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Gestão do Plano

No documento O samba de roda na gira do patrimônio (páginas 139-156)

Articulação das instituições governamentais e não-governamentais que possibilitarão a implementação do Plano de Salvaguarda.

Em linhas gerais estas foram as propostas encaminhadas para a Unesco que, após o registro, por meio de encontros entre os sambadores, o Iphan e instituições parceiras foram mais detalhadas e complementadas. O resultado foi a produção de um

Plano Integrado de Salvaguarda e Valorização do Samba de Roda, coordenado pelo

Iphan, por meio do Departamento do Patrimônio Imaterial e a Superintendência Regional na Bahia em articulação com o sambadores. No capítulo 3 desta tese esta nova versão do Plano de Salvaguarda será observada detidamente.

Com o dossiê concluído, o processo de registro do samba de roda foi encaminhado pelo Departamento do Patrimônio Imaterial ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan que tem o papel de designar um conselheiro para ser o

142 relator do processo e verificar a adequação e pertinência do registro de acordo com o Decreto 3551/00. Sendo o parecer favorável, o processo é levado à reunião do Conselho Consultivo, instância decisória dos processos de patrimonialização federal, sejam bens culturais materiais ou imateriais, para aprovação ou reprovação da solicitação de registro em um dos Livros. A relatora do processo do samba de roda foi a conselheira Maria Cecília Londres Fonseca.

Em seu parecer, Cecília Londres analisa o pedido do registro do samba de roda como patrimônio do Brasil e contextualiza que tal requisição foi realizada mediante a solicitação do ministro de Cultura de tornar o samba Obra-Prima do Patrimônio da Humanidade. Considera que esta iniciativa teve grande impacto perante a sociedade de modo geral e gerou um debate em torno da proposta.

Londres concorda com o coordenador da pesquisa, Carlos Sandroni, no que diz respeito as dificuldades apresentadas para a candidatura à proclamação. Cita a relatora que no caso do samba de roda a situação era bem mais complexa que na ocasião da candidatura da Arte Gráfica Kusiwa dos índios Wajãpi. Para o novo candidato brasileiro era necessária uma definição convincente do objeto, a articulação com os grupos envolvidos com o bem e a elaboração de um plano de salvaguarda.

O dossiê da Arte Gráfica Kusiwa pode ser produzido sem complicações, uma vez que já havia uma produção de conhecimentos sobre este bem cultural e sobre seu grupo detentor, os Wajãpi, realizada ao longo de muitos anos pelo Núcleo de História Indígena e Indigenismo da USP e pelo IEPÉ. Não obstante isto, com a leitura da instrução do processo, Londres considera que foi acertada a escolha pelo samba de roda e houve consistência na construção do objeto.

Realizando um cotejamento com o Decreto 3551/00, a relatora indica que o principal argumento apresentado para a escolha do samba de roda, qual seja, seu papel de originador do samba carioca, está de acordo com o critério de “continuidade histórica” requerido no texto do decreto para o registro de bens culturais de natureza imaterial.98

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Parágrafo 2º do artigo 1º do Decreto 3551/00. A noção de continuidade histórica seria a contrapartida da noção de autenticidade, aplicada ao patrimônio material. A continuidade histórica busca reconhecer a dinâmica particular de transformação do bem cultural imaterial que pode ser verificada por meio de

143 Para a relatora, o simples fato de auxiliar na divulgação deste dado, que considera o samba de roda propulsor do samba carioca, reconhecido como o samba símbolo da nacionalidade, já seria motivo suficiente para a aprovação do registro desta forma de expressão como Patrimônio Cultural do Brasil. Isto porque, relembra, uma das principais fundamentações para a criação do instrumento jurídico do registro, foi justamente,

propiciar o desenvolvimento de uma política de patrimônio cultural mais inclusiva e mais representativa da diversidade cultural brasileira, privilegiando aquelas manifestações que, embora apresentem “relevância nacional para a memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira” (art. 1º, par. 2º, Decreto 3551/2000), não gozam de reconhecimento nem de valorização por parte da sociedade (o que considero a forma mais eficiente de salvaguarda), nem dos benefícios da proteção via direitos legalmente

regulamentados (como o direito de autor, de propriedade intelectual, de patente, etc)99

