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Quem cultiva e Tipos de Hortas Urbanas

No documento Hortas urbanas. Estudo de caso de Lisboa (páginas 34-36)

A Agricultura Urbana é uma atividade que envolve uma panóplia diversificada de participantes. De entre estes, fazem parte os fornecedores de recursos, os produtores, os transportadores e processadores, os retalhistas, os consumidores e os promotores da atividade agrícola (Mougeot, 2000). Contudo, tal como Smit et al. (2001c: 2) afirma “não existe um protótipo de Agricultor Urbano”. Os hortelãos citadinos abrangem, pois, um leque que inclui não só pessoas que são cidadãos nacionais com menos rendimentos, mas também pessoas com maiores possibilidades e até imigrantes.

Apesar de não se poder descrever de uma forma exata e única o Agricultor Urbano, como foi supra-referido, várias observações realizadas permitem obter uma ideia generalizada dos novos produtores e do seu meio envolvente. Relativamente aos países em desenvolvimento, estudos revelam que o tipo de agricultor urbano mais comum é caracterizado por um indivíduo do sexo feminino pertencente a uma família pobre mas estável. Na maioria dos casos, durante parte do dia, realizam cultivos de pequena escala em terrenos de proprietários abastados. A atividade agrícola para estas mulheres e para a sua família constitui a principal fonte de sustento ao longo do ano, sendo que o trabalho a tempo inteiro que realizam em fábricas, por exemplo, serve apenas como um complemento ao seu rendimento. Assim sendo, a produção dos seus próprios alimentos não só permite poupar, como disponibiliza uma gama de produtos saudáveis e nutritivos que, caso não os cultivassem, não teriam forma de os obter (Smit et al., 2001c). A confirmar o referido, um estudo realizado no Quénia demonstrou que, de todas as famílias ligadas à Agricultura Urbana, 40% era dependente da sua autoprodução para conseguir sobreviver. Este tipo de produtores, com pouco capital e sem grandes conhecimentos técnicos, depara-se também com uma maior dificuldade de acesso a recursos como sementes, terrenos, água, tecnologia e ajuda financeira, exceção feita aos residentes de longa data na cidade. Deste modo, de uma maneira geral, apenas os indivíduos ou famílias com maiores possibilidades financeiras conseguem obter um terreno melhor dimensionado dado que, para além de disporem do capital necessário, habitam também em locais com menor densidade populacional e com maiores dimensões de espaços abertos. Têm igualmente acesso a uma maior vigilância dos seus terrenos, recursos hídricos e produtos. Estes agricultores mais abastados encaram a prática da Agricultura Urbana como uma atividade secundária realizada nas suas próprias casas. Por norma, optam por um sistema monocultural especializado de alto valor, como por exemplo, o cultivo de plantas ornamentais ou de alface. Muitos destes produtores de altos rendimentos integram uma série de operações, nomeadamente a produção, o processamento, a distribuição e mesmo ações de marketing, focando-se em mercados de exportação. As suas

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empresas geralmente localizam-se em zonas periurbanas (Smit et al., 2001c). Embora a prática da Agricultura Urbana nos países em desenvolvimento varie consoante as sociedades, a verdade é que esta atividade é dominada por minorias ou por grupos economicamente em desvantagem. Um estudo levado a cabo pelo “Center for Education and Technology” no Chile, estimou que, em locais de grande pobreza, as mulheres representavam 90% dos produtores de Agricultura Urbana. No entanto, a importância do sexo feminino na agricultura não está limitada à produção. Elas relacionam-se, igualmente, com a preservação dos alimentos para a família, vizinhos e até mercados. Em muitas culturas, são as mulheres as principais vendedoras dos alimentos que produzem (Smit et al., 2001c).

