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Décima e décima primeira gestões (1994-2000)

Zeneide de Souza Pantoja

UMA VISÃO VOLTADA PARA NOVOS DESAFIOS

A história do Conselho Federal de Biblioteconomia está diretamente li- gada aos professores responsáveis pelas bibliotecas à época. Deveu-se ao em- penho valoroso dos professores-bibliotecários, precursores que foram de uma profissão de primordial importância para a sociedade como um todo. O trabalho incansável desses mestres (que não mediram esforços na concretização desse sonho) ressaltava a figura do profissional bibliotecário como suporte na forma- ção educacional, cultural e social do nosso povo. Essa visão futurista resultou na Lei nº 4.084/62 que rege a profissão de Bibliotecário e seus respectivos órgãos fiscalizadores CFB/CRB.

A condição de Presidente do Conselho Regional da 2a. Região-CRB-2, com jurisdição nos estados do Pará, Amapá e Tocantins fez-me compreender a desmo- tivação dos profissionais e as dificuldades dos conselheiros regionais ante as suas responsabilidades. A falta de verba e de apoio do CFB justificava o desencanto. Por ocasião das reuniões anuais do CFB/CRB, dava para observar o distanciamento, apesar de toda dedicação da então presidente do CFB.

Com trabalho temporário em Brasília, solicitei o registro secundário no Conselho Regional CRB-1, cuja jurisdição cobria os estados do Distrito Federal, Goiás, Mato Gros- so e Mato Grosso do Sul, preferindo, de início, manter minhas ligações com o meu Re- gional. Na Câmara Legislativa do Distrito Federal e no Ministério da Justiça, onde exerci minhas atividades profissionais, ampliei meus conhecimentos nas áreas política e so- cial. Na época da eleição para o Conselho Federal, a então presidente Elaine Marinho Faria foi a grande incentivadora da minha candidatura para conselheira federal, sendo eleita a única representante do Norte e Nordeste. Revendo minha trajetória, acho que o acaso levou-me ao cargo de Presidente do CFB da 10ª gestão.

Aconteceu o seguinte: os demais conselheiros eleitos facilitaram minha as- censão ao cargo quando decidiram não se candidatar, assoberbados que estavam com seus afazeres profissionais em suas regiões respectivas, somando-se a isso os contratempos que tinham que enfrentar com os frequentes deslocamentos à Ca- pital Federal, ainda não contemplada à época com uma eficiente rede de trans- porte aéreo como se verifica atualmente. Esses elementos, sem dúvida nenhuma, favoreceram minha candidatura. Residindo em Brasília e com certo embasamen- to político, ousei encarar mais um desafio - próprio da minha natureza irrequieta

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- apresentando a minha proposta de trabalho, que foi aceita pelos conselheiros, transformando-me, assim, em presidente do CFB.

Assumimos o Conselho Federal num momento de grandes e profundas transformações: o mundo vivia a experiência da globalização com reflexos diretos na sociedade brasileira que passou a buscar, naturalmente, diante da nova realida- de contemporânea, melhorias substanciais em consonância com o momento em que vivia e com as perspectivas que se desenhavam. A inversão da pirâmide so- cial exigia, por exemplo, reflexões sobre comportamentos e atitudes. Além disso, a qualidade dos serviços cobrada pelos empregadores, a política do então Gover- no Federal sobre regulamentação das profissões liberais, levou-nos à retomada de posição com o propósito de rever nosso papel como órgão central no cumprimen- to das leis e normas que regem a profissão do Bibliotecário.

Diante desta situação, ao iniciar a 10ª gestão, colocamos em prática o que consideramos nossos grandes desafios: a política de integração entre o CFB e os CRB; e a aproximação do CFB com os três Poderes da República, em nível munici- pal, estadual e federal, objetivando o reconhecimento e a importância do profis- sional bibliotecário através do cumprimento da legislação vigente.

