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Cultura, antropologia e matemática

No documento A MATEMÁTICA DO SENSÍVEL (páginas 80-93)

CAPÍTULO 3: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E CULTURA:

3.2. Cultura, antropologia e matemática

Abordar antropologia e abordar matemática junto, já é em si contemplar a cultura, mas como expliquei antes, tive que organizar essa parte do trabalho com os temas que obtive, entre dissertações de mestrado, teses de doutorado e outras publicações. Como há variedade de trabalhos, criei alguns sub-itens, como apresento a seguir, no sentido de organizar uma descrição segundo os materiais mais relevantes, depois tratando algumas pesquisas sobre artesanato e alguns autores tradicionais:

a) Algumas pesquisas em destaque:

O trabalho de Márcia Chaves (2008), pela UFPA/ PPGECM, intitulado

Sentimento de semelhança: Poéticas visuais de interconexões em arte e matemática,

apresenta uma experiência com alunos da 8ª série do ensino fundamental, envolvendo fazeres artísticos e a Matemática Humanística, estudados pelos pressupostos da Teoria dos Campos Concentuais, de Vergnaud. Ao final, revelou pelo sentimento de semelhança, a aproximação entre os domínios inteligível e sensível, como componentes inseparáveis um do outro.

O seu estudo avança no sentido de mostrar que os conhecimentos-em-ação ainda largamente trabalhados de forma implícita, possam ser entendidos, ao longo do tempo, como conhecimentos científicos (CHAVES, 2008). Como caminho possível/ viável, ela aponta dentro da própria prática escolar, a atuação do fazer artístico no desenvolvimento do sentimento de semelhança, no sentido matemático.

O debate que faz sobre a Matemática Humanística despertou-me especial atenção, por utilizar um referencial novo (novos autores), os quais consegui depois ter acesso e isso está sendo explorado no estudo que desenvolvo em direção à tese. Ele aponta um caminho recente trabalhado pelos matemáticos, ao confrontarem os novos recursos tecnológicos e práticas sociais, como meios de implementação ou facilitação do aprendizado matemático, pelo estudo da geometria dos fractais, o cálculo infinitesimal aplicado a tecnologias de computação gráfica, entre outros.

O estudo de Souza (1986)28, aborda o conhecimento matemático, tendo como foco a relação entre Matemática e sociedade, tratando a Matemática como ciência ao lado da consciência histórica matemática, através da análise das concepções metodológicas empírica, dedutiva, racional e simbólica, pelas quais os matemáticos têm se debruçado com o passar do tempo em expressar e tentar entender o conhecimento matemático. Categorizando o conhecimento matemático em experiência, evidência, intuição e totalidade, reclama o afastamento da matemática, tanto da vivência prática quanto dos demais saberes acadêmicos.

Propõe ao final, uma aproximação entre a Matemática e a sociedade, através da prática pedagógica, valendo-se de um “senso matemático”, que é uma análise “capaz de apreender o senso quantitativo dos fenômenos” (p. 9). Este “senso matemático” se constitui de valores necessários à escola, com um “estilo arquimediano-galilaico”, cuja síntese “consiste numa visão cosmológica, crítica e comprometida com a ciência e com a realidade” (p. 10).

O “senso matemático” é trabalhado por ele, em sua tese de doutorado (1992)29, dando continuidade ao trabalho inicial, detalhando a formação deste senso através do surgimento da argumentação que coincide com o “início do raciocínio matemático que

28 SOUZA, Antonio Carlos Carrera de. Matemática e sociedade: Um estudo das categorias do

conhecimento matemático. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas/ Faculdade de Educação, 1986 (dissertação de mestrado).

29 SOUZA, Antonio Carlos Carrera de. Sensos matemáticos: Uma abordagem externalista da

matemática. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas/ Faculdade de Educação, 1992 (tese de doutorado).

vai estender-se ao algoritmo e ao modelo, através do movimento de teorização” (p. 6). Sugere uma conceituação mais específica para o termo “senso matemático”, como sendo um “sentido (sensorial) quando, a partir da prática humana, o homem extrai a possibilidade do conhecimento – com uma conotação explicitamente sensorial; assume a conotação de significado (explicativo), enquanto um movimento realizado pelo ser humano no ato de conhecer (...)” (p. 5). Sendo esse conhecimento o matemático, ele descreve que esses sensos possuem “fundamentos muito próximos da Etnomatemática e, na teorização, princípios teóricos muito próximos da Modelagem Matemática” (op. cit.).