Já nos países desenvolvidos, nomeadamente os Estados Unidos da América, a Alemanha e a Austrália, a Agricultura Urbana não assegura apenas funções produtivas, mas assume igualmente uma vertente lúdica e de recreio. A descrição do típico hortelão citadino é, portanto, mais difícil de ser conseguida, uma vez que é possível encontrar-se uma panóplia mais diversificada de agricultores urbanos (Heimer, 2008c). Contudo, é possível afirmar que independentemente do desenvolvimento económico do país, as Hortas Urbanas têm vindo a tornar-se uma presença assídua do quotidiano, catapultando o aparecimento de novas iniciativas do género que têm vindo a constituir uma parte integrante da paisagem local. Podem ser encontradas em espaços no interior ou a envolver densas edificações, em espaços de gestão comunitária das mesmas, ao longo das ruas e estradas, em jardins de habitações privadas, ou até mesmo em telhados. De seguida apresentam-se algumas características destes tipos de Hortas Urbanas com distintas localizações.

No caso das Hortas Urbanas na própria habitação, o local mais comumente utilizado corresponde ao jardim da habitação, um espaço com dimensões razoáveis que disponibiliza ao agricultor o cultivo dos produtos que pretende. No entanto, existem outros espaços - de menores dimensões - com grande potencial para a atividade, tais como telhados ou mesmo varandas. Estes locais verticais permitem cultivar, de forma eficaz, bens alimentares. As paredes, por exemplo, podem suportar recipientes onde podem ser plantadas ervas aromáticas, tornando-se espaços tridimensionais para a prática da agricultura. O facto de se criar uma horta na própria habitação apresenta vários benefícios, nomeadamente ao nível da proximidade entre o agricultor/consumidor e a dita horta. Quem dispõe de uma horta na sua própria habitação beneficia de não ter que se deslocar ao local agrícola, não tendo igualmente nenhuma despesa pela utilização do espaço (Smit et

al., 2001d).

A seguir à própria habitação, os espaços comunitários são os mais comuns para a produção de alimentos hortícolas, dando lugar ao que é designado por Hortas Urbanas em Espaços Comunitários. Estas hortas consistem em espaços partilhados por hortelãos, onde cada um cultiva as suas próprias parcelas, sendo também responsável por elementos de uso comunitário, nomeadamente vedações, água, abrigos, caminhos e segurança. Os Espaços Comunitários são, geralmente, apoiados por Instituições (Smit et al., 2001d).

Para além das referidas, também existem Hortas Urbanas em Espaços Públicos e Privados. Exemplos destes espaços são universidades, escolas, fábricas, igrejas, aeroportos, hospitais,

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prisões, parques, entre outros. Ao disponibilizá-los para fins agrícolas permite-se que estes locais consigam obter rendimento e também manutenção (Smit et al., 2001d).

As Hortas Urbanas ao longo de ruas e estradas assumem, muitas vezes, um aspeto precário refletindo um processo espontâneo de aproveitamento agrícola de terrenos pouco comuns, tal como será melhor explicado no ponto 3.3. “Outro tipo de hortas” do terceiro capítulo. Este é, aliás, um caso especial de cultivo em Espaços Públicos que tem vindo a crescer, desempenhando um papel particularmente crucial para famílias com poucas possibilidades económicas e que não dispõem de espaço próprio para cultivar os seus produtos. Contudo, estes locais apresentam alguns inconvenientes uma vez que as culturas são abastecidas principalmente com a água proveniente das chuvas e, deste modo, a prática agrícola cinge-se, na maioria dos casos, aos produtos sazonais. Uma vez que os terrenos onde se inserem estas culturas são ocupados de forma ilegal, os agricultores não têm a possibilidade de melhorar a qualidade do solo e não dispõem da segurança necessária, estando igualmente sujeitos a maiores níveis de poluição. As Hortas Urbanas ao longo de ruas e estradas são tipicamente realizadas em Países em Desenvolvimento, em particular os do Continente Africano. Contudo, algumas cidades desenvolvidas na China, Argentina e Chile têm vindo a encorajar esta prática, dado o interesse das populações e, conseguindo enquadrar estas hortas na envolvente urbana (Smit et al., 2001d).

No documento Hortas urbanas. Estudo de caso de Lisboa (páginas 34-36)