• Nenhum resultado encontrado

Laura Garcia Moreno Russo - O pioneirismo

Promulgada a Lei 4.084/62 (Anexo C), transcorrido todo o processo de elei- ção, a nomeação do presidente do CFB pelo Presidente da República, toma posse a primeira gestão do CFB tendo como presidente, a bibliotecária Laura Garcia More- no Russo, que naquela ocasião também ocupava a presidência da Federação Bra- sileira de Associações de Bibliotecários (Febab).

Observa-se nos registros, que as reuniões da primeira diretoria do CFB co- meçavam à tardinha e se estendiam noite adentro. Todos os assuntos eram anali- sados, a pauta cumprida em sua totalidade, obedecendo a uma dinâmica: abria-se e se separava a correspondência, para exame e resposta; os assuntos administra- tivos e financeiros eram discutidos, analisados e decididos; as Resoluções eram elaboradas, aguardando-se a Reunião Plenária para que fossem aprovadas; o an- teprojeto do Regimento Interno do CFB e o primeiro Código de Ética do Bibliotecá- rio foram elaborados e discutidos, para serem também aprovados na 1ª Reunião Plenária, que aconteceu nos dias 11 a 13 de julho de 1966, na sede do Serviço de Assistência Didática ao Ensino Comercial (SADEC), em São Paulo. Dela partici- param os conselheiros eleitos. Importante observar que dos conselheiros eleitos para a primeira gestão duas eram presidentes de associações de classe: Adélia Lei- te Coelho, presidente da Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal (ABDF) e Lourdes Catharina Gregol, presidente da Associação Riograndense de Bibliotecá- rios (ARB) e ainda, representando, oficialmente a Associação Bibliotecária do Para- ná (ABPr), a conselheira Marcelina Dantas.

Instalada a sessão, imagine-se que com toda a pompa e circunstância, acom- panhadas de uma grande emoção e reverência, o assunto principal discutido foi a denúncia contra a criação do Curso Médio de Assistente de Biblioteca e Arqui- vo, realizado em quatro séries anuais, no Distrito Federal, aprovado pelo Conse- lho de Educação do Distrito Federal. Foi a moção contrária a este curso, a primeira decisão do CFB. Nesta mesma sessão foi aprovado o 1º Regimento Interno do CFB onde constava em suas disposições transitórias, que durante a primeira gestão, a sede do CFB seria em São Paulo. Só a partir da segunda gestão, seria transferi- da para Brasília, para atender o disposto na Lei 4.084/62 (Anexo C). Nesta reunião foram aprovadas ainda a resolução sobre a anuidade e taxas a serem pagas pelos

33

bibliotecários, estudo que resultou da análise das mesmas taxas cobradas por ou- tros conselhos de fiscalização profissional; a resolução sobre a sigla, jurisdição e sede dos Conselhos Regionais, a saber: CRB-1 com sede em Brasília, DF, contem- plava os estados de Goiás, Mato Grosso, Acre e Território de Rondônia e o Distri- to Federal. CRB-2 com sede em Belém (PA), estariam sob sua jurisdição os estados de Pará, Amazonas e os Territórios de Amapá e Roraima. CRB-3, com sede em For- taleza (CE), atenderia os estados de Ceará, Maranhão e Piauí. CRB-4, com sede em Recife (PE), os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Território de Fernando de Noronha. CRB-5, com sede em Salvador (BA), teria sob sua juris- dição os estados de Bahia, Sergipe e Alagoas. CRB-6, com sede em Belo Horizonte (MG) teria somente o estado de Minas Gerais. CRB-7, com sede em na cidade do Rio de Janeiro (RJ), cobriria os estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro de Guana- bara. CRB-8, com sede na cidade de São Paulo (SP), seria composto pelo estado de São Paulo somente. CRB-9, com sede na cidade de Curitiba (PR), teria sob sua ju- risdição, os estados do Paraná e Santa Catarina. CRB-10, com sede em Porto Ale- gre (RS) teria sob sua jurisdição o estado do Rio Grande do Sul.

Os demais Conselhos Regionais foram criados posteriormente. O CRB-11 des- membrou-se do CRB-2, e possui jurisdição nos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima; O CRB-12 separou-se do CRB-7, ficando sua jurisdição no Estado do Espíri- to Santo. O CRB-13 desmembrou-se do CRB-3 com jurisdição no Estado do Maranhão; o CRB-14, com jurisdição no Estado de Santa Catarina, desmembrou-se do CRB-9. Em 2010 o CRB-12 foi extinto e o CRB-6 assumiu a jurisdição do Estado do Espírito Santo.

Assunto bastante discutido na primeira reunião foi a questão da acumula- ção de cargo de membro nato com o de membro da Diretoria de um Regional, tendo sido decidido que o conselheiro “finalizaria o seu mandato na Diretoria”, o que nos faz entender que o mandato no Regional findaria no momento da posse no Federal. Resolução aprovada nesta sessão orienta o funcionamento dos Regio- nais e estabelece a obrigatoriedade de duas Comissões Permanentes: a de Toma- da de Contas e a de Ética Profissional. Foi também aprovado o 1º Código de Ética Profissional, cujo texto final foi elaborado com base na análise do código adotado pela Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB). Outra impor- tante resolução foi a aprovação do Juramento do Bibliotecário, Resolução nº 006/ CFB de 13 de julho de 1966 (Anexo I), que vigora até os dias atuais, sem modifica- ção. Observa-se no registro das atas das sessões desta primeira reunião plenária, a presença de profissionais que não são conselheiros e vieram para apoiar a primei- ra Gestão do CFB ou mesmo para apresentar sugestões de ações.

