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APOIO À DECISÃO

2.5. I NSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO SISTEMA ESPACIAL DE APOIO À DECISÃO

A forma de organização das sociedades modernas baseia-se num conjunto de regras de decisão, ou condicionantes à decisão, que materializam o acto de governar. Mas se governar implica decidir, a decisão não é normalmente vista como um processo participado. A governação participada, ou a «boa governança» implica a reforma dos processos de tomada de decisão com o objectivo de incentivar a criação de maiores oportunidades de participação pública (Risse, 2002).

Em resultado de décadas de pressão Humana sobre os recursos naturais, hoje há uma nova perspectiva do desenvolvimento. Segundo os autores mais proeminentes desta nova abordagem, o desenvolvimento só é concretizado quando se conjuga o crescimento económico, com a equidade social e com a sustentabilidade ambiental (Sachs, 2000). A procura de soluções participadas é um dos seus maiores desafios. Pretende-se com construção desta metodologia ir ao encontro das necessidades associadas a estes desafios.

Enquanto metodologia de apoio à decisão, trata-se não só de um conjunto de meios para a procura das características das RRA, como também uma ferramenta de auxílio à melhoria da comunicação dentro destas redes. A ferramenta de comunicação de dados e análise da situação deve estar ao serviço dos principais utilizadores e dos stakeholders chave identificados. Sintetizando, as vantagens da utilização desta metodologia são as seguintes:

 Incentivo à implementação de políticas mais inovadoras e a uma melhor operacionalização das decisões, partindo do fortalecimento do diálogo e interacção entre organizações;

 Resolução de conflitos através da consulta dos stakeholders e o seu envolvimento no processo de tomada de decisão;

 Maior consistência das opções estratégicas das organizações, em resultado duma maior interacção entre os actores sociais da rede e um consequente maior entendimento das suas necessidades principal, expectativas e prioridades.

 Maior capacidade para a coordenação de acções integradas, por vezes mais adequadas à resolução dos problemas de gestão da água.

A utilização desta metodologia é um meio essencial para ligar diferentes grupos de

stakeholders com interesses comuns e um mecanismo fundamental para a promoção da partilha de informação e serviços no apoio aos decisores para a gestão dos recursos hídricos. No processo de tomada de decisão, as ferramentas de SEAD devem ser

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entendidas como formas de sistematizar a realidade para a identificação dos problemas e potencialidades existentes e para validar as respostas. Isto é, os SEAD para a gestão dos recursos hídricos constituem-se como ferramentas estruturadoras da realidade para a formação de decisões mais bem fundamentadas e criativas.

Ao propor um maior envolvimento dos stakeholders, a metodologia facilita a circulação de informação e incrementa o nível de aceitação das respostas, aumentando desse modo as possibilidades de sucesso da sua implementação. É também uma forma de promover as práticas subjacentes ao conceito de «boa governança», pois promove o diálogo construtivo para a promoção do conhecimento e experiência de todos os stakeholders. Neste sentido os stakeholders devem ser entendidos como co-autores do sistema e parte integrante das respostas

Pretende-se com a aplicação desta metodologia para a gestão dos problemas da água aumentar a qualidade das decisões. Todavia, ao torná-la tão receptiva a contribuições externas, o sucesso desta metodologia depende também da sua receptividade por parte dos

stakeholders. Estas entidades ou empresas devem ser convidadas a participar na construção do SEAD, com a perspectiva de resolverem os seus problemas.

A identificação destas redes informais, através da análise das RRA, constitui uma ferramenta para aumentar a sua competitividade e para se tornarem mais solidários. É também um contributo importante para o desenvolvimento de um território mais dinâmico, mais partilhado, criando-se assim um ambiente propício à implementação de novas políticas para o sector da água.

Os SEAD para a gestão dos recursos hídricos assumem neste momento em Portugal uma importância particular. Até 2015 a DQA tem de estar totalmente transposta e aplicada à situação portuguesa. Tendo em consideração a necessidade de reestruturar todo o edifício da decisão sobre as questões da água, acresce ainda a importância de criar novas metodologias para o apoio à decisão.

Para além destas questões directamente relacionadas com a DQA, em Portugal assiste-se a uma reorganização das entidades responsáveis pelo abastecimento da água para consumo doméstico. Este processo pode beneficiar muito de uma metodologia de apoio à decisão espacialmente referenciada com um carácter eminentemente prospectivo.

Todavia, em termos gerais, as tecnologias de informação geográfica têm vindo ao longo dos últimos 20 anos a deparar-se com a necessidade de ultrapassar alguns obstáculos,

2.METODOLOGIA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA PARA O APOIO À DECISÃO

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de modo a poderem tornar-se num suporte efectivo ao processo de tomada de decisão (Julião, 2001):

 Inexistência de meios tecnológicos e de informação em quantidade e qualidade para se poderem construir os SIG mais adequados à resolução dos problemas. Este primeiro obstáculo identificado tem vindo a ser ultrapassado, sobretudo através de um esforço de criação e desenvolvimento de Infra-estruturas de Dados Espaciais, o que permitiu concentrar o esforço de aperfeiçoamento das metodologias dos SIG na componente de análise;

 Incapacidade de contornar um certo bloqueio metodológico por parte das equipas responsáveis pela aplicação dos SIG para o apoio à decisão. Os SIG desempenharam uma acção essencialmente centrada na etapa inicial de conceptualização do processo de decisão. Todavia, os SAD permitem ultrapassar o bloqueio metodológico, nomeadamente através da avaliação das interacções entre variáveis e determinação do nível de coerência das decisões. A introdução deste tipo de ferramenta de análise espacial contribui decisivamente para o reforço das competências associadas à tomada de decisão assente em tecnologias de informação geográfica;

 Ausência de uma tradição de recurso a meios tecnológicos de auxílio à tomada de decisão. Este é um dos obstáculos mais difíceis de ultrapassar, pois trata-se de enfrentar a mentalidade dos decisores-chave e a sua forma de encarar todo o processo de decisão.

Por fim, a metodologia tem como caso de estudo a BHRGP. Muitas são as alterações previstas para o abastecimento da água no Alentejo nos próximos anos. Até 2013 devem estar concluídas todas as infra-estruturas previstas no plano de implementação do EFMA e em particular do Sistema Global de Rega de Alqueva. Isto representa uma alteração muito significativa em termos de disponibilidade de água, quer em termos de área abrangida pelos regadios, quer em termos de regularidade no abastecimento. Surge assim, toda uma nova série de oportunidades passíveis de provocar grande incerteza quanto ao futuro da região. A aplicação da metodologia proposta neste capítulo pretende ser um contributo importante para aumentar a capacidade de resposta das entidades responsáveis e dos potenciais investidores, diminuindo o nível de incerteza associado às decisões.