Localiza possibilidades de visão internalista e externalista da matemática, a partir de pesquisa perceptiva com pessoas não escolarizadas e com alunos do ensino fundamental, com foco à geometria não euclidiana, onde trabalha o reconhecimento e operações com figuras geométricas. Essas posições internalistas e externalistas são em parte tiradas das argumentações dos sujeitos, contextualizando seus resultados com base na teoria crítico-social marxista, faltando ao meu ver, melhor aproximação com as discussões sobre a educação matemática, levando em conta o ano que a tese foi produzida (1992).

Para desenvolver o “senso matemático” na sua amplitude, professor e aluno devem se valer dos sensos crítico, do relativo, de ordenação e precisão, do concreto e do cinestésico-espacial. Ele contextualiza essas habilidades com o saber formal e apresenta como meios de reconhecer e realizar o conhecimento matemático, trabalhando bases teóricas histórico-metodológicas.

Contemplar o papel e a atuação do artesão segundo um “senso matemático” possível na sua atuação, inspira o conhecimento do seu fazer cotidiano sob esse olhar social levado a cabo por Souza, mas irá requerer a construção de outras relações de âmbito cognitivo e cultural que lhe completem a visão e o entendimento. Há muitas formas de “senso matemático” presentes em práticas culturais como a execução de obras de arte, que jogam com temas inusitados e relacionam conhecimentos distintos.

Ao adentrar o universo da relação entre arte e matemática, Roberto Berro (2008)30, apresenta um grandioso exemplo do “senso matemático” descrito, na

30 BERRO, Roberto Tadeu. Relações entre arte e matemática: Um estudo da obra de Maurits Cornelis

Escher. Itatiba (SP): Universidade São Francisco/ Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, 2008 (dissertação de mestrado). Disponível em: http://www.saofrancisco.edu.br/.../Roberto Berro%5B10461%5D.pdf. Acesso em 23/01/2011.

apreciação das obras de Mauritius ou Maurits Escher31, feito em sua dissertação de mestrado. O estudo é muito interessante por proporcionar o exercício de leitura e interpretação de significado matemático nas obras desse artista, fazendo uma idealização para a inserção de conteúdo matemático através das obras do autor.

A análise perceptiva da forma ficou pouco consistente, ao adotar apenas Rudolf Arnheim como base teórica de referência; apresenta um embasamento histórico de informação e biográfico bem fundamentado; e, a análise e contextualização matemática apresentam consistência teórica e prática no estudo matemático das obras de Escher. Um fator que ficou em segundo plano e que pouco foi trabalhado na dissertação, foi a proposta educacional, anunciada no resumo, sobre a etnomatemática, que não recebeu reflexão específica, sendo abordada sutilmente em alguns momentos, utilizando como referencial Ubiratan D‟Ambrosio.

Na mesma linha de discussão de Berro, está a dissertação de Antoniazzi (2005)32, que é anterior a dele, mas incide diretamente numa abordagem da prática escolar da matemática, onde desenvolve a “aplicação de conceitos matemáticos em atividades que associam Matemática e Arte” (p. VI). A pesquisa com professores e alunos envolveu atividades de desenho, medidas e noções de geometria, envolvendo a construção de materiais concretos.

Contextualizou histórico-pedagogicamente bem, porém, careceu de uma discussão mais consistente sobre a educação matemática, já que é uma produção feita em um programa de pós-graduação em ciências e matemática. Contemplou o vínculo arte e matemática no aspecto didático (em geral) e na produção de recursos de aprendizagem.

A dissertação de Érica Ferreira, do mesmo ano (2005), trata sobre as “reflexões dos professores em formação continuada, que combina atividade de ensino e dinâmica relacional, realizada em cinco localidades diferentes do Estado de São Paulo” (p. 10). Analisando registros de diário, portifólios e produções destes sujeitos, ela apresenta

31 O artista nasceu em Leeuwarden, Holanda, em 1898, tendo sido um aluno pouco brilhante, nos

primeiros anos de estudo, destacando-se apenas nas aulas de geometria. Depois estudou artes decorativas, onde aprendeu a técnica de gravura, iniciando sua gloriosa carreira artística, aperfeiçoando seus trabalhos através da geometria e da isometria. Viveu em vários países da Europa, mas faleceu em Laren, no seu país, em 1972 (BERRO, 2008, p. 25-31).

