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DA DENOMINAÇÃO, SEDE E OBJETIVOS DA ENTIDADE

No documento O samba de roda na gira do patrimônio (páginas 156-200)

Artigo 1º - A Associação de Sambadores e Sambadeiras, doravante denominada Associação, fundada em 17 de abril de 2005, é uma associação civil sem fins lucrativos, apartidária, democrática, constituída em conformidade com a previsão constitucional no Artigo 5º, XVII e XVIII, e destina-se à defesa do samba enquanto manifestação sócio-civilizatória

afrobrasileira, através da produção de conhecimentos, serviços e ações

voltados para a promoção e afirmação do samba e dos sambadores e sambadeiras, visando contribuir para a construção de uma sociedade multicultural, pluralista, justa e solidária.

Com esta descrição da entidade fica perceptível a abertura de seu escopo de atuação. Os termos utilizados não estão referendados e nem reproduzem as categorias apresentadas para o registro, como a memória e a identidade da nação. O samba de roda como patrimônio não figura como o cerne da existência da Associação, ao contrário, cita-se que a associação foi fundada em conformidade com o artigo 5º da Constituição Federal, os artigos 215 e 216 relacionados a direitos culturais e ao patrimônio, não são considerados.

De acordo com o artigo 3º do Estatuto, a Asseba tem por finalidade:

I. Realizar atividades destinadas ao fortalecimento do Samba e reconhecimento dos sambadores e sambadeiras do Estado da Bahia;

II. Atuar na proteção dos direitos de uso de imagem, autoria e proteção do

159 III. Efetivar programas educacionais voltados para o reconhecimento do Samba como legado civilizatório afrobrasileiro, dirigindo-se prioritariamente a crianças, adolescentes e jovens contribuindo para o fortalecimento da auto-estima, a valorização da diversidade cultural e o exercício da cidadania; (grifo meu)

IV. Promover o respeito aos direitos culturais dos afrobrasileiros, buscando a ampliação e conquista de novos direitos, oferecendo assessoria e consultoria jurídica; (grifo meu)

V. Cooperar com a população negra na recuperação de sua história;

VI. Defender as manifestações culturais e religiosas de matriz africana e seu patrimônio histórico e artístico, inclusive, judicialmente, além de promover igualdade racial mediante a propositura de ações coletivas destinadas à proteção dos direitos transindividuais, difusos e coletivos, da população negra e de qualquer outros segmentos vitimados por discriminação injusta, ou por qualquer outro meio; (grifo meu)

VII. Representar ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente seus membros nos termos da Constituição Federal, artigo 5º, inciso XXI;

VIII. Combater a intolerância religiosa e defender as práticas culturais e religiosas de matriz africana que contribuem para a conservação e preservação do meio ambiente;

IX. Contribuir para a democratização e pluralidade cultural nos meios de comunicação, desenvolvendo estudos e empreendendo iniciativas nas áreas de radiodifusão convencional e comunitária, teledifusão mediante sinal aberto e TV a cabo, internet, jornais e revistas e outros veículos e instrumentos de socialização e democratização da informação;

X. Organizar Centro de Referência e Biblioteca destinada a dar suporte aos estudos sobre o Samba e outras manifestações culturais afrobrasileiras;

XI. Comercializar serviços e produtos, destinando os recursos provenientes de tal iniciativa para o custeio das atividades existentes ou a realização de novas iniciativas;

XII. Elaborar e executar projeto editorial destinado a publicar e distribuir, prioritariamente, produções intelectuais de Sambadores e Sambadeiras, bem como quaisquer outras produções que contribuam para o fortalecimento teórico e prático das manifestações culturais afrobrasileiras.

160 Dentre os doze tópicos que descrevem a finalidade da Asseba apenas um faz menção direta ao patrimônio imaterial (item II). Outro considera o patrimônio histórico e artístico (item VI). Os dez remanescentes alargam as proposições indicadas no registro e consideram o “legado civilizatório afrobrasileiro”, “os direitos culturais dos afrobrasileiros”, incluindo demandas em relação a melhoria das condições de cidadania da população negra. Deste modo, diferentemente do registro, que titula o samba de roda como patrimônio e busca sua “salvaguarda”, o estatuto da associação considera, em primeira instância, a condição de vida dos produtores, seria então uma espécie de “salvaguarda” dos próprios detentores do patrimônio. E não só deles, é estendida essa prerrogativa a toda a população negra, produtora ou não do samba de roda.

