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3. Impacto económico dos Custos relacionados com Eventos Adversos

3.3 Custos em saúde

Na teoria económica considera-se que os agentes de mercado têm habitualmente um comportamento racional, o que significa que no processo de tomada de decisão se ponderam os custos e os benefícios esperados da decisão tomada, decidindo, em função do custo de oportunidade. No dia a dia, utilizamos a relação entre preço e custo, expresso em unidades monetárias, para tomar as nossas decisões. Sendo que, também na saúde os recursos são escassos e finitos e as necessidades crescentes, pelas razões anteriormente referidas, têm também os decisores, financiadores, gestores, prestadores e utentes, que diariamente tomar decisões e fazer escolhas que representam custos de oportunidade. A determinação dos custos de serviços prestados é uma das áreas a que a economia da saúde também se dedica. Em economia, os custos totais, resultam da multiplicação das quantidades (consumo) de um determinado recurso (q), pelo respectivo valor unitário ou preço (p). Assim o primeiro passo para determinar o custo de um serviço/cuidado ou programa de saúde, é a identificação e quantificação dos recursos necessários para a sua efectivação. Os custos envolvidos na prestação dos cuidados de saúde podem ser subdivididos em custos directos relacionados com os serviços de saúde, custos directos não externos ao sistema de saúde e custos indirectos. Para o caso em estudo não abordaremos os custos intangíveis. Drummond et al., (2005) consideram que os custos intangíveis não são verdadeiros custos, na medida em que pela característica desses custos, não existem recursos que fiquem indisponíveis para outros fins.

Os custos directos

Os custos directos relacionados com os serviços de saúde, correspondem aos custos com os cuidados hospitalares (internamento e urgências), custos com consultas, medicamentos, com meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT`s), com dispositivos médicos e com reabilitação, entre outros. Nestes custos deveremos englobar não apenas os custos associados à prestação inicial do cuidado/tratamento prestado, mas também os que possam vir a ocorrer no futuro como resultado do tratamento inicial (a título de exemplo, refiram-se as consultas posteriores resultantes do surgimento de efeitos secundários do tratamento inicial). Para efeitos do presente trabalho iremos focar-nos na utilização dos recursos hospitalares e especialmente nos custos associados ao aumento da demora média de internamento, medicação,consuníveis e MCDT´s, matéria que será aprofundada mais à

51 frente, pois são aqueles que de acordo com a literatura consultada são mais facilmente determináveis e relacionáveis com a ocorrência de EAs em meio hospitalar. Nessa medida a principal fonte de dados são os processos clínicos e as bases de dados existentes, nomeadamente as dos grupos diagnósticos homogéneos (GDH).

Custos directos externos aos serviços de saúde

Estes custos referem-se a despesas em que incorrem os utentes e familiares e dizem respeito a custos com transportes, com despesas relacionadas com modificações na habitação, por exemplo para circulação da cadeira de rodas, e com os serviços sociais. Incluem-se também nos custos directos externos aqueles que resultam da quantificação das despesas com as deslocações aos locais de prestação de cuidados e os relacionados com o tempo despendido pelo doente e seus familiares na prestação de cuidados ao doentes no domicilio (Drummnod et al., 2005). De acordo com o mesmo autor, podem ainda ter um peso significativo na determinação destes custos as despesas com lares, com voluntariado e com medicinas alternativas. A melhor forma de identificar estes custos é através da realização de inquéritos aos doentes.

Custos indirectos

De acordo com Sculpher (2001), a identificação dos custos indirectos em saúde pretende reconhecer que o tempo de um indivíduo é um recurso limitado com custos de oportunidade associados. Assim os custos indirectos estão directamente relacionados com a medição da produtividade perdida por causa da doença do paciente, consubstanciada em níveis inferiores de produtividade resultantes de alteração no estado de saúde do doente, comparativamente com situações em que o indivíduo não estava doente; de salários perdidos por morte prematura ou tempo ausente do trabalho por motivo de doença ou ainda relacionados com o tempo de lazer sacrificado por causa da doença, ou o tempo despendido na recuperação e convalescença (Gold et al., 1996). Neste âmbito deverá também ser considerado o tempo perdido por familiares, por exemplo, em visitas hospitalares. A não consideração dos custos indirectos referidos significa, de acordo com Pritchard e Sculpher (2000), que não se valoriza o tempo dos doentes. Os custos indirectos, nomeadamente no que diz respeito à produtividade e morbilidade são difíceis de medir, sendo a metodologia mais fidedigna a realização de inquéritos aos doentes, onde se procura conhecer o número de dias perdidos por motivo de doença e/ou o número de dias em que houve limitações no desempenho da sua actividade. No que diz respeito aos custos indirectos associados à produtividade económica perdida devido à mortalidade prematura, a

52 metodologia a seguir envolve o cálculo de anos de vida perdidos. De qualquer modo e embora relevantes para efeitos deste trabalho, não iremos considerar os custos indirectos, devido à elevada complexidade na sua determinação e ao facto do foco deste trabalho não incidir sobre esse tipo de custos, à semelhança do que acontece na literatura consultada. Na análise dos custos, de um modo geral, deveremos considerar os benefícios que pretendemos avaliar, medidos em benefícios para o doente, prestador, financiador ou para a sociedade em geral. Desse modo se queremos avaliar resultados em saúde, temos de calcular o custo de efectividade, o custo de utilidade e o custo benefício. Os custos directos fazem sempre parte do cálculo dos diversos tipos de custo, sendo que os custos indirectos só fazem obrigatoriamente parte do cálculo do custo benefício.

Em saúde para a determinação dos custos, existem outras fontes de informação, como as constantes no processo clínico dos doentes, que embora contenham informação relevante, têm algumas limitações já anteriormente referidas, nomeadamente as relacionadas com a qualidade da informação constante do processo clínico.Também os painéis de peritos, nomeadamente médicos, são importante fonte de informação, bem como outras bases de dados existentes, como a base de dados dos Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH´s).