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Cursos Superiores em Turismo e a Estrutura Profissional do Sector

CAPÍTULO 3 – ENSINO SUPERIOR EM TURISMO

3.4. Ensino Superior em Turismo no caso Português

3.4.4. Cursos Superiores em Turismo e a Estrutura Profissional do Sector

À semelhança da relativa existência do turismo enquanto objecto de estudo principal de cursos de nível superior, diga-se que também as carreiras nesta área são um fenómeno comparativamente recente. Apesar de se reconhecerem profissões características da indústria hoteleira e turística desde algum tempo a esta parte, a sua transformação e desenvolvimento para uma carreira33 no turismo é uma concepção inovadora. Segundo Ayres (2006), o ambiente no qual se desenvolve uma carreira, nomeadamente em turismo, apresenta desafios e alternativas que não se colocavam num passado não muito longínquo, no qual o objectivo crucial se alinhava directamente com uma expectativa de emprego para a vida inteira.

No âmbito nacional, Silva (1999, p. 51) assinala importantes alterações no mercado de trabalho ao nível do turismo, das quais destaca “a recentragem das competências de base; a redução do nível técnico de tarefas operacionais em alguns sub-ramos turísticos; a elevação do nível técnico e da especialização empresarial e de organização turística; a criação de novos perfis profissionais para responder às necessidades e preferências dos turistas”.

A celeridade das transformações que marcam as sociedades actuais, sequiosas de se afirmarem pelo conhecimento, pela inovação, pela informação e pela excelência, repercute-se nas exigências prementes dos vários sectores económicos de se fortificarem com uma mão-de-obra qualificada, com perfis profissionais adaptados às reais necessidades do mercado, promovendo-se a exigência de saberes e competências às quais os profissionais do turismo não escapam.

Um olhar pela presente dinâmica dos mercados, bem como pela volubilidade oriunda da forte concorrência que se faz sentir no sector turístico (Costa et al., 2004), permite realçar, entre outros aspectos, a necessidade impreterível de uma actualização contínua ao nível da formação que permita aos profissionais do sector adaptar-se às tendências

33 Adoptemos aqui a noção de carreira enunciada por Greenhaus e Callanan (1994) que a entendem como

“a dynamic process in which individuals gather information on their own likes, dislikes, strengths, weaknesses, and on the world of work; develop realistic career goals; develop and implement strategies to achieve these goals; and obtain feedback to promote career decision making”.

Capítulo 3 – Ensino Superior em Turismo

86 decorrentes das novas realidades. Fruto desta dinâmica orientada para uma competitividade intransigente, que combina e subleva pressões comerciais, legislativas, éticas e ambientais, podemos encontrar diferentes problemáticas que importa não esquecer e precaver relacionadas com o encorajamento do uso de mão-de-obra barata que não se compatibilizam com um serviço e produtividade de qualidade.

Reforçam esta ideia Chang & Hsu (2010, p. 102) ao afirmarem que o ensino superior “must be flexible and adaptable to provide qualified industrial talent”, por forma a que o fosso entre as IES e a indústria turística se esvaneça, evitando o desperdício de recursos humanos e educativos.

Apesar de tendencialmente pessimista no que toca a projecções futuras do desenvolvimento qualitativo do turismo, no seu estudo acerca dos recursos humanos neste sector, importa sublinhar algumas das ideias avançadas por Baum (2007, p. 1396) que problematiza o facto de se reconhecer que o acesso facilitado “to low cost migrant labour, both legal and illegal, permits many tourism businesses to sidestep this trend and ignore issues of productivity, skills development and general workplace enhancement”. Esta realidade tem, no seu ponto de vista, permitido que muitas sociedades marginalizem os empregos no turismo em termos de benefícios e estatutos atribuídos, atrasando acções de reforma e de modernização do sector no que respeita às suas práticas laborais, e abrindo espaço para que um contraste acentuado entre grandes companhias multinacionais, que contemplam e apostam em recursos humanos qualificados, e pequenas e médias empresas do turismo se tenha acentuado (Idem, p. 1384).

Todavia, a veracidade destes factos não poderá distorcer e invalidar a importância de projectos como o PENT, no contexto nacional português que é o que interessa a este estudo, e que enfatizam e investem na área da qualificação dos recursos humanos como forma de fazer face ao desenvolvimento sustentado de um sector deveras relevante para o crescimento económico do país. Deverá ainda incentivar, por parte das empresas, uma monitorização eficiente das novas propensões do sector turístico estimulando, fomentando e promovendo intelectualmente todos os elementos que compõem o seu tecido empresarial para que esta actuação estruturada permita um acompanhamento e adaptação proactivos às realidades emergentes do sector.

Capítulo 3 – Ensino Superior em Turismo

87 A par deste esforço, há que saber lidar com a extrema diversidade da actividade turística que origina um mercado laboral complexo do qual decorrem competências profissionais muito distintas e amplas necessidades formativas (cf. ANECA, 2004).