Por meio da descrição da proposta de atuação da Asseba, vemos então, uma aplicabilidade da concepção ampla de cultura, no sentido antropológico. Para a Associação não há dissociação entre a prática do samba de roda e a qualidade de vida, a as questões de cidadania são condições sine qua non para a prática da expressão cultural. Este entendimento revela na prática o discurso do Estado sobre política cultural no plano da vida cotidiana. Contudo, como veremos a seguir, em alguns eventos promovidos pelo Estado a cultura permanece compreendida apenas no plano institucional, como objeto artístico, silenciando as concepções nativas.

3.1.1 - A Conformação Política dos Sambadores

Após a fundação da Asseba, em abril de 2005, a proposta da Coordenação era a de realizar aproximadamente uma reunião por mês a fim de alcançar os resultados desejados, como promover a interlocução dos sambadores e sambadeiras, ajustar e complementar as ações do Plano de Ação para então implementar e executar o Plano de Salvaguarda. Estive presente em algumas dessas reuniões, outras pude acompanhar por relatórios de técnicos da Coordenação-Geral de Salvaguarda do DPI/Iphan e pelas Atas produzidas pela Asseba. Vejamos agora alguns acontecimentos.

Oito meses após a fundação da Asseba, foi realizada a 11ª reunião na Fundação Gregório de Mattos em Salvador/BA112

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Assembléia realizada em 19 de dezembro de 2005, relatório da Coordenação-Geral de Salvaguarda do DPI/Iphan.

161 municípios do Recôncavo: Saubara, Maracangalha, Candeias, São Francisco do Conde, Conceição do Almeida, Salvador, São Felix, Cachoeira, Terra Nova, Camaçari, Santo Amaro, Santiago do Iguape, Muritiba e Simões Filho. Instituições parceiras também participaram, a vice reitora de extensão e professores da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), coordenador do Centro de Estudos do Recôncavo da Universidade Federal de Feira de Santana (UEFS), presidente da Fundação Gregório de Mattos (Secretaria de Cultura de Salvador), representante da Associação de Promoção do Patrimônio Bantu (Acbantu) e produtor e apresentador do programa de samba de roda na rádio baiana Piatã FM.

Desde o início dos encontros e das reuniões dos sambadores, as instituições parceiras vão aumentando e se diversificando. A tentativa da Asseba e do Iphan era a de agregar apoio e assim constituir uma rede participativa. Compreendiam esta parceria como um fortalecimento. Para o Iphan, seria a oportunidade da Asseba se desenvolver e estar apta a atuar sem sua interferência após o período de cinco anos do Plano de Salvaguarda. Porém, embora na teoria a composição de várias entidades em prol de um bem comum seja apropriada, na prática não há meios de exigir o comprometimento de todos. Assim, ao longo do tempo esta tentativa de produzir parcerias gerou altos e baixos. Em alguns momentos vários parceiros se mostravam engajados, em outros, a Asseba se viu sozinha.

Diferentemente dos primeiros encontros produzidos pela então coordenação de pesquisa e pelo Iphan, as reuniões da Asseba passaram a ser guiadas pelos próprios sambadores. O anseio por uma associação formada e dirigida por eles próprios não era apenas retórica. O ato de tornar o samba de roda patrimônio não apenas reconheceu o valor cultural da forma de expressão, mas também despertou nos sambadores uma busca pela autonomia, lhes proporcionou o empoderamento e mostrou a capacidade até então latente de serem reivindicadores e agentes de suas conquistas.

No entanto, embora os sambadores mostrassem um papel de liderança na condução das reuniões, alguns pesquisadores que fizeram parte da equipe de pesquisa permaneciam com uma participação intensa e, muitas vezes, até impositiva junto a Asseba. A justificativa dada por eles é a de que buscavam atuar como “mediadores” entre os sambadores e o poder público. Estes mediadores podem ser divididos em dois

162 grupos: um favorável a parceria com o Iphan que atuava de modo compartilhado, e outro defensivo, que sempre atentava para algum um perigo na ação do Iphan.

