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Dúvidas e incertezas: caminho para construção de um novo objeto de

Depois de concluído o Mestrado, minhas atividades profissionais se ampliaram no meio acadêmico. Ao longo dos últimos anos, estive vinculada ao

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ensino na Graduação e em cursos de Pós-Graduação Lato Sensu. Minha área de atuação no ensino superior centra-se nos cursos das Ciências Humanas, assim, tenho trabalhado com a formação de professores em diferentes cursos, como Pedagogia, Normal Superior, Educação Física, História, Artes, Letras, Física, Química, Geografia e Biologia. Nos últimos anos, além da atividade docente, assumi a coordenação do Curso Normal Superior e do Curso de Psicopedagogia – bacharelado e especialização - no Centro Universitário Feevale em Novo Hamburgo.

As novas oportunidades surgidas no meio acadêmico obrigaram-me a tomar uma decisão importante em relação à atividade que desenvolvia em clínica de Psicopedagogia, há pelo menos quinze anos. A dificuldade para conciliar horários e uma sensível preferência pelas atividades acadêmicas, sejam em gestão ou em docência, levaram-me a optar pelo afastamento da clínica. Recordo de como fui questionada por meu pai naquele momento, quando ele deixava explícito seu desejo de que eu continuasse naquela atividade, inclusive levantando a possibilidade de que eu fizesse um aprofundamento e uma qualificação para clínica através de formação psicanalítica.

Com a formação acadêmica que eu tinha, somado ao fato de estar fazendo minha análise pessoal, me tornava candidata a seguir estudos em Psicanálise, qualificando-me para a prática clínica e, conseqüentemente, aproximando-me mais do pai pela similitude profissional.

Depois de muito pensar, fiz minha escolha pela universidade, assumindo o gosto pela interlocução com grupos, pela prática da docência, pela satisfação de estar com alunos em constante diálogo, ações muito diferenciadas em relação aos atendimentos individuais realizados na clínica. Assim, autorizo-me a não aceitar a sugestão do pai e sigo minha caminhada atendendo a meus desejos e, de certa

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forma, arriscando-me ao prescindir de uma difícil e longa conquista na comunidade sobre o reconhecimento de minha prática clínica.

Com essa escolha, abro mais tempo e posso me dividir entre duas instituições de ensino superior que vêm marcando minha trajetória nesse nível de atuação desde então, a saber: PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Centro Universitário Feevale.

Há aproximadamente sete anos, desenvolvo, na Pontifícia Universidade Católica-PUCRS, uma atividade docente no Curso de Especialização em Psicopedagogia, em diferentes disciplinas; em especial, destaco a disciplina de Psicopedagogia Institucional, que tem por objetivo trabalhar com a prevenção dos problemas de ensino-aprendizagem, tendo os professores das instituições de ensino como sujeitos e principal foco da intervenção psicopedagógica. Coordeno também trabalhos teórico-práticos de pesquisa-ação, sob forma de estágio em Psicopedagogia Institucional, que acontecem em diferentes instituições de ensino.

Na mesma instituição - PUCRS - e, no mesmo curso, atuo na supervisão de estágios em Psicopedagogia Clínica no Centro de Extensão Universitária da Vila Fátima, espaço caracterizado pelo atendimento a famílias com muitas necessidades de diferentes ordens, como sociais, culturais, econômicas, emocionais e de aprendizagens. Nessa vivência, saliento a presença de muitos desafios e permanentes (re)construções de conhecimentos para os estagiários e, da mesma forma, para mim.

Também na PUCRS, atuo como docente vinculada à Faculdade de Educação, em disciplinas como Psicologia da Educação I e II, Desenvolvimento Psicomotor, Psicologia do Desenvolvimento, atendendo à diversidade dos cursos de Licenciaturas e do curso de bacharelado em Psicopedagogia. Saliento a

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riqueza desse espaço de reflexões diante dos diferentes olhares trazidos pelos acadêmicos e o desafio de pensar sobre o aprender nas diversas áreas de conhecimento presentes naquele fórum de debates. Após a vivência de quatro semestres com essas disciplinas, acredito que a possibilidade de se obter um produtivo espaço de ensino-aprendizagem passa, necessariamente, pelo reconhecimento da pluralidade de interesses e dos conhecimentos previamente construídos pelos acadêmicos. Para isso, o professor necessita cotidianamente olhar-se, analisando de forma reflexiva sua prática e seu posicionamento, reconhecendo-se como sujeito aprendente.

Ao considerar que nossos saberes são parciais e provisórios, a educação superior voltada para a formação de profissionais postula um novo caminho a ser trilhado, dirigindo-se, principalmente, para a compreensão da parcialidade do conhecimento e de sua conseqüente permanente construção e reconstrução, dando um novo sentido ao ensinar e aprender nesse âmbito de educação.

A especificidade da universidade hoje é definida por Santos (2004, p. 114) como sendo “a instituição pública que liga o presente ao médio e longo prazo pelos conhecimentos que produz e pelo espaço público privilegiado de discussão aberta e crítica que constitui”.

