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DA FRAGMENTAÇÃO A TRANSDISCIPLINARIDADE Abandona-se o homem total, tem-se ao homem compartimentado (no

2. ESCOLA E TRANSDISCIPLINARIDADE

2.2. DA FRAGMENTAÇÃO A TRANSDISCIPLINARIDADE Abandona-se o homem total, tem-se ao homem compartimentado (no

trabalho, na escola, em casa, na igreja...), papéis que são representados em cada momento do nosso cotidiano, busca-se o aperfeiçoamento por partes, definindo-se que este é o ideal.

O homem se fez máquina, mecanizando suas rotinas e seu trabalho, esquecendo-se que seu trabalho, vida e seu ser são um único elemento neste cosmo. Perde-se a beleza, o encantamento da integralidade e reduziu-se o homem à pobreza das partes.

Tem-se uma fragmentação enorme no homem e em suas relações observada por Weil (1993, p. 16) em três (3) níveis:

1. No Nível do Ser:

a. Separação do Sujeito e o Objeto;

b. Separação entre o Conhecedor, Conhecimento e Conhecido. 2. No Nível do Sujeito:

a. Divide o “Homo Sapiens” do “Homo Faber”; b. O Pensador e o Ativo;

3. No nível do Conhecimento:

a. O Conhecimento Puro e as Tecnologias;

b. Conhecimento pelo Conhecimento e o Conhecimento de Métodos e Técnicas de Ação.

A fragmentação ocorreu igualmente na educação onde o número de disciplinas aumentou tanto que se tornou necessário a transdisciplinaridade. E essa, busca reunir em um conjunto mais abrangente as disciplinas, correlacionando-as, visto que se parecem em sua natureza.

G. Michaud, citado por Weil (1993, p. 33), define os termos ligados às disciplinas da seguinte forma:

− Disciplinar: conjunto específico de conhecimentos;

− Multidisciplinar: justaposição de diversas disciplinas, às vezes sem relação aparente;

− Pluridisciplinar: justaposição de disciplinas diversas, com conhecimentos mais ou menos aparente;

− Interdisciplinar: interações existentes entre duas ou várias disciplinas, num esforço de comunicação e de procura de um ponto comum;

− Transdisciplinar: efetivação de um ponto axiomático comum a um conjunto de disciplinas, buscando o encontro e transposição dos pontos em comum.

“A transdisciplinaridade propõe uma nova teoria do conhecimento e talvez ela possa ser o campo ou um dos campos epistemológicos nos quais a Pedagogia da Alternância deleite suas raízes“ Sommerman (2001, p. 1). Este considera a transdisciplinaridade como “Método Transdisciplinar”.

A visão transdisciplinar advém da civilização Greco-Judaica-Cristã. Na filosofia, há 2.600, anos os pré-socráticos, a partir do conceito de phisis, tinham a concepção unitiva da transdisciplinaridade. Tales, Demócrito e Heráclito afirmavam o tema da unidade, não dissociando a ciência da filosofia, nem a arte da mística.

Wail (1993, p. 30) cita Basarab Nicolescu, para afirmar que o termo “transdisciplinar” foi utilizado pela primeira vez por Jean Piaget em 1970, quando do encontro sobre interdisciplinaridade, promovido pela Organização da Comunidade Européia (OCDE), posteriormente Jantsch (1972) e Morin (1972) entre outros versam sobre o tema. Piaget define então:

“Enfim, na etapa das relações interdisciplinares, pode-se esperar que se suceda uma fase superior que seria ‘transdisciplinar’, a qual não se contentaria em atingir interações ou reciprocidades entre pesquisas

especializadas, mas situaria tais ligações no interior de um sistema total, sem fronteiras estáveis entre as disciplinas”.

Transdisciplinaridade deve ser, e é, um passo além da interdisciplinaridade, um avanço qualitativo em busca da união das disciplinas da integração e da inclusão do homem ao mundo que o cerca.