Não obstante isso, como pude observar em várias reuniões, o roteiro, em geral, era estabelecido da seguinte forma: antes da leitura da pauta, produzida pela coordenação com o auxílio dos pesquisadores, o espaço estava aberto para a apresentação dos grupos de samba de roda presentes, seus representantes e outros participantes. Neste momento, caso a pessoa tivesse interesse, também poderia realizar algum comentário. Somente após esse espaço para a “voz” era que a pauta era lida e seguia-se a discussão dos pontos. Assim, a reunião em dezembro de 2005 iniciou-se com a apresentação dos representantes dos grupos e das instituições que fizeram algumas colocações.

As instituições parceiras demonstraram o modo pelo qual poderiam auxiliar:

“Minha presença aqui é para ratificar nossa vontade de formalizar esta parceria entre a Associação e a Reitoria de Extensão da UNEB”

“Nós temos um programa todo domingo das 6 às 10 da manhã na rádio Piatã-FM sobre o samba de roda. Estamos montando um bloco para o carnaval que vai colocar o samba de roda em cima de um carro que vai sair no sábado às 4h da tarde”

“Somos uma associação que trabalha pela preservação do patrimônio bantu e apóia o trabalho de salvaguarda do samba por que não existe samba inferior e sim sambas diferentes” (Acbantu)

“Gostaria de registrar nossa disponibilidade para apoiar a associação e abrir o teatro Gregório de Mattos para apresentação de um grupo de samba semanalmente”

163 O Senhor Zeca Afonso, sambador que recebeu o título de Patrimônio Cultural do Brasil das mãos do presidente Lula no Palácio do Planalto, falou com orgulho de sua nova condição. Seu depoimento foi seguido de elogios de outros sambadores:

“Estamos com uma oficina para meninos que aprendem com Zé da Lelinha, estamos construindo a viola de machete, eu já fui tocar no Palácio do Planalto para o presidente e o samba chula Pitangueira vai fazer uma turnê por todo o Brasil, pelo SESC, com início em maio” (Mestre Zeca Afonso – samba chula Filhos da Pitangueira)

“Eu queria falar do êxito enorme que estamos tendo depois desta pesquisa feita pelos professores que propiciou isto que estamos tendo agora” (Mestre Lelito – Os Vendavais de Salvador)

“Gostaria de falar como foi importante a gravação do documentário. Nós também estamos fazendo um trabalho na escola porque o pagode passa mas o samba é eterno” (Capela, Conceição do Almeida)

“Estou muito feliz com o reconhecimento que estamos tendo, hoje estamos no camarim e tem gente que não sabe o que é um camarim ou um restaurante e veio a conhecer estas coisas nesta festa do Pelourinho. Tô feliz porque neste carnaval vou ter onde sambar” (Bernadete – Comunidade Quilombola de Simões Filho)

164 “A nossa prefeitura (São Sebastião) tem ajudado muito no transporte do grupo. Agora estamos querendo uma sede onde a escolinha vai funcionar, é uma escolinha para a renovação do samba” (Mestre Pedro – Maracangalha)

Outros descreveram ações já realizadas em prol do samba de roda, mostrando que são protagonistas de atividades locais e estão mobilizados pela continuidade da prática:

“Nosso samba de roda mirim está fazendo atividades nas escolas. Há oito dias atrás estávamos encerrando uma apresentação em São Paulo no Quintal Cultural” (Nely - Cachoeira)

“Nós também temos uma escolinha que luta com muitas dificuldades, mas queria agradecer a vocês que ajudaram a gente a fazer o samba renascer” (Samba de Roda Filhos de Ogum)

Uma declaração sobre o samba de roda como elemento intrínseco à vida cotidiana e mobilizador de sentimento de pertencimento também foi expressada:

“Sambadores é uma família, é a união que faz a força. Eu nasci no samba e me criei no samba e vou morrer no samba, de lá meus pais vieram. Temos orgulho de ser de São Francisco do Conde, do samba de lá. Temos uma oficinazinha pequenininha mas temos meninos tocando e meninas sambando, mostrando essa nossa raiz que tava morrendo. O samba tá na veia, quem sabe veio lá do massapé. Minha mãe colocava a esteira embaixo do braço para ir sambar no Caruru. Eu vou para qualquer cidade para sambar no samba de vocês. Eu sou tão doente pelo samba que até perdi o marido, ele me mandou escolher e eu escolhi o samba. Eu sambo por amor, homem por aí tem demais, mas meu samba não tem. Depois o malvado