Nas visitas de supervisão aos CRB, que passamos a adotar dentro da nos- sa estratégia de aproximação, sempre fomos maravilhosamente bem recebidos pelos conselheiros e pelos profissionais bibliotecários de todas as regiões, o que facilitou sobremaneira o nosso trabalho. Os resultados foram surpreendentes. Trilhamos caminhos nunca percorridos e a realidade era inacreditável: o descaso com o acervo documental era impressionante; depósitos de livros malcuidados absurdamente chamados de “bibliotecas”; faculdades que buscavam o creden- ciamento junto ao Ministério da Educação com acervos alugados para ludibriar a fiscalização, sendo desmontados imediatamente após a autorização legal para o seu funcionamento, além de universidades com acervos precários, pessoal des- qualificado profissionalmente em trabalho técnico e de gerenciamento. Sem exagero: uma tragédia!

Não era possível aceitar passivamente tal situação. Fazendo valer a nos- sa autoridade, solicitávamos audiência com autoridades constituídas para rever- ter o quadro, sempre acompanhados dos presidentes dos Conselhos Regionais, contando, também, registre-se, com o apoio dos órgãos de imprensa locais. A re- percussão em nosso favor era imediata, refletindo-se num maior respeito à pro- fissão, fato que impulsionou ainda mais o nosso trabalho, especialmente porque passamos a contar também com o apoio dos estudantes universitários. Se exis- tiam aspectos negativos, em compensação, encontramos trabalhos maravilhosos com bibliotecários valorizados, bibliotecas bem equipadas, acervos bem cuidados, além de profissionais treinados e atenciosos. Nas reuniões com os conselheiros fe- derais, relatávamos os acontecimentos e sempre obtivemos o apoio para a conti- nuidade do nosso plano de ação.

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Em nosso trabalho junto aos Três Poderes, vale destacar o apoio volunta- rioso que passamos a contar do ex-governador de Pernambuco, Marco Maciel que, após assumir o Ministério da Educação, passou a admirar abertamente o trabalho do Bibliotecário, defendendo a nossa profissão enquanto Senador da República e mes- mo quando esteve respondendo pelo maior cargo da Nação, ou seja, a Presidência da República, condição em que compareceu a um evento realizado pelo CFB no Ho- tel Nacional, em Brasília, por ocasião da posse da 11ª. gestão do CFB.

A visão de aproximação com associações de classe e escolas de Bibliotecono- mia dos países do Mercosul foi outro grande desafio. Por ocasião da reunião anual da Associação de Bibliotecários Graduados da República da Argentina, em Buenos Aires (ABGRA), onde participamos a convite, apresentamos a proposta de integra- ção entre os países membros, o que resultou na criação da Comissão Integrada de Entidades de Profissionais Bibliotecários do Mercosul (CIBIM).

A CIBIM foi criada com o objetivo de promover a mobilização profissional na região do Mercosul, buscando a regulamentação e da atividade e do exercício pro- fissional em Biblioteconomia nos Estados-parte do Tratado de Assunção. Foram definidos os seguintes temas para estudos: política de informação e legislação pro- fissional, terminologia técnica e tradução, formação profissional contemplando o segmento curricular, em sua formação básica e em programas de educação conti- nuada e, por fim, mercado de trabalho e legislação trabalhista.

A Comissão presidida pelo Brasil, através do CFB, era composta por repre- sentantes da Argentina, Paraguai e Uruguai. Os grupos de estudos trabalharam in- cessantemente e produziram documentos contendo propostas consistentes para cada área. Em tempo, para nossa satisfação pessoal, foi possível constatar que, em termos de desenvolvimento da Biblioteconomia, o Brasil estava à frente dos seus coirmãos.

