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Projeto dos Parques Hortícolas

No documento Hortas urbanas. Estudo de caso de Lisboa (páginas 57-60)

Evolução da área Funções de Produção e da área das Hortas Urbanas em Lisboa

4.3. Projeto dos Parques Hortícolas

Foi no ano de 2007 que a Câmara Municipal de Lisboa iniciou o Projeto dos Parques Hortícolas de Lisboa. Este plano tinha como objetivos primordiais a consolidação de espaços já existentes e a criação de novas áreas verdes, por forma a garantir não só a continuidade ecológica mas também promover a diversidade de tipologias sustentáveis. A Câmara Municipal de Lisboa pretendia, portanto, que fossem desenvolvidos espaços de vertente hortícola associada a uma vivência com utilização alargada. Estes espaços produtivos denominados de Parques Hortícolas podem encontrar-se em jardins ou parques urbanos, cujas valências passam por produzir bens e por disponibilizar locais de restauração, cafetaria, parques infantis, ciclovias, entre outros (CML, 2011).

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A parte inicial do Projeto dos Parques Hortícolas consistiu num processo de investigação em que foi realizado um levantamento de todos os Espaços Verdes10 do Município, segundo o PDM. A partir da observação desses Espaços Verdes11 foi elaborado um mapa topográfico com a localização precisa dos mesmos. Seguidamente foram identificados os locais inseridos nestes espaços que nunca tinham sido registados como hortas e que não se encontravam urbanizados, designando-se, por isso, como terrenos expectantes. Estes terrenos apresentavam grande potencial para a atividade agrícola, quer a nível ecológico, quer a nível da qualidade do solo e da localização, bem como a nível social e urbanístico (Folgosa, 2012). O passo subsequente consistiu na definição de uma série de normas para a prática da Agricultura Urbana nos Parques Hortícolas que se iriam construir nestes terrenos expectantes. Para tal, foi feita uma redefinição de alguns conceitos presentes no regulamento do Património Mobiliário da Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido criadas três tipologias de hortas:

- Hortas Sociais: estas hortas estão associadas à utilização por parte de uma população mais carenciada cuja produção serve como apoio ao rendimento familiar, assim como ajuda a criar economia através da venda de alguns produtos (CML, 2009). As Hortas Sociais além de fornecerem produtos frescos, promovem uma interação social e partilha de experiências;

- Hortas de recreio: são hortas cuja utilização se relaciona principalmente com lazer, sendo uma nova ocupação dos espaços verdes de Lisboa. Contribuem para um acréscimo, tanto do bem-estar físico como do psicológico, através do contacto com as práticas agrícolas (CML, n.d.);

- Hortas Pedagógicas: tal como o nome indica, estas hortas têm a finalidade de sensibilizar a população para uma educação ambiental e de ensino das ciências da natureza (CML, 2012).

Por forma a melhor compreender as diferenças entre as duas principais tipologias de hortas, as sociais e as de recreio, a figura 7 assinala as características de cada uma. Importa salientar que cada horta foi classificada em função da localização do Parque Hortícola e das características dos residentes, e ainda em função da existência ou não de anteriores hortelãos ou hortas naquele local (Folgosa, 2012).

10 Segundo o Guia Orientador de Revisão do PDM (2012: 38), Espaços Verdes são “áreas com funções de

equilíbrio ecológico e de acolhimento de actividades ao ar livre de recreio, lazer, desporto e cultura, agrícolas ou florestais, coincidindo no todo ou em parte com a estrutura ecológica municipal”.

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De acordo com o PDM, os Espaços Verdes Consolidados aglomeram-se nas Freguesias da Ajuda, Alcântara e Benfica, enquanto os Espaços Potenciais a Consolidar situam-se nas Freguesias de Carnide, Ameixoeira, Lumiar, entre outras (CML, 2011).