165 formou um samba e... me chamou pro samba dele, eu disse: -- Eu não vou, do samba chula eu não saio. Ele queria era me prender no tempero dele. Quem tem um filho, um sobrinho, leve para o samba, vá ensinando...” (D. Lindaura)

A reunião teve seqüência com a apresentação do plano de trabalho para 2006 e uma primeira versão do projeto de salvaguarda do samba de roda a ser encaminhado para o Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC/MinC para o receber patrocínio da PETROBRAS. Neste plano de trabalho constavam as seguintes ações: elaboração do projeto executivo da Casa do Samba; Criação da Casa do Samba Virtual; Exposição Itinerante; Kit de divulgação (CD, catálogo e vídeo); Garantir infra- estrutura básica para a associação; Apoio aos projetos de transmissão de saberes e manutenção dos grupos de samba.

O primeiro ano da salvaguarda do samba de roda, 2005, desenrolou-se lentamente, sem a efetivação concreta de várias ações propostas no plano de ação. Contudo, a própria criação da Asseba, a oficina de machete e a realização de várias reuniões dos sambadores já demonstram que fora detonado o processo de mobilização e engajamento dos sambadores. Embora o Iphan tenha disponibilizado recurso financeiro para a salvaguarda – recurso este que ainda seria mantido por mais quatro anos – os sambadores ainda estavam se familiarizando com estes novos procedimentos de auto- organização, levantamento de prioridades e a produção de “projetos”.

Assim, o “projeto” se tornou uma categoria adaptada ao vocabulário dos sambadores. Na perspectiva deles, a elaboração e a apresentação de “projetos” a determinadas instituições de fomento seria o meio mais adequado e o caminho bem sucedido para o alcance de suas demandas. Por este motivo, o empreendimento de 2006 seria preparar um projeto convincente para ser incentivado pelo MinC, ou seja, tendo o aval do ministério, seria possível buscar, neste caso específico, na PETROBRAS, o patrocínio ao samba de roda, para almejar recursos financeiros para a execução da salvaguarda.

Porém, os procedimentos para se obter o patrocínio de um projeto pelo PRONAC não são simples. Primeiramente é necessário elaborar um projeto em moldes

166 burocráticos, com planilha de custos descrita em conformidade com os requisitos da administração pública. Este projeto é encaminhado ao MinC que, por sua vez, o encaminhará a um parecerista que poderá condicionar a aprovação mediante adaptações e ajustes, ou, em última instância, reprovar o projeto. Assim, a aprovação do projeto pode ser bastante morosa, com idas e vindas para a realização de ajustes. Ademais, a aprovação pelo MinC não é garantia de conseguir o patrocínio. O MinC concede um selo ao projeto aprovado. Somente a partir deste momento é que a busca pelo patrocínio pode ser iniciada.

Mesmo apresentando todas estas dificuldades, esta forma de apoio à cultura, mostrava-se então como uma saída para a falta de recursos para os sambadores.113 Assim, fica visível uma contradição inerente ao sistema do apoio e fomento do Ministério da Cultura e do Iphan, isto é, a falta de articulação de suas políticas internas. Uma vez que o samba de roda já havia sido declarado patrimônio nacional, ainda deveria passar pelo mesmo processo seletivo que outros tantos bens culturais passam a fim de alcançar a efetividade de suas ações. Qual seria então o propósito do plano de salvaguarda se não seria possível a execução de suas ações por escassez de recursos? Retrocede-se, desta forma, a meta do registro de garantir as condições de produção e reprodução do bem cultural e o registro manter-se-ia apenas como um ato declaratório.114

Nesta reunião o ponto discutido mais enfaticamente foi a instalação de uma “Casa do Samba”. A proposta da Coordenação da Asseba, corroborada pelos próprios sambadores, desde o princípio de sua atuação, foi o estabelecimento de um espaço físico para o desenvolvimento de atividades do samba de roda, como oficinas de musicalização, de dança, de confecção de roupas e instrumentos, além de garantir a interação dos sambadores entre si e com a comunidade em geral. Esta se tornou então uma demanda intensa em relação ao Iphan, às prefeituras e instituições parceiras.

