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Um dos argumentos utilizados por quem é desfavorável ao ProUni é que ele surge, principalmente, para beneficiar o setor privado, seja para diminuir a alta taxa de ociosidade, seja para aumentar o número de ingressantes e, conseqüentemente, da receita da instituição por meio das mensalidades das bolsas parciais. Para Carvalho (2006a), o aumento de vagas ociosas, no setor privado, combinado com a procura pelo ensino superior por parte da população de baixa renda, levou à criação do ProUni que, no dizer da autora, estatiza vagas nas instituições particulares em troca da renúncia fiscal. Segundo ela entende, o programa surge em benefício das instituições particulares que se encontravam em situação de risco financeiro, agravado pelos números da evasão e inadimplência. Argumentando em outro sentido, J. Martins (2006) entende que o ProUni “é uma medida elogiável, por ser socialmente benéfica e por representar uma solução possível, em face das restrições financeiras do setor público”. Este mesmo autor defende o programa argumentando que “o governo exerceu a arte do possível ao aproveitar toda uma infra-estrutura que já está montada, ocupando vagas em investimentos que já foram feitos nas instituições privadas”.

Outro aspecto do programa é que ele privilegia as instituições não-beneficentes. Para Carvalho (2006a) as instituições mais favorecidas tendem a ser as não-beneficentes, por gozarem de isenções fiscais com regras mais flexíveis. As beneficentes não teriam grande vantagem ao aderir ao programa, pois já gozavam de parte das isenções que o ProUni veio estabelecer. O Ministério da Educação admite que muitas instituições declaradas beneficentes ou filantrópicas não cumprem os requisitos de filantropia e acabarão por alterar seu regime jurídico para privadas com fins lucrativos. Prevendo este fato, na Exposição de Motivos (2004) foram propostos procedimentos para essa migração entre regimes jurídicos e o prazo para pagamento da quota patronal à previdência social. Para o MEC, essa troca

seria positiva, pois aumentaria a arrecadação de alguns tributos que tais instituições, como beneficentes, são isentas. Entretanto, para Almeida (2006), ao se transformarem em instituições com fins lucrativos, as IES beneficentes vão reter todo o patrimônio acumulado ao longo do tempo em que gozaram de diversas isenções. Compartilhando da mesma idéia, Cunha (2007) entende que nessa migração, as IES beneficentes levarão consigo o capital acumulado, com base em financiamentos de agências governamentais a juros privilegiados. O mesmo autor resume afirmando que trata-se de doação de capital público para o privado. Para o governo, no entanto, as isenções fiscais servirão para fazer com que muitas IES filantrópicas forneçam, de fato, a contrapartida dessas isenções para a sociedade, neste caso, por meio das bolsas do ProUni.

Outro argumento comumente utilizado por quem se posiciona contrário ao ProUni é que ele garante aos estudantes de baixa renda o acesso a instituições de qualidade questionável. Para Carvalho (2006a), o programa foi uma medida economicamente viável para o governo, porém academicamente o investimento no setor público seria mais adequado para se promover uma democratização do acesso ao ensino superior com qualidade. Ainda para a mesma autora, a criação do ProUni como forma de democratizar o acesso ao ensino superior traz benefícios a um número reduzidos de alunos que têm acesso ao ensino superior particular de qualidade, pois muitos estudantes recebem bolsas em instituições de pouca qualidade acadêmica. Notícia veiculada por jornal (O Estado de São

Paulo, 2009) informa que 23% das IES que participam do ProUni têm notas baixas

(conceitos 1 e 2) em avaliação realizada pelo INEP. O jornal analisou dados do Índice Geral de Cursos (IGC) - anunciado pela primeira vez em setembro de 2008 e que permite comparar o desempenho das instituições. No entanto, os dados completos da avaliação realizada pelo INEP, mostram que, no conjunto das IES privadas avaliadas, 27% obtiveram notas baixas (conceitos nas faixas 1 e 2) (INEP, 2009). Tais dados indicam que a proporção das instituições que tiveram resultados fracos é maior entre o conjunto de todas as IES do que entre o conjunto das IES que ofertam o ProUni. Estes resultados, portanto, não são desfavoráveis ao programa.

