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O cuidado com a existência de concessões mútuas e recíprocas, o valor do acordo e

3 A HOMOLOGAÇÃO DE ACORDOS EXTRAJUDICIAIS NA JUSTIÇA DO

4.3 CRITÉRIOS PARA HOMOLOGAÇÃO DO ACORDO

4.3.3 O cuidado com a existência de concessões mútuas e recíprocas, o valor do acordo e

Como já enunciado em linhas pretéritas, o princípio da indisponibilidade é corolário do princípio da proteção, que por sua vez se configura como base de todo o direito do trabalho. Em razão disso, não pode o empregado se desfazer do arcabouço protetivo que lhe foi outorgado pela ordem jurídica, abrindo mão de direitos criados para sua tutela em situação de vulnerabilidade.

Nesse contexto, com exceção das hipóteses em que a lei a autoriza, a renúncia, definida por Delgado como “ato unilateral da parte através do qual ela se despoja de um direito de que é titular, sem correspondente concessão pela parte que é beneficiada pela renúncia” 294, é vedada no âmbito juslaboral.

A aplicabilidade extremamente restrita da renúncia, no entendimento exarado neste trabalho, ocorre porque o instituto tem por característica substancial a manifestação unilateral do renunciante, o qual não recebe nada em troca por abrir mão de um direito. Como já dito antes, não é crível que um trabalhador venha renunciar a um determinado direito seu sem nenhum benefício ou interesse, a não ser pelo resultado de alguma espécie de coação ou receio de não receber de forma imediata verbas que lhe são devidas, por aguardar o resultado de um litígio judicial.

Mas entendimento semelhante não se aplica à transação, que se define por ser uma relação jurídica estabelecida entre partes litigantes ou potencialmente litigantes, na qual resolvem, por meio de concessões recíprocas, terminar ou prevenir um litígio.

A transação exige, portanto, que cada uma das partes abra mão daquilo que entende ser seu por direito a fim de terminar ou prevenir um litígio, e é exatamente por causa dessa característica que acredita-se ser ela de possível aplicação no campo laboral.

Então, diferentemente da renúncia, na transação é como se o empregado tivesse alguma espécie de compensação em troca daquilo que renuncia, o que é capaz de justificar essa sua concessão, que, por óbvio, deve sempre respeito às normas inderrogáveis.

Daí a necessidade do magistrado avaliar a existência de concessões recíprocas no acordo extrajudicial que for levado para homologação em juízo.

Esse também é o entendimento exarado pelo enunciado nº 123, II, da 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho relacionado ao tema, já que o acordo extrajudicial só será homologado em juízo se estiverem presentes, em concreto, os requisitos previstos nos arts. 840 a 850 do Código Civil para a transação:

Enunciado nº 123 homologação de acordo extrajudicial

I - A faculdade prevista no capítulo III-A do título X da CLT não alcança as matérias de ordem pública. II- o acordo extrajudicial só será homologado em juízo se estiverem presentes, em concreto, os requisitos previstos nos artigos 840 a 850 do código civil para a transação; III - não será homologado em juízo o acordo extrajudicial que imponha ao trabalhador condições meramente potestativas, ou que contrarie o dever geral de boa-fé objetiva (artigos 122 e 422 do código civil). 295

Além disso, entende-se que, dado o contexto da relação de emprego, exige-se também certa equivalência entre as concessões mútuas.

Orlando Gomes afirma que a equivalência das concessões recíprocas na transação aprecia-se subjetivamente. “Cada qual é juiz de seus interesses. Assim, não perde esse caráter se uma das partes faz à outra concessões muito mais vantajosas”.296 Todavia, acredita-se que,

em razão dos princípios que protegem o trabalhador, neste trabalho já destacados, esse pensamento se restringe ao direito civil.

Como adverte Valton Dória Pessoa, o empregador não pode oferecer uma quantia irrisória a fim de adimplir crédito elevado, pois nesse caso trata-se de renúncia e não de transação.297

295 Para conferir ementa e inteiro teor da tese: Disponível em <http://www.jornadanacional.com.br/listagem-

enunciados-aprovados-vis2.asp?ComissaoSel=8.> Acesso em: 10 nov. 2018.

296 GOMES, Orlando. Contratos. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 441

297 PESSOA, Valton Dória. Transação Extrajudicial nas Relações Individuais de Trabalho. São Paulo: LTr, 2003,

E como alerta Alice Monteiro de Barros “a transação é de grande utilidade social, pois transforma o litígio em estado de paz. Entretanto, é bom lembrar que ‘transigir não é tudo conceder sem nada receber’”. 298

Portanto, outro aspecto que não pode deixar de ser observado pelo magistrado é o valor do acordo extrajudicial. Este deve ser objeto de avaliação minuciosa pelo juiz, que, para a sua análise, deverá levar em consideração a realidade fática do contrato, o salário do empregado, acordos e convenções coletivas aplicáveis, o tempo de prestação dos serviços, dentre outros aspectos.

Esse exame também traz a necessidade de apresentação pelas partes dos cálculos e respectivos documentos correspondentes aos valores estimados de cada direito, porque essa apuração numérica de ambas as partes, justificará a razoabilidade e proporcionalidade dos valores ajustados, que, sugere-se, ocorra pela média.

Assim, caso as partes apresentem acordo com valores irrisórios e totalmente desvencilhados da realidade do contrato de trabalho, recomenda-se ao magistrado a sua não homologação, sob pena de violação ao princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas. E, nesse contexto, outro aspecto que precisa ser objeto de avaliação pelo magistrado é o prazo para pagamento das verbas, pois este não pode ser tão extenso de forma a diluí-las a nada.

Portanto, cabe ao julgador observar o valor do acordo, verificando a existência de concessões de ambas as partes e a equivalência delas, bem como o prazo para pagamento, zelando, assim, pela indisponibilidade dos direitos, tanto na forma quantitativa, como na forma qualitativa.