32 ANTONIAZZI, Maria Helena. Matemática e arte: Uma associação possível. Porto Alegre (RS):

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/ Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemática, 2005 (dissertação de mestrado). Disponível em: http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=807. Acesso: 13/01/2011.

um resultado consistente e bem contextualizado, caracterizando os movimentos de “(re)criação dos conceitos matemáticos”, que contextualiza de acordo com a fundamentação teórica adotada: principalmente Wallon, Leontiev e Vygotsky. Os conceitos matemáticos trabalhados pelos sujeitos são expostos com clareza, visando “os aspectos afetivo, social, histórico e de conhecimento”, onde analisa a descoberta de conceitos e formalização pela linguagem, na qual percebe as “conquistas psicológicas na relação com o conhecimento matemático” (p. 120).

Olhando a forma laboriosa com a qual a autora se debruçou na investigação, com grande empenho na contextualização dos resultados, considero relevante a sua produção como subsídio não só a esta tese, como a outros trabalhos.

b) Pesquisas sobre artesanato:

Destaco primeiro o trabalho de Ferrete (2005), que me servirá de referência em vários momentos, por ser um trabalho da área de educação matemática e por realizar a pesquisa de campo no mesmo lócus que desenvolvo essa tese (Bairro do Paracuri, Distrito de Icoaraci, cidade de Belém/ PA). Apresenta uma “análise das práticas etnomatemáticas presentes na criação dos ornamentos geométricos da cerâmica icoaraciense (...)” (p. 8), centralizada nas oficinas dos mestres artesãos do Paracuri, realizadas no Liceu de Artes e Ofícios Mestre Raimundo Cardoso, das quais extrai o resultado na análise dos ornamentos geométricos feitos nas peças cerâmicas.

Analisando o uso de conceitos matemáticos como simetria de translação, rotação e flexão, verificou terem esses mestres artesãos “plena segurança no uso desses conceitos” (op. cit.). Aborda de maneira bem fundamentada os aspectos históricos evolutivos sobre a pintura, o grafismo e a cerâmica trabalhada pelos primeiros povos indígenas da Amazônia, até chegar no que se constitui hoje a cerâmica de Icoaraci.

Outro trabalho o qual apreciarei na análise de resultados da pesquisa de campo, é o trabalho de Ossofo (2006)33, não propriamente pela questão da fundamentação ou contextualização, mas pela forma com a qual aborda a leitura de objetos matemáticos a partir de um trabalho pedagógico feito com professores de matemática, na África,

33 OSSOFO, Abudo Atumane. As configurações geométricas dos artefactos Emákhuwas: Um estudo

sobre as possibilidades do seu uso didáctico nas aulas de matemática – Caso do 1° Ciclo do Ensino Secundário Geral. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/ Universidade Pedagógica de Moçambique, 2006 (dissertação de mestrado).

que utilizaram artefatos da cultura nativa na realização de um estudo sobre “configurações geométricas”. O autor contextualiza e se posiciona na tendência educacional da etnomatemática, referenciando principalmente Paulus Gerdes e Ubiratan D‟Ambrosio, e defende que “a aprendizagem com recursos às realizações culturais dos povos dá à matemática mais sentido de realidade e torna os alunos mais seguros e confiantes na aprendizagem” (p. 9).

Chama atenção a leitura matemática dos artefatos, tanto em relação à geometria plana, como volumétrica e de sólidos em revolução, onde o estudo de configuração geométrica trabalhado com alunos é complementado com entrevistas com artesãos de Moçambique. O resultado é contextualizado de acordo com o programa de ensino de matemática desse país e o autor tece algumas recomendações bem construídas para um estudo que integre cultura e educação matemática.

Outro trabalho sobre artesanato, identificado como da área de etnomatemática é a pesquisa de Wanderleya Costa (1998), que investiga os artesãos do Vale do Jequetinhonha, nordeste de Minas Gerais, quanto à execução de peças cerâmicas tradicionais, interpretando dados que levam em conta “quatro questões: a linguagem, o tempo, o cálculo estimativo/ algoritmo e a história da matemática” (p. 10).

