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Empregabilidade e Qualidade no Ensino Superior: Recomendações de Bolonha

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5.5. Empregabilidade e Qualidade no Ensino Superior: Recomendações de Bolonha

A empregabilidade enquanto indicador de qualidade tem sido já objecto de reflexão de alguns estudos e conta já com uma realidade prática substancial, por ser um tema que marca a actualidade da investigação quando se intenta analisar os laços que se estabelecem entre mercado de trabalho, IES e qualidade (Knight, 2001; Hinchliffe, 2006; Schomburg & Teichler, 2006; Chiandotto & Bacci, 2007).

O Processo de Bolonha é presentemente parte integrante do ensino superior europeu e, como oportunamente pudemos analisar (Capítulo 3), o mesmo representa mudanças profundas que se implementaram nos sistemas de ensino superior dos diferentes países

Capítulo 5 – Qualidade e Empregabilidade no Ensino Superior

145 essencialmente ao nível da estrutura dos graus, da organização de planos de estudos e das metodologias de ensino-aprendizagem.

Ganha destaque o novo paradigma do sistema de créditos que, assumindo relevância em diferentes aspectos que estruturam esta transformação, aponta ainda para mudanças ao nível das metodologias de aprendizagem, que se querem mais activas e participativas, promovendo o desenvolvimento de competências específicas da profissão aliadas a capacidades de intercomunicação; integração em equipa; capacidades de liderança; inovação e adaptação à mudança (MCTES, 2005).

Tendo Bolonha como pano de fundo, enfatizam-se conceitos como competitividade, capital humano e empregabilidade, absorvidos progressivamente pelas IES que não “pretendem oferecer aos estudantes simplesmente um sistema de formação/educação, mas antes um leque de aprendizagens e um conjunto de competências que permitem mais facilidade na sua inserção no mercado de trabalho (…), com a enorme vantagem competitiva de uma acrescida qualificação intelectual e cultural, associada ao desenvolvimento das capacidades de iniciativa, adaptação, flexibilidade e comunicação” (Saraiva et al., 2008, p. 46).

Visa-se, assim, a criação de um Espaço Europeu do Ensino Superior que se caracterize como competitivo, coeso e atractivo para docentes e alunos europeus e de países terceiros, no qual a promoção da sua mobilidade seja uma constante, bem como a sua empregabilidade.

O diploma obtido por conclusão do primeiro ciclo de estudos deve mostrar-se relevante para o mercado de trabalho europeu enquanto nível de qualificação, fornecendo ao diplomado condições de empregabilidade num contexto de globalização, minimizando disparidades que provinham do confronto entre sistemas de ensino, qualificações académicas e competências profissionais, agora em convergência devido à coordenação das políticas educativas a nível europeu.

A formulação de um objectivo para o ensino superior directamente ligado à empregabilidade surge assim justificado segundo diferentes perspectivas que,

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146 interligadas, representam um avanço para uma dimensão de “sustainable employability” (Kohler, 2004).

Pode, desde logo, referir-se uma perspectiva formal resultante de uma leitura directa das directrizes de Bolonha que, reiteradamente, colocam na empregabilidade ao nível do mercado de trabalho europeu um foco significativo enquanto motor de desenvolvimento futuro de um espaço comum de ensino superior. Ao nível político, constata-se um desagrado da sociedade em financiar o ensino superior sem que este se mostre deveras relevante para o mercado de trabalho e justificável do ponto de vista da prosperidade. Não se poderá descurar uma faceta directa da empregabilidade que se prende com o facto dos estudantes, entre muitas outras coisas, verem na frequência do ensino superior um elo de ligação para a esfera profissional. Outra perspectiva será a institucional, que equaciona a criação de um espaço europeu do ensino superior como um ganho para as necessidades da sociedade, no geral, e dos estudantes, em particular, enquanto elo de ligação para um conceito de “entrepreneurial university” (Idem, p. 5).

