• Nenhum resultado encontrado

Reaparecimento das Hortas Urbanas

No documento Hortas urbanas. Estudo de caso de Lisboa (páginas 32-34)

“As Hortas Urbanas estão a desfrutar de um renascimento devido ao desejo das pessoas se ligarem à comida, à natureza e à comunidade” - Firth, Maye & Pearson (2011: 555)

A chegada de uma agricultura industrializada, a partir do século XVIII, trouxe consigo novas técnicas agrícolas, as quais vieram substituir a mão-de-obra, levando a uma desconexão das pessoas com o sistema de produção de alimentos e com o meio ambiente. Porém, ao longo das últimas décadas, várias questões têm sido levantadas. Como se verá de seguida, o uso de pesticidas e fertilizantes e os seus impactos na qualidade dos alimentos, as crises alimentares e a consequente falta de segurança alimentar, entre outros assuntos, têm sido objeto crescente de preocupação por parte das populações, sobretudo, das sociedades ocidentais (Turner et al., 2011).

A urbanização é apontada como sendo um dos principais fatores responsáveis pelo crescente movimento das Hortas Urbanas. Enquanto na Europa e na América do Norte a urbanização levou séculos, estimulada pela Industrialização, no Mundo em desenvolvimento, este processo ocorrerá no espaço de duas ou três gerações. Em muitos países em desenvolvimento, o crescimento urbano é impulsionado não só pela oportunidade económica, mas também por altas taxas de nascimento e pelo afluxo maciço de habitantes rurais que procuram melhorar as suas condições de vida (FAO, 2012d). Globalmente, o aumento de residentes urbanos atingiu o seu máximo em 2008, ano em que, pela primeira vez na História, a população urbana igualou a rural, representando aproximadamente metade da população mundial (UNFPA, 2007). O progressivo aumento de espaço urbano ocupado e a consequente diminuição de terra disponível para cultivo, leva a que se recorra cada vez mais à importação de alimentos processados e transportados a longas distâncias.

A expressão Food Miles refere-se à longa distância a que os alimentos são sujeitos desde o local onde são produzidos até ao local onde são vendidos/consumidos. Neste sistema, a cadeia alimentar é caracterizada por vários setores que têm vindo, ao longo dos anos, a provocar uma distância cada vez maior entre o produtor e o consumidor (Van Passel, 2010). Uma vez que os

20

produtos alimentares podem atravessar várias fronteiras, desde o local de produção até ao consumidor final, o seu transporte é responsável não só pelo consumo de elevadas quantidades de combustíveis fósseis, como pela poluição prejudicial para o ambiente e para a saúde humana. Os alimentos transportados em regime de Food Miles tendem a ter fracas características organoléticas, apresentando-se menos frescos e menos saborosos quando comparados com os cultivados sem recurso a fertilizantes e pesticidas, ou em sistemas de cadeias curtas - sistemas de venda direta entre o produtor e o consumidor.

O facto de apenas um número restrito de pessoas poder aceder a uma parcela de terreno e cultivar os bens alimentares que irá consumir, e o facto da maioria dos produtos ser transportado em longas distâncias, tem levantado várias questões relacionadas com a segurança alimentar. De acordo com a FAO (2006:1), a segurança alimentar existe quando, “todas as pessoas têm possibilidades física e económica para aceder, sempre que necessitem, a alimentos seguros e nutritivos que atendam à sua dieta e que proporcionem um estilo de vida ativo e saudável”. Importa salientar que a segurança alimentar pode ser expressa através de diferentes formas, conforme o local que esteja a ser retratado. Assim, em regiões mais pobres, a falta de segurança alimentar manifesta-se sob a forma de escassez de alimentos, ao passo que, nas regiões mais abastadas pode significar pouca disponibilidade de produtos frescos. Neste último caso, o problema não reside na falta de alimentos em quantidade, mas sim na falta de alimentos de qualidade (Evers & Hodgson, 2011). Na Língua Portuguesa, estes dois conceitos tendem a ser englobados pela expressão “segurança alimentar”. Porém, na Literatura Inglesa, existem as terminologias de “Food Security” e “Food Safety” que dizem respeito ao primeiro e segundo exemplos, respetivamente. Deste modo, no Hemisfério Sul, a falta de “Food Security” está mais associada à fome, resultante da falta de nutrição energética e proteica. Já no Hemisfério Norte, a falta de “Food Safety” é cada vez mais definida pela pouca disponibilidade de produtos frescos e nutritivos, levando à epidemia do século XXI, a obesidade.

Todos os aspetos anteriormente referidos têm espoletado um interesse crescente com o que atualmente se consome. Cada vez mais, os consumidores exigem saber de onde provêm os produtos que adquirem, procurando alimentos biológicos que melhorem a sua saúde e qualidade de vida. A aplicação de fertilizantes e compostos químicos nos produtos são uma preocupação cada vez maior e, deste modo, os movimentos de adesão ao cultivo de produtos frescos e sem químicos, nas Hortas Urbanas, têm prosperado.

Contudo, as Hortas Urbanas também podem assegurar, como já foi referido, funções de subsistência que, deste modo, minimizam os impactos negativos resultantes de crises económicas e aumentos dos preços dos alimentos. Pessoas com fracas possibilidades recorrem, habitualmente, a esta atividade agrícola como forma de produzir os seus próprios bens. Assim, para além de consumirem produtos frescos e saudáveis, conseguem poupar algum dinheiro, uma vez que não necessitam de comprar os bens cultivados. Outras vezes, a produção de determinados alimentos é feita com o objetivo de os vender e assim conseguir obter algum rendimento extra.

21

Para além das referidas funções, a preocupação com o ambiente e a atividade recreativa e lúdica são duas outras motivações, não menos importantes, que também têm contribuído para o reaparecimento do movimento das Hortas Urbanas. Funcionando para muitos como um hobby, a prática agrícola permite ainda a manutenção da paisagem.

No documento Hortas urbanas. Estudo de caso de Lisboa (páginas 32-34)