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Quarta Fase: “débâcle” e término, que cobre os anos iniciais da década de 1990 (a partir da presidência de Paulo Afonso Pereira), até a aprovação, pelo congresso

No documento LIVRO 2015 A NORMA DO NOVO @@ (páginas 46-81)

nacional, do TRIPs, em 1994, e a aprovação definitiva da Lei 9279/96 , em 1996, a atual lei da propriedade industrial brasileira em vigor.

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D) um quarto conjunto bibliográfico, bastante recente em termos históricos, começou a ser delineado por volta da década de 1970, e diz respeito aos estudos, trabalhos e livros sobre informações técnicas (ou tecnológicas bibliográficas) contidas nos próprios documentos de patentes. É como se o próprio documento de patente se tematizasse.

O trabalho de Friedrich-Karl Beier e Joseph Straus, The Patent System and its

Information Function - Yesterday and Today, publicado em 1977, pode ser

considerado, neste sentido, um marco nas reflexões sobre a função informacional dos documentos de patentes. Merece destaque, igualmente, o artigo de Edmund Kitch, The

Nature and Function of the Patent System, de 1977.

Neste conjunto, a patente em si objetifica-se e se reifica como tema de reflexão, no interior dos debates clássicos do sistema de patentes (conjuntos bibliográficos A, B e C supra).

Dezenas de artigos, livros, e até mesmo publicações periódicas já delimitam este conjunto como um espaço bibliográfico específico de entendimento, como por exemplo a World Patent Information – The International Journal for Patent

Documentation, Classification and Statistics, da Pergamon Press.

Este movimento de transformar o instrumento de proteção jurídica clássica (a patente) em fonte de informação tecnológica possuiu desdobramentos importantes na concepção e no desenvolvimento deste trabalho e desta tese; pois foi, de fato, a partir desta objetificação do documento de patente, desta tematização, desta reflexão no verdadeiro sentido da palavra, que se pode especular, então, sobre as potencialidades

cognitivas (gnosiológicas) e os limites das informações técnicas contidas nos

documentos de patentes.

A tematização recente da patente como potencialidade informacional abriu um vasto campo ainda não devidamente explorado na literatura.

Não podemos negar que uma já ampla tratadística sobre as potencialidades cognitivas dos desenhos e das informações figurativas existe e é amplamente divulgada e estudada nos campos da Arte e da Comunicação: (Manfredo Massironi, 1982; Rudolf Arnheim, 1986, 1969, 1954; Jacques Bertin, 1977; Pierre Francastel, 1983, 1965, 1951; James Gibson, 1950; Ernst Gombrich, 1959; Erwin Panofsky, 1927, 1955; Hermerén Goran, 1969; Gaetano Kanisza, 1980, e tantos outros).

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Entretanto, até o momento, esta união dos aspectos cognitivos dos desenhos, traçados e elaborados figurativos do campo e do estudo da Arte e da Comunicação com as potencialidades cognitivas das descrições figurativas e verbais/didascálicas dos documentos de patentes de invenção não está apresentada e nem sequer formulada publicamente. Esta questão é também objeto de significativa reflexão no interior deste livro, até porque, conforme veremos com detalhes, um dos aspectos centrais e de grande complexidade analítica é precisamente a possível descritibilidade plena (inclusive figurativa como suporte do disclosure) dos objetos tecnocientíficos que estão sendo trazidos para a proteção patentária e/ou intelectual: os resultados das recombinações genéticas, dos programas de computador e sistemas informacionais, circuitos microeletrônicos, etc. [O capítulo 11/II deste trabalho busca fazer as primeiras reflexões sobre uma específica Semiótica das Patentes].