Contudo, conforme apresentado anteriormente, não é o registro o instrumento habilitado a garantir estes direitos. O texto do Decreto é explícito em relação à garantia da memória e ao reconhecimento do valor do bem cultural para a sociedade brasileira, mas para por aí. Deste modo, a obrigação legal do registro não abarca a defesa de direitos. É possível que a partir do registro, o grupo detentor possa utilizar o título como credencial para reivindicar estes benefícios perante outras instâncias do Estado, porém isto é apenas uma possibilidade e não uma segurança.

A relatora continua o parecer apontando as informações do texto da instrução que reforçam o argumento da continuidade histórica. Aponta que o fato do desenvolvimento desta expressão estar calcado em raízes afro-brasileiras desde o tempo da escravidão, assim como a utilização de elementos de outras culturas, como o prato e

estudos históricos e etnográficos que busquem observar as características essenciais do bem e sua modificação ao longo do tempo (Iphan, 2000: 19).

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Cecília Londres, Parecer da relatora do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, 2004, grifos meus.

144 faca europeus e também características caboclas, enfatizam a continuidade histórica do samba de roda. E ainda, para Londres, torna-se inegável este traço da continuidade histórica exatamente pelas características que diferenciam o samba de roda em relação ao samba carioca: suas modalidades, o samba chula e o samba corrido, seus instrumentos diferentes, como a viola machete e a própria denominação de seus praticantes, “sambadores” e “sambadeiras” em vez de “sambistas” como no caso do Rio de Janeiro.

Cabe neste momento, uma digressão a respeito desta premissa de continuidade histórica. A partir deste conceito é possível realizar uma leitura da concepção proposta na política de salvaguarda em relação a temporalidade e a dinâmica dos patrimônios imateriais.

Os bens culturais imateriais são descritos pelo Estado de modo bem próximo ao que é considerado, em termos gerais, cultura popular e folclore, assim sendo, são considerados como bens culturais imateriais as práticas, representações, as expressões e os conhecimentos, os objetos, os artefatos e os lugares que lhes são associados. Com isso, é interessante notar que esta delimitação do objeto traz as mesmas implicações epistemológicas presentes nos estudos de folclore e cultura popular.

Segato (1992) demonstra que até os anos 1960 considerava-se a existência de temporalidades diferentes para as chamadas cultura popular e cultura erudita, isto é, o povo era visto como um produtor de cultura mais lento do que a elite e por isso, era possível encontrar as origens, as formas arcaicas neste “segmento” da sociedade, aspectos estes tão importantes para os cientistas sociais quanto os fósseis os são para os arqueólogos. Contudo, a autora também informa que a partir dos anos 1960, com o surgimento e o progressivo estabelecimento de uma idéia de cultura mais relativista e menos tipológica, os estudos de cultura popular e folclore passaram por uma virada paradigmática.

Deste modo, o interesse inicial pelas antiguidades populares, pelos elementos considerados tradicionais, pelos fragmentos do passado preservados na atualidade, foi paulatinamente sendo substituído pela compreensão de que toda sociedade seria ao mesmo tempo tradicional – no sentido da transmissão e da relativa estabilidade - e dinâmica – uma vez que a transformação e adaptação é uma constante.

145 Logo, os estudos desta área deixaram de buscar o aspecto do tempo longo, da permanência da forma, da rusticidade do estilo e direcionaram-se para o sentido, a articulação entre forma e cognição, entre estrutura aparente e estrutura profunda.

Esta mudança de foco propiciou a emergência de uma visão que permitiu verificar as expressões folclóricas e populares em seus próprios termos. No entanto, no caso aqui estudado, o registro de patrimônios imateriais, vem à tona a necessidade de refletir sobre estas questões.

