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O curso de Pedagogia foi escolhido para a realização da pesquisa cujos resultados são discutidos nos capítulos seguintes. Nesta seção são apresentadas, de forma sucinta, algumas das características desse curso, incluindo um breve histórico de sua criação e o perfil de seu alunado no país.

O curso de pedagogia foi criado no Brasil como conseqüência da preocupação com o preparo de docentes para a escola secundária. Surgiu junto com as licenciaturas, instituídas ao ser organizada a antiga Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, pelo Decreto-lei no 1190 de 1939. Essa faculdade visava à dupla função de formar bacharéis e licenciados para várias áreas, entre elas, a área pedagógica, em que as disciplinas de natureza pedagógica, cuja duração prevista era de um ano, estavam justapostas às disciplinas de conteúdo, com duração de três anos. Formava-se então o bacharel nos primeiros três anos do curso e, posteriormente, concluído o curso de didática, era conferido o diploma de licenciado no grupo de disciplinas que compunham o curso de bacharelado (Scheibe & Aguiar, 1999).

O curso de pedagogia perdurou até 1969, quando foi reorganizado, sendo então abolida a distinção entre bacharelado e licenciatura, e criadas as “habilitações”, como as de supervisão escolar e orientação educacional. A partir de 2006 foram aprovadas novas diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, extinguindo as habilitações e criando um curso com formação mais ampla e diversificada.

As diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação – CNE, indicam que o curso de Pedagogia aplica-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos de ensino médio, na modalidade normal, e em cursos de educação profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (CNE,2006).

Em 2006, existiam no país 1.562 cursos de Pedagogia, sendo que destes 56% estavam na rede privada. Foram oferecidas 156.914 vagas para o curso de pedagogia em todas as IES, mas apenas 76.381 estudantes ingressaram no curso (INEP, 2008). O curso é, ainda, o terceiro em número de matrículas no setor privado, ficando atrás somente dos cursos de Administração e Direito.

O perfil dos estudantes do curso de Pedagogia se distancia em alguns aspectos dos estudantes da educação superior. Dados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE, aplicado aos estudantes de Pedagogia em 2005, mostram algumas características desse alunado. Em relação ao sexo, a maioria dos estudantes é mulher. Apenas 7% dos estudantes são do sexo masculino. Quanto à idade, a média dos ingressantes é de 28,5 anos, idade bem superior à faixa etária para o cálculo da escolarização bruta (18 a 24 anos). A média de idade dos concluintes é de 33,1 anos. Esta média mostra também que muitos dos estudantes do curso não são recém-egressos do ensino médio e estão já inseridos no mercado de trabalho, sendo que a grande maioria, 81%, declarou que já possuía uma ocupação remunerada.

A hierarquização das carreiras dentro das instituições de ensino superior, como já discutido, é reconhecida por alguns autores que apontam a existência de cursos com menor e maior prestígio social e “cursos de pobres” e “cursos de ricos”. O curso de Pedagogia é classificado no primeiro grupo (Sampaio et al). Dados do ENADE de 2005 confirmam essa classificação, se forem considerados a renda familiar e a escola freqüentada no ensino médio. Em relação à renda familiar mensal, entre os ingressantes deste curso, 46% possuem renda familiar de até 3 salários mínimos. O mesmo percentual (46%) apresenta-se também na faixa de renda entre 3 e 10 salários mínimos, no entanto essa igualdade desaparece quando se considera a renda dos concluintes. Entre os estudantes concluintes, 41% possuem renda de até 3 salários mínimos e 50% possuem renda familiar entre 3 e 10 salários mínimos. Apenas 0,4% dos ingressantes encontra-se na última faixa de renda, ou seja, possui renda familiar de mais de 30 salários mínimos. Este perfil econômico dos estudantes é bem diferente entre os de cursos de alto prestígio social. No curso de Direito, por exemplo, entre os concluintes apenas 12% estavam na faixa de renda de até 3 salários mínimos. A maioria dos estudantes deste curso encontrava-se na faixa de renda que varia entre 5 e 10 salários mínimos. Na última faixa de renda encontravam-se 8% dos concluintes de Direito em 2006.

