano da atividade do professor; o conceito de violência que está subjacente à prática do professor e as concepções de desenvolvimento que estavam subjacentes à representação que tinham da violência. Entre as conclusões, percebeu-se que os professores têm concepções inatistas ou religiosas da violência que os impedem de enfrentá-la, mesmo em situações nas quais poderiam agir. A pesquisadora apresenta os relatos das ações de intervenções feitas junto ao corpo de educadoras da escola alvo da pesquisa.

Nogueira (2003) realizou, em sua tese, análise sobre a produção cientifica dos programas de pós-graduação em Educação da Pontifícia Católica de São Paulo (PUC/SP) e da Universidade de São Paulo (USP), a respeito do tema escola e violência, no período 1990 a 2000. Dentre os resultados, concluiu que os aspectos físicos e não físicos da violência foram os que mais os autores destacaram em seus estudos, assim como as pesquisas sobre violência da escola e na escola estão mais preocupados com a falta de disciplina. Observou também que as explicações da violência dão mais ênfase ou ao aspecto social ou ao individual ou a ambos, porém são mantidos como entidades separadas.

Zechi (2008) em sua dissertação fez um levantamento bibliográfico de 21 teses e dissertações produzidas em Programas de Pós-graduação em Educação do Estado de São Paulo, no período de 2000-2005. Entre os principais resultados, destaca que todos os autores, por ela pesquisados, acreditam que a dificuldade de entender a violência e a indisciplina advém da multiplicidade de conceitos desses fenômenos. As formas físicas, psicológica, institucional e simbólica são as formas como a violência se manifesta. No entanto, a indisciplina seria uma rebeldia, uma forma de resistência ao autoritarismo pedagógico ou ao sistema excludente das escolas.

Domingos (2005), em sua tese, desenvolveu estudo etnológico em uma escola pública da periferia de São Paulo. Em suas conclusões, relatou que os professores enfatizaram fatores externos e internos à escola como causas da violência. Entre os externos, destacou a personalidade dos alunos, a exclusão social e a suposta desestruturação familiar dos jovens. Quanto aos internos, as razões seriam a ausência do prazer estético em decorrência da falta de infra-estrutura da escola, com poucos e quebrados recursos didáticos e a falta de incentivos para despertar o interesse dos alunos pela aprendizagem.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em parceria com a Universidade de Brasília, realizou, em 1998 (CODO, 2000), um levantamento nacional, apenas com professores da rede pública. Entre outros assuntos, abordava o tema violência escolar. A pesquisa revelou que os episódios de violência mais corriqueiros, no conjunto das escolas brasileiras, foram os de vandalismo, seguidos de agressões entre os alunos e, por último, os de agressão dirigidos aos professores.

Segundo essa pesquisa (BATISTA; EL-MOOR, 2000), Mato Grosso se destaca, na região Centro-Oeste, como o estado com o maior número de ocorrências tanto em vandalismo e roubo, quanto em agressões a professores.

Com base em uma pesquisa empírica realizada em escola da Ceilândia, DF, Queiroz (1999), analisou as diferenças e as semelhanças nas percepções dos sujeitos da comunidade escolar – estudantes, pais e professores - sobre o fenômeno da violência na escola. Entre outros, os resultados revelaram que a violência traduz-se, principalmente, em provocações, desrespeito às pessoas e agressões verbais. Para o autor, uma violência eminentemente de caráter relacional. A seguir, uma síntese dos principais resultados das pesquisas expostas anteriormente:

- entre as causas externas da violência na escola, apontadas pelos atores escolares, destacaram-se a desestrutura familiar dos alunos, as questões econômicas que promovem a exclusão social e o abandono do poder público.

- entre os fatores internos à escola, fatores ligados à infra-estrutura e às características dos jovens.

Os tipos de violência mais enfatizados foram a verbal e a física, sendo esta última, uma das consequências da primeira. Nota-se a tendência de naturalizar a violência na escola, apesar do bullying ter ganhado visibilidade recentemente. De maneira geral, os docentes representam a violência como um fenômeno externo à escola em relação ao qual pouco ou nada podem fazer para prevenir ou combater.

Na contínua busca por atualização de dados a respeito de pesquisas sobre violência escolar, consultou-se o site Observatório de Violências nas Escolas - Brasil, fruto da união de esforços entre a UNESCO e a Universidade Católica de Brasília, iniciativa inédita na América Latina. Outro site com material sobre tema é o Observatório Ibero Americano de Violência nas Escolas, da pesquisadora Mirian Abramovay. Tanto em um quanto em outro, em relação às pesquisas ali postadas, utilizam-se dados até 2004. Em relação aos artigos e publicações mais recentes, os temas giram em torno, principalmente, de absenteísmo e fracasso escolar, bullying, drogas e gangues.

O Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP) publicou, como resultado de suas pesquisas, em 2006, o livro Violência na escola: um guia para pais e professores. (RUOTTI; ALVES; CUBAS, 2006). Tal livro trata das diferentes formas que a violência pode assumir no cotidiano da escola, indo da

não resolução de pequenos conflitos que fazem parte das dinâmicas de relações interpessoais presentes no ambiente, até casos externos de violência que interferem na rotina da escola. Assim, são abordados temas como: violência institucional, assédio moral denominado como bullying, e alguns aspectos sobre violência e condições sociais e infra-estruturais tanto da escola como de seu entorno. Ao final, são apresentadas e discutidas algumas experiências que podem servir como alternativas para a redução dessa violência.

Em julho de 2008 (CIEGLINSKI, 2008), a agência de notícias Brasil divulgou pesquisa encomendada pela PLAN, uma entidade não governamental atuante em mais de 66 países. Tal pesquisa levantou que mais de um milhão de crianças, a cada dia, em todo mundo, sofrem algum tipo de violência na escola. A pesquisa no Brasil investigou seis estados e os resultados mostraram que 70% dos doze mil estudantes questionados, afirmaram terem sido vítimas de violência na escola. Outros 84% desse total apontaram suas escolas como violentas. Infelizmente, é possível acessar apenas estes dados, pois o site da ONG não disponibilizou a pesquisa.