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Décima segunda gestão (maio de 2000/março 2002)

Fernando Modesto INTRODUÇÃO

O texto apresentado é antes uma consulta pessoal à própria memória de seu autor. Informações até então arquivadas nas profundas conexões de neurônios, sobrepostas por outras camadas diárias de informações acumuladas pelo tempo. Apesar de agora reavivadas, sofrem com a natural distorção das lembranças es- branquiçadas pela distorção do espaço-tempo. Isto tudo para simplesmente dizer das possíveis omissões e falhas nos dados históricos que, no relato, de forma im- previsível podem ocorrer, até mesmo alheia à vontade ou às revisões do mencio- nado autor.

SOBRE A 12ª GESTÃO DO CFB

O relato sobre a 12ª Gestão do CFB divide-se em dois momentos. Do perío- do de maio de 2000 até março de 2002 e, posteriormente, até o final do triênio. É necessária a ressalva, pois houve dois presidentes no gerenciamento do órgão. Assim, para a consolidação do relato, os dois momentos da Gestão devem estar contemplados.

Inicialmente, é significativo lembrar a equipe que assumiu a 12ª Gestão. Essa equipe foi composta dos seguintes Conselheiros Federais: Alzinete Maria Rocon Biancardi; Ana Maria Ferracin; Cosme Guimarães da Costa; Enriqueta Graciela Dor- fman de Cuartas; Itália Maria Falceta da Silveira; Ivone Job; José Fernando Modes- to da Silva; Maria Aparecida Sell Andrade Cardoso; Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque; Maria Lúcia de Moura da Veiga Pessoa; Nelma Camêlo de Araujo; Raimundo Martins de Lima; Regina Keiko Obata Ferreira Amaro; Rosa Maria Fer- reira Lima.

Na assessoria do Conselho, contou-se com os seguintes profissionais: a ad- vogada Lúcia Maria de Paula Freitas (Assessora Jurídica); e o contabilista Vilmar Augusto de Medeiros (Assessor Contábil). Em relação à equipe de funcionários do Federal, estavam: Adriane Dias Ferreira; Ailtom Moreira da Rocha; Marco Aurélio Alves de Souza; e Tatiana de Paula Martins.

É sabido que, em qualquer atividade a ser realizada e que visa o trabalho coletivo, não é uma tarefa fácil. Para que a atividade possa ter previsão de algum êxito, as pessoas devem estar envolvidas e comprometidas; muito mais, ainda, quando se trata do fortalecimento de uma área profissional. Portanto, nenhum trabalho no Conselho se torna possível sem a colaboração de uma equipe de pes- soas intencionadas em desenvolver algo. Neste aspecto, há uma característica do CFB, e que perpassa por todas as suas gestões. É em relação à composição do gru- po de pessoas em cada Gestão. São profissionais oriundos de várias regiões do

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país, dotados de culturas, percepções e experiências distintas com relação à com- preensão da área de biblioteconomia, que se reúnem em um órgão eminentemen- te político, no qual se deve formular um pensamento único de ação que abranja e impacte positivamente o exercício da profissão de bibliotecário nacionalmen- te. E isto tudo norteados por um país regionalmente desigual em termos sociais e econômicos.

É neste cenário que os Conselheiros Federais devem conviver, compartilhar e compatibilizar suas opiniões de forma que evoluam para um consenso e um convívio coletivo produtivo. Quando as gestões conseguem entender e praticar esses aspectos, a convivência se enriquece e o resultado é propositivo, do con- trário, o próprio sistema Federal/Regional é afetado negativamente e, por exten- são, a área que deve ser regulada. Assim, acredita-se que, no período relatado, a convivência entre todos os agentes protagonistas tenha sido de aprendizado e de superação. Tudo isso resultou em avaliação favorável, passados tantos anos de sua história.

Ao reunir-se em equipe e estabelecer um efetivo processo de “gestão”, é essen- cial definir um plano de trabalho e a 12ª Gestão estabeleceu coletivamente o seu.

SOBRE O PLANO DE GESTÃO

O plano proposto ressalvou, em seu preâmbulo, as significativas transfor- mações organizacionais, econômicas e culturais observadas nos setores públi- co e privado. Tais transformações implicavam em reestruturações dos processos e modelos de gestão existentes, e já exauridos e incapazes de responder às ne- cessidades e expectativas da sociedade em geral; e, em especial, da comunidade profissional dos bibliotecários. Entendia-se que uma nova estrutura organizacio- nal e política deveria responder a essas necessidades de maneira flexível, tec- nológica, e de baixa burocracia centralizadora. Portanto, a projeção do plano de trabalho da 12ª Gestão, além de resumir os trabalhos, objetivos e anseios de gestões anteriores, procurou iniciar-se com uma nova percepção de organização e de pensamento compatível com a diretriz cultural de sociedade da informação delineada para o Brasil. Como exemplificação, listam-se alguns dos itens almeja- dos pela equipe:

� Em continuidade ao trabalho das gestões anteriores: discutir propostas de

revisão da Lei de Regulamentação Profissional por meio de estudos que es- tabelecessem um novo projeto de lei.

