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Da distribuição anual dos objetos de estudos

No documento Memórias da educação física e esporte (páginas 58-61)

Apropriamo-nos dos estudos de Ginzburg (1989) para analisar os fi os que compõem os Anais do GTT Memórias..., pois, como tramas que produzem um tapete, eles aumentam em densidade à medida que são te- cidos. Assim, a fi m de compreendermos os fi os que têm sido utilizados para elaborar um saber histórico e historiográfi co para a Educação Física brasileira, perguntamos às fontes sobre as práticas dos pesquisadores em suas ausências, presenças, continuidades e descontinuidades, em relação aos temas discutidos em seus trabalhos.

Os dados referentes à distribuição anual dos 157 artigos publicados nos Anais do GTT Memórias... permitem-nos captar os objetos de estudos aos quais os pesquisadores têm se dedicado. Com o objetivo de mapear as temáticas abordadas, lemos todos os trabalhos na íntegra e inserimos seus títulos no bloco de notas para gerar no Iramuteq uma nuvem de palavras, conforme Figura 1.

Nela, unifi camos as terminologias que estão associadas, com hífen, a fi m de não oferecerem duplicidade dos termos. É o caso da “Educação_ Física”. Se as mantivéssemos separadas, não daríamos visibilidade à expres- são completa e aumentaríamos a quantidade de recorrências nas palavras “educação” e “física”. Unifi camos também as terminologias com sentido complementar, para que permanecesse o modo como foram empregadas nos textos, como “história_cultural”, “educação_integral”, “práticas_corporais”,

“educação_pública”, de acordo com a Figura 19

9 Eliminamos, no Iramuteq, preposições, advérbios e artigos, pois eles poluem a nuvem de palavras e

Figura 1 – Nuvem de palavras dos títulos dos trabalhos

Fonte: Anais do CONBRACE (2005-2017). Elaboração dos autores.

A análise da nuvem de palavras oferece pistas dos principais objetos abordados pelos pesquisadores, mas também: das periodizações defi nidas nos trabalhos (1930-1940, 1932-1960, séc. XIX e séc. XX, conforme or- dem de tamanho); dos contextos em que os estudos são realizados (Brasil, Argentina, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, em proporcionalidade de tamanho); e das fontes utilizadas (imprensa, jornais, revistas, imagem e obra literária). É possível, ainda, captar pistas sobre os referenciais teóricos mobilizados pelos autores, expressos pelas palavras: memória, representações, identidade e indícios.

Especifi camente em relação aos objetos de pesquisa, sinalizamos a centralidade da Educação Física associada: à educação do corpo, ao esporte, ao futebol, à mulher e feminino, à dança, à sua escolarização, aos programas de educação pública, à constituição de uma identidade nacional, às pres- crições para o seu ensino, à educação integral, à escolarização da infância, à ditadura militar, ao jogo e à capoeira. Para aprofundarmos essas análises, construímos outro banco de dados no Microsoft Excel, em que organizamos os objetos, conforme foi possível identifi cá-los nos textos. Diante da diversi- dade de temas abordados, criamos categorias que dessem visibilidade às suas aproximações. Ao fi nal, listamos todos os objetos em dez temas principais, conforme o Gráfi co 2:

Gráfi co 2 – Distribuição anual dos objetos de estudo

Fonte: Anais do CONBRACE (2005-2017). Elaboração dos autores.

Dos objetos abordados no Gráfi co 2, sinalizamos a escolarização da Educação Física (40), os esportes (37) e os assuntos relacionados com a saú- de e o lazer (23) como aqueles que permanecem, em termos quantitativos e longitudinais, no centro do interesse dos pesquisadores. Os trabalhos sobre os esportes dedicam-se à análise de biografi as, centros esportivos e trajetória de modalidades específi cas, como o skate, basquetebol, karatê, polo aquático e futebol. Já os processos de inserção e consolidação da Educação Física nos currículos escolares são compreendidos especialmente pelas práticas produ- zidas nas escolas primárias e secundárias. Dois desses trabalhos referem-se à realidade argentina. As discussões sobre saúde e o lazer foram articuladas no Gráfi co 2, pois, por vezes, as práticas corporais foram assumidas como divertimentos em prol da saúde da população, conformando espaços públi- cos de lazer. Nesses artigos, são analisados os discursos sobre a necessidade de desenvolvimento da saúde do brasileiro, associando a Educação Física a políticas voltadas para a eugenia, higienismo e sanitarismo.

De modo regular, os autores passam a debater, a partir de 2009, o processo de consolidação do campo de atuação profi ssional da Educação Física. Os trabalhos estão focalizados nas instituições formadoras (15), como as escolas normais e os cursos de formação de professores. As pesquisas que assumem como temática principal a intervenção das mulheres no desen- volvimento histórico da Educação Física (11) apresentam-se com oscilações em seu ritmo de produção, publicadas em 2005, 2007, 2011, 2013 e 2017. A análise das fontes permite-nos captar especifi cidades em relação às práticas dos pesquisadores no que se refere ao papel das mulheres na constituição histórica da área. Além de suas práticas serem discutidas como objeto específi co, elas também são abordadas de modo articulado com a história dos esportes (7) e da escolarização (1). Nesses estudos, os autores dão visibilidade à atuação feminina em ambos os espaços.

Identifi camos, ainda, o modo com o qual a educação dos corpos tem se constituído como um objeto de pesquisa articulado com as temáticas ca- tegorizadas no Gráfi co 2. Dos artigos referentes à escolarização da Educação Física (40), dez assumem esse tema como eixo principal de suas análises. O mesmo ocorre com aqueles dedicados às mulheres, pois, dos trabalhos mapeados sobre a intervenção das mulheres, dois discutem o assunto rela- cionando-o com a educação do corpo.

A dança (9) e a capoeira (3) têm se confi gurado como temas de inte- resse de pesquisadores, que analisam as representações e o desenvolvimento de práticas associadas à cultura de determinadas regiões brasileiras. Já os trabalhos que assumem os impressos como objetos de estudo (5) foram publicados nos dois primeiros anos (2005 e 2007) e nos dois últimos (2015 e 2017), com foco nas Instituições que chancelam os periódicos, bem como em sua materialidade. De modo semelhante ao que ocorre com o uso de referenciais teóricos que se desdobram em objetos de pesquisa, como a educação dos corpos, os impressos circulam nos Anais do GTT tanto como objetos quanto como fontes de estudos.

No documento Memórias da educação física e esporte (páginas 58-61)