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APOIO À DECISÃO

2.1. E NQUADRAMENTO CONCEPTUAL

A integração de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e de métodos de decisão multicritério proporcionam inúmeros benefícios para a resolução de problemas de gestão dos recursos hídricos. Assim sendo, no âmbito deste trabalho propõe-se desenvolver alternativas em ambiente SIG para a implementação de novas políticas da água, para a reestruturação das formas de abastecimento da água, para a criação de novas infra- estruturas, ou para a melhoria das infra-estruturas existentes, aplicando técnicas de análise multicritério no processo de decisão. A metodologia desenvolvida pretende ser um contributo para a complexa tarefa de analisar os impactos das decisões com implicação nas dinâmicas populacionais, recorrendo para isso aos diversos critérios envolvidos na definição dos problemas, sejam eles de natureza ambiental, económica, ou outras.

Um dos elementos mais estruturantes deste trabalho é a avaliação das actuais políticas ambientais e de ordenamento do território, com um destaque particular para as políticas relativas ao sector da água. A partir daí, serão analisadas experiências nacionais e internacionais já documentadas sobre o tema. Esta análise das políticas deve também reflectir uma abordagem às ferramentas de apoio aos problemas de decisão de carácter espacial, particularmente os Sistemas de Apoio à Decisão Ambientais (SADA) e os Sistemas Espaciais de Apoio à Decisão (SEAD).

Durante os últimos anos assistiu-se na União Europeia à disponibilização de recursos financeiros consideráveis para desenvolver bases de dados geograficamente referenciadas com o objectivo de melhor conhecer o seu território. Um exemplo desta aposta pode ser dado pela criação do programa Corine Land-Cover, para o estudo das mudanças do uso do solo ao nível europeu, facultando desse modo uma base geográfica comum disponível para toda a comunidade académica e científica. Essas bases de dados tiveram também o mérito de possibilitar uma melhoria generalizada na fundamentação dos processos de tomada de decisão espacial.

De facto, os problemas de decisão espacial são intrinsecamente caracterizados pela incerteza. A possibilidade de combinar grandes quantidades de informação reduz o nível de incerteza, nesse sentido, torna-se imprescindível criar os SAD para melhorar a capacidade de fundamentação das decisões. Assim, os problemas de decisão podem ser classificados numa escala contínua: começa nas situações mais previsíveis (quando se dispõe de informação necessária) e termina nas situações imprevistas (quando não se dispõe de informação). As decisões do primeiro tipo são normalmente referidas como situações de

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certeza ou determinísticas, e as do último tipo como problemas de tomada de decisão «sob incerteza». As decisões «sob incerteza» podem ainda ser catalogadas em decisões envolvendo informação estocástica e decisões envolvendo informação imprecisa (Malkzewski, 1999).

Independentemente do nível de certeza, todo processo de decisão tem, no seu início, o reconhecimento de uma necessidade transformada num problema. Este problema irá desencadear o processo de tomada de decisão. A tomada de decisão em planeamento e ordenamento do território implica frequentemente a introdução de uma componente espacial. Assim sendo, a tomada de decisão espacial deve ser uma actividade rotineira, comum para decisores em matérias geograficamente sensíveis. Para alguns autores, estes problemas de decisão espaciais são por inerência multicritério (Nijkamp et al., 1987), isto porque, cada alternativa de decisão espacial é composta, no mínimo, por dois elementos básicos: Acção - o que fazer? Localização - onde fazer?

O tipo e a quantidade de informação, necessária e disponível, para abordar um problema de decisão particular, estão relacionados com a complexidade cognitiva da situação de decisão. A complexidade cognitiva, por sua vez, pode ser considerada a dois níveis: ao nível dos critérios e ao nível das alternativas de decisão. O número de critérios de avaliação representa a sua complexidade. Quanto à decisão, a complexidade é usualmente expressa pelo número de decisões exequíveis (Jankowski et al., 2001). Assim, quando os problemas de decisão são passíveis de espacialização, necessitam de um número mais vasto de alternativas viáveis, de modo a serem avaliadas com base num conjunto de critérios (análise multicritério). Nesse caso, procura-se reduzir a complexidade cognitiva do problema, nas suas dimensões essenciais. A redução da complexidade na escolha dos critérios deve ser alcançada através de procedimentos ao nível da estatística espacial. Neste ponto, segundo Fayyad (1996), a utilização de métodos informáticos (por ex: data-mining) no tratamento de dados deve permitir a detecção de regularidades, dependências ou tendências. Assim, critérios dependentes ou redundantes podem ser eliminados ou combinados, tornando a percepção do problema mais imediata.