� Focar as propostas de ações específicas da 12ª Gestão, baseadas na dinâmica

esperada para os Conselhos Federal e Regional, e que dependia da Medida Provisória nº 1.642 (Dispõe sobre a organização da Presidência da Repúbli- ca e dos Ministérios, e dá outras providências), em seu art. 58 (Os serviços de fiscalização de profissões regulamentadas serão exercidos em caráter pri- vado, por delegação do poder público, mediante autorização legislativa), e

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seus parágrafos. Entretanto, as deliberações da 12ª Gestão sempre busca- ram contemplar uma postura de mudança e de renovação dentro da estrita legalidade [Este é um aspecto para “ser” Conselheiro Federal. Atuar de for- ma legalista, pois o órgão só existe e opera por força de uma lei. Compreen- der a essência desta lei da Regulamentação Profissional é fundamental].

� Das propostas de trabalho a serem implementadas:

1) promover o estabelecimento de mecanismos facilitadores para criar nova moldura estrutural e atributiva do CFB e CRB [rever regimento e estabelecer uma rede federal/regional];

2) organizar fórum de discussão e de capacitação sobre as questões de gestão e regulação profissional entre CFB/CRB;

3) intensificar as relações com os segmentos congêneres, visando apoiar e/ou implementar programas de valorização profissional em nível local e nacional;

4) realizar estudos e análises da Legislação vigente para atualização e revogação;

5) divulgar as ações e as atividades do CFB/CRB [antecipava a lei de aces- so à informação, dar transparência ao órgão];

6) produzir documentos dos resultados das ações, reflexões e estudos do CFB;

7) estimular a produção de documentos dos resultados das ações, refle- xões e estudos do CRB [ambos os itens 6 e 7 visavam harmonizar as ações e o discurso na rede Federal/Regional];

8) formar parcerias para realização de estudos e pesquisas da atividade bibliotecária no país [uma profissão que não se conhece de forma sis- têmica não tem como tomar decisões sobre o seu destino];

9) otimizar a estrutura operacional e física do CFB [buscar explorar recur- sos tecnológicos e administrativos que tornassem ágeis a comunicação e as ações do órgão];

10) analisar o papel do CFB na CIBIM/GETAM (Comissão Integrada de En- tidades Profissionais de Bibliotecários do Mercosul/Grupo Especial de Trabalho para Assuntos do Mercosul) [constatou-se que a coordena- ção da CIBIM não estava mais a cargo do CFB, na época. Por outro lado, nota-se que seu estabelecimento foi perda de tempo e de dinheiro, nada resultou de objetivo].

� Das atividades administrativas internas do CFB: 1) capacitar os recursos humanos do Federal;

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3) implementar ações, visitas e reuniões técnicas nos Conselhos Regio- nais e nas Entidades de Classe;

4) criar Comissões Especiais necessárias ao melhor encaminhamento das atividades e ações do Federal;

5) manter um programa de reforma das instalações de infraestrutura físi- ca da sede do Conselho;

6) normatizar procedimentos das áreas administrativas, financeira e fis- calizatória do Conselho.

Certamente, nem todas as propostas foram efetivadas a contento, mas acre- dita-se ter estimulado a busca por condições favoráveis para o seu alcance. A exis- tência de uma Gestão de Conselho Federal trabalhando de forma meramente burocrática era e é impensável.

Entretanto, talvez a mais delicada das ações, já mencionadas, seja a atuali- zação da Lei de Regulamentação Profissional. Apesar dos esforços, a última atuali- zação nasceu deformada e distante das expectativas de uma profissão que deveria se inserir em uma sociedade de informação cada vez mais fluída tecnológica e di- gitalmente. Entretanto, até hoje não se procedeu a uma nova revisão, talvez pelo temor que os profissionais tenham de que a profissão possa ser desregulamentada ao transitar como projeto de lei nos labirínticos e ardilosos caminhos do Congres- so Nacional. É um risco a ser enfrentado; melhor do que seguir se desmanchando diante dos contextos e das demandas de uma sociedade digital.

SOBRE AS DIFICULDADES E OS RESULTADOS ALCANÇADOS Do período, destacam-se as resoluções que estabeleceram uma nova regula- mentação para o processo de fiscalização e a revogação das resoluções existentes referentes ao técnico em Biblioteconomia. Solucionou-se, provisoriamente, uma situação irregular, mas que necessita, ainda hoje, ser mais bem definida no âmbi- to dos Conselhos.

