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Da ideia de “sistema” no pensamento jurídico

No documento Software: tributação ou imunidade? (páginas 84-86)

2 BREVES CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DO SOFTWARE

4.1 A BUSCA DA SOLUÇÃO DENTRO DO PRÓPRIO SISTEMA

4.1.1 Da ideia de “sistema” no pensamento jurídico

O Direito é um objeto cultural111, eis que fruto da atividade intelectual humana. E porque o Direito é um objeto cultural, ele exige um pensamento sistemático.

Como bem observou Claus-Wilhelm Canaris112, o pensamento sistemático está radicado imediatamente na própria ideia de Direito, sendo a ele imanente; não seria mero postulado113, mas pressuposto de todo o Direito e de todo o pensamento jurídico.

Apesar de Engisch114 ter sido um dos primeiros doutrinadores a examinar a noção de sistema na ciência do Direito, é preciso observar o pensamento jurídico sistemático a partir de

111“O Direito é, indubitavelmente, um objeto cultural. Vale dizer: é uma entidade que, no mundo do

conhecimento, apresenta-se como uma das manifestações da mente humana, isto é, exprime as ações do homem ou o produto de sua vivência e de sua convivência.”: BRITO, Edvaldo. Limites da Revisão

Constitucional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1993, p. 11.

112“Assim, o pensamento sistemático radica, de facto, imediatamente, na idéia de Direito (como o conjunto dos

valores jurídicos mais elevados). Ele é, por conseqüência, imanente a cada Direito positivo porque e na medida em que este represente uma sua concretização (numa forma historicamente determinada) e não se queda, por isso, como mero postulado, antes sendo sempre, também, pressuposição de todo o Direito e de todo o pensamento jurídico e ainda que a adequação e a unidade também com freqüência possam realizar-se de modo fragmentado.”: CANARIS, Claus Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na Ciência

do Direito. Introdução e tradução de A.Menezes Cordeiro, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989, p.

22-23.

113Postulado é uma proposição considerada verdadeira sem qualquer discussão. É uma sentença que, apesar de

não ser provada como sequer demonstrada, torna-se consenso para que ocorra a aceitação de uma determinada teoria. O postulado é utilizado para se deduzir algo, obtendo-se, assim, o resultado de forma mais fácil.

114

Destaque-se que Engisch foi um dos primeiros a confrontar-se criticamente com a ideia de sistema na ciência do Direito e o tema sob a ótica da existência de um sistema de princípios que, de modo coerente, relacionam- se entre si.

Canaris115, quem conferiu a maior contribuição científica para o tema e apropriadamente enunciou que a ideia de sistema116 é a base de qualquer discurso científico em Direito.

Referindo-se a este pensamento de Canaris, o professor Edvaldo Brito117 bem pontua a importância da ideia do sistema como base de qualquer discurso científico em Direito, dando- lhe a razão para tanto: esta ideia tem o condão de propiciar um mínimo de racionalidade dogmática.

No mesmo sentido, devem ser registradas as lições de Geraldo Ataliba118, que bem alertava que não se pode começar a meditar sobre um determinado assunto, sem recordar o caráter unitário e sistemático do direito, que postula a harmonia interna entre seus preceitos e institutos.

Portanto, em suma, eis a justificativa para a utilização do pensamento sistemático: além de originar-se da natureza cultural do Direito, a ideia de sistema decorre da necessidade de se dotar as decisões jurídicas de uma estruturação científica, como bem expõe o professor Edvaldo Brito119.

Não é à toa que outros grandes expoentes do pensamento jurídico – como Karl Larenz, Esser e Coing – também demonstraram a importância do tema ao examinar seus aspectos e constatar que o sistema é o responsável pela formação da unidade entre a pluralidade dos elementos que o compõem.

115CANARIS, Claus Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na Ciência do Direito.

Introdução e tradução de A. Menezes Cordeiro, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989, p. 5.

116

O signo sistema tem origem etimológica no termo grego systema e não é noção exclusiva da ciência jurídica, possuindo diversas concepções na filosofia, na lógica, como também em algumas ciências exatas. Tem por idéia central consistir em um conjunto ordenado de elementos que se encontram interligados e que interagem entre si

117

BRITO, Edvaldo. Limites da Revisão Constitucional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1993, p. 63-64.

118“Não se pode começar a meditar sobre este assunto sem recordar o caráter unitário e sistemático do direito,

que postula a harmonia interna entre seus preceitos e institutos. Disso decorre a ontológica compatibilidade entre seus diversos mandamentos.”: ATALIBA, Geraldo. Estudos e pareceres de direito tributário. v. 3,

ISS – Lista de serviços tributáveis – Falácia da sua exaustividade. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 1990, p. 183.

119“Importante no seu pensamento, é que a ideia de sistema é a base de qualquer discurso científico em Direito,

porque propicia um mínimo de racionalidade dogmática; permite a identificação das instituições com sistemas de ações e de interações e a do Direito como um sistema de comunicações; demonstra a necessidade do apoio sociológico da estruturação jurídica. Para invocar esses aspectos favoráveis à ideia de sistema em Direito, CANARIS arrima-se nas obras de WERNER KRAWIETZ, OTA WEINBERGER, NIKLAS LUHMANN, dentre outros, o que comprova a importância do tema como perspectiva metodológica, sobretudo considerando-se duas ideias fundamentais: a natureza cultural do Direito e a necessidade de dotar as decisões jurídicas de uma estruturação científica.”

É por tudo isso que não se pode abandonar a ideia de sistema, porque esta é imprescindível em uma verdadeira ordem jurídica. Afinal, como bem afirmado por Larenz120, citando Engisch, onde quer que se tenha de tratar como uma verdadeira ordem jurídica e com a sua imposição espiritual, aí será imprescindível a ideia de sistema.

No documento Software: tributação ou imunidade? (páginas 84-86)