Internamente, O CFB criou o Grupo Especial de Trabalhos para Assun- tos do Mercosul (GETAM), composto por representantes dos Conselhos Re- gionais, pelo Conselho Federal, por associações de classe, além das escolas especializadas, com o propósito de assessorar o plenário do CFB em relação aos assuntos pertinentes ao Mercosul, ou seja: a) promover a análise da si- tuação legal da Biblioteconomia nos países integrantes e dos demais países da América Latina; b) realizar estudos curriculares comparativos entre leis, regulamentos e mercados de trabalho; e c) contribuir com a regulamentação das atividades de Biblioteconomia em consonância com as diretrizes estabe- lecidas pelo Mercosul.

Podemos concluir, pelos trabalhos realizados no âmbito da CIBIM e do GE- TAM, que foi dado o pontapé inicial para o processo de integração da profissão de bibliotecário na Região, pontapé dado pelo CFB e impulsionado pela parceria com os conselhos, as associações e as entidades de classe. O papel que desempe- nhamos demonstrou, afora de qualquer dúvida, uma capacidade institucional do CFB em atuar na área política em defesa dos interesses da classe sem inclinações

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partidárias. Registre-se, para a história, que, durante a cerimônia da instalação da CIBIM no Brasil, participaram representantes brasileiros do Ministério da Cultura, embaixadores dos Países-membros, políticos de vários partidos, além do vice-pre- sidente da República, Marco Maciel.

A 11ª Gestão do CFB foi a continuidade dos nossos trabalhos ampliados com planos propostos pelos novos conselheiros federais. Procedemos, então, à mudança do regimento interno, criando a figura do vice-presidente, preenchendo, assim, uma lacuna já consagrada pelos conselhos regionais. Foi uma decisão significativa por fa- cilitar a condução dos trabalhos do CFB.

Uma questão que mereceu de todos nós, CFB e CRB, uma atenção especial foi promover a regularidade dos pagamentos das anuidades dos registrados e o consequente envio da cota-parte, evitando-se, assim, os sérios problemas acarre- tados pela constante falta de contribuição pecuniária.

A conselheira federal Sandra Maria Dantas Cabral, CRB-3, com jurisdição no Ceará e Piauí, então tesoureira do CFB, apresentou o trabalho que regulamentou o repasse da cota-parte proporcionando tranquilidade ao CFB e aos CRB, posterior- mente, aperfeiçoado pelas novas gestões. A atuação da Sandra marcou de forma positiva o controle da cota-parte. Faço questão de registrar.

Pessoalmente, quero enfatizar que em todas as funções que ocupei como profissional-bibliotecário, tanto nos órgãos onde desempenhei minhas atividades profissionais, quanto nos conselhos regional e federal, procurei honrar os cargos que assumi, sempre preocupada em devolver à sociedade tudo o que recebi: o curso de Biblioteconomia, pago com os impostos recolhidos de todos os brasilei- ros. Por isso, decidi trabalhar no CBR-2 e no CFB com dedicação e responsabilida- de, não esquecendo o apoio que obtive dos Conselheiros Regionais e Federais sem os quais não teria conseguido o meu objetivo.

Orgulha-me ser uma Bibliotecária-operária; assim, foi possível conhecer mais de perto a realidade brasileira. Admiro e respeito as outras profissões, mas amo a Biblioteconomia. Fizemos o possível, mas gostaria de ter feito muito mais. Só me resta agradecer a oportunidade e o apoio dos conselheiros do CFB 10ª e 11ª gestões. Aqui, um registro especial: ao final da 10ª gestão fui escolhida paranin- fa da turma de bacharéis em Biblioteconomia da Universidade Federal de Brasília, honraria que considero como reconhecimento ao trabalho que todos nós, CFB e CRB, estávamos realizando em prol da nossa profissão.

Hoje, com o avanço das novas tecnologias da informação, cabe-me a certeza da continuidade desta luta por parte dos novos colegas, conselheiros regionais e federais, desejando-lhes sucesso e êxito nos novos empreendimentos, sempre apelando a to- dos que mantenham uma conduta ilibada em defesa, não apenas da nossa profissão, mas desta nossa Pátria que anda tão carente de nós, profissionais da informação!

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Décima segunda gestão