A noção de continuidade histórica, portanto, tem o objetivo de reconhecer a “dinâmica particular de transformação do bem cultural imaterial”. Porém, paradoxalmente a esta noção, no Decreto 3.551/2000 há a prescrição para uma reavaliação dos bens culturais registrados pelo menos a cada dez anos (Art. 7º). Segundo a publicação O Registro do Patrimônio Imaterial (Iphan, 2000), o caráter essencialmente dinâmico da manifestação cultural exige um acompanhamento e avaliação periódica para a revalidação do título de Patrimônio Cultural do Brasil. Caso tenha ocorrido a “transformação total” ou o desaparecimento de seus “elementos essenciais”, o bem perde o título, mantendo-se apenas o registro como referência histórica.100

Tomada como um valor, a noção de continuidade histórica requerida ao bem é descrita como um reconhecimento da sua dinâmica particular de transformação. Ou seja, uma compreensão que sinaliza a virada paradigmática dos estudos de cultura popular demonstrados por Segato (1992). Neste caso, o esforço então, seria o de buscar perceber as características essenciais do bem e sua modificação ao longo do tempo por meio de estudos históricos e etnográficos. Esta medida indica a priori como esta continuidade deve ser traçada. Espera-se a realização de uma espécie de genealogia do bem cultural. O anseio em refazer o percurso do presente para o passado é o da satisfação em desenhar uma ascendência quase mítica da prática cultural, como a reconstituição de mais uma parte da história da fundação da nação.

O bem precisa, necessariamente, ter relação com o passado. De acordo com a disposição do Dec. 3551/00, um Patrimônio Cultural do Brasil deve ter “relevância

100

O DPI/Iphan ainda não elaborou a metodologia para a revalidação do título de registro. O primeiro bem registrado, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, completará dez anos em dezembro de 20 de dezembro de 2012.

146 nacional para a memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira”, ou seja, não são registrados aqueles que não possuem uma “tradição” cristalizada. Logo, o presente e o futuro são, em princípio, descartados. Não é permitido à prática cultural um afastamento de suas origens. Espera-se permanência e repetição. Aproximando-se da análise de Fabian (1983), parece haver uma negação da coevidade (denial of

coevalness) dos grupos produtores de expressões culturais que sejam patrimônios em

potencial, ou seja, considera-se que vivem neste tempo mas, no entanto, não estariam neste tempo, uma vez que entendem que suas produções pertencem a um passado remoto.

Dessa forma, a noção de continuidade histórica do bem tem uma relação muito maior com a ascendência numa pretensa genealogia cultural do que na sua descendência. Novamente, o valor está incutido na volta às origens da tradição. Tradição esta compreendida como tempo cronológico e não relacionada à transmissão de saberes. E, são exatamente os elementos captados como permanentes na linha do tempo e do espaço, aqueles sacramentados como dignos de registro. Logo, é possível inferir que, apesar do esforço em considerar a dinâmica inerente às produções culturais imateriais, a dimensão histórica dos grupos sociais que as produzem e reproduzem não foi recuperada criticamente.

Tomando de empréstimo a sugestão de Oliveira Filho (1999) em sua observação das populações indígenas, defendo que as políticas patrimoniais precisam deixar de compreender tais grupos – indígenas ou, neste caso os produtores de cultura popular e tantos outros que estão fora do modelo de sociedade “moderna” – como relíquias vivas de formas passadas da humanidade. É imprescindível considerá-los como sujeitos históricos plenos (idem). Com isso, é possível conquistar uma das valorizações mais importantes, quer dizer, torna-se possível reconhecer não apenas os produtos que relembrem a “memória, a identidade e a formação da identidade brasileira”, critérios do Dec. 3.551/00, mas, sobretudo, viabilizar a valorização dos próprios indivíduos, grupos sociais e comunidades para o presente e para o futuro da sociedade brasileira.

