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DA ESTABILIDADE ESTRATÉGICA GLOBAL

No documento MAJ Duarte da Costa (páginas 143-155)

Esta preocupação da segurança e estabilidade estratégica global tem sido bastante sujeita a estudos e formações de opinião por parte de grande número de analistas que de uma forma geral apontam ou relatam paradigmas para a sua obtenção. Um mundo seguro e estável, precisa de ter em consideração as exigências básicas de humanidade. A sua população tem que ser equilibrada com um ambiente global saudável sustentável. Todos necessitamos de governos democráticos providenciadores das liberdades básicas. Se todos os governos fossem eleitos e todos os países democracias, um mundo em paz seria viável, onde um padrão decente de qualidade de vida fosse assegurado a todas as pessoas. Mas no entanto existem laços de memória internacionais que de uma forma ou de outra nos deixam cépticos quanto à realidade internacional. Berlim, Yalta, Hiroshima, São Francisco, Potsdam, simbolizavam em 1945 a emergência de um mundo que iria fazer nascer a Guerra Fria e o sistema de blocos. Durante 45 anos as relações Este-Oeste e a segurança e estabilidade estratégica global inscreveram-se na fórmula de R. Aron, “paz impossível, guerra improvável”. A queda do Muro de Berlim em 9 de Novembro de 1989 e a queda do império soviético entre 1990 e 1991 puseram fim ao conflito político-ideológico que opunha os Estados ocidentais aos Estados socialistas, que agora parece nalguma medida renascer com os interesses dos espaços geopolíticos decorrentes da intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte na Jugoslávia, mas que acabaram por dividir o mundo em três campos: o Este, o Oeste e o Sul. A passagem da Guerra Fria ao pós-Guerra

Fria, abriu um período de incerteza, instabilidade e insegurança. A gramática das relações internacionais tornou-se extremamente complexa e a vertigem da mundialização explica em parte a crise que o sistema internacional atravessa com a sua nova tipologia de conflitos que convém prevenir e regular. Neste período de transição que sucede à ordem bipolar tentar definir um estado de segurança e estabilidade estratégica global resultará sempre numa tentativa apoiada em dados que não sustentam conclusão alguma.. O que actualmente se assiste na zona dos Balcãs e mais especificamente na região do Kosovo ilustra bem como ainda estamos longe da paz internacional e se de alguma forma a fórmula de R. Aron não se aplica já neste contexto, a impossibilidade de se encontrar uma nova ordem mundial também irá impedir uma segurança e estabilidade estratégica global. Poderemos alcançar a breve prazo várias formas de segurança e estabilidade estratégica regional mas mais do que isso parece ser inviável

Face à mudança que tem havido na maneira de encarar a segurança global, a maioria dos governos ocidentais prioritizaram os seus compromissos de defesa tendo como base as seguintes preocupações:

• Confirmação das obrigações decorrentes de alianças;

• Protecção e segurança dos Estados e territórios dependentes;

• Promover uma segurança alargada pela protecção de paz internacional e estabilidade global;

Constrangimentos orçamentais e a tendência global para a reduções dos efectivos militares, têm direccionado estes Estados para as seguintes soluções:

•Reduzir os níveis em quantidade mas não em qualidade, mantendo-se a capacidade militar para o desenvolvimento de operações de forma rápida e flexível

Paralelamente a estes esforços para o saneamento de estruturas militares pesadas e desajustadas para fazer face aos conflitos no novo ambiente operacional, e que poderiam de qualquer modo ser encaradas como potenciadoras da gestação de crises que pudessem fazer perigar a estabilidade internacional, os tratados para a limitação e não proliferação de armamentos tem constituído, ainda que de maneira incipiente, um ponto de partida para se consubstanciar um modelo de segurança regional e internacional.

John Simpson, no seu artigo “O nascimento de uma era nova? A conferência NPT (Non-Proliferation Treaty) de 1995 e a política de desarmamento nuclear” discute que esta conferência não foi nem uma vitória para a arma nuclear, nem uma derrota para o Movimento dos Não Alinhados: ambos têm que se confrontar com a necessidade de administrar este debate no contexto de um diálogo mais largo sobre segurança regional e global, e a necessidade de evitar o aparecimento novos Estados que possam adquirir capacidade nuclear, antes de um progresso adicional no desarmamento global.