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Após terem sido definidos os diferentes tipos de hortas, a Câmara estabeleceu os seguintes critérios para a disponibilização dos recursos aos hortelãos:

- Cedência a Título Precário: a atribuição de talhões é realizada com uma determinada proporção pré- definida durante um ano e com a possibilidade de renovação por igual período de tempo (Folgosa, 2012);

- Dimensões: uma vez que estas hortas se situam na cidade, não apresentam as mesmas dimensões que um latifúndio do meio rural. Contudo, o objetivo da Câmara também não passa por resumir estas hortas a pequenos canteiros. Deste modo, foi definido que em qualquer tipologia de horta a Câmara não poderia atribuir talhões com menos de 50 metros quadrados (CML, 2011);

- Disponibilidades hídricas: em alguns Parques Hortícolas a água é proveniente de ETARs, sendo atualmente usada para rega dos espaços verdes existentes e quiçá, para futuros Parques. O valor a pagar pelos utilizadores com acesso a água situa-se entre os 20€/ano, podendo este valor ser ajustado em função dos gastos da Câmara Municipal de Lisboa (CML, 2011);

- Estrutura de arrumos: a Câmara disponibiliza casas de abrigo partilhadas por quatro pessoas, no mínimo, e por nove, no máximo. Todas estas estruturas terão um telhado inclinado de maneira a fazer-se uma ligação para um depósito que permite o aproveitamento da água da chuva (CML, 2011); - Fornecimento de vedações e compostores;

Sociais

Parques Hortícolas

1,55€/m2

/ano com 60% de desconto Menor dimensão (não podem ter menos de 50 m2, não havendo dimensão máxima)

É obrigatória a prática de Agricultura Biológica

Recreio

Figura 7 - Tipologia das hortas da cidade de Lisboa, segundo a Câmara Municipal de Lisboa 1,55€/m2

/ano com 80% de desconto em zonas sociais

Maior dimensão (não podem ter menos de 100 m2, não havendo dimensão máxima)

Não é obrigatória a prática de Agricultura Biológica

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- Formação em Agricultura Biológica: a Câmara dará formação gratuita em Agricultura Biológica ao nível da fertilização, do controlo de pragas e de doenças, da seleção, recolha e conservação de sementes, da construção e manutenção de compostores, da instalação e gestão da água, de técnicas e sistemas simples de rega e da execução de viveiros em contentores e no solo. Esta formação estará disponível para todos, tanto para as pessoas sem conhecimentos na matéria, como para as que já tenham trabalhado em agricultura anteriormente. A aposta na formação pretende que os hortelãos reflitam sobre os seus hábitos de produção e tenham a oportunidade de adquirir conhecimentos sobre novos métodos de produção agrícola (CML, 2011).

Para além do referido, a Câmara também estipulou os deveres dos utilizadores das Hortas Urbanas. De acordo com estes, os hortelãos deverão respeitar o seu espaço existente de parcelamento garantindo o asseio, o bom uso e a segurança das hortas. Estas deverão ainda estar sempre cultivadas e com recurso aos meios adequados para tal. Por forma a realizar uma gestão sustentável do espaço, os resíduos sólidos produzidos deverão ser colocados em contentores, cedidos para o efeito. Por fim, enquanto nas Hortas de Recreio e Pedagógicas os produtos cultivados apenas poderão ser utilizados para consumo próprio, os bens obtidos em Hortas Sociais, além de servirem os hortelãos, poderão ainda ser integrados em esquemas cooperativos de produção e escoamento, desde que aprovados e fiscalizados pela Câmara Municipal de Lisboa (Folgosa, 2012).

A atribuição dos talhões é sempre realizada através de um concurso público. Os critérios de seleção dos candidatos são baseados na respetiva proximidade da residência à horta, e ordem de inscrição. No caso das Hortas Pedagógicas, poderá haver lugar a uma proposta por parte de uma entidade ou associação que sensibilize a Câmara a ceder o espaço hortícola, não sendo necessário o cumprimento dos critérios acima descritos.

4.4. Caracterização geral dos Parques Hortícolas em funcionamento e seleção dos

No documento Hortas urbanas. Estudo de caso de Lisboa (páginas 57-60)