É na sequência da introdução e desenvolvimento das directrizes de Bolonha tendo em vista a questão da qualidade e da empregabilidade dos diplomados do ensino superior, que surgem sobre esta alçada projectos de investigação europeus que se encaixam no quadro estratégico de avaliação e mensuração destes conceitos como o são, a título de exemplo, o estudo “From Higher Education to Employment” (OECD, 1993) e o projecto CHEERS – Careers after Higher Education: a European Research Study (CHEERS, 2000).

Muito sucintamente e numa lógica cronológica, digamos que o estudo da responsabilidade da OECD surge enquanto documento comprovativo das diferentes ligações passíveis de estabelecer entre o ensino superior e o mercado de emprego das sociedades industrializadas com base em informação estatística e inquéritos de larga escala, indicando, entre muitos outros aspectos, a necessidade de se identificarem novas ocupações emergentes, novas combinações de competências e de qualificações numa estrutura ocupacional em transformação (OECD, 1993).

O projecto CHEERS combina informação fornecida por 3000 diplomados do ensino superior por cada um dos nove países europeus que integraram o estudo, no período que

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147 dista os anos de 1998 e 2000. Por meio de questionário, os inquiridos forneceram informação acerca dos elos de ligação entre ensino superior e mercado de emprego, quatro anos passados da conclusão dos seus estudos. Nesta investigação relativa ao percurso profissional dos diplomados do ensino superior, os mesmos foram indagados acerca do seu perfil socio-biográfico, percurso académico, transição do ensino superior para o mercado de trabalho, satisfação com o emprego e sobre a sua visão retrospectiva da sua experiência ao nível do ensino superior.

O estudo possibilitou, entre muitas outras coisas, delinear uma abordagem das conexões entre ensino superior e mercado de trabalho nos diferentes países europeus em foco, admitindo analisar-se comparativamente elementos relacionados com a distribuição dos diplomados de acordo com as condições de emprego, sectores económicos de inserção e progresso na carreira. Permitiu, para além disso, consolidar uma base de questões relativas a condições específicas de emprego que estudos vindouros não podem ignorar e que se prendem com “new work tasks”, “composition and hierarchy of job roles”, “new flexible ways of employment” e “the greater shortage of paid employment opportunities” (Schomburg & Teichler, 2006, p. 12) (CHEERS, 2000).

As questões da empregabilidade adquirem, então, uma nova visibilidade com a Declaração de Bolonha, sendo que desta resulta um alinhamento de políticas nacionais com vista à definição de instrumentos que facilitem e promovam a empregabilidade e a mobilidade dos cidadãos, melhorando a competitividade internacional do ensino superior europeu. O aluno deve terminar os seus estudos possuindo não uma garantia de emprego mas um “património de conhecimentos, competências, valores e atitudes face ao mundo do trabalho que permitam um melhor desempenho na profissão que se eleger e/ou construir (…), [sendo] portanto no posicionamento pessoal face à transição para o mercado de trabalho, na capacidade proactiva necessária ao desenvolvimento do individuo e na construção da profissão que se deve centrar o trabalho e as preocupações das instituições universitárias” (Gonçalves et al., 2006, p. 112) [itálico dos autores].

Está assim traçado o cenário que abraça as directrizes de Bolonha no que respeita às relações entre os sistemas de ensino superior, a qualidade e a empregabilidade. Na panóplia de critérios proposta para a avaliação da qualidade das IES, acentua-se a importância de nestas se promover uma estratégia de obtenção e análise de dados

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148 relativos ao seu funcionamento (programas de estudos e restantes actividades) para que se encontrem aspectos menos positivos que careçam de intervenção, boas práticas e resultados provenientes de rotinas inovadoras. Serão assim de considerar: taxas de progresso e sucesso dos estudantes; a empregabilidade dos diplomados; a satisfação dos estudantes em relação ao curso frequentado, entre outros.

O sucesso do desempenho de cada instituição resultará em parte da sua capacidade de reunir este tipo de informação e com ela enfrentar os desafios da garantia da qualidade interna e externa. No que toca à empregabilidade, há que imbuir na sua cultura institucional uma perspectiva que considere o conceito como algo fundamental na preparação dos seus formandos para a sua integração no mercado de trabalho europeu (ENQA, 2005).