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Culpabilidade

No documento Prof. Leonardo dos Santos Arpini (páginas 48-55)

Prof. Leonardo dos Santos Arpini

Aula 00

Direito Penal para Policial Legislativo do Senado Federal

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Assim, partindo do nosso conceito de imputabilidade, é necessário que nos debrucemos sobre as causas de exclusão da imputabilidade.

No ordenamento jurídico brasileiro há as seguintes previsões de exclusão da imputabilidade:

Para que nossa memorização se torne ainda mais fácil, vou elaborar uma tabela com cada uma das causas, seus efeitos e suas consequências jurídicas:

CAUSAS EFEITOS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS

Art.26 – Doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado. *

Supressão total da capacidade mental Inimputável – absolvição Imprópria – aplicação de medida

de segurança

Redução da capacidade mental

Semi-imputável – condenação com pena reduzida de 1 a 2/3, ou

medida de segurança.

Art.27 – Menoridade Penal ECA – Sujeito a medidas

socioeducativas e protetivas.

Art.28 – Embriaguez Completa involuntária *

Supressão das capacidades mentais Inimputável – absolvição própria – não há que se falar em medida de

segurança

Redução das capacidades mentais

Semi-imputável – condenação com pena reduzida de 1 a 2/3.

* Se houver qualquer dúvida acerca da sanidade mental do réu, o Código de Processo Penal nos seus arts.

149 a 154 do CPP, dispõe sobre a instauração do incidente de insanidade mental do acusado, para dirimir a dúvida.

* Embriaguez: consiste na intoxicação aguda e transitória provocada pelo álcool ou substâncias de efeitos análogos (aqui, meu amigo(a) não pode se enquadrar as drogas ilícitas).

Embriaguez completa: quando se enquadra o sujeito no segundo nível (depressão) e terceiro nível (letargia – coma – conduta omissiva, p.ex.).

Embriaguez involuntária: proveniente de caso fortuito ou força maior. Se a embriaguez for voluntária o agente responde pelos atos por força da teoria da “actio libera in causa” (ação livre na causa). Para que seja aplicado o instituto da embriaguez involuntária, sem gerar responsabilidade penal objetiva, deve-se avaliar se, no momento em que a substância foi ingerida, era previsível o resultado produzido.

Espécies de embriaguez voluntária:

a) Dolosa: o sujeito quer se embriagar.

b) Culposa: aquela que decorre no excesso imprudente no consumo; e

c) Pré-ordenada: o indivíduo ingere bebida alcoólica para se “encorajar” para cometer o crime. Nesse caso, estamos diante da agravante do art. 61, II, “l”, CP.

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d) Embriaguez patológica: o indivíduo é alcoólatra e isso é considerado como doença mental, aplicando-se o art. 26 do Código Penal, que dispõe sobre a inimputabilidade.

Com isso, você tem um conteúdo fartíssimo de informações acercas das causas que excluem a imputabilidade. Leia com carinho cada uma das informações que constam dessa tabela, pois ela será de muita relevância para sua caminhada!

Chegou a hora de testarmos nosso conhecimento.

Vejamos:

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Escrivão de Polícia A respeito da imputabilidade penal, é correto afirmar que tal instituto

A) figura como um dos elementos da culpabilidade.

B) cuida da capacidade física do agente de praticar o ilícito.

C) figura como um dos requisitos da punibilidade.

D) não exclui da aplicação da lei penal fato praticado durante a embriaguez involuntária completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.

E) não exclui a menoridade (criança e adolescente) da aplicação da lei penal.

Resolução: a banca nos questiona acerca da imputabilidade, razão pela, qual estamos diante do primeiro elemento que compõe a culpabilidade, uma das vertentes do conceito analítico de crime.

Gabarito: Letra A.

Avançando, chegou o momento de tratarmos do segundo elemento da culpabilidade.

Potencial consciência da ilicitude.

O elemento da potencial consciência está previsto no artigo 21 do Código Penal.

Preste atenção, meu amigo(a)!

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência

A partir da leitura concentrada que acabamos de fazer, quero que você grife a expressão “o desconhecimento da lei é inescusável” e, no máximo, quando o desconhecimento for relevante, poderá gerar uma atenuante, conforme o artigo 65, inciso II, do CP.

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Nesse ponto da culpabilidade, é necessário sabermos que já há a imputabilidade. Dessa forma, a potencial consciência da ilicitude está ligada ao aspecto cultural de saber o que é certo ou errado e, para isso, é necessário que se façamos um pequeno jogo de perguntas e respostas.

Vamos lá!

PERGUNTAS RESPOSTAS CONSEQUÊNCIAS

1ª - O réu tinha conhecimento do caráter ilícito do fato?

Sim Então está presente a potencial consciência da ilicitude.

Não Então podemos estar diante de

um caso raro de erro de proibição.

2ª - O réu tinha possibilidade de conhecer o caráter ilícito do fato?

Sim Erro de proibição era

evitável/inescusável/indesculpável, o que gerará condenação com diminuição de pena de 1/6 a 1/3.

Não Será erro de proibição

inevitável/escusável/desculpável.

O réu será absolvido, pois não há potencial consciência da ilicitude.

Espero que tudo esteja ficando claro para você, meu amigo(a)! Caso fique alguma dúvida, não hesite em procurar!

Exigibilidade de conduta diversa.