Outra questão foi o Programa “Uma biblioteca em cada município” e as pres- sões políticas envolvidas que forçavam a participação do CFB por meio da adesão a um convênio de parcerias com o Ministério da Cultura, a Força Sindical e o Mi- nistério do Trabalho. Diante dos acontecimentos, o procedimento adotado foi o de divulgar toda informação disponível sobre o programa e o convênio proposto e, ao mesmo tempo, ouvir conselheiros federais e regionais, assessores e especialis- tas na temática das bibliotecas públicas. Mesmo com toda a disposição dos conse- lheiros desta Gestão em divulgar as informações sobre essas ações, muitas críticas foram emanadas dos próprios profissionais, como, por exemplo, críticas relaciona- das à postura de autoritarismo e corporativismo dos conselheiros federais.

Porém, a postura adotada mostrou-se correta. A persistente abertura ao di- álogo foi eficaz. Após várias reuniões, o próprio Secretário do Livro e da Leitura,

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vinculado ao Ministério da Cultura, percebeu que dialogava com uma gestão de Conselho Profissional formada de pessoas conscientes e com clareza de propósi- to, e que o presidente e a sua equipe de Conselheiros não eram sectários. Ao final de tantas reuniões e discussões, acabou o próprio Secretário entendendo a per- tinência da reivindicação do Conselho em incluir, no convênio de adesão ao Pro- grama, firmado entre as prefeituras municipais e o Ministério da Cultura, cláusula estabelecendo a criação do cargo de bibliotecário, na Lei do Município que criava a biblioteca pública.

Infelizmente, como ocorre em toda mudança de governo, o Programa foi descontinuado. A cultura brasileira é de que o partido que assume o poder subs- titui as políticas públicas do governo anterior. Por outro lado, programas como o mencionado retornam sob nova denominação, novo emblema de governo, porém mantendo os mesmos vícios. E, no caso de programas voltados para as bibliote- cas, os vícios são até sistêmicos: a contínua exclusão da figura do bibliotecário, tida sempre como um custo desnecessário. Apesar do dispendioso investimento finan- ceiro em material, equipamento e mobiliário, poucas bibliotecas vingam, sem nos- sa presença.

Comenta-se, também, o Programa Sociedade da Informação (SOCINFO), de- senvolvido no Governo Fernando Henrique, e que incluía projeto “Sociedade da Informação/FUST”, vinculado ao Fundo de Universalização de Serviços de Teleco- municações (FUST), que era detentor dos recursos advindos do recolhimento de 1% sobre as contas telefônicas e de serviços de telecomunicações, e para o qual o Ministério da Ciência e Tecnologia, coordenador do Programa, propunha um orça- mento, na época, de mais de R$ 3 bilhões para executar, em três anos, o desenvol- vimento do programa da Sociedade do Conhecimento no Brasil.

Entretanto, tornou-se estranho a não participação do CFB nas reuniões ini- ciais que discutiam, no âmbito do Programa, a questão das bibliotecas, em es- pecial, as públicas e escolares que seriam informatizadas e colocadas na Rede, apoiando o Programa que deveria ter um importante significado para as políti- cas públicas de inclusão digital. Após indagação direta do coordenador geral do Programa sobre os motivos da não inclusão do Conselho nas discussões, ocor- reram encontros com representantes do Programa, aos quais foram apresenta- das propostas. O resultado da ação foi a própria manifestação dos representantes do Programa, quanto à contribuição e à participação do CFB. Esta havia sido uma importante política de inclusão digital, com grande recurso financeiro para sua implementação. Entretanto, após a mudança de governo, no Executivo, pouco se falou sobre seus resultados, e um silêncio pesaroso emergiu em relação às biblio- tecas. Outro acontecimento meritório de citação, foi o posicionamento do CFB diante do projeto de lei 3549, da deputada Esther Grossi, que dispunha sobre a universalização das bibliotecas escolares (semente da lei de universalização das bibliotecas escolares). Inicialmente, ao se ter acesso ao teor do Projeto e ouvi- do parecer da Assessoria Jurídica e da Comissão de Legislação e Normas (CLN), solicitou-se audiência com a parlamentar. Do encontro, resultaram mudanças no

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projeto prontamente acatadas pela deputada. Cabe ressaltar fato ocorrido, duran- te Congresso Integrar (realizado na cidade de São Paulo), em uma sessão sobre bi- blioteca escolar, em que se levantou o nome do Projeto de Lei e a necessidade das instituições da área o apoiarem. De pronto a atuação do CFB foi comunicada. Tam- bém, em relação à discussão deste projeto de lei, uma releitura da função do CFB/ CRB foi promovida: ser um organismo em defesa da sociedade, ao defender o di- reito das pessoas de terem acesso a um serviço de biblioteca de qualidade, forne- cido por profissional especializado, de forma a possibilitar um desenvolvimento humano igualitário; baseado em uma educação transformadora e cidadã, calcada no direito de acesso à informação.