Na última Sessão dessa Reunião Plenária do CFB, no dia 13 de julho de 1966, foi discutido o anteprojeto de criação da Associação Brasileira de Escolas de Biblio- teconomia e Documentação (Abebd), oficializada tempos depois.

Durante o V CBBD, em São Paulo, aconteceu a primeira Assembleia dos Con- selhos Federal e Regionais. Nesta reunião foi analisada a proposta do CRB-8 sobre o regimento Interno do CFB aprovado na reunião anterior.

34

O salário mínimo do bibliotecário, foi discutido tendo sido decidido que a presidente encaminharia ofício e solicitaria audiência no Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS), órgão responsável pelo assunto. Não havendo sucesso nas negociações, o CFB baixaria Resolução estabelecendo o salário mínimo regio- nal para o bibliotecário. A presidente levanta a questão que vem tratando junto ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) sobre a necessidade de um departamen- to naquele Ministério para tratar das bibliotecas públicas, escolares e universitá- rias. Outro assunto analisado foi a posição contrária do CFB na realização de cursos de capacitação para leigos que trabalham em bibliotecas. Está claro nos registros, o receio de que esses cursos interfiram, negativamente, no mercado de trabalho do bibliotecário. A defensora do referido programa de treinamento, bibliotecária/ conselheira Heloisa de Almeida Prado defende que o treinamento seria de qua- tro meses para os profissionais que já trabalhavam em bibliotecas quando da pro- mulgação da Lei nº 4.084/62, os chamados “provisionados” e não preencheria o espaço dos cursos normais e muito menos retiraria o emprego do bibliotecário formado. Diante dessa argumentação ficou decidido que o curso estaria voltado aos atendentes de bibliotecas. O problema da falta de profissionais bibliotecários nas escolas é grave e o CFB propôs ao MEC a criação de Centros de Processamen- to Técnico nas Secretarias Estaduais de Educação dos Estados com a finalidade de “encaminhar livros processados a todas as escolas da rede oficial”. Percebe- -se o interesse da presidente do CFB em motivar os conselheiros a participarem dos eventos ligados à área, como forma de motivação e divulgação das atividades e importância do CFB. Foram baixadas Resoluções orientando os Regionais sobre o processo de cobrança de taxas para o registro de bibliotecas e Centros de Do- cumentação nos Regionais, sobre como deveriam ser feitos os depósitos da cota- -parte pelos Regionais ao CFB e ainda fixando o limite de tempo de licenciamento de conselheiros federais e regionais em cento e oitenta dias prorrogável por igual período.

Ainda na primeira gestão foi instituído o livro de registro de presença às reu- niões, pelos conselheiros federais. Esta prática está em vigor até os dias de hoje e certamente é uma comprovação de participação justificando as despesas oriundas da realização das reuniões.

A atenção dada pelo CFB aos Regionais se reflete nas visitas, pela presidente, a cada um orientando-os em como proceder no processo de gestão de suas ativi- dades, chegando ao detalhe de estabelecer itens necessários à elaboração de atas e convocação de reuniões, organização de arquivos, dentre outros assuntos per- tinentes. O plenário orienta ainda que os conselheiros federais não devem fazer parte da diretoria de nenhum regional, por incompatibilidade de funções, princi- palmente em se tratando da função do CFB de fiscalizar as contas dos Regionais, sendo incompatível um conselheiro federal fiscalizar suas próprias contas e que os conselheiros federais “não representam os seus estados e sim, a classe biblio- tecária do Brasil”. A Diretoria do CFB reunia-se quinzenalmente. Atenção especial foi dada à reformulação do Regimento do CFB. Fica marcado a cooperação entre a

35

Febab e o CFB na primeira gestão, e o compromisso destas instituições de lutarem juntas para o crescimento da classe bibliotecária.

Era comum o relato dos conselheiros sobre ações desenvolvidas e das quais participaram, nas universidades, entre as reuniões. Desde a questão sobre cursos de especialização, palestras, seminários realizados pelas escolas de bibliotecono- mia até a utilização da figura de biblioteca central pelas universidades.

Observa-se a interação positiva dos conselheiros e consequentemente da imagem do CFB junto às universidades, ao MEC, ao Instituto Nacional do Livro (INL), Biblioteca Nacional e a outros órgãos da administração pública.

Foi assunto tratado ainda nas primeiras gestões, a integração das áreas de arquivo, bibliotecas e museus, com a permissão do registro desses profissionais no CFB. Percebem-se nos registros que alguns conselheiros eram favoráveis, ou- tros não. Mas de fato, não houve progresso nessa linha de raciocínio, finalizando a questão com a promulgação da Lei do Sistema Nacional de Arquivos e a criação do Conselho Federal de Museologia.