De volta ao parecer da relatora sobre o samba de roda, Cecília Londres considera como dado marcante, “um dos valores mais significativos dessa forma de expressão da cultura nacional”:

147 A “espontaneidade” de sua ocorrência, constituindo-se como uma forma de expressão profundamente internalizada nos indivíduos e grupos que o têm como parte de seu repertório cultural. A própria expressão “o samba acontece” é elucidativa de uma manifestação não ritualizada do samba, contribuindo para relativizar o caráter de espetáculo que o samba brasileiro assume por ocasião dos desfiles carnavalescos.101

De fato, a espontaneidade do samba de roda é uma característica marcante. Passar alguns poucos dias numa cidade do Recôncavo comprova este argumento. É bastante comum sambas ocorrerem nas residências, com a porta aberta, convidando qualquer transeunte a participar. Embora alguns sambadores manifestem a falta de interesse dos jovens, dentre outras dificuldades para a continuidade do samba de roda, esta forma de expressão não está completamente ausente do cotidiano.

Porém, a observação dos eventos ocorridos pós-registro por várias vezes obscurecem esta marca essencial do samba de roda. Como percebido no trabalho de campo, em eventos emblemáticos, como no recebimento do título no Palácio do Planalto, analisado no início desta tese, e em outros promovidos pelo Iphan em conjunto com a então criada Associação dos sambadores, apresentados no Capítulo 3, a espontaneidade é suprimida e substituída pelo “espetáculo”. Este é um dos pontos centrais que considero na interação entre o Estado e os sambadores.

O parecer também faz referência ao movimento de organização e articulação dos sambadores propiciado pela pesquisa para o registro. Novamente, é levado em consideração que este caso diferencia-se do outro grupo social que obteve seu bem cultural proclamado obra-prima, os wajãpi. Para a candidatura de sua arte gráfica, foram os próprios wajãpi que encaminharam a solicitação, por meio de um Conselho próprio, o Conselho de Aldeias Wajãpi (APINA).

O samba de roda não possuía instâncias governamentais ou não governamentais que tratasse de suas questões especificamente. Os poucos grupos

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148 identificados com existência jurídica, não a utilizavam no sentido de conformar algum tipo de associação ou organização que visasse ações para seu apoio e continuidade de modo abrangente.

Assim, a relatora do Conselho Consultivo considerou muito gratificante a atuação da coordenação da pesquisa por não tratar os sambadores como meros informantes e sim como interlocutores e parceiros na produção do trabalho; além disso, por meio da estratégia de reuni-los para debater a proposta e entregar-lhes cópia do material da pesquisa, os encorajaram a constituir uma entidade própria em prol da preservação de suas práticas culturais.

Essa conduta distingue a produção de uma pesquisa etnográfica com fins estritamente acadêmicos do compromisso de pesquisadores com o que seriam os primeiros passos de uma intervenção conduzida e regulamentada pelo poder público, que será totalmente inócua sem a adesão dos principais interessados, mesmo se atendida a exigência de anuência prévia. A propósito, a necessidade de envolver “os grupos, comunidades e indivíduos” na preservação dos bens culturais imateriais foi um ponto bastante enfatizado na elaboração da Convenção da Unesco para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, preocupação significativa sobretudo se considerarmos que a interlocução desse organismo internacional se dá essencialmente com os Estados nacionais. 102

Esta consideração também deve ser tomada tendo em vista os outros bens registrados até então – o ofício da paneleiras de Goiabeiras e o Círio de Nazaré. Não incluo nesta reflexão a arte gráfica Kusiwa porque ela respondia primeiramente aos requisitos da Unesco e, por esse motivo, estava condicionada a ter participação ativa de seus detentores. Como já foi informado, o caso do samba de roda é tomado como um laboratório pelo Departamento do Patrimônio Imaterial. Este foi a experiência que provocou o aprendizado do Iphan em relação a finalidade da salvaguarda, tomada como um desdobramento do registro.