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O patrocínio promovido pela Lei de Incentivo foi a principal atuação do MinC durante os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002). Esta atuação foi bastante criticada porque além de deixar na mão do mercado a escolha pela execução dos projetos, obrigava os produtores culturais a serem especialistas na produção de projetos.

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Alguns anos adiante a falta de articulação entre as políticas do MinC e do Iphan foi sanada, ao menos em relação aos bens registrados. A partir de 2007, o MinC, por meio do Programa Cultura Viva, disponibilizou recursos para os bens registrados sem a necessidade de seleção por Edital ou aprovação por parecerista. Este assunto será apresentado no Capítulo 4.

167 Neste momento de divulgação da proposta da Casa do Samba, vários sambadores compreenderam que cada grupo de samba de roda teria a sua própria Casa. Alegavam que cada grupo faz um samba diferente e não teria como dividirem um mesmo espaço. Também temiam a perda da diversidade e a obrigação de que todos devessem fazer o mesmo samba. Esta oposição relembra o episódio do “ciúme” narrado anteriormente, quando no município de Pirajuía, o grupo de samba de roda do município vizinho se recusou a participar da gravação para o dossiê do registro, pois queria ser reconhecido no seu próprio território. Assim, uma parte dos sambadores entendia que o município que sediasse a Casa do Samba estaria privilegiado em relação aos outros.

Esta consideração foi motivo de várias discussões e debates até a aceitação de uma Casa que fosse comum para todos os grupos. A solução encontrada foi a primeiramente a instalação de uma Casa “mãe” e posteriormente a criação de Casas “filhas” por municípios diferentes. Fica explícito, então, nesta nomenclatura, a relação de parentesco estabelecida entre os detentores do samba de roda. Para este modelo de organização, poderiam ter escolhido nomenclaturas usuais para estabelecimentos, como Casa “matriz” e Casas “filiais”, contudo, esta terminologia acaba determinando um caráter de empresariado e afasta-se do reconhecimento local de que a produção do samba de roda é realizada em âmbito familiar.

A partir de então, discutiu-se a questão do município que sediaria a Casa “mãe” do samba de roda. Alguns participantes defenderam que a Casa “mãe” deveria ser em Salvador pelas vantagens que a capital oferece. Porém, a coordenação da Asseba informou que algumas prefeituras, como as de Santo Amaro e São Francisco do Conde, já haviam se comprometido com a disponibilização de imóveis para sediar Casas de Samba. A coordenação também justificou esta última como melhor opção por viabilizar o (re) conhecimento da história dessa região. Sendo assim, os presentes decidiram pela instalação da Casa “mãe” em um dos municípios do Recôncavo.

Finalizou-se então a reunião e foi oferecido um “feijão”, prato típico do Recôncavo, para os participantes e vários sambadores e sambadeiras iniciaram uma roda de samba. Outra característica comum às reuniões da Asseba é a participação dos sambadores não apenas como reivindicadores de direitos ou agentes políticos. Estão ali em primeiro lugar como sambadores. As delegações vão as reuniões com as roupas

168 típicas do samba de roda ou com camisetas com os nomes dos grupos. Embora estejam atentos às demandas e participem ativamente, também esperam ansiosamente pelo momento de mostrar seu samba ao final das reuniões. Ou seja, a reunião pode ser vista como tendo duas etapas: a primeira onde o discurso é político-burocrático e a segunda onde o discurso pode ser considerado como político-simbólico-performático.

A reunião seguinte, realizada em 15 de janeiro de 2006, na Fundação Gregório de Matos em Salvador/BA, iniciou-se com informações de um professor “mediador” da Asseba sobre os contatos mantidos com as prefeituras de São Félix e Santo Amaro a respeito dos imóveis capazes de abrigar a Casa “mãe” do Samba e as Casas “filhas”. O prefeito de São Félix, presente na reunião, declarou o interesse da prefeitura em ocupar e conservar o prédio da estação ferroviária para viabilizar a Casa do Samba. Inclusive já havia protocolado um documento na Superintendência do Iphan na Bahia solicitando apoio junto a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) no sentido de obter a permissão de usufruto e guarda deste imóvel para a viabilização de um espaço cultural no município.

No documento O samba de roda na gira do patrimônio (páginas 156-200)