A Declaração de Veneza (1986), promovida pela UNESCO, “Ciências e as Fronteiras do Conhecimento: Prólogo do nosso Passado Cultural”, patrocinado pelo Fórum Sobre Ciência e Cultura, e elaborado por cientistas, filósofos, artistas e representantes das tradições espirituais, é um marco histórico na direção da transdisciplinaridade.

Em 1991, em Paris, organizado pela UNESCO, realiza-se o congresso “Ciência e Tradição: Perspectivas Transdisciplinares para o século XXI”, resultou no considerado segundo documento da transdisciplinaridade (Ciência e Tradição).

O Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade em 1994, organizado pelo Centro Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares (CIRET), sediado em Paris, com parceria da UNESCO, acontece na cidade de Arrábida, Portugal, resultando na “Carta da Transdisciplinaridade” (anexo), documento norteador de todo trabalho posterior sobre transdisciplinaridade.

Em 1997 foi realizado o Segundo Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, também organizado pelo CIRET e pela UNESCO na cidade de Locarno, do qual resultou o documento “A Síntese do Congresso de Locarno”.

Como resultado destes dois congressos mundiais da transdisciplinaridade Sommerman (2001, p. 4) cita os setes eixos básicos da evolução transdisciplinar na educação:

1. A educação intercultural e transcultural; 2. O diálogo entre arte e ciência;

3. A educação inter-religiosa e transreligiosa;

4. A integração da revolução informática na educação; 5. A educação transpolítica;

6. A educação transdisciplinar;

7. A relação transdisciplinar: os educadores, os educandos e as instituições, e, a sua metodologia subjacente.

O mesmo autor cita os três pilares do pensamento transdisciplinar: 1. A Complexidade;

2. O Terceiro Incluído;

3. Os Diferentes Níveis de realidade.

O termo transdisciplinar representa a tentativa e talvez a possibilidade de sair da fragmentação das disciplinas e do conhecimento humano. “... encontro de várias áreas do conhecimento de uma axiomática comum, ou princípios comuns subjacentes” (Crema 1993, p.132). Significa transcender a

disciplinaridade necessitando o entendimento da origem, função e limitações

dos desafios contemporâneos da disciplinaridade moderna. Para G. Michaud, “axiomática comum a um conjunto de disciplinas” e para Ernest Jantsch apud Wail (1993, p. 31) “é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade. ...e a conseqüência normal da síntese dialética...”

Transdisciplinaridade é um modo de conhecimento, é uma compreensão de processos, é uma ampliação da visão do mundo e uma aventura de espírito, para Mello (2001, p. 2), ela continua ainda, é uma nova atitude, uma maneira de ser diante do saber.

Deverá haver uma desterritorialização das disciplinas, com muitas trocas, desmoronando as fronteiras entre si.

Para Morin, citado por Weil (1993, p. 33), não existe um princípio unitário de todos os conhecimentos, mas estes buscam a complementação, que ao mesmo tempo separa e sócia.

Sommerman (2001, p. 2) fundamenta em cinco, às necessidades da transdisciplinaridade:

− Para contrapor-se às sucessivas rupturas epistemológicas pelas quais o Ocidente passou desde o século XIII;

− Para contrapor-se à redução cada vez maior do real e do sujeito; − Para contrapor-se à fragmentação cada vez maior do saber;

− Para levar em conta os dados da ciência contemporânea (física quântica, biologia, genética, neurologia...);

− Para reencontrar a unidade do conhecimento.

Weil (1993, p. 34) resume o pensamento de Piaget, Jantsch, Morin, Michaud, Yearbook of World Problems na Human Potential, UNESCO, Nicolescu, entre outros, colocando os pontos em comum de suas contribuições originais:

1. Transdisciplinaridade resulta do encontro de várias disciplinas do conhecimento, em torno de uma axiomática comum. Axiomas são princípios ou paradigmas subjacentes a estas disciplinas;

2. O encontro interdisciplinar, entre duas ou várias disciplinas, favorece a transdisciplinaridade;

3. Transdisciplinaridade é considerada como resposta à solução da crise de fragmentação da epistemologia, com objetivo reparador dos danos e ameaças à vida deste planeta;

4. Existência de vários tipos de transdisciplinaridade, falando-se, portanto em transdisciplinaridade.

5. Existe a possibilidade de uma transdisciplinaridade geral que consistiria em encontrar uma axiomática comum entre ciência, arte, filosofia e tradições sapienciais.

