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V. I NTERAÇÃO ENTRE ATORES NA REGULAÇÃO POR CONTRATO : ARCABOUÇO CONCEITUAL

2. Custos de transação

Custos de transação são os custos referentes aos processos de determinação do preço de um bem, de negociação sobre a transação desse bem e de monitoramento e aplicação dos termos do que foi negociado (EISNER, WORSHAM e RINGQUIST, 2000: 9).

A noção de custos de transação foi inicialmente proposta por COASE (1937). Apesar de não utilizar esse termo, o autor constata que alguns fatores, tais como quantidade de interações e instabilidade das contratações de longo prazo, fazem com que o mecanismo de preços, tido tradicionalmente como o instrumento por excelência de coordenação das relações econômicas, sejam preteridos em favor de mecanismos de controle interno. COASE identifica, assim, que utilizar o mecanismo de preço no mercado possui um custo (1937: 390), sendo essa a principal razão pela qual, em determinadas situações, as pessoas organizam-se

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Foram analisadas 89 concessões na área de saneamento, 24 delas celebradas no Brasil.

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GÓMEZ-IBÁÑEZ (2003: 88) descreve o dilema enfrentado quando o governo se depara com a inadequação do contrato e a necessidade de renegociar. Simplesmente assumir o serviço não é uma alternativa viável, tendo em vista as mesmas restrições orçamentárias que o levaram a buscar investimentos por meio da contratação de um parceiro privado. Realizar um novo processo de licitação é custoso, além de haver o risco de interrupção do serviço e a necessidade de indenizar a concessionária. A renegociação surge, então, como a menos pior das alternativas. No entanto, como na regulação por contrato a competitividade do processo licitatório é que confere uma certa confiança na integridade dos termos do contrato, a renegociação tende a abalar a credibilidade na idoneidade de suas novas disposições.

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Essa abordagem foi desenvolvida por autores da chamada economia da informação e neo-institucionalismo da escolha racional. Para uma revisão bibliográfica sobre essas linhas teóricas e suas abordagens de políticas públicas, v. MARQUES (1997b).

em firmas na promoção de suas atividades econômicas. Em outras palavras, as firmas justificam-se como formas de minimizar os custos de transação, internalizando-os de modo a diminuir a exposição ao oportunismo de outros agentes. Isto porque, na presença de custos de transação elevados, a coordenação e controle da atividade por meio de mecanismos internos de comando, característicos das firmas, podem ser mais vantajosos do que os processos de transação no mercado (BROMLEY, 1982: 840).

O trabalho de COASE enfatiza, portanto, que a noção clássica de mercado baseia- se em premissas nem sempre existentes na realidade, tais como a difusão de informação entre os agentes, a possibilidade de punição do desvio de comportamento e viabilidade de substituição de uma das partes. Ainda que se aceite a premissa de racionalidade das ações dos agentes no mercado, essa racionalidade somente poderia ser corretamente exercida em uma situação em que todos os agentes possuíssem as informações necessárias para a tomada de decisão. Não é o que acontece na prática. As informações nem sempre estão disponíveis para todos os atores e a custo zero. E informação limitada significa racionalidade também limitada. Portanto, na busca de um resultado eficiente, os agentes normalmente devem despender esforços para a obtenção da melhor informação possível, com base na qual possam tomar suas decisões, incorrendo, assim, nos chamados custos de transação100. Conseqüentemente, quanto menores os custos de transação, mais provável que o mercado ofereça uma solução mais adequada. E quanto maiores esses custos, maiores os riscos de que as transações no mercado não sejam eficientes.

Segundo WILLIAMSON (1996: 59), os principais fatores que determinam os custos de transação envolvidos em uma determinada situação são (i) grau e tipo de incerteza a que esteja sujeita; (ii) freqüência das transações e (iii) condição de especificidade de ativos. Assim, os custos de transação tendem a aumentar na medida em que o objeto da transação seja mais complexo, o que exige expertise por parte dos atores, quer para estabelecer os termos do acordo, quer para acompanhar sua implementação. Em outras palavras, quanto mais difícil for a definição e a descrição do objeto, maior o custo de transação envolvido. Maiores são também os custos de transação quando as informações relevantes, tais como custo e qualidade do produto e histórico de comportamento do fornecedor, não sejam facilmente acessíveis. Nesse sentido, à proporção que as transações entre dois agentes sejam mais freqüentes, cria-se uma familiaridade com o produto e com a parte contrária, o que tende

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Conforme SCLAR (2000: 97) ressalta, mesmo tomando medidas para coleta de informação, os atores podem acabar em uma posição menos vantajosa em razão de informações equivocadas, ou mesmo por não saber utilizar a informação que possuem.

a diminuir os custos incorridos. Ademais, quanto maior for o número de atores e de espaços de interação, mais transações serão firmadas, cada qual com seu próprio custo101. Por fim, ao criar uma situação de vinculação entre as partes e a atividade102, a especificidade de ativos impede que as partes encontrem soluções rápidas e pouco custosas caso os termos acordados são sejam observados.

Depreende-se, então, que, apesar de não estarem restritos aos contratos incompletos, os custos de transação tendem a ser especialmente altos nesses casos. Conforme observa WILLIAMSON, ainda que a noção de custos de transação aponte para a inviabilidade de um contrato perfeito, já que demonstra que o exercício da racionalidade é limitado, ela apresenta uma perspectiva mais otimista ao salientar que é possível olhar adiante e trazer para o desenho contratual soluções mais adequadas. Desta forma, conclui o autor: “limited but intended ralionality is translated into incomplete but farsighted contracting” (WILLIAMSON, 1996: 9).