Constrói o trabalho de maneira bem estruturada, verificando que há uma “linguagem matemática popular”, que expressa a matemática no meio popular, com concepções diferentes do que é habitualmente visto e que para o “reconhecimento do conhecimento matemático construído em culturas diferenciadas” é preciso considerar como parte da história da matemática, a história das práticas e conhecimentos matemáticos únicos, particulares, existentes nas diferentes culturas. Além disso, expõe a necessidade de uma tomada de consciência nas situações em que acontecem as aulas de matemática no meio popular, para que os agentes envolvidos “compreendam que ensinar matemática não é só uma tarefa técnica, mas também política” (op. cit.).

Deixando de lado os termos utilizados na época (década de 1990), como meio popular, matemática popular e cultura popular, conceitualmente falando, o trabalho apresenta uma reflexão coerente e necessária sobre a vivência dos artesãos ceramistas, com um relato muito agradável e bem construído na interpretação da fala destes sujeitos. Faz a investigação matemática de acordo com os tipos de artefatos que são produzidos (potes, canos, moringas, cinzeiros, ...), apontando as técnicas de medição, desenho e pintura, aborda como o artesão faz o cálculo da capacidade das

vasilhas e cálculo de “medida prato”, que define a quantidade de barro, medidas e a sua equivalência em litros. Indica a forma empírica como os artesãos fazem seu cálculo de “medição de „olho‟”, de uso cotidiano. Apresenta uma boa contextualização ao final, pecando apenas pela falta de arcabouço teórico para discutir a linguagem matemática com poucas referências sobre o assunto.

Sem contemplar especificamente o artesanato, mas uma série de fazeres cotidianos de uma comunidade kalunga (quilombola) de Riachão (Goiás), a dissertação de Jesus (2007)34, trabalha as “artes e técnicas do saber/ fazer” sob o ponto de vista etnomatemático, de forma bem fundamentada, referenciando obras de Ubiratan D‟Ambrosio, Teresa Vergani, Paulus Gerdes, entre outros. O artesanato com o barro é apenas uma das atividades descritas, ao lado das práticas de plantio, fabricação de farinha e confecção de artefatos de madeira, que ela estuda de modo bem estruturado, abordando a vida cotidiana e as matemáticas construídas:

Nesse desenrolar do cotidiano repleto de saberes culturais determinado pelo modo de ser dos indivíduos, emerge o saber/ fazer matemático, que busca lidar com o ambiente de forma que atenda as necessidades de sobrevivência e de transcendência da comunidade, pois o cotidiano está impregnado de saberes e fazeres próprios da cultura (p. 80).

Como normalmente o saber matemático está “emerso”, cabe ao pesquisador encontrar os instrumentos e o referencial teórico que lhe dê suporte, a fim de identificar e realmente reconhecer o que nessa atividade cultural é um saber matemático. A forma que ela conclui merece ser debatida, apesar de que percebo faltarem elementos descritivos/definidores deste saber/ fazer matemático qualificado, é um trabalho que merece visitação por parte de quem estuda cultura e educação matemática.

Os dois últimos trabalhos que tratam sobre artesanato, os quais descreverei a seguir, não abordam a educação matemática, mas trabalham informações relevantes sobre os sujeitos e o objeto de estudo que estou utilizando: focam o artesanato cerâmico de Icoaraci. Trata-se de duas dissertações de mestrado: uma de Mário Barata Júnior (2002), intitulada A comunicação do design nos objetos artesanais: Um

estudo de caso do artesanato étnico em cerâmica produzido na Vila de Icoaraci; outra,

de Leandro Xavier (2006), sob o título „Aqui...a gente não vende cerâmica, a gente

34 JESUS, Elivanete Alves de. As artes e as técnicas do ser e do saber/ fazer em algumas atividades

no cotidiano da comunidade kalunga do Riachão. Rio Claro (SP): Universidade Estadual Paulista/

Instituto de Geociências e Ciências Exatas/ Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, 2007 (dissertação de mestrado).

vende é cultura’: Um estudo da tradição ceramista e as mudanças na produção em Icoaraci – Belém – Pa.

Destaco nestes trabalhos acima de tudo, o sentido de registro, com a preocupação de descrever as práticas de trabalho de maneira detalhada. O primeiro traz entrevistas com os mestres Raimundo Cardoso, Guilherme Santana, Ciro Croelhas e Hildemar Almeida, importantes documentos no sentido do resgate da memória da tradição ceramista de Icoaraci, já que o autor expressou a motivação de sua escolha em função da importância e projeção de trabalho dos artesãos, entre os quais se destaca o mestre Cardoso, como o principal introdutor de figuras inspiradas na cerâmica arqueológica indígena da Amazônia na atividade ceramista de Icoaraci. Ao final do trabalho, Barata Júnior deu maior foco ao aspecto social e econômico da produção ceramista de Icoaraci, pouco trabalhando, como discussão o que o tema propôs, a respeito da comunicação do design.