Neste processo participativo da tomada de decisão relativa a assuntos de estabilidade mundial, assiste-se aquilo a que Tom Farer designa por jogadores novos no jogo velho, ou seja, está a acontecer uma das mudanças estruturais mais notáveis neste processo de decisão: a participação de actores de novos, não estatais. A base normativa foi ampliada para permitir a inclusão de, entre outros, representantes de organizações internacionais e regionais, e organizações não governamentais das áreas do ambiente, e direitos humanos, com vista a tornar mais representativo o leque de participantes potenciadores de colaborar para uma segurança e estabilidade estratégica global, no princípio de que quantas mais

entidades envolvidas, maior a generalização do sentimento de aspiração a uma paz abrangente.

As intenções já existem. Já só faltam os actos. E se qualquer dúvida existe no facto de vivermos uma época de instabilidade global, atente-se à actual situação que a Comunidade Internacional viveu com a recente situação no Kosovo e em Timor. E que venha alguém que desminta o que parece ser evidente: é que a segurança e estabilidade estratégica global parece viver da insegurança e da instabilidade estratégica regional.

A paz internacional será sempre o produto da segurança e da estabilidade global. Este trinómio forma um conjunto como um todo, com canais de sinergias de transferência. Esta segurança deverá ser sempre negociada e controlada tendo em conta o equilíbrio das forças em presença quer quantitativamente quer qualitativamente. Deverão permanentemente ser tido em conta as novas técnicas que são postas à disposição dos Estados em matérias de controlo e verificação (satélites de observação militares, sismógrafos ultra-sensíveis, inspecções multinacionais) e de medidas de confiança e segurança (MDCS) que se têm multiplicado sob a égide da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), que podem prestar proveitosos serviços quer utilizadas singularmente quer utilizadas preferencialmente combinadas umas com as outras, tendo sempre com princípio norteador que a segurança colectiva vai ao encontro de expectativas à escala planetária e regional tendo mesmo sido particularmente encorajada pelo Secretário Geral da Nações Unidas na sua Agenda para a Paz, em 1992.

Conceitos como a de segurança cooperativa ou participativa, comunidade de segurança e regime de segurança têm cada vez mais sido utilizados pelos líderes mundiais para exprimir vias de acesso à estabilidade global. A segurança cooperativa intervém a

montante e faz apelo à prevenção dos conflitos, a uma suficiência razoável de armamento, à estabilidade e medidas de transparência de confiança e de verificação. A comunidade de segurança engloba a segurança cooperativa e a segurança colectiva e é acompanhada de regras de comportamento como por exemplo as definidas pelo código de conduta político- militar adoptadas na Cimeira da então CSCE em Budapeste em Dezembro de 1994, ou então por normas reguladoras como por exemplo a Acta Final de Helsínquia de 1975 ou a Carta de Paris para uma Nova Europa de 1990. Estas são algumas das metas a atingir para a segurança global.

Se se fizer o reporte às conclusões do Pacto de Estabilidade na Europa adoptado sob a égide da OSCE em Paris, em Março de 1995, encontra-se aqui uma das possíveis vias para se atingir a aspiração da paz mundial, representando um inegável esforço no capítulo da diplomacia preventiva. Nesta mesma ordem de ideia, O Parlamento Europeu em Estrasburgo, adoptou em 14 de Junho de 1995 uma resolução da iniciativa de Michael Rocard com a finalidade de criar um Centro Europeu de Análise para a Prevenção Activa das Crises, que sendo um serviço da União Europeia (UE) teria como missão principal o diagnóstico de situações de potencial crise e a preparação da diplomacia preventiva e acções públicas ou humanitárias eventualmente necessárias.

A reorganização do sistema de segurança no Velho Continente deve-se inspirar nestas novas formas de aproximação afim de se evitar cair nas inconclusivas e desgastantes situações da Guerra Fria. Se a segurança e a estabilidade se querem globais – estratégico- militar, económica, ecológica, política, social e humana - ela nunca será total e absoluta, mas sim relativa para os Estados e um assunto de vontade política, apanágio do regime

democrático. E na realidade a vontade política parece ser o factor fundamental para se poder aspirar e esta estado de segurança e estabilidade.

BIBLIOGRAFIA

BRAILLARD, Phillipe-Teoria das Relações Internacionais; Edições da Fundação Calouste Gulbenkian

GELNER, Ernest-Nações e Nacionalismo; Gradiva

GOODIN and KLINGMANN; A New Handbook of Political Science; Oxford University Press LINZ, Juan; Problems of Democratic Transition and Consolidation; Jonhs Hopkins University

Press

McHENRY, Robert, Editor; The New Encyclopaedia Britannica; Encyclopaedia Britannica, Inc.

