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APOIO À DECISÃO

3. C ONTRIBUTO PARA A CARACTERIZAÇÃO REGIONAL DO CASO DE ESTUDO

3.3. O CUPAÇÃO DO SOLO E VEGETAÇÃO NATURAL

Portugal é, segundo Orlando Ribeiro (1987), uma área de transição entre o Atlântico, a Norte, com espécies de folhagem caduca e o Mediterrâneo, a Sul, com predominância de espécies de folha persistente e com adaptações xerofíticas. Nesse sentido, e dada a sua localização, BHRGP é uma das regiões portuguesas mais marcadamente mediterrâneas.

A vegetação natural desta bacia reflecte primordialmente o seu clima e o seu solo, predominando, entre outras espécies, o sobreiro, a azinheira, o carrasco, o pinheiro manso, o medronheiro, a urze branca, a aroeira, o loureiro, várias plantas aromáticas (alfazema, alecrim, rosmaninho) e vários ciscos (com destaque para a esteva). Quando em conjunto, as espécies predominantes na BHRGP tendem a formar um complexo vegetal denso e estratificado, provocando menos evapotranspiração e uma menor amplitude térmica (Pimentel, 1993).

Em consequência da acção antrópica, registou-se um desbaste efectivo da vegetação natural. Em simultâneo, surgiram novas espécies de flora indígena. Mas foi essencialmente durante a primeira metade do século XX que se assistiu ao aumento da pressão da actividade humana sobre as espécies autóctones.

Já na actualidade, o abandono dos campos agrícolas permite o reaparecimento de uma

comunidade vegetal progressivamente mais diversa, tal como afirma Pena (1985)13: «sob

azinheiras cujo aspecto mostra há muito não serem podadas cresce uma densa vegetação de porte arbustivo que vai surgindo por invasão e regeneração das espécies indígenas, colonizando solos outrora explorados (…). A comunidade vegetal que assim se vai formando fornecerá continuamente ao solo novos materiais orgânicos que gradualmente se decompõe, transformando solos esqueléticos em solos evoluídos.» Esta dinâmica teve o seu início a partir dos anos 1960, década ao longo da qual o fenómeno foi mais intenso, mas prolongou-se no tempo até aos dias de hoje, como se pode demonstrar a partir da análise das cartas de ocupação do solo de 1990 e 2006:

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 O balanço das mudanças de uso do solo é muito negativo para a agricultura;

 As zonas de utilização agrícola fora dos perímetros de rega assinalam o maior decréscimo absoluto, com uma cadência bastante regular (decréscimos sucessivos e relativamente semelhantes nos dois períodos mencionados);

 As áreas agrícolas em perímetros de rega aumentam, ainda que de forma ténue, compensando muito ligeiramente a diminuição da restante actividade agrícola;

 A vinha é outra excepção, embora assuma valores absolutos residuais.

A ocupação do solo com vegetação natural esteve ao longo destes 16 anos sempre em perda. Segundo o Plano da BHRGP, são muitas as espécies endémicas em risco de extinção (INAG, 2000). Quanto à análise de custos, estes factores, apesar de difícil quantificação, representam perdas irreparáveis com influência no equilíbrio dos ecossistemas. No entanto, aguarda-se pelo impacto das barragens recentemente edificadas na região, com particular destaque para a do Alqueva, no sentido de se poder avaliar a capacidade de resistência das espécies existentes, existindo alguma expectativa perante a possibilidade de surgimento de novas espécies, agora adaptadas às novas condições criadas.

Os espaços urbanos também sofreram algumas transformações relevantes. Aumentaram as periferias (tecido urbano descontínuo) em detrimento das áreas urbanas mais consolidadas (tecido

urbano contínuo). Embora esta seja uma tendência em sintonia com o restante território nacional, encontra aqui uma expressão surpreendente, dado o seu elevado nível de despovoamento. Todavia, as cidades de maior dimensão, como Évora e Beja, em conjunto com o litoral algarvio, têm vindo a ampliar consideravelmente o seu perímetro urbano, ainda que esse crescimento não seja acompanhado de forma tão clara pelo aumento dos efectivos populacionais. Isto é, aumentam as áreas urbanas sobretudo devido ao crescimento das periferias, menos densamente povoadas. Alguns aglomerados populacionais mais pequenos (sobretudo sedes de concelho) com perdas significativas de população também contribuem para este aumento da ocupação do solo urbano. Assiste-se a uma ligeira perda de importância relativa dos maiores aglomerados do Alentejo, assumindo-se o Algarve cada vez mais como o grande pólo urbano da BHRGP.14

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As áreas em construção (Figura 3.3, código 133) evoluíram no sentido oposto ao tecido urbano, deixaram de ser um exclusivo do Algarve (tal como acontecia em 1990) e passaram a generalizar-se à escala da bacia. Em parte esta alteração deve-se à construção da infra-estrutura do Alqueva, mas também se encontra uma justificação na retracção do sector da construção no Algarve durante os anos 2000.

Tal como acontece com as áreas em construção, as áreas ardidas são ocupações do solo de transição e altamente vulneráveis à acção humana. Por isso, não é de estranhar que esta ocupação do solo também registe mudanças muito significativas ao longo dos dois períodos temporais analisados. No caso das áreas ardidas, existe ainda mais uma condicionante, pois diminui muito a probabilidade de voltar a arder uma floresta incendiada há pouco tempo. Logo, existe uma tendência para a rotação das áreas ardidas.

A alteração do posicionamento das ocupações do solo florestais, nomeadamente de resinosas (Figura 3.3, código 312), constitui uma das mudanças mais importantes desta análise. Curiosamente, ou talvez não, as áreas de florestas de resinosas andam em contraciclo com as áreas

ardidas, evoluindo de forma diametralmente oposta ao longo do período 2000-06. A justificação para este facto parece óbvia: por um lado, procura-se cada vez mais florestar espaços até há umas décadas exclusivos da actividade agrícola, devido ao êxodo rural; por outro lado, criam-se condições de ignição dos espaços florestais como nunca houve nesta região, pois plantam-se espécies pouco adaptadas à região.

A «trajectória» do ponto médio ponderado pelos planos de água (Figura 3.3, código 512) revela-se errática. Numa primeira fase (anos 1990), segue na direcção sul do Algarve e, nos seis anos seguintes, altera-se completamente no sentido nordeste, em direcção ao Alqueva. Este é também um sinal importante da forma como se disponibilizou a água ao longo dos últimos vinte anos na BHRGP: num primeiro momento, os anos 1990, houve uma aposta na criação de novas albufeiras no Algarve, dada a necessidade de melhorar as condições de abastecimento de água nesta região; o segundo momento, os anos 2000, é marcado pela entrada em funcionamento da barragem do Alqueva, na perspectiva de alterar radicalmente o panorama agrícola de uma parte do Alentejo.

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