Pode-se dizer, segundo a Universidade Holística Internacional de Brasília, citada por Crema (1993, p. 132) que a transdisciplinaridade está dividida em duas:

− Transdisciplinaridade Parcial: conjugação de um número limitado de áreas ou disciplinas;

− Transdisciplinaridade Geral: envolve uma axiomática comum entre ciência, filosofia, arte e tradição de sabedoria.

Para uma efetiva pesquisa transdisciplinar Weil (1993, p. 69) afirma e enumera aperfeiçoamentos metodológicos de pesquisa necessários para esta em três planos:

1. Elaborar princípios de trabalho para as equipes interdisciplinares [princípio lingüístico, psicossociológicos, psicológicos (cognitivos, afetivos e conotativos), metodológicos e transdisciplinares];

2. Formar as equipes interdisciplinares para uma atuação de alta qualidade visando a transdisciplinaridade (estudo, formação inter- relacional e acompanhamento);

3. Definir as axiomáticas transdisciplinares dentro do novo paradigma holístico;

Crema (1993, p.140) afirma que transcender as disciplinas de modo algum significa negá-las, e que o enfoque transdisciplinar não é contra a especialização, reconhecendo sua necessidade e importância, na realidade o que se quer é à busca do especialista ao todo que o envolve sem negá-lo buscando a complementaridade, o trabalho em equipe e a convivência com a diversidade.

“Complementaridade”, termo usado por Bohr, possui a virtude inclusiva do método analítico e do sintético, da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Permanecendo na interdisciplinaridade não se chegará ao todo, portanto deverá ser complementada pela transdisciplinaridade.

Crema (1993, p. 153) representa a afirmação de complementaridade, através de uma figura, “... onde o símbolo do infinito (∞) conecta dinâmica e heuristicamente os pólos, viabilizando a vinculação e superação da polaridade”.

Figura 2 - Complementaridade

Fonte: Crema (1993, p. 153)

“A abordagem transdisciplinar exige atuação conjugada, no indivíduo e na equipe, do analista e do sintetista, o que abre caminho para um metamétodo imprescindível quando se quer lograr uma visão de inteireza” Crema (1993 p. 154).

Nicolescu, citado por Crema (1993, p. 155), diz que a abordagem transdisciplinar jamais poderá ser realizada por uma pessoa só, sendo necessário reunir diversas competências e diferentes domínios, sem estar preso a uma determinada ideologia, partido político ou poder econômico.

As características necessárias ao indivíduo para participar de uma equipe transdisciplinar são citadas por Crema (1993, p. 155) como:

− Abertura e Inclusividade; − Humildade;

− Supremacia;

− Convivência com a Diferença (suportar as frustrações e persistência);

− Respeito.

Para Sommerman (2001, p. 6), quando a transdisciplinaridade fala em transcultura, transnação e transreligião, “...propõe que cada cultura, cada nação e cada religião mergulhem cada vez mais em si mesmas, com respeito pelas outras, mas preservando a sua identidade, pois desse modo os princípios comuns que estão por trás da diversidade emergirão. Podendo emergir então o verdadeiro diálogo, o verdadeiro respeito, a verdadeira paz.”

Desta forma:

“...urge o desenvolvimento de uma proposta transdisciplinar que vise, em última instância, um conhecimento reconectado à dimensão amorosa, possibilitando uma atitude de solidariedade frente ao bem comum”. (Crema,1993, p. 142).

Pode-se vislumbrar que a transdisciplinaridade, como uma nova metodologia de trabalho, em um futuro muito próximo, poderá auxiliar na transformação da sociedade e, em especial, á educação, mesmo essa estando em início de estudos e aplicações.

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