MIRANDA, Jorge; Manual de Direito Constitucional; Coimbra Editora MOREIRA, Adriano; Teoria das Relações Internacionais; Almedina

OUTHWAIT, William; Dicionário do Pensamento Social do Século XX; Dinalivro ROUGEMONT, Denis de; Dictionaire International du Federalisme; Bruylant Bruxelles TOUCHARS, Jean; História das Ideias Políticas Vol II e V0l III; Publicações Europa América

FONTES DA INTERNET

http:\\europa.eu.int http:\\lcweb.loc.gov

ANEXO F

DA AUTODETERMINAÇÃO

Geralmente entende-se por Autodeterminação a capacidade que populações suficientemente definidas étnica e culturalmente têm para dispor de si próprias, e o direito que um povo dentro de um Estado tem para escolher a forma de Governo. Pode portanto distinguir-se um aspecto de ordem internacional que consiste no direito de um povo não ser submetido à soberania de outro Estado contra sua vontade e de se separar de um Estado ao qual não quer estar sujeito (direito à independência política) e um aspecto de ordem interna, que consiste no direito de cada povo escolher a forma de Governo de sua preferência. Embora não faltem referências a um senso de soberania nacional mesmo em épocas precedentes, costumam ser individualizadas as origens doutrinárias do princípio de Autodeterminação na teoria da soberania popular de Rousseau e na sua concepção da nação como ato voluntário. Os primeiros enunciados do princípio de Autodeterminação foram feitos com a Revolução Francesa. No relato preparado por Merlin de Douai, encarregado pela Constituinte de estudar a questão da Alsácia (31 de outubro de 1790), dizia-se: "O povo alsaciano uniu-se ao povo francês por sua própria vontade. Apenas sua vontade e não o tratado de Münster legitimou a união". A "Déclaratíon du droit des gens", submetida à Convenção (embora não aprovada por esta) a 23 de abril de 1795 e redigida pelo padre Gregório (L'Abbé Grégoire) com a finalidade de expor os princípios de justiça eterna que devem guiar as nações nas suas relações recíprocas, afirmava entre outras coisas a inviolabilidade da soberania internacional e declarava que o atentado contra a

liberdade de uma nação constitui atentado contra a liberdade de todas as nações e proclamava o direito de cada povo organizar e mudar livremente sua forma de Governo. Uma contribuição para a doutrina da Autodeterminação foi dada pela revolução americana. "Consideramos como evidentes estas verdades - afirmavam os colonos americanos - que todos os homens são criados iguais e dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a consecução da felicidade; que, para alcançar tais direitos são instituídos, entre os homens, Governos, os quais conseguem seus justos poderes através do consenso dos governados; que toda a vez que uma forma de Governo destrói estes fins, o povo tem direito de mudá-la ou de aboli-la, instituindo outro Governo baseado em princípios e organização do poder que lhe permitam maiores probabilidades de lhe garantir a segurança e a felicidade”. Com a Revolução Francesa, o conceito de Estado patrimonial é substituído pelo de soberania da Nação. O cidadão e não o súdito adquire sempre mais a consciência de pertencer a um determinado grupo social; consciência que, tomada colectivamente, encontra sua expressão no conceito de nacionalidade. Mancini tentou precisamente atribuir valor jurídico à nacionalidade defendendo que os verdadeiros temas do direito internacional são as nações, obra de Deus, e entidades naturais, e não os Estados que são entidades arbitrárias e artificiais. Tal doutrina teve um valor político notável, sobretudo na época histórica em que foi formulada (1851), enquanto afirmava precisamente como princípio ideal de justiça a exigência da formação de Estados que tivessem como base a unidade nacional e não fragmentos ou partes de nações. As doutrinas filosóficas deram também uma boa contribuição para a afirmação do princípio de Autodeterminação como princípio de acção política. Um argumento importante foi fornecido pelo conceito kantiano da