O mesmo autor, ao discutir a universidade no século XXI, afirma que se trata de um bem público intimamente ligado a um projeto de país, em que a significação política e cultural, como também sua viabilidade estão na dependência da capacidade nacional para articular, de forma qualificada, a inserção da universidade nos contextos de transnacionalização.

No caso da universidade e da educação em geral, essa qualificação é a condição necessária para não transformar a negociação em ato de rendição e, com ele, o fim da universidade tal como conhecemos. Só não haverá rendição se houver

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condições para uma globalização solidária e cooperativa da universidade. (SANTOS, 2004, p. 116).

A universidade no mundo contemporâneo define-se como uma instituição organizada para criar e difundir novos conhecimentos. Nesse sentido, está vinculada intimamente à concepção de homem, de sociedade, de ciência e de conhecimento.

Nessa linha de idéias, o meio universitário é entendido como um espaço permanente de construção e reconstrução do conhecimento para todos os sujeitos: docentes e discentes. A integralização entre ensino, pesquisa e extensão comunitária aproxima os sujeitos atuantes no espaço acadêmico da comunidade em geral, transcendendo, assim, os muros da academia, a fim de tornar o conhecimento um bem para todos, diante do entendimento das necessidades postas pelos diferentes grupos da sociedade.

O Centro Universitário Feevale é uma instituição comunitária de ensino superior que vem se expandindo e, atualmente, expressa significativo crescimento em todas as áreas e em diferentes aspectos. De 3.806 alunos matriculados no Ensino Superior, em 1999, a instituição somou, em 2005, 14.576 alunos, 578 professores; da mesma forma, a oferta de cursos superiores cresceu significativamente, pois, naquele ano, eram oferecidos 9 cursos e, hoje, são oferecidos, entre cursos e habilitações, 41 possibilidades de ingresso.

Segundo Vannuchi (2004), é importante definir universidade comunitária relacionando à realidade brasileira. O autor destaca que a universidade comunitária se identifica pela gestão participativa e democrática, tendo claramente organizados sua missão, seus princípios, suas diretrizes pedagógicas e seus objetivos. Essas considerações devem estar reunidas no seu Projeto Institucional Pedagógico e, neste mesmo documento, também devem estar explicitadas as funções relativas à integralização entre ensino, pesquisa e extensão. Da mesma

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forma, no Projeto Pedagógico deve constar como a instituição se organiza do ponto de vista administrativo.

A universidade comunitária tem como diferencial uma participação efetiva de todos os segmentos na concretização de suas metas e funções, “sem os liames da burocracia governamental e sem o império do lucro de uma empresa” (VANNUCHI, 2004, p. 31).

A construção do Projeto Institucional Pedagógico da Feevale passou por diferentes etapas, contando com a participação dos docentes nas discussões, tendo sido implantado em 2002. Assim, acreditando que o professor é o principal agente executor de seu Projeto Institucional Pedagógico, o Centro Universitário propõe um perfil de docente que seja capaz de efetivar, através da práxis pedagógica, o movimento de superação da universidade centrada na transmissão de informação para a universidade da construção do conhecimento e da produção de novos saberes. Freire (1997) define ensinar como criação de possibilidades para produção e construção de conhecimentos, refutando a mera transmissão de saberes prontos e acabados.

À luz dessas considerações, o professor universitário é muito mais do que um especialista da área, pois sua competência técnica e sua experiência profissional, pressupostos indispensáveis para sua seleção como docente, revelam-se insuficientes para a composição de conhecimentos sobre o ensinar e o aprender dos sujeitos envolvidos no processo.

Para Demo (2004), a universidade hoje deve ser organizada sobre a noção de aprendizagem reconstrutiva política, deixando de ser reprodutivista do “monte de salas de aula” para ser um espaço criativo de “laboratório de aprendizagem”. O mesmo autor refere que devemos ir à universidade para

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pesquisar, aprender e não apenas para assistir a aulas. Nesse sentido, faz referências à importância do professor nesse contexto.

O professor que não sabe aprender, não pode fazer o aluno aprender. Os títulos exigidos por lei são mais propriamente formalidade, porque contam muito mais o espaço científico conquistado, produção científica sistemática, reconhecimento público, em especial como pesquisador. Não segue daí que todos os professores devam ser de tempo integral – é possível ser bom professor de tempo parcial. Mas não se pode dispensar vida acadêmica adequada, que começa sempre com a habilidade sistemática de reconstruir conhecimento com qualidade formal e política. Experiência apenas não basta... A experiência precisa ser transformada em teoria inovadora, assim como teoria precisa ser transformada em experiência inovadora. (DEMO, 2004, p. 38).

Ao assumir esse novo paradigma, a Feevale implantou o Núcleo de Apoio Pedagógico ao Ensino de Graduação, com objetivo de buscar a qualificação docente tendo por referência o perfil proposto pelo Projeto Pedagógico da instituição. O Núcleo visava a dar apoio sistemático aos docentes para a criação de novas práticas pedagógicas, bem como atender às necessidades trazidas por eles diante das propostas de mudanças. Nesse momento, juntamente com outros colegas, a convite da Pró-Reitoria de Graduação, passei a fazer parte da equipe do Núcleo.

2.3 A vivência no Núcleo de Apoio Pedagógico ao Ensino de