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Curso Cakra Sadhana

No documento 2017 - Informativo Corrente 93 No. 8 (páginas 40-44)

uma palavra sânscrita que significa poder , mas para todos os efeitos, em estado potencial. Existe uma parábola nos tantras que diz que no Infinito, antes da criação, a Deusa dividiu- se em dois estados conhecidos como Mente e Corpo. A essência da Deusa repousa eterna- mente no ājñā-cakra, de onde ela começa a se projetar para baixo, vibrando « spandana» em direção a terra na busca por seu Corpo. Nesse processo, a Śakti cria diferentes estados de realização, os cakras, começando pelo viśuddhi, atribuído ao Espírito, o anāhata, atribu- ído ao Elemento Ar, o maṇipūra, atribuído ao Elemento Fogo, o swādhisṭhāna, atribuído ao Elemento Água e o mūlādhāra, atribuído ao Elemento Terra. Ao fazer de sua morada o mūlādhāra-cakra, o processo de criação se encerra e a Śakti se recolhe em sono profundo. É neste estado que ela é conhecida como kuṇḍalinī -śakti. Uma possível tradução desse termo que se enquadra na descrição do tema é  poder recolhido e na Tradição Esotérica Ocidental ela é identificada apenas pelo nome de Serpente de Fogo ou Fogo Serpentino. Quando aprendemos a manipular essa força em nosso interior, fazendo-a acordar de seu sono no fosso da terra, é o momento de aprendermos com ela em um processo de ascen- são a fim de redescobrirmos o paraíso perdido. Este trabalho consiste em erguê-la do mū- lādhāra-cakra aos cakras superiores através de um sistemático programa de treinamento.

Nos dias de Aleister Crowley (1875-1947) muito pouco material sobre o tema cakras havia sido traduzido do sânscrito para o inglês. Fora as especulações teosóficas, pouquís- simos ocultistas no Ocidente produziram material de peso realmente relevante. Por anos a maior fonte de pesquisas sobre os cakras utilizada pelos ocultistas da Tradição Ocidental foi o livro Os Chakras de W.C. Leadbeater (1854-1934), considerado um grande clarividen- te. No entanto, seu livro tem muito pouco ou quase nada a oferecer quando comparado aos próprios śāstras do tantrismo ou obras de mestres tânt ricos de calibre como Swāmi Satyānanda Saraswatī, fundador da Bihar School of Yoga, a organização mais tradicional da Índia em ensino superior de Yoga e Tantra.

Por volta de 1920, o autor mais celebrado sobre Tantra no Ocidente foi Sir John Wo- odroffe (1865-1936). Ele foi o responsável por apresentar ao Ocidente, através de inúme- ras traduções e material próprio o profundo, vasto e rico oceano de conhecimento contido nos tantras, principalmente a Tradição Kaula e suas práticas obscuras de despertar da kuṇḍ alinī -śakti e a manipulação dos cakras. Mas por incrível que pareça, Crowley parece ter dado pouca atenção à obra de Woodroffe, seja por despeito ou falta de conhecimento.

Mas existe um problema ao tentar estabelecer uma equivalência entre a doutrina dos cakras contida nos tantras e a Árvore da Vida. Inúmeras interpretações equivocadas foram difundidas amplamente pela Sociedade Teosófica e a Ordem Hermética da Aurora Dourada, estabelecendo um desserviço a Tradição Esotérica Ocidental. Um exame acurado sobre as teorias estabelecidas por essas organizações revela verdadeiras anomalias e uma falta de compreensão absurda sobre os cakras.

Nos dias de hoje existe muito material a disposição, no entanto, a grande maioria dos livros escritos no Ocidente sobre o tema cakras ainda continua perpetuando as desin- formações disseminadas por essas duas organizações. Por outro lado, o Oriente vem pro- duzindo material seguro nessa área e as escrituras que nos dias de Crowley quase eram impossíveis de serem encontradas, agora abundam em traduções, o que nos permite ter um vislumbre mais amplo do assunto. Portanto, eu sempre aconselho aos meus alunos da A∴A∴ a procurarem a fonte original desses estudos, ou seja, os śāstras do tantrismo.

Ao elaborar o sistema de iniciação da A∴A∴, Aleister Crowley se debruçou ampla-

mente sobre o Yoga, produzindo pérolas do misticismo thelêmico nas instruções da Or- dem. No entanto, parece que ele deu pouca atenção à doutrina dos cakras, deixando a car- go da Ordo Templi Orientis, O.T.O., a produção do material necessário à instrução dos membros. Os primeiros Graus da O.T.O. operam enfaticamente com os ṣaṭ -cakras, mas infelizmente até os dias de hoje estamos a espera que a Ordem nos apresente instruções

precisas sobre como manipular e direcionar as energias dos cakras. Até lá, ofereço esse pequeno opúsculo de meditação a comunidade de thelemitas do Brasil.

Os Mistérios de Babalon têm sido guardados a Sete Chaves, pois Sete são suas Chaves ou as Chaves de seu Palácio. Das divindades que configuram no panteão thelêmico, Babalon é a mais arredia: não é mencionada em O Livro da Lei; embora ali se fale da sacerdotisa como sendo a Mulher Escarlate.