Iniciado o último elemento da culpabilidade, chegou a hora de tratarmos da exigibilidade de conduta diversa.

Como já estudamos anteriormente, o Direito Penal só se interessa em punir os comportamentos socialmente relevantes, dessa forma, o comportamento só é merecedor de censura penal quando o sujeito podia agir de outro modo.

Assim, o artigo 22 do Código Penal nos traz duas hipóteses de INEXIGIBILIDADE de conduta diversa:

Façamos nossa clássica e importantíssima leitura!

Coação irresistível e obediência hierárquica

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

Agora que realizamos nossa leitura, peço gentilmente que você grife as expressões “coação irresistível” e

“obediência a ordem, NÃO manifestamente ilegal”.

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A coação moral diz representa a vis relativa, ou seja, caríssimo(a), consiste na promessa de inflição de um mal grave e injusto. Assim, é necessário a cumulação dos seguintes requisitos: seriedade da promessa + verossimilhança do mal prometido. Irresistibilidade: gravidade do mau pretendido + Imediatidade do mau + ponderação entre o mau prometido e o ato exigido.

Já na coação física irresistível (“vis absoluta”) o ato é involuntário e, consequentemente, não haverá conduta, sendo assim, o fato será atípico.

“Arpini, poderia nos dar um exemplo?”

Claro, vamos lá, meu amigo(a).

Trago a vocês alguns exemplos dos clássicos do Direito Penal.

Primeiro, vejamos o exemplo de coação moral irresistível, na lição de Fernando Capez e Edilson Mougenot Bonfim6:

“...Quando o assaltante, apontando uma arma de fogo, diz para a vítima “a bolsa ou a vida”, não lhe está excluindo totalmente à vontade, embora a tenha pressionado de modo a inviabilizar qualquer resistência. Assim, na coação moral irresistível, há fato típico e ilícito, mas o agente não é considerado culpado, em face de exigibilidade de conduta diversa” (BONFIM; CAPEZ, p. 592)

O outro, diz respeito a coação física irresistível.

“...É o caso do operador de trilhos que, amarrado por assaltantes à cadeira, não tem como fazer a mudança de nível dos trilos e, assim, não consegue impedir a colisão das locomotivas. Não houve qualquer conduta de sua parte, pois a vontade foi totalmente eliminada pelo emprego de força física”.

(BONFIM; CAPEZ, p.592)

Em resumo, essas serão as consequências jurídicas para os casos de coação moral irresistível e obediência hierárquica:

COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL COAÇÃO MORAL RESISTÍVEL COATOR Condenado + agravante (art.62) Condenado + agravante (art.62)

COAGIDO Absolvido Condenado + atenuante (art.65)

6 BONFIM, Edilson Mougenot. Direito Penal : parte geral / Edilson Mougenot Bonfim, Fernando Capez. – São Paulo: Saraiva, 2004.

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A outra hipótese de inexigibilidade de conduta diversa é a obediência hierárquica e, assim como as anteriores, é necessário que sejam preenchidos alguns requisitos, quais sejam:

1.) Relação de hierarquia: dessa forma, somente poderá ocorrer em ambiente público;

2.) Ordem superior;

3.) Ordem ilegal não manifesta (a ilegalidade não pode ser evidente).

Por fim, as consequências jurídicas você confere abaixo!

ORDEM NÃO MANIFESTAMENTE ILEGAL

ORDEM MANIFESTAMENTE ILEGAL

SUPERIOR Condenado + agravante (art.62) Condenado + Agravante (art.62)

SUBORDINADO Absolvido Condenado + Atenuante (art.65)

Aposto que você está cheio de vontade de resolver uma questão, então, vamos lá!

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia

Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser socorrida.

Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.

A culpabilidade de Carlos poderá ser afastada por inexigibilidade de conduta diversa.

( ) Certo ( ) Errado

Resolução: agora que lemos atentamente o enunciado da questão, perceba que é completamente inviável falarmos em ausência de culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. Nesse caso, há culpabilidade, tendo em vista que Carlos tinha completa noção da situação ao seu redor, sendo, desse modo, exigível dele conduta diversa, qual seja, não cometer o homicídio contra Paula.

Gabarito: ERRADO.

Antes de avançarmos para o estudo do nosso outro grande tema macro, vejamos mais uma questão:

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal

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Em cada item seguinte, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de exclusão da culpabilidade, concurso de agentes, prescrição e crime contra o patrimônio.

Arnaldo, gerente de banco, estava dentro de seu veículo juntamente com familiares quando foi abordado por dois indivíduos fortemente armados, que ameaçaram os ocupantes do veículo e exigiram de Arnaldo o fornecimento de determinada senha para a realização de uma operação bancária, o que foi por ele prontamente atendido. Nessa situação, o uso da senha pelos indivíduos para eventual prática criminosa excluirá a culpabilidade de Arnaldo.

( ) Certo ( ) Errado

Resolução: dessa forma, ao analisarmos o conteúdo da coação moral irresistível, é possível afirmarmos que a culpabilidade de Arnaldo (gerente do banco) será excluída por ter “contribuído” para a conduta criminosa.

Gabarito: CERTO.

Assim, encerramos mais um capítulo da nossa aula sobre fato típico.

No próximo capítulo vamos tratar de um tema de suma importância para o seu concurso, então, não saia daí!

Estou te esperando no próximo capítulo!

Até lá!

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