Esta tematização genérica, nesta tese, de pensar a patente como objeto de informação técnica (suas potencialidades e suas limitações, especialmente figurativas) proveio igualmente de minhas experiências profissionais (adicionais) no INPI, especificamente na assessoria da presidência de Mauro Fernando Arruda, entre os anos 1986 – 1989. Além da paulatina flexibilização das normas que regulamentavam as análises dos contratos de transferência de tecnologia para o Brasil, uma das principais estratégias da gestão de Mauro Arruda, em função das imensas pressões políticas (internas e externas) decorrentes da estrutura do “ciclo da Lei 5772”, e das modificações políticas nacionais e internacionais dos anos de sua gestão, foi enfatizar a importância das informações tecnológicas contidas nos documentos de patentes. Não existem dúvidas de que Mauro Arruda tentou, e eu diria com relativo sucesso, dar uma “guinada” e um “foco” técnico em sua gestão. A minha participação nesta estratégia (e na própria execução da mesma) foi evidente. Juntamente com Cláudio Treiguer (que coordenou o CEDIN durante toda a gestão de Mauro Arruda, e outras), montamos o programa PROFINT (programa de fornecimento automático de informações tecnológicas patenteadas para certas empresas nacionais), e criei e implantei o PROATEC (programa de acompanhamento do estado da técnica – patenteada – em certos setores da economia). Este programa (PROATEC) gerou os primeiros estudos setoriais, no Brasil, com utilização de informações patenteadas. E estes primeiros estudos, publicados e divulgados pelo INPI, serviram de estímulo, acredito eu, para todos os demais estudos sobre utilização de informações patenteadas, no Brasil, até hoje.

Esta “prioridade técnica” da gestão de Mauro Arruda pode ser identificada, também, pelo projeto e execução de uma Revista “de estudos” sobre propriedade industrial e

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comércio de tecnologia, revista esta que tomou o título de “Panorama da Tecnologia”, com alguns números publicados e divulgados.

Seguem, abaixo, as capas dos primeiros estudos publicados pelo INPI (e no Brasil) sobre a evolução tecnológica de certos setores industriais através de informações tecnológicas e bibliográficas patenteadas, de minha autoria e coordenação. Estes estudos foram empreendidos utilizando-se uma metodologia totalmente original (por mim desenvolvida), que pode ser encontrada no primeiro estudo publicado: “O Estado

da Técnica no Setor de Mensuração e Instrumentação Científica”, de junho de 1986.

Primeiro estudo publicado no Brasil sobre evolução técnica utilizando-se documentos de patentes

Desde a sua origem, o INPI trabalhou sistematicamente na construção de um “Banco de Patentes”, banco este que pudesse servir a vários propósitos, além do objetivo óbvio e direto de suporte para as análises das patentes depositadas no país, e o treinamento dos próprios engenheiros da diretoria de Patentes. Os grandes responsáveis pela construção do Banco de Patentes do INPI (em papel), e do próprio CEDIN – Centro de Documentação e Informação Tecnológica, foram Thomaz Thedim Lobo, e especialmente Roberto Gastão Coaracy. Vale lembrar que os computadores praticamente não existiam, e a internet menos ainda. As buscas de anterioridade de patentes – em todo o mundo – eram empreendidas em “papel”, e alguns anos depois em “microfichas”, como por exemplo, o importante arquivo de informações (em microfichas) do INPADOC – International Patent Documentation, um dos principais

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do mundo à época. Apenas para relatar uma curiosidade histórica, o primeiro computador do INPI, um ITAUTEC XT i7000 com impressora matricial, foi comprado por mim, e colocado em minha sala na assessoria da presidência, no 18o. andar (Praça Mauá, 7), para onde algumas pessoas curiosas dirigiam-se para ver e apreciar aquelas duas “engenhocas interessantes”, movidas por softwares pioneiros como o dBase, o WordStar, etc., e com “sistema operacional” DOS (Foi o único computador do INPI durante muitos meses).