Babalon é um aspecto particular de Nuit. O verso 22 do primeiro capítulo d’O Livro da Lei nos fala que no futuro o Profeta conheceria o nome secreto de Nuit. Este nome se- creto é a pronúncia correta de Babalon que ele recebeu enquanto trabalhava com o 12°  Aethyr . Antes disto, ele utilizava a forma bíblica Babylon. Babalon soma 156 e para Cro- wley esta numeração representa a copulação ou samādhi constante com toda a coisa vi- vente. Ele ainda A considerava como sendo equivalente (e não mero complemento) ao deus Pã e essa não é uma ideia isolada; ela também registra presença nos escritos de Par- sons.

O termo Mulher Escarlate é encontrado em O Livro das Revelações ou Apocalipse: a mulher vestida com púrpura e escarlate, e adornada de ouro [...] tinha na mão um cálice cheio de abominações; são as impurezas de sua prostituição (Apocalipse – Capítulo 17).

Essa menção à Mulher Escarlate levou Crowley ao nome de Babilônia, que ele retifi- cou para Babalon (o Portal do Sol), conforme lemos no parágrafo em epígrafe. Em com- plemento a essa inter-relação, no Capítulo 49 de O Livro das Mentiras, Crowley descreve quais seriam as Sete Cabeças da Besta sobre a prostituta estaria montada:

Sete são as cabeças da Besta sobre a qual Ela monta. A cabeça de um Anjo; a cabeça de um Santo; a cabeça de um Poeta; a cabeça de uma Mulher Adúltera; a cabeça de um Homem de Valor; a cabeça de um Sátiro e a cabeça de um Leão-Serpente.

Para os thelemitas, de um modo geral, Babalon configura uma energia de cunho sexual e de caráter mágico. Babalon é um  Arcano Arcanorum muito profundo que o próprio Cro- wley, no 11° Capítulo de Magick , diz que os mistérios Dela só seriam transmitidos particu- larmente a seus diletos pupilos.

Ela sempre foi conhecida, embora por outros nomes: Grande Mãe, Diana, Ishtar, Kālī, Lilith, Inana, Deméter, Ísis, Afrodite e Hécate; mas independentemente do nome que A chamarmos, ela sempre será a expressão livre e irrestrita de nossa própria natureza sexu- al-mágica.

Babalon em O Livro de Thoth, Atu XI: Luxúria, é a abundante Fonte de Vida do Uni- verso. Este arcano corresponde ao caminho entre Chesed e Geburah, fonte das energias da Corrente 93, insinuando uma das faces do Novo Aeon que é a capacidade de trazer à tona

instintos primitivos para serem incorporados, de forma consciente, à nossa estrutura psí- quica. Conforme O Livro de Thoth ressalta: Existe nesta carta uma embriaguez ou êxtase – a Volúpia, que é outro nome que se dá a esse arcano.

Um dos Arcanos que envolve Babalon é sua força libertadora do cárcere sexual pre- dominante no Velho Aeon. Nas palavras de Crowley:  A Mulher Escarlate, a Grande Puta, basicamente representa um conceito feminino: o conceito de liberdade sexual e de ação e  poder da mulher, oprimida no Aeon de Osíris e soberana do Aeon de Ísis. A característica de liberdade não é feminista e sim de igualdade ao homem. Isto é muito importante e deve ser compreendido sem que reste quaisquer dúvidas. A mulher tem os mesmos direitos dos ho- mens, mesmo em relação ao sexo.

Eu venho insistindo na similaridade entre a tradição de Thelema e o Tantra. O Culto de Śakti-Babalon na fórmula da Mulher Escarlate ilustra o fato. Embora o Tantra seja mui- tas vezes confundido com sexo no Ocidente, a fórmula da Mulher Escarlate não tem apenas conotações sexuais – embora elas existam, como demonstrado acima. Antes – assim como na cultura tântrica – a fórmula se refere a uma atitude diferente em relação ao mundo, a vida, ao dia-a-dia.

Tradicionalmente, a Mulher Escarlate é ilustrada na forma de uma prostituta que simbolicamente permite tudo e todos em si mesma. A contraimagem da Mulher Escarlate é a mulher casta que se fecha e não permite nenhum tipo de contato íntimo com nada ao seu redor. Nos Comentário d’O Livro da Lei  (III:55), Crowley observa que O inimigo é esse fe- chamento em relação as coisas. Fechar a Porta é uma prevenção quanto a Operação da Mu- dança, i.e. o Amor [...]. Este «fechamento» é hediondo, a imagem da morte. É o oposto do Ir, que é Deus. Como a imagem da Operação de Mudança, a prostituta abraça a tudo e todos sem distinção, na medida em que a mulher casta é a imagem da estagnação e separação entre todas as coisas. Nesse caminho, a mulher casta também é a imagem do ego que se recusa a ceder sua suposta realeza clamando ser o Rei da Montanha. O Rei da Montanha é o que nós chamamos de Sagrado Anjo Guardião e o ego, seu ministro no mundo, embora ele pense ser o próprio Rei. Da mesma maneira que a mulher casta se fecha para não ter relações íntimas com os outros, o ego se fecha em si mesmo para não ceder lugar ao ver- dadeiro Rei, o Sagrado Anjo Guardião.