Outro ponto recorrente nos discursos daqueles que são contrários ao ProUni é a questão da permanência do estudante na educação superior. Na visão de alguns autores, o ProUni promove apenas uma política de acesso e não de permanência, pois estudantes de baixa renda não teriam condições de manter as despesas de um curso superior, aumentando, conseqüentemente a evasão na educação superior (Cattani et al, 2006). A

questão da permanência torna-se ainda mais crítica para os estudantes que recebem bolsas parciais, pois aqueles que não conseguirem arcar com as despesas das mensalidades não terão condições de prosseguir no curso até sua conclusão. Ainda utilizando a questão da permanência, muitas instituições privadas, em especial as faculdades isoladas, não possuem a estrutura que a universidade pública oferece para estudantes de baixa renda, como biblioteca pública, restaurante universitário e moradia estudantil. No intuito de resolver ou amenizar o problema da permanência no curso, o governo criou a bolsa permanência, já mencionada neste trabalho. No intuito de resolver ou amenizar o problema da permanência no curso, o governo criou a bolsa permanência, já mencionada neste trabalho. No entanto, esta bolsa atinge apenas um pequeno percentual dos bolsistas do programa, não se constituindo em uma política que resolverá essa questão para a maioria dos jovens de baixa renda participantes do programa. Outra medida adotada pelo governo foi o convênio firmado com o banco Caixa Econômica Federal que reserva vagas de estágio para alunos bolsistas do programa6. No entanto, o percentual de estudantes atendidos por essas medidas ainda é

pequeno em relação ao total de estudantes que necessitariam de auxílio, considerando que o público-alvo do programa é formado por jovens de baixa renda. Considerando o problema dos bolsistas parciais, o governo, a partir de 2008, expandiu o Fundo de Financiamento aos Estudantes do Ensino Superior – FIES a estes bolsistas.

Para os defensores do programa, ele tem o potencial de promover a democratização do acesso à educação superior. Segundo os autores que são a favor do ProUni, ele propicia que a educação superior tenha um alcance muito maior, englobando também jovens da classe média e da classe trabalhadora, diminuindo o seu caráter elitista que esteve presente durante toda a história do país (J. Martins, 2006). Para Schwartzman (2006), o aumento no número de matrículas da população de baixa renda no setor privado pode ser um resultado do ProUni. No entanto, para o mesmo autor a classificação da renda utilizada no programa (um salário mínimo e meio) faz com que não esteja sendo incorporada no programa a população de renda efetivamente mais baixa. Ainda sobre o papel de democratizar o acesso à educação superior, para o Ministério da Educação, o ProUni tem como preocupação

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O banco Caixa Econômica Federal, em seu quadro de estagiários, reservou vagas exclusivas para os bolsistas do ProUni. A Caixa oferece dois tipos de bolsa. Para estágio de quatro horas diárias, de segunda a sexta-feira, R$ 465; e para cinco horas diárias, R$ 581. Alunos matriculados em cursos com duração de três a três anos e meio podem fazer estágio a partir do terceiro semestre; aqueles que fazem curso com quatro anos ou mais, a partir do quinto semestre. O estágio tem duração de um a dois anos, mas o aluno com deficiência pode ficar até a conclusão do curso.

exatamente democratizar o acesso à universidade, além de regular as entidades beneficentes de assistência social (MEC, 2004).

Percebe-se que não existe consenso quanto a esse programa, envolvendo discussões sobre a qualidade das instituições privadas participantes do programa e sobre o ônus do mesmo aos cofres públicos. O interesse dessa pesquisa é conhecer o que pensam parte dos interessados nesse debate, conforme explicitado no capítulo destinado à discussão dos objetivos e metodologia.