A estrutura profissional do sector do turismo congrega diferentes actividades que se podem distribuir por grandes áreas funcionais, como pudemos observar na Tabela 2.3 do Capítulo 2 que visou delimitar o sector do emprego na actividade turística, e que podem enumerar-se da seguinte forma: Concepção, Gestão e/ou Direcção Técnica, Prestação de Serviços Turísticos e ainda, Prestação de Serviços Técnicos Especializados.

De uma forma geral, as áreas de actividade core do sector são o alojamento, a restauração e a animação num primeiro patamar e a distribuição, os transportes, a gestão de eventos e a administração local e central num segundo nível. A evolução dos empregos e a necessidade de competências específicas para perfis profissionais que já não se revêem nas profissões consideradas tradicionais no turismo reflecte-se na formação a nível de ensino superior dos recursos humanos que devem ser preparados para lidar com a diversificação da oferta dos produtos turísticos, motivações dos turistas, questões ambientais, entre outras.

A oferta formativa que vimos sistematizada nas 3.1 e 3.2, quando comparada com as necessidades do sector, segundo as áreas funcionais pelas quais se distribuem as diferentes profissões no turismo, demonstram uma diversificação considerável, sendo que, e segundo um estudo do Instituto para a Qualidade na Formação, de uma forma genérica se poderia intervir ao nível da reorganização desta oferta actuando da seguinte forma: (a) trabalhando para uma homogeneização e transparência da oferta formativa para o turismo, concedendo uma maior transparência e legibilidade da vocação dos cursos; (b) procurando racionalizar esta oferta articulando-a com o desenvolvimento regional; (c) promovendo a formação de forma articulada e integrada; (d) revendo e inovando as metodologias de formação para o sector do turismo; (e) aproximando o espaço educacional ao mercado de emprego; (f) apostando no desenvolvimento de novas competências de acordo com as novas tendências emergentes; (g) formando e especializando docentes na área do turismo; (h) promovendo a dignificação das

Capítulo 3 – Ensino Superior em Turismo

88 profissões do turismo, valorizando e mediatizando socialmente a sua imagem (IQF, 2005, p. 177-181).

A projecção do saber académico no sector do turístico, como se depreende, caberá fundamentalmente às IES que deverão demonstrar possuir capacidades e virtualidades suficientes para assegurar aos seus consumidores imediatos, os estudantes/diplomados da área do Turismo, um amplo processo de formação que os transforme em peças fundamentais na consolidação qualitativa do sector a que se destinam e, por outro lado, revelar-se-lhes útil no decorrer da sua vida activa fazendo com que “the period of education will expand to one‟s working life” (Srikanthan, 2000, p. 2; Barr & Griffiths, 2007).

Na verdade, são especialmente problemáticas e relevantes, para um país pequeno como o nosso, realidades que denotam uma elevada taxa de diplomados desempregados34, elevadas taxas de insucesso escolar, sistemas de avaliação de desempenho das IES pouco rigorosos, uma débil ligação que amiúde se verifica entre ensino e investigação científica e tecnológica, e as incompatibilidades entre a lógica organizativa dos cursos pouco orientada para as necessidades reais do mercado, entre outros (Simão et al., 2003).

Mormente, a utilização avultada de recursos públicos que se utilizam na educação em Portugal (Idem) justificam a preocupação e o interesse pela área do turismo no ensino superior e pelo fenómeno da qualificação e inserção dos recursos humanos no sector turístico e pela compatibilização das suas competências com o sector turístico resultando num processo de simbiose no que respeita à interface educação-indústria.

Dá-se assim por concluído este último ponto do terceiro capítulo que, após uma análise específica dos conceitos de Turismo e de Educação e da sua evolução, procedeu à contextualização e reflexão sobre o fenómeno turístico enquanto área educativa e

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Um estudo da autoria de Núñez & Livanos (2010 , p. 476) demonstra que esta situação não é exclusiva de Portugal. Na verdade, os resultados avançados apontam para um acréscimo significativo no número de desempregados com formação superior. Como os autores sublinham: “the rapid expansion of higher education has produced na unprecedented number of high skilled workers whose employment prospects have become more uncertain than used to be a few decades ago”.

Capítulo 3 – Ensino Superior em Turismo

89 curricular e interacção estabelecida entre o universo educacional e a estrutura profissional do sector.

Proceder-se-á seguidamente ao estudo do conceito de satisfação do consumidor por forma a enquadrar o modelo que servirá este estudo, na medida em que permitirá analisar o entendimento dos diplomados em turismo do serviço prestado pelas IES, enquanto principais utilizadores do mesmo.

Capítulo 4 – Satisfação do Consumidor: Conceitos e Mensuração

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CAPÍTULO 4 – SATISFAÇÃO DO CONSUMIDOR: CONCEITOS E