A fórmula da Mulher Escarlate ou o Culto de Śakti-babalon é a fórmula tântrica, quer dizer, aceitar o mundo como ele é, sem recusar nada, crescendo a partir da assimilação de todas as coisas. No Velho Aeon a mulher casta era exaltada, pois a castidade era tida como uma virtude. No Novo Aeon a prostituta é exaltada em virtude, pois ela é um símbolo de crescimento e mudança. É o apego ao Velho Aeon que macula sua imagem, associando sensualidade e promiscuidade a uma atitude pecaminosa. No Livro das Mentiras (cap. 4), Crowley diz: [...] é um conselho para aceitar todas as impressões, é a fórmula da Mulher Es- carlate; mas não se deve permitir dominar-se por impressão alguma, apenas frutificar-se; como o artista que, vendo um objeto, não o reverencia, mas produz uma obra-prima a partir dele. Este processo é mostrado como um aspecto da Grande Obra.

Em Liber A’ash (28) é dito: Todas as coisas são sagradas a mim. E no Comentário Dje- ridensis (I:51) Crowley observa: Eu insisto para que você tome cuidado com o orgulho de espírito, do pensamento a respeito de qualquer coisa como sendo pecaminosa ou impura. Faça com que todas as coisa lhe sirvam na sua Magia [causando mudança em conformidade com sua Vontade] como armas. Portanto, o Culto de Śakti-babalon é a fórmula do abraço ao mundo, aceitando tudo sem distinção de impuro ou profano. Os Eremitas de Thelema não desistem ou se afastam do mundo ou vêm as coisas como mundanas ou não-espirituais. Ao contrario, cada Thelemita se encontra imerso no Céu, como uma Estrela entre as Estrelas. No AL vel Legis (II:24) encontramos: Eis aí! estes são graves mistérios. Pois existem, além disso, meus amigos que são eremitas. Atualmente não pense encontrá-los na floresta ou sobre a montanha; mas em camas de púrpura, acariciados por suntuosas bestas de mulheres com

 grossos membros, e fogo e luz em seus olhos, e volumes de cabelos flamejantes sobre eles; lá vós devereis encontrá-los. Vós devereis vê-los no governo, em exércitos vitoriosos, em todo modo o prazer; e deverão estar neles um prazer um milhão de vezes maior do que isto. Acau- telai-vos a fim de que algum não force um outro; Rei contra Rei! Amai-vos uns aos outros com corações ardentes; sobre os homens submissos, desprezai-os na feroz luxúria de vosso orgulho, no dia de vossa cólera.»

No Novo Aeon não consideramos o Mundo como uma prisão ou um vale de lágrimas, mas um Templo onde o sacramento da Vida pode ser promulgado; o corpo não é conside- rado corrupto e impuro, mas um Ornamento puro para expressão da Energia; o sexo não é considerado pecaminoso, mas um misterioso canal de poder e a imagem da natureza exta- siante de todas as Experiências de Vida, Amor, Luz e Liberdade. Existência é puro prazer  (AL II:9).

Devido ao estilo de vida tóxico da atual civilização globalizada, tem sido cada vez mais difícil para as mulheres terem acesso a vox-babalonis, o empoderamento da Śakti- Babalon. Aliado a isso, o sistema thelêmico têm dado pouca ou quase nenhuma atenção aos Mistérios de Babalon. Esse projeto, Śakti-Babalon: Magia Tāntrika Thelêmica,  é uma tentativa de corrigir essa ponta solta. No Colegiado da Luz Hermética, cada associada a partir do Grau de Neófito empreende um sādhanā que culmina no Grau de Filósofo. Trata- se da construção do Templum-Babalonis. Nesse processo, a subida na Árvore da Vida pelas mulheres é distinta da subida dos homens, que têm de construir o Santuário da Besta. Nes- te curso, Frater ON120 e sua Mulher Escarlate, Soror Miah, apresentam alguns dos Misté- rios de Babalon contidos no Templum-Babalonis. A intenção neste curso é oferecer um pro- grama através do qual cada mulher possa invocar o poder da Deusa Babalon e entroná-la no Palácio da Alma.

O Colegiado da Luz Hermética  é a Ordem Externa da SETh, Sociedade de Estudos Thelêmicos. Representa o Seis primeiros Graus da Ordem. A SETh foi estabelecida a Serviço da A∴A∴, constituindo um Colegiado Iniciático

formulado para prover treinamento aos Candidatos que aspiram Iniciação na A∴A∴. O trabalho é individual, mas

é dada a opção de trabalho coletivo e a formação de Grupos de Estudo, Santuários e Templos.

H O M E M D A T E R R A

No documento 2017 - Informativo Corrente 93 No. 8 (páginas 40-44)

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