102

149 A partir do samba de roda percebeu-se que apenas o ato declaratório não era eficaz para garantir as condições de continuidade do bem cultural. Havia a necessidade de engajar os detentores no processo e construir o objeto da salvaguarda conjuntamente, num processo educativo de ensino e aprendizagem mútuo, ou seja, ao passo que o Iphan repassa suas premissas sobre a salvaguarda, o grupo social ensina seu modo de entender sua prática e que tipo de melhorias anseia, para juntos construírem uma conduta consensual em relação ao bem cultural. Deste modo, a experiência com o samba de roda mostrou que a elaboração e a execução do plano de salvaguarda era uma conseqüência inescapável após o registro.103

Finalmente, o parecer aponta que as medidas para salvaguarda apresentadas no texto da instrução do processo (dossiê de registro) estão de acordo com as proposições do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e buscam ir mais além do que simplesmente produzir uma sistematização dos resultados da pesquisa e devolvê-los as comunidades. O Plano de Salvaguarda pretende garantir as condições de sustentabilidade de uma determinada prática e para isso necessariamente engloba as condições materiais e simbólicas para sua produção e reprodução, assim como de seus detentores.

Cecília Londres reconhece, tendo em vista a comprovação da importância do plano de salvaguarda para a continuidade dos bens culturais registrados, que o Decreto 3551/00 não recomenda de modo explícito a sua apresentação na instrução de um processo de registro. Porém, a relatora defende o Decreto e crê que a exigência de revalidação do título após dez anos do registro seja a menção implícita a um plano de salvaguarda.

Discordo desta defesa do decreto no sentido de solicitar implicitamente a produção de um plano de salvaguarda para o bem registrado. No decreto a idéia de

103

Excetuam-se desta consideração os processos de registros conduzidos pelo CNFCP. Como mencionado, o projeto Celebrações e Saberes da Cultura Popular, executado por este Centro, teve a finalidade de conduzir projetos-piloto do INRC e de testar o instrumento registro. Observa-se então um descompasso entre os registros propostos pelo CNFCP e os primeiros realizados pelo DPI, uma vez que aqueles realizados pelo primeiro já apresentavam ações de salvaguarda desde o início da pesquisa, como oficinas de transmissão de saberes, interlocução com outras instâncias governamentais, a realização da pesquisa com a participação ativa dos detentores, etc (Cf. Vianna, 2004). No entanto, a troca de experiências entre o CNFCP, o DPI e as Superintendências Estaduais do Iphan mostra-se incipiente, uma vez que ainda há vários bens registrados com dificuldades na elaboração de planos de salvaguarda.

150 preservação de bens culturais imateriais era bastante incipiente e não teria como antecipar os possíveis impactos que gerariam nos grupos contemplados. Sua intenção era a de realizar sua identificação e viabilizar o “reconhecimento” de seu valor. O desenvolvimento de ações a posteriori não está nas entrelinhas destes objetivos. Ademais, como apresentei, entendo que a revalidação do título após dez anos está mais próxima de uma reafirmação do passado a uma admissão do novo.

A conclusão do parecer para o registro do samba de roda produzido por Cecília Londres foi inteiramente favorável, por se tratar de uma tradição viva e de relevância cultural de âmbito nacional, nas palavras da relatora:

Cabe lembrar a responsabilidade do Estado junto aos grupos de sambadores e sambadeiras no sentido de que a outorga do título de “Patrimônio Cultural do Brasil” não se limite a uma distinção honorífica, mas signifique um real

investimento na salvaguarda dessa forma de expressão musical e

coreográfica tão representativa da diversidade cultural brasileira. Por essa razão é fundamental que, aos compromissos previstos no texto do Decreto 3551/00 – documentação a ser incluída em banco de dados do Iphan e ampla divulgação e promoção – se prossiga no trabalho de elaboração de um

plano de salvaguarda que, se adequadamente realizado, muito

provavelmente contribuirá não apenas para a continuidade histórica do samba de roda, como para sua expansão e difusão, sem que fiquem comprometidos os valores que justificaram o registro.104

Logo, o plano de salvaguarda tomou uma dimensão que não esteve planejada em consonância com o registro. É natural que ao longo do tempo a política idealizada tome pé da realidade e se flexibilize de acordo com os contextos apresentados. Na verdade, esta adaptação deveria ser uma meta de qualquer política mas que nem sempre é buscada ou é possível alcançar. No caso do registro do patrimônio vemos que foi um fim alcançado e que redundou no aperfeiçoamento da relação entre o Estado e a sociedade.

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No documento O samba de roda na gira do patrimônio (páginas 139-156)