A dissertação de Xavier descreve bem o processo de trabalho do artesão, mostrando detalhes de formas de produção específicas, abordando metodologicamente a informação etnográfica com base na cultura material, de forma bem fundamentada e contextualizada. Aborda também o papel do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e do Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas do Pará (SEBRAE/PA), em relação ao trabalho dos artesãos, como agentes que valorizam o conhecimento e as práticas tradicionais da cultura. Ao final, posiciona-se como um antropólogo, pesquisador da cultura material, preocupado com a manutenção da identidade cultural na produção artesanal de Icoaraci, construindo relações com as fontes teóricas trabalhadas, e lembrando que “é a cultura que dá sentido a tudo que se produz” (p. 98), evoca a necessidade de uma garantia de legitimação à produção artesanal, para que subsista ante as dificuldades e amplie a sua prática social.

c) Autores tradicionais:

Este sub-item aborda a contribuição de alguns importantes pensadores da área da antropologia e etnografia em relação ao estudo da cultura humana, tomando como ponto de partida o principal trabalho do antropólogo e filósofo francês Claude Lévi- Strauss (1908-2009), intitulada O Pensamento Selvagem (2005), que serve de referência ao estruturalismo antropológico, que foi uma corrente de pensamento

preocupada com a “compreensão dos culturais (mitos, relações de parentesco, etc) que caracterizam uma sociedade” (QUINTANILLA, 2007, p. 87). Esta compreensão amplia-se no sentido de que esses traços culturais devem ser vistos como “um sistema (uma estrutura) no qual a função e o significado de cada parte é definido pelas relações que mantém com o restante” (op. cit.).

Essa abordagem, como ideia ou forma de visão coaduna com o enfoque metodológico da psicologia, o estruturalismo psicológico, já citado na parte inicial do trabalho, e que tem como protagonista Jean Piaget. O nascedouro das idéias estruturalistas, segundo Tagliaferri (1978) foi proveniente da matemática, depois migrando para as ciências sociais e a filosofia, na década de 1960, principalmente na França. Para Quintanilla (2007), na filosofia, ele confunde tanto o sentido matemático quanto ontológico, dando lugar a um neo-platonismo, onde a estrutura “é o conjunto no qual se definiu uma ou várias relações (ou operações: uma operação num conjunto pode ser definida sempre como uma relação entre os elementos desse conjunto). Em álgebra, são bem conhecidos alguns tipos de estruturas: grupo, anel, corpo e espaço vetorial” (p. 86).

O estruturalismo não se limita a aplicar o conceito matemático de estrutura para construir modelos nos diferentes campos das ciências humanas e sociais, mas “acompanha este programa metodológico com certas teses metodológicas e interpretativas que constituem o núcleo de ideias do estruturalismo filosófico” (op. cit.).

Nesse contexto estruturalista filosófico e antropológico é que Lévi-Strauss consegue desenvolver um novo foco, visando uma característica inerente e universal do espírito humano, que é o pensamento selvagem que se desenvolve no homem, como forma de entender pela componente matéria e inspiração, uma lógica cujas leis fazem parte da estrutura cultural da sociedade. Mesmo as culturas isoladas e preservadas em suas origens abrigam componentes conscientes ou não que fazem parte de uma estrutura, onde a transposição do real (mundo da imaginação / ideias do homem), permite dominar elementos ocultos à primeira vista, como o mito, o espiritualismo e transcendentalismos. Entretanto, é necessária a existência de um pensamento objetivo para compor a tecitura ou “tecido conectivo” da indagação estrutural (TAGLIAFERRI, 1978, p. 17), que no meu ponto de vista, acontece através do próprio pesquisador, que pela sua consciência e conhecimento científico proporciona essa ligação.

A priori, no estruturalismo antropológico, o sujeito é considerado como coletivo, segundo o mesmo autor, em função de que “o fundamento da estrutura é a indiferença entre sujeito e objeto, paralela à indiferença entre tempo e espaço (p. 25). A passagem

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