autonomia do indivíduo e da liberdade como condição de autonomia. Outros argumentos foram oferecidas pela visão fichteana do Estado como condição da liberdade do homem e pela ideia de Herder de que o género humano foi dividido por Deus em vários agrupamentos nacionais, cada um dos quais tem uma missão particular a cumprir. Schleiermacher, tal como Herder, fundava na língua, no carácter, na história e na cultura, a distinção entre as várias nações, e estas deveriam constituir-se em Estados soberanos para conservar a própria individualidade e para dar a própria contribuição, pré-ordenada por Deus, ao género humano. Inspirados em ideias nacionalistas, verificaram-se na Europa, durante a século XIX, movimentos insurrectos que levaram à independência a Grécia, a Roménia, a Bulgária e a Sérvia, gerando também a unificação da Itália e da Alemanha. Um dos instrumentos através do qual se pode realizar a vontade de pertencer à nação é o plebiscito que pode ser estabelecido entre os habitantes de um território. Do resultado de um plebiscito pode depender a transferência ou não do território para outra Estado. A praxe dos plebiscitos ascende, em sua essência, à Revolução Francesa, época em que se realizaram o plebiscito do Condado de Venassin e de Avinhão em 1791; o de Sabóia, o de Mulhause, de Bainaut e da Renânia em 1792. Isto em termos modernos, pois existem já exemplos anteriores e sua utilização está amplamente documentada no Risorgimento italiano como forma de consagração popular das anexações da monarquia de Sabóia Não obstante a sua frequente utilização, o plebiscito levantou muitas críticas, particularmente no passado, pelas confusões a que por vezes deu ocasião. Muitos escritores liberais negaram que ele fosse o instrumento mais idóneo para expressar e realizar a princípio de Autodeterminação dos povos, na medida em que se trataria de um acto instantâneo e isolado, sugerido frequentemente pelas paixões ou imposto por forças

externas. O princípio da livre determinação dos povos constituiu um dos temas ideológicos mais vigorosos e eficazmente proclamados por acordo durante a Primeira Guerra Mundial, graças sobretudo à influência do presidente americano Wilson, tendo sido incluído nos dois primeiros projectos de Estatuto da Sociedade das Nações, mas não tendo lugar no texto final, limitando-se, neste, a inspirar o sistema dos mandatos. A aplicação do princípio tão enfaticamente enunciado foi comprometida por considerações de carácter estratégico e económico. Deu-se conta de que a fórmula de Wilson dos rearranjos territoriais comprometeria a segurança e o equilíbrio internacionais. Contrariamente às expectativas, portanto, o princípio da livre determinação dos povos mostrou-se não ser oportuno para servir de base de uma paz duradoura. Bem pelo contrário, o mesmo princípio tornou-se, na política de Hitler, o principal instrumento para a satisfação de desejos imoderados territoriais que levaram depois à Segunda Guerra Mundial. Não obstante isto, no decurso do conflito, foi ainda invocado o princípio de Autodeterminação. Na Carta Atlântica (14 de agosto de 1941), na Declaração das Nações Unidas (1 de janeiro de 1942) e na Conferência de Yalta (10 de fevereiro de 1945) foi confirmado que nenhuma modificação territorial deveria acontecer sem o consenso das populações interessadas. O princípio de Autodeterminação foi expressamente reafirmado na Carta das Nações Unidas que o tomou como um dos principais fins da Organização e o incluiu entre os critérios inspiradores das disposições que ela dedica à promoção dos direitos humanos, aos territórios não autónomos e aos territórios de administração fiduciária. Diversas resoluções da Assembleia Geral foram sucessivamente recalcando esse princípio: entre outras, a Declaração sobre a concessão da independência aos países e povos coloniais (Res. 1514-xv de 14 de dezembro de 1960) e a Declaração relativa aos

princípios de direito internacional respeitantes às relações amigáveis e à cooperação entre os Estados, em conformidade com o Estatuto das Nações Unidas (Res. 2625- XXV de 24 de Outubro de 1970).

De um modo geral, a doutrina do direito internacional, relativa a este assunto, afirma que a autodeterminação é um direito que tem se ser reconhecido aos povos submetidos à dominação colonial, a regimes raciais ou ao domínio estrangeiro. No máximo, chega-se a reconhecer tal direito aos povos que se encontram sujeitos a um governo não representativo, entendendo-se como tal, um governo que tenha de facto um dos povos que componham a comunidade, submetida a uma posição de dependência.

Considera-se no seio da Comunidade Internacional a legitimidade da força, por parte dos movimentos que lutam pela autodeterminação dos seus povos, desde que não se dirijam contra vítimas inocentes, e não sejam usados meios particularmente violentos, desumanos e desproporcionados aos resultados esperados ou plausivelmente expectáveis.

O direito `autodeterminação dos povos está intimamente ligado aos direitos dos indivíduos, do que constitui um corolário; seria clara contradição, lutar pela autodeterminação, atropelando os direitos fundamentais da pessoa humana.

BIBLIOGRAFIA

BRAILLARD, Phillipe-Teoria das Relações Internacionais; Edições da Fundação Calouste Gulbenkian

McHENRY, Robert, Editor; The New Encyclopaedia Britannica; Encyclopaedia Britannica, Inc.

MOREIRA, Adriano; Teoria das Relações Internacionais; Almedina

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FONTES DA INTERNET

http:\\europa.eu.int http:\\lcweb.loc.gov

ANEXO G

No documento MAJ Duarte da Costa (páginas 143-155)