No que diz respeito aos métodos de apoio à decisão, a complexidade pode ser reduzida aplicando-se métodos para a verificação da coerência das propostas (Balling et al., 1999). Existem vários processos para obter soluções ambientalmente sustentáveis. Nas decisões espaciais, a escolha de uma resposta fica, deste modo, dependente da inexistência de outra solução mais coerente do ponto de vista ambiental.

2.METODOLOGIA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA PARA O APOIO À DECISÃO

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Partindo desta base conceptual dos SAD, são agora lançados os alicerces de uma metodologia para o apoio à decisão na gestão de recursos hídricos, nomeadamente através da sustentabilidade da implantação de novas infra-estruturas, da utilização mais eficiente dos equipamentos já existentes ou da redefinição da estrutura organizativa responsável pela gestão dos recursos hídricos.

Esta metodologia é edificada de molde a ser adaptável às regiões de Portugal e extrapolável para o território do Sul da Europa, desde que se trate de regiões com padrões de distribuição da população e dos recursos hídricos semelhantes. Ainda, como proposta adicional, procurar-se-á incorporar como ferramentas de apoio aos SAD, algumas técnicas emergentes com grande potencial de aplicabilidade no contexto desta metodologia. Entre essas técnicas, podem-se destacar: os cenários da população espacialmente referenciados com base no método das componentes por coortes e a análise de redes sociais (para o tratamento de entrevistas com os principais stakeholders de uma região) ao serviço da necessidade de criar cenários alicerçados nas necessidades dos principais interessados por esta matéria.

Os fundamentos da metodologia são transpostos para uma aplicação prática desenvolvida em ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG), através do estudo de caso centrado numa região de Portugal Continental, tendo por base os dados dos últimos três momentos censitários disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE, 1981, 1991, 2001), as disponibilidades hídricas do Instituto da Água (INAG)2, nomeadamente através da utilização dos resultados de um Modelo Hidrológico existente nesta instituição, e os dados espaciais do uso do solo do Corine Land-Cover (CLC90, CLC00, CLC06).

Pretende-se através do resultado final deste trabalho, para além de identificar as falhas na actual forma de gestão dos recursos hídricos, disponibilizar uma ferramenta para a criação de cenários de planeamento, podendo ser utilizada por administrações regionais da água, associações de municípios, direcções regionais, comissões de coordenação e desenvolvimento regional e quaisquer outros órgãos oficiais ou outras instituições de planeamento e gestão ao nível regional. Dessa forma, o grau de sucesso da avaliação de uma proposta de alteração da localização de infra-estruturas, ou a melhoria das existentes,

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No contexto da orgânica do XIX Governo Constitucional, designadamente no que se refere ao Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, o INAG passa a estar integrado na Agência Portuguesa do Ambiente, que, por sua vez, é agora um organismo de administração indirecta do estado.

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ou a implementação de uma determinada opção política, podem e devem constituir a medida da eficácia da metodologia proposta.

Optando previamente pelo nível regional de análise, tal como é preconizado na Directiva Quadro da Água (DQA), este trabalho focaliza-se na abordagem de uma grande bacia hidrográfica, necessariamente supra-municipal. De acordo com os resultados de experiências realizadas em trabalhos anteriores, os decisores locais (municipais) estão menos sensibilizados para a utilização de SAD, pois o seu grau de percepção dos problemas, normalmente, permite-lhes alcançar decisões acertadas. Todavia, enquanto nível de decisão elementar para a definição das redes regionais de relações, os decisores locais constituem-se como alicerces de todo este edifício da decisão.

Sistematizando, para as questões determinantes desta investigação será privilegiado um corpo conceptual de apoio à decisão assente na estruturação proposta pelo sistema DPSIR.