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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.8 Teoria da agência e a estrutura de capital

2.8.1 Custos de agência

Uma das formas de conflito descritas pala teoria da agência é oriunda do conflito entre acionistas e credores que, além dos conflitos de agência geram os custos de agência, que surgem, normalmente, no momento em que credores e investidores não concordam totalmente sobre a melhor estratégia a ser adotada para uma empresa e, conseqüentemente, os efeitos dessa estratégia para o valor da firma.

Basicamente, esse conflito surge porque cada um deles tem visões distintas sobre o fluxo de caixa gerado pela empresa. Pode-se explicar essas visões distintas considerando que os investidores em ações ou capital próprio, com direitos residuais sobre os fluxos de caixa, tendem a apoiar ações que aumentam o valor de seus investimentos, mesmo se isto significar um aumento do risco de que os portadores

de títulos (que têm direito fixo sobre os fluxos de caixa) não recebam seus pagamentos.

Segundo Damodaran (2002, p 248), é possível verificar que os credores querem preservar e aumentar a segurança de seus direitos. Normalmente, os detentores das ações controlam a administração e a tomada de decisões da empresa e seus interesses podem se sobrepor aos interesses dos credores, a não ser que estes tomem alguma medida para se proteger. Ao tomar recursos emprestados, uma empresa se expõe a esse tipo de conflito e às suas conseqüências negativas, perdendo um pouco de liberdade na tomada de decisões.

Nesse contexto, em uma situação de stress total, os acionistas controladores da empresa poderiam, simplesmente, direcionar os fluxos de caixa da empresa que seriam destinados aos credores para projetos de investimento que aumentassem o valor da sua ação no mercado mesmo que, para isso, os credores sejam sacrificados no momento de recebimento destes fluxos de caixa. Devido a esses fatos, os credores devem se preocupar com atos que tenham como objetivo principal minimizar esse risco e a sua exposição e ele (gerando custos de agência para a empresa).

Com relação aos custos de agência, é possível descrever três atitudes, relacionadas a política de investimentos, que podem ser adotadas pelos acionistas para prejudicar, ou simplesmente não beneficiar, os seus credores. Entretanto, essas atitudes geram custos (os de agência) e reduzem o valor da empresa como um todo. As estratégias descritas por Ross et al (1995, p. 328) são as seguintes:

i) incentivo a assumir riscos elevados, ou seja, quando uma empresa está em um processo de falência iminente ou muito próxima da falência, as mesmas tendem a assumir riscos mais elevados do que normalmente assumiriam pelo simples fato de estarem usando capital (dinheiro) de terceiros (outros);

ii) incentivo ao sub-investimento, quando uma empresa encontra-se em processo falimentar, os acionistas percebem que novos investimentos

beneficiam os credores ao invés de beneficiar os acionistas, visto que em caso efetivo de falência o fluxo de caixa livre do novo investimento pertencerá ao credor e não ao investidor (que envidará esforços para concretizá-lo); e

iii) esvaziamento da propriedade (empresa), onde os acionistas optam por pagar dividendos altíssimos ou então optam por uma estratégia de devolução de capital para os acionistas, através de pagamentos em espécie ou através de qualquer outro bem ou direito. Dessa forma, caso a empresa seja entregue aos credores, será entregue uma empresa vazia pois os ativos que tinham algum valor já foram retirados.

As estratégias i e ii acima deixam claro que as estratégias de investimentos são diferentes para uma empresa que apresenta dívida e para outra empresa que não apresenta dívida e que utilizaria capital de terceiros. Portanto, pode-se perceber que a política de endividamento define e influencia a política de investimento de uma empresa. Ross, et al, (1995, p 330) afirmam que: "enquanto uma empresa sem dívidas sempre escolherá projetos com valor presente líquido positivo, a empresa que tem dívidas poderá afastar-se de tal política". As políticas de investimento egoísta descritas acima podem ser observadas em empresas que estão em processo falimentar ou que a falência torna-se eminente.

Entretanto, é notável que todo esse processo tem um custo que é refletido, por exemplo, no aumento das taxas de juros cobradas pelos credores, que são pagas pelos próprios acionistas (esse procedimento faz com que os acionistas arquem com os custos das suas próprias estratégias egoístas de investimentos que, originalmente, foram desenvolvidas para que ele, o acionista, obtivesse vantagens sobre o credor).

Cabe destacar, ainda, que conflitos de interesse ou conflitos de agência entre acionistas e credores podem impor aos acionistas uma perda na flexibilidade de suas ações. Os portadores dos títulos, credores, podem tentar se proteger incluindo nos contratos cláusulas extremamente rígidas de controle, reduzindo a flexibilidade e limitando as ações dos acionistas ao que é permitido nos contratos.

Estes contratos tendem a definir ou delimitar as decisões sobre investimentos, financiamentos e dividendos.

Em parte isso explica porque as empresas definidas como financeiramente saudáveis optam por não utilizar todo a sua capacidade de endividamento (mesmo que, eventualmente, a utilização de dívida possa reduzir o seu custo médio de capital) pois os administradores ficariam atados a um contrato que poderiam interferir na sua gestão.

As empresas tendem a dar valor a essa flexibilidade, não tomando todo o capital de terceiros que poderiam tomar devido a dois fatores básicos:

i) o valor da empresa pode ser maximizado se a empresa tem flexibilidade para investir em projetos futuros e definir em quais projetos investir quando os mesmos surgirem; e

ii) garantir ao administrador maior espaço para tomada de decisões pois o aumento de controles a que a empresa é submetida aumenta à medida que o nível de endividamento se eleva.

Como citado por Jensen e Meckling (1976), custos de agências são custos tão reais como qualquer outro custo, sendo que o nível do custo de agência depende, de algumas variáveis entre elas da legislação e até do comportamento social do ser humano. Conforme o aprimoramento das leis e das relações entre empresa, indivíduo e sociedade, os custos de agência tendem a ser minimizados.

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