Na esfera do fortalecimento da infraestrutura dos Conselhos Regionais, hou- ve a proposta e dotação de recursos para aquisição de imóveis com o objetivo de fixar os Conselhos Regionais da 11ª, 13ª e 14ª região, carentes desta infraestrutu- ra, bem como da dotação de recursos aos Regionais para a atualização da infra- estrutura tecnológica. O objetivo principal da medida foi o de poder estabelecer um conceito de rede cooperativa entre CFB e os Conselhos Regionais. Neste intui- to, também ocorreu a cessão de um sistema computacional para o CRB-11ª região (Amazonas), como um passo inicial de sua reestruturação administrativa. Apesar do apoio em recursos e de capacitação, este foi um Regional com sérios problemas administrativos, financeiros e operacionais, e para o qual, na época, melhor seria ter sido extinto, substituído por uma representação de outro Regional. Mas a logís- tica e característica da região norte impuseram sua continuidade.

No âmbito dos eventos da área, houve maior participação e protagonismo do CFB, no Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD), com presença ativa na organização do fórum e do estande, com a exposição das ativi- dades, dos serviços e produtos oferecidos pelo CFB/CRB, com destaque à camiseta do Congresso, na qual a sigla do CFB aparecia impressa, algo até então raro.

No período, aconteceu a ampliação física do CFB, acrescido de mais um imó- vel, o que ampliou o seu espaço físico e a atualização dos recursos tecnológicos. Algo bem diferente de quando se assumiu o Federal em maio de 2000, para um pe- ríodo de governança de vários meses, tendo em caixa, recursos financeiros insu- ficientes, pois se recebeu, como legado de gestão, um orçamento financeiro com 72% dos recursos consumidos, o que obrigou a se adotar austera política de con- trole nos gastos, o que, aliás, foi uma política implantada por todo o período. Den- tre as medidas adotadas, cita-se:

� o desligamento de uma funcionária administrativa, sendo seus serviços ab- sorvidos sem traumas pelos demais funcionários da Autarquia;

� a rescisão de contrato da Assessora Parlamentar, sendo os serviços desen-

volvidos por Conselheiros Federais, quando de suas presenças em Brasília, durante participação em Plenárias, Assembleias e Reuniões de Diretoria;

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Federal por participação em Plenária, a verba de representação a ser paga ao Presidente do CFB, e o pagamento de táxi por deslocamento, exceto quando a serviço da Autarquia;

� a redução do valor referente à verba de suprimento, antes no valor de R$

400,00, para metade;

� o congelamento do valor das diárias que anteriormente eram corrigidas mensalmente; e

� demais medidas administrativas de controle rigoroso de despesas gerais.

Destaque-se que, entre as dificuldades colocadas para a 12ª Gestão, houve a ação movida pelo CRB-4ª Região (Pernambuco), contestando o processo eleitoral e alguns dos candidatos eleitos, fato que criava delicada crise institucional. Embo- ra se pudesse discordar do encaminhamento adotado pelo Regional, em nenhum momento foram tomadas quaisquer atitudes ou medidas por parte da 12ª Gestão, no sentido de promover retaliações. Apesar do constrangimento da presidência do CFB em ter oficiais de justiça à porta de casa, atuou-se sempre com moderação e dentro da legalidade devida, e com a postura de tratamento isonômico para com todos os Conselhos Regionais. Como deve sempre ser.

Enfim, o trabalho realizado, no período relatado, fora fruto da colaboração dos Conselheiros Federais que comungaram em um mesmo ideal de ações segui- das pelo Presidente, Diretoria e Comissões, bem como no apoio recebido pela maioria dos Conselhos Regionais. Houve uma sinergia de forças, sem a qual ne- nhuma Gestão conseguiria realizar o seu trabalho e gerir um órgão como o CFB.

Como citação final deste texto, manifesto a todos os parceiros (funcionários, assessores e conselheiros) envolvidos, no contexto deste relato, meu saudoso agra- decimento e o muito obrigado pela oportunidade da experiência compartilhada.

Aos novos gestores do CFB, o incentivo e a certeza de que os desafios e difi- culdades à frente do órgão só valem a pena se enfrentados. O êxito nunca será ga- rantido. Porém, o temor das falhas, dos erros e das críticas não podem nos abster de buscar sempre o melhor para a profissão bibliotecária brasileira.