Quanto ao tipo de escola freqüentada no ensino médio, pública ou privada, a maioria dos estudantes de Pedagogia estudou em escola pública. Entre os ingressantes, a freqüência de alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas é de 72% e entre os concluintes é de 70%. O índice de discentes ingressantes que cursaram todo o ensino médio em escolas privadas é de apenas 13%. Já no curso de Direito, a maioria dos concluintes, 45%, estudou todo o ensino médio em escola particular. Quanto ao aspecto

racial, 59% dos graduandos em Pedagogia se declararam brancos, 31% pardos e apenas 8% se declararam negros, características parecidas com as do curso de Direito, no qual a grande maioria se declarou branco e apenas 5% se declararam negros (INEP, 2005; INEP,2006).

O relatório do ENADE de 2005 apresenta, ainda, a dimensão “nível socioeconômico”, elaborada com onze questões como renda, escolaridade dos pais, conhecimento de línguas estrangeiras, inserção dos estudantes no mundo do trabalho e a carga horária dedicada a atividades laborais. Em uma escala que varia de 0 a 4 o nível socioeconômico dos ingressantes foi de 1,6 e dos concluintes foi de 1,4. Considerando o tipo de IES freqüentada, verifica-se que a maior média (1,8) foi observada entre os alunos das instituições federais e a menor (1,5), nas estaduais. Nas IES privadas a média de nível socioeconômico foi de 1,6. No entanto, quando se considera a média dos concluintes, a média dos estudantes das instituições federais, cai para 1,3 e a maior média,1,5, estão nas IES estaduais e privadas. No curso de Ciência da Computação a média da dimensão nível socioeconômico dos estudantes das IES federais é de 2,6 e das privadas é 2,2, portanto, acima das médias observadas no curso de Pedagogia.

II - Objetivos e metodologia

Este capítulo discute os objetivos da pesquisa que foi desenvolvida, bem como o percurso metodológico que se fez para atingir tais objetivos. Na parte inicial são abordados os objetivos gerais e específicos da pesquisa. São apresentadas, também, algumas questões ilustrativas dos objetivos traçados. A segunda parte, destinada à discussão da metodologia, está dividida em três tópicos. O primeiro tópico aborda algumas questões acerca da realização das entrevistas. Inicialmente trata-se a escolha dos entrevistados e, posteriormente, é feita uma breve discussão sobre o trabalho de campo. No segundo tópico são discutidas questões relacionadas à aplicação dos questionários, como a população de estudo, o critério de seleção das IES e a realização do trabalho de campo. No terceiro tópico as variáveis são definidas operacionalmente, discutindo-se como algumas geraram novas variáveis em relação as variáveis constantes dos questionários.

Objetivos

A presente pesquisa teve como objetivos gerais identificar e analisar as percepções de estudantes de IES do Distrito Federal em relação ao ProUni, enquanto instrumento de política pública que pretende democratizar o acesso a este nível de ensino, além de conhecer traços das origens do programa.

Os objetivos específicos foram identificar e analisar percepções de estudantes quanto ao ProUni, como pretendido instrumento de democratização do acesso à educação superior e como instrumento de permanência de estudantes de baixa renda na educação superior, considerando o nível socioeconômico dos estudantes pesquisados e comparando bolsistas do ProUni com não bolsistas de IES particulares e da UnB.

Outro objetivo específico da pesquisa era conhecer as origens do programa, desde sua concepção até a implementação.

Algumas questões ilustrativas dos objetivos, referidas a estudantes de Pedagogia de IES do DF, bolsistas do ProUni e não bolsistas, são:

- Como os estudantes percebem o programa como pretendido instrumento de ampliação do acesso: eles julgam que o programa contribui para democratizar o acesso ao