O primeiro computador do INPI (Itautec i7000) floppy disk de 5 ¼ (180/360 KB)

E) E finalmente, um quinto conjunto bibliográfico, que congrega o amplo e atualíssimo debate sobre a influência das características das novíssimas tecnologias e sua virtual proteção intelectual reclamada pelos inovadores, seja no interior dos ordenamentos normativos tradicionais de propriedade intelectual (o direito patentário ou o direito autoral e de Copyright), seja no estabelecimento de um novo ordenamento jurídico-formal sui generis que acolha estes novos inventos e suas peculiaridades sinedóquicas, sistêmicas, complexas, etc. Aqui, encontramos diversos autores que buscam estudar os limites e as possibilidades do uso das regras tradicionais do direto de propriedade intelectual à luz das formas extremamente justapostas e imbricadas das

novas tecnologias.

Quase todos os autores vinculados ao tema da propriedade intelectual (advogados, economistas, engenheiros, etc.) encontram-se envolvidos com a geração de trabalhos, textos e livros que buscam clarear minimamente as possibilidades concretas de se proteger estas novíssimas técnicas com os mecanismos e os dispositivos tradicionais

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do direito patentário ou do direito autoral e de Copyright. A bibliografia já é extremamente vasta e profusa, com dezenas de títulos e artigos já impressos e publicados. Poderíamos citar, apenas como exemplos importantes neste conjunto, os livros de André Lucas (1975), Robert Vanderperre (1967), J.P. e Françoise Chamoux (1978, 1985); François Magnin (1971); Eugen Ulmer (1980); Ejan Mackaay (1982); Pierre Catala (1983); Henri Delahaie (1983); James MacDonnel (1983); e ainda J.E. Schettl, J.Rulle, O.Otorvund, G.Garzon, W.Kilian, P.Leclerq, etc.

Propriedade Industrial e Modernidade (A originalidade e a Unicidade desta Tese) ▲

Até o presente momento, supor e afirmar-se que o sistema de patentes de invenção, que surge de maneira relativamente estável no século XV em certas repúblicas italianas (como Florença e Veneza), fruto de um lento e progressivo capítulo das concessões de privilégios e patentes individuais ou coletivas desde o século XII na Europa, e se consolida em 1623 na Inglaterra com o Estatuto dos Monopólios, foi uma decorrência da modernidade, não necessita de maiores especulações e confirmações. A própria constatação cronológica assim o demonstra.

Entretanto, este trabalho buscará demonstrar, adicionalmente, que o direito de patentes de invenção clássico, não somente decorre das profundas transformações filosóficas (culturais), artísticas, políticas, econômicas e sociais da modernidade, como é um dos

direitos fundantes da própria modernidade; é, por assim dizer, o direito norteador dos

profundos movimentos intelectuais, sociais e econômicos no rumo ao Moderno. E mais, como explicado na “Apresentação” deste livro, o sistema das patentes (de invenção, de introdução, etc.) é a síntese normativa ou a síntese institucional do mundo moderno.

Na compreensão (revolucionária) de John Commons e de Thorstein Veblen, por exemplo, trata-se mesmo da instituição fundante e do direito inaugurador do próprio capitalismo, na medida em que o reconhecimento das ideias inventivas (passíveis de utilização industrial) expressas em propriedades (properties), i.e., a ideia da proteção exclusiva dos intangíveis (ou do good-will como um todo), é uma verdadeira revolução institucional (“prévia”), que organizará e deslanchará todo o ciclo da Revolução Industrial de nossa época contemporânea. (V08) (C28)

As categorias normativas orientadoras do direito de propriedade sobre objetos técnicos e ideias inventivas, isto é, os conceitos estatutários como norma legal direcionante do Estado moderno quanto à proteção às invenções e à concessão de patentes, são

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relativamente simples, mas extremamente profundos. Refletem, de forma simples e objetiva, o importante núcleo transformado do universo simbólico da metafísica clássica, para o universo simbólico da filosofia moderna, isto é:

a) a novidade sucessiva como conduta explícita e base da concessão do privilégio ou do direito;

b) a atividade inventiva como reafirmação da obrigatoriedade dos passos absolutos de novidade;

c) a utilidade industrial (a transformação recorrente do ambiente humano metamorfoseado já em puro objeto de manipulação com vistas à construção de um ambiente crescentemente artificial ou de uma segunda Natureza);

d) a descrição clara e objetiva do objeto protegido, isto é, a lógica da identidade e da representação definitivamente confirmada pela superação da leitura analógico

simbólica do período precedente;

e) a temporalidade. O tempo propriamente diacrônico, aliado ao imperativo da

novidade, implicando uma sucessiva destruição criadora no interior tanto dos

processos produtivos, como nas concepções de mundo. Rompe, assim, por princípio, qualquer referência à estabilidade, tanto tecnológica como epistemológica, fundamento da própria desconstrução ética da modernidade (da estabilidade do ethos tradicional);

f) a indicação clara da titularidade do direito (ou do privilégio) para o indivíduo, ou para um indivíduo; indicando o predicado e o valor da subjetividade, ou dos interesses

individuais, no desenvolvimento da (nova) ordem socioeconômica.

Assim, as normas estatutárias expressas nas leis de propriedade industrial, especificamente nas leis patentes de invenção, conforme veremos, compõem uma

perfeita síntese, pronta e fácil de operar na práxis moderna, isto é, gravitada na órbita

do fazer (da poiésis), das posturas e vontades subterrâneas típicas do homem moderno. Refletem ainda, normativamente, como corpo doutrinário de vontade política explícita do Estado moderno, as condutas e os impulsos mais típicos da alma e da filosofia dos

nominales terministae, ou seja, dos modernos, como foram designados a partir dos

séculos XIV e XV.

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veremos, é o principium importans ordinem ad actum da modernidade, isto é, o princípio que rege a ação dos tempos modernos, ou, nas palavras de Karl Jasper (Descartes und die Philosophie, 1948), se o novo é o ímpeto constante na valoração da personalidade original típica da exigência de distinção do homem renascentista que se propaga como predicativo axiológico de toda a modernidade, então o direito patentário é o fundamento normativo do moderno. É a Norma do Novo. E, consequentemente, da modernidade tout court.

Hans Jonas dirá que os séculos XVI e XVII são tempos "pregnant with change (…) A

sign of this spreading mood is the currency of the word new, which from the sixteenth century on we encounter all over Europe (and much early in Italy) as a commendatory epithet." (J06/49)

Na cultura greco-romana, e mesmo em grande parte da Alta Idade Média, a referência ao passado (à tradição, à experiência, etc.) era valorizada como fonte de sabedoria, e um apelo à tradição era o eixo axiológico maior. Os princípios e a gênese eram os fundamentos e as fontes das ações e da dignificação do homem (e da própria sabedoria e do conhecimento):

"Antiquity served as the stamp of confirmation on the value and truth of beliefs about

the nature of things. The source of truth lies with the ancestors who were nearer to the gods and more attuned to the undimmed voice of the world. (...) Rarely before the onset of the modern age is novelty invoked in favor of a venture or a vision”. (J06/49)

Tudo isto se transforma a partir do fim da Idade Média. Um crescente uso de expressões como novo, novidade, inovações, etc., tem lugar no espaço das atividades humanas: nas artes, no pensamento e nas atitudes. Uma verdadeira verbal fashion pela palavra novo dissemina-se pela Europa moderna, dos séculos XII em diante. Um novo espírito revisionista, irreverente e mesmo corajoso transforma o termo novo - anteriormente depreciativo - em um adjetivo respeitoso.

"Respect for the wisdom of the past is replaced by the suspicion of hardened error and

by distrust of inert authority (...)" (J06/50)

Até o advento da modernidade era natural acreditar-se que olhar para o passado era olhar numa perspectiva de grandeza e maturidade. Éramos receptores de uma sabedoria mais antiga. A modernidade, ao contrário, irá afirmar que todo o passado é infantil, e que “o nosso tempo” é a maturidade que nos pertence, numa contradição evidente, pois o impulso para adiante, que se encontra no ventre da modernidade, faz

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com que este “presente maduro” seja precisamente e conscientemente o infantil de amanhã, ou seja, este presente maduro já nasce infantil, em uma lógica de perpétua “destruição e desvalorização”.

O que é interessante e único na ruptura da modernidade é que a ruptura não se apresenta como um evento singular que ocorre “no início”. Em todas as grandes rupturas históricas, a autoridade dos fundadores revolucionários logo era incorporada na nova ortodoxia. Entretanto, "the break at the beginning of the

modern age embodied a principle of innovation in itself which made its constant further occurrence mandatory. (J06/51) Como consequência radical e importante, na modernidade, a relação de cada fase com o próprio passado precedente (igualmente uma revolução) "remained that of critique and overcoming for the

sake of further advance”. Sob o símbolo do progresso permanente, toda a história

se transforma em história crítica, conforme indicou Nietzsche. O

revolucionarismo, assim, é uma espécie de ortodoxia da modernidade, isto é, uma

rotina estabelecida: "It made the revolution permanent, irrespective of whether its

agents were still revolutionaries”. (J06/51)

A busca de uma compreensão mais propriamente filosófica ou compreensiva sobre o tema da propriedade industrial, e especificamente das patentes de invenção, ocorreu- me através de dois grandes universos informacionais completamente distintos entre si: um, eminentemente prático, fruto de experiências a partir de vários encontros e reuniões governamentais internacionais, por cerca de onze anos seguidos, onde tive a oportunidade de presenciar as imensas dificuldades atuais em se adaptar o direito tradicional de patentes de invenção aos novos objetos tecnocientíficos. Uma verdadeira encruzilhada semântica estabeleceu-se na atualidade quanto às possibilidades reais (e minimamente inteligentes) de se designarem as novíssimas tecnologias, base irrenunciável para a determinação precisa dos claims nas patentes, isto é, das propriedades específicas dos titulares das patentes.

A experiência, a vivência concreta nos principais organismos internacionais que lidam com a matéria, e o estudo destas impossibilidades cognitivas conduziram-me à busca e ao estudo de razões mais profundas e claramente filosóficas, isto é, mais

compreensivas, sobre as reais impossibilidades representacionais, cognitivas e

descritivas dos objetos e processos tecnocientíficos que buscam expressões claras nos documentos de patentes (ou nos pedidos / depósitos) sem ferir titularidades anteriores. Este segundo universo informacional (teórico-filosófico, por assim dizer) chegou-me

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inicialmente através de estudos sistemáticos individuais, e também do reencontro - nos cursos de doutorado da COPPE/UFRJ, entre 1991 e 1995 - com amigos / professores que não haviam interrompido suas atividades mais especificamente acadêmicas e filosóficas, conforme indiquei na “Apresentação”.

No início, no campo da Comunicação e da Arte, devo muito às ideias contidas no conhecido e estimulante livro de Michael Foucault, Les Mots et les Choses (1966), e de um livro bastante sugestivo (quase que único sobre o tema até a sua publicação original) de Manfredo Massironi, Vedere con il Disegno (Ver pelo Desenho), de 1982. Impossível deixar de fazer referência, ainda nos primeiros estágios destes meus estudos e especulações, aos livros e às teses de Rudolf Arnheim (1980, 1985), Ernst Gombrich (1959), Umberto Eco (1965, 1968, 1973, 1987), Erwin Panofsky (1955, 1927, 1957, 1939), Pierre Francastel (1951, 1965 1983), Lewis Munford (1952), René Alleau (1976), Ernst Cassirer (1923-29, 1944), e outros (ver Bibliografia).

Em uma segunda etapa, fruto de uma leitura mais direcionada para a colocação do tema no interior do entendimento sobre a transição da metafísica clássica para a filosofia moderna, não posso deixar de fazer referência, em primeiro lugar, a uma parte da erga obra de Henrique de Lima Vaz (S.J.), e de vários outros livros e artigos de autores importantes, como Norman Cohn (1961), Eric Voegelin (1952), Walter Rehfeld (1994), Manfredo Oliveira de Araújo (1989), Alexandre Koyré (1973, 1939), Hannah Arendt (1958), Hans Jonas (1974), Hans Freyer (1955), Ortega y Gasset (1933), Reale/Antiseri (1986), Jacques Ellul (1954, 1977), E.Nasr (1968), Ivan Domingues (1991, 1994), e outros.

No campo especificamente contemporâneo dos problemas concernentes à propriedade intelectual, além da ampla bibliografia corrente (ver bibliografia), busquei incorporar as questões e as teses citadas por dois significativos escritores: André Lucas (1975) e Jean-Pierre Chamoux (1985).

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PARTE I

Sobre a Impossibilidade da Proteção Formal às Invenções e às Ideias Inventivas na Metafísica Clássica (A Antiguidade Greco-Romana e a Cristandade da Alta Idade Média)

“É a inteligência que vê, é a inteligência que escuta – todo o resto é surdo e

cego”. (Epicarmo)

Noesai dè kairòs aristoi (“pois ver – pensar - é o tempo mais excelente”).

Conforme nos ensina Henrique de Lima Vaz, por uma admirável transposição metafórica da língua filosófica grega, o verbo noein, originariamente “ver”, passa a significar “intuir”, contemplar, como ato supremo do conhecimento. (L19/53) Considerações Preliminares ▲

[As razões da referência à cristandade Orígenes-agostiniana em todo este livro, período coberto idêntico ao que a História designa também por Alta Idade Média, serão vistas na Parte II deste trabalho. Referem-se, basicamente, à reinterpretação de Orígenes e de Santo Agostinho quanto à compreensão simbólico-alegórica dos textos bíblicos, e principalmente do Apocalipse e do anúncio de uma segunda vinda do Cristo, vis-à-vis às interpretações literais destes enunciados, bastante comuns entre a população cristã durante séculos]

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Alexandre Koyré, em artigo clássico indaga: por que razão o mecanicismo nasceu no século XVII, e não vinte séculos mais cedo, nomeadamente na Grécia? Por que a ciência grega clássica não podia dar lugar a uma verdadeira tecnologia? Ou ainda, por que a Antiguidade não produziu um Galileu? (K12)

Segundo Koyré, tais fatos simplesmente não ocorreram porque o saber grego não procurou fazê-lo; isto é, não possuíam os gregos clássicos (e nem os medievais da Alta Idade Média) uma intenção consciente para tais objetivos, pois acreditavam que tais questões simplesmente não eram realizáveis.

Fazer física no sentido moderno do termo (e não no sentido atribuído por Aristóteles), significa aplicar ao real as noções rígidas, exatas e precisas das matemáticas, e, antes de tudo, da geometria. Um empreendimento, para os gregos e para os medievais da Alta Idade Média, completamente paradoxal e impensável, pois para eles a realidade, a

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circunstância intramundana na qual vivemos e nos inserimos não é matematizável, nem matemática.

Os gregos antigos (e os medievais da Alta Idade Média) acreditavam que viviam no interior de um espaço mutável, impreciso, contingente, do domínio do mais-ou-menos, do aproximadamente. Assim, entre a matemática e a realidade física existiria um verdadeiro abismo, pois não há na natureza círculos, elipses ou linhas retas.

Assim, para os gregos e os medievais da Alta Idade Média, era impensável querer medir com exatidão as dimensões de um ser natural. Não lhes era admissível que a exatidão fizesse parte do nosso mundo (sublunar). Em contrapartida, admitiam que as coisas se passassem de